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Concepções do sobretreino no desporto de alto rendimento

Las concepciones del sobreentrenamiento en el deporte de alto rendimiento

Conceptions of overtraining in high performance sport

 

*Mestre em Treino do Alto Rendimento. Universidade Técnica de Lisboa

Faculdade de Motricidade Humana (FMH)

**Professor Doutor da Universidade Técnica de Lisboa

Faculdade de Motricidade Humana (FMH)

***Mestranda em Exercício e Saúde. Universidade Técnica de Lisboa

Faculdade de Motricidade Humana (FMH)

Flávio Afonso Montes*

Francisco José Bessone Ferreira Alves**

Daniel Benfato Dezan*

Simone Carneiro Gomes***

flavio.montes@hotmail.com

(Portugal)

 

 

 

 

Resumo

          No desporto de alto nível o desenvolvimento de um programa de treino físico tem como principal objetivo a maximização da performance. Contudo, caso não ocorra uma periodização adequada, os atletas podem desenvolver fadiga cônica (sobretreino) ao longo da temporada. O sobretreino pode ser definido como o resultado de uma discrepância reincidente entre stress e recuperação ao longo do processo de treino. Portanto, o objetivo deste estudo de revisão foi apresentar fatores inerentes (conceitos, causas, indicadores e tratamento) aos processos de sobretreino.

          Unitermos: Sobretreino. Fadiga.

 

Abstract

          In top-level Sport development of a physical training program’s main objective is to maximize performance. However, if there occurs a proper periodization, athletes can develop fatigue conical (overtraining) throughout the season. The overtraining can be defined as the result of a recurrent discrepancy between stress and recovery during the training process. Therefore, the objective of this systematic review was to present factors involved (concepts, causes, and treatment indicators) to the processes of overtraining.

          Keywords: Overtraining. Fatigue.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    No desporto de alto nível o sobretreino parece ser um grande limitador do desempenho. Há muitos anos os pesquisadores vêm tentando quantificá-lo e entende-lo. Para isto, vários estudos têm sido elaborados desde meados do século XIX. Alguns destes tentaram compreender e concetualiza-lo através de testes incrementais. No entanto, o sobretreino parece ser um fenômeno indissociável, estando associado a variáveis diversas e intrínsecas, responsáveis pela homeostase do organismo. Sendo assim, devemos considerar e entender suas diferentes formas de manifestação, pois a queda de desempenho pode estar relacionada a diversos fatores. Portanto, após mais de um século de investigação não existe ainda um conceito que satisfatoriamente abranja sua totalidade. Mais que um mecanismo fisiológico isolado a síndrome do sobretreino representa uma manifestação complexa e multicausal que incorpora basicamente componentes de ordem neurais, musculares, hormonais e metabólicas em interações dinâmicas (SILVA, 2006b; COSTA, et. al. 2005). Portanto, o objetivo deste trabalho foi elaborar um estudo de revisão que permita a compreensão dos conceitos, causas e os possíveis indicadores do sobretreino.

Sobretreino/Sobresolicitação: conceitos básicos

    Vários autores (ALVES, 2006; LEHMANN, et. al. 2000; MOREIRA e CAVAZZONI, 2009; COUTSS, 2007) classificam o sobretreino (overtraining), como sendo o resultado de uma discrepância reincidente entre stress e recuperação ao longo do processo de treino. Para alem, existe o conceito de sobresolicitação (overreaching) que representa uma situação de fadiga aguda, porém de duração limitada, onde é reversível após um curto período de recuperação ativa (1 a 2 semanas - redução das cargas de treino). O controle da sobresolicitação, caso não efetuado de maneira correta pode desencadear um processo de sobretreino crônico, podendo ser irreversível durante o período competitivo.

    Para Coutts, (2007) existem três manifestações de fadiga ao longo da temporada competitiva: overreaching funcional, overreaching não-funcional e overtraining. Segundo o autor, o overrreaching funcional, é comum em programas de treino físico, sendo considerado normal e necessário para otimização da performance. De fato alguns estudos têm mostrado que overreaching funcional pode conduzir a um melhor desempenho quando houver ajuste ótimo entre os processos de intensificação da carga de trabalho e a recuperação entre os estímulos. No entanto, se houver desequilíbrio nesta fase, o atleta pode manifestar sintomas de overreaching não-funcionais ou até mesmo o overtraining. Durante o processo de overreaching não-funcionais, o indivíduo pode apresentar uma gama de sintomas causados principalmente por distúrbios hormonais e pela redução da função imune, requerendo semanas ou meses para restauração do desempenho. Caso isso não seja controlado, os sintomas podem evoluir, desencadeando uma síndrome de overtraining.

    Maglischo (2003) considera que o sobretreino é uma condição que ocorre quando os atletas treinam para além da sua capacidade de criarem adaptações ao treino, ou seja, o esforço é tão intenso que os processos anabólicos e de reparação de tecidos não conseguem acompanhar os processos catabólicos. Referem ainda, que o momento de maior tendência a instalação de sobretreino é logo após um pico de forma, pois os atletas neste momento se encontram motivados a maiores volumes e intensidades durante o treino.

    Lehmann et al. (2000), classificam o sobretreino como sendo de curta e de longa duração. Segundo os autores, o sobretreino de curta duração, entre uma a três semanas, leva apenas a fadiga periférica da musculatura hiper-estimulada, bem como à quebra temporária do rendimento, sendo que, após um período de regeneração (uma ou duas semanas) pode ocorrer um processo de supercompensação.

    Como podemos observar, não há uma padronização terminológica internacional única para definir overtraining. Existe também o facto de que pesquisadores europeus muitas vezes usam o termo overtraining diferente dos americanos. Também deve ser evidenciado que a terminologia depende da área de estudo analisada (médicas, fisiologia, psicologia do desporto). E ainda existe o fator lingüístico, pois as diversas traduções permitem interpretações diferenciadas (COSTA, et. al. 2005).

    No decorrer deste trabalho utilizaremos as terminologias sobresolicitação para o conceito de (overreaching) e sobretreino para o conceito de (overtraining) respeitando a escrita vigente neste país.

Indicadores de Sobretreino/Sobresolicitação

    No intuito de prevenir as causas maléficas do sobretreino, vários métodos têm sido utilizados para tentar definir e diagnosticar o fenômeno em sua essência (VIRU e VIRU, 2003). Parâmetros hormonais (relação testosterona:cortisol), fisiológicos (monitoramento da freqüência cardíaca, concentração de metabolitos (lactato e amónia) e psicológicos têm sido relatados como possíveis indicadores de stress em atletas de alto nível (NAKAMURA, et. al. 2010). Os hormônios cortisol e testosterona, por exemplo, têm sido atribuídos como bons marcadores quando relacionados com as cargas de treino e o stress causado, embora em vários estudos os dados são conflitantes (FILAIRE, et. al 2001). Segundo os mesmos autores, alguns estudos mostram também a relação entre os distúrbios de humor e o stress causado pelo treino. Esta relação parece ser dependente do aumento e redução das cargas de treino, onde a diminuição da carga é acompanhada por aumentos das escalar positivas do humor. Para estabelecer tal relação (Perfil do estado de humor e nível de performance), o método mais utilizado é pelo questionário de POMS (Profile of Mood State), (MCNAIR, e DROPPLEMAN, 1971), embora haja algumas críticas diante deste protocolo. Alguns autores prevêem que os atletas de alto nível, ou seja, aqueles que são bem sucedidos em suas modalidades apresentam um perfil emocional mais equilibrado (melhor saúde emocional) também considerado como perfil de iceberg do que os atletas com menos sucesso. Assim tem sido sugerido que análises de estado de humor dos atletas em diferentes momentos da época competitiva são necessárias para uma melhor compreensão do desempenho da equipa (FILAIRE, et. al 2001).

    Embora haja muitos estudos com o objetivo de determinar parâmetros capazes de detectar sintomas de fadiga, ainda não há um marcador universal capaz de identificar, num grupo de atletas, aqueles que apresentam possibilidade de desenvolver sobretreino ao longo da época. Desta maneira, o monitoramento regular da combinação de variáveis de natureza bioquímicas, fisiológica, hormonais e psicológicos quando submetidos ao esforço parecem ser a melhor estratégia para avaliar a adaptação do atleta ao treino. (VIRU e VIRU, 2003; LEHMANN, et. al. 2000; SILVA, 2006b).

Parâmetros bioquímicos

    O estudo do metabolismo durante o exercício vem evoluindo ao longo dos anos. Para se ter idéia o termo bioquímico foi introduzido por Carl Neuberg em 1903 para designar a correlação entre função biológica e estrutura molecular. Portanto, durante mais de um século têm sido realizados estudos em amostras musculares no intuito de estudar as adaptações bioquímicas ao exercício seja em animais ou humanos. Actualmente a bioquímica é uma área em grande desenvolvimento, englobando em si a aplicação de conhecimentos da física e química transpondo-se para a biologia, ou seja, é servida por todas as ciências que estudam o organismo vivo (LAIRES, 2001).

    Alguns parâmetros bioquímicos, quando identificados precocemente podem proporcionar ajustes das cargas de treino, o que são fundamentais para otimização da performance e prevenção do sobretreino (ALVES et al., 2006).

    Viru e Viru (2003) propõem o uso do controle bioquímico no treino de alto rendimento, porém ressaltam que uma única variável não garante o sucesso esperado e que, portanto, deve-se buscar o maior número possível de medidas, respeitando a especificidade de cada modalidade.

    O lactato por ser derivado do glicogênio é um agente bioquímico que está na origem da contração muscular e que, portanto, é um dos principais mecanismos de controlo do treino. Algumas pesquisas como a de Weltman et al. (1994) têm mostrado que algumas variáveis endócrinas, provenientes de situações estressantes como o aumento sérico de epinefrina, podem antecipar o acúmulo de lactato e provocar fadiga muscular precoce, tendo em vista que as catecolaminas e os glicorticóides estão envolvidos na mobilização das reservas de energia, e o lactato é produzido a partir da catálise da glicose (ROCHA et al. 2009).

    A formação de lactato também pode ser relacionada à taxa de produção energética pelo glicogênio muscular (SHULMAN, 2005). Desta maneira, o lactato sanguíneo, aliado a outros parâmetros, pode ser um bom indicador de esforço durante sessões de exercício principalmente de origem anaeróbico lático, podendo ser utilizado ao longo da época como um marcador de sobretreino. (BOSQUET e LEGER, 2001).

    Baixas concentrações de lactato durante o exercício podem identificar possíveis sintomas de sobretreino, pois este fenómeno pode ser explicado pela diminuição da capacidade de trabalho da musculatura (baixa produção de energia). No entanto, ainda há muitas incertezas, pois o decréscimo dos valores sanguíneos de lactato também pode estar relacionado à depleção acentuada das reservas de glicogénio e não obrigatoriamente um caso de sobretreino (SNYDER et al. 1995). Embora a redução do lactato sanguíneo possa ser utilizada como parâmetro preventivo de sobretreino, tal efeito pode ser contraditório, pois a diminuição de lactato pode ser derivada de adaptações orgânicas positivas ao treino, ao passo que atletas bem treinados reduzem a produção de lactato para uma mesma intensidade de esforço (HALSON e JEUKENDRUP, 2004). Portanto, é recomendado que a concentração de lactato isolado não deve ser utilizado como marcador bioquímico único, ou seja, é correto avaliá-lo em conjunto com algumas enzimas do metabolismo glicolítico: Glicogênio Sintase Quinase 3 (GSK3); Glicogênio Sintase (GS); Lactato Desidrogenase (LD); Fosfofrutoquinase (PFK); além de outros marcadores bioquímicos como a Creatina Quinase (CK), Uréia, Amonia, níveis de Creatinina dentre outros (ARAUJO, et al. 2008).

Parâmetros hormonais: razão testosterona/cortisol

    A testosterona é o hormônio mais importante secretado pelas células intersticiais dos testículos. Basicamente a testosterona é responsável pela produção das características sexuais masculinas. Sua concentração plasmática funciona como um marcador fisiológico do estado anabólico. Além dos seus efeitos diretos sobre a síntese do tecido muscular, a testosterona pode influenciar indiretamente o conteúdo protéico das fibras musculares por promover a liberação do hormônio de crescimento (GH), possibilitando o aumento de massa muscular (MCARDLE, et. al, 2007; MCARDLE, et. al, 2003).

    A testosterona também interage com alguns receptores neurais com o objetivo de aumentar a liberação de neurotransmissores e iniciar alterações nas proteínas estruturais modificando o tamanho da junção neuromuscular. Esses efeitos neurais aprimoram as capacidades produtoras de força do músculo-esquelético (MCARDLE, et. al, 2007; MCARDLE, et. al, 2003).

    Em contrapartida as situações em que acarretam alta carga emocional ou as demandas estressantes da atividade física estimulam a hipófise anterior a liberar o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), que por sua vez, gera a liberação de cortisol pelo córtex supre-renal. Ao contrário da testosterona o cortisol é um hormônio relacionado ao estresse, muitas vezes relacionado à imunossupressão (SEIFERT, et. al., 2005). Altas concentrações séricas de cortisol, por períodos prolongados, desencadeiam o fracionamento excessivo das proteínas, levando a um desgaste tecidual. O aumento circulante do cortisol acelera também o recrutamento das gorduras para obtenção de energia durante o exercício intenso e prolongado. Com aumentos rápidos e significativos na produção de cortisol, o fígado basicamente fraciona a gordura em componentes simples designados de cetoácidos. As concentrações excessivas de ceatoácidos no líquido extracelular podem potencializar a cetose (uma forma de acidose).

    Geralmente, os indivíduos que consomem dietas muito pobres em carboidratos e calorias com a finalidade de perder peso (denominadas dietas cetogênicas) costumam experimentar cetose, agravada pela secreção elevada de cortisol, (MCARDLE, et. al, 2003).

    A produção de cortisol parece aumentar com a intensidade e duração do exercício. Segundo Mcardle et al (2003), níveis extremamente altos de cortisol ocorrem após exercício de longa duração como corrida de maratona. Ainda o mesmo autor diz que até mesmo durante o exercício moderado, a concentração plasmática de cortisol aumenta com o exercício prolongado. Os dados para a renovação do cortisol indicam que corredores altamente treinados mantêm níveis altos de cortisol durante os períodos competitivos ou de treino árduo. Os níveis de cortisol permanecem elevados também por até 2 horas após o exercício, sugerindo que o cortisol desempenha algum papel na recuperação e no reparo dos tecidos.

    A razão testosterona/cortisol diz respeito ao equilíbrio entre a atividade anabólica e catabólica. Baseado na premissa de que a testosterona tem efeitos anabólicos e o cortisol catabólicos, a razão testosterona/cortisol, tem sido proposta como um possível marcador de sobretreinamento. Sendo assim, Cunha, et. al (2006) citando Adlercreutz e tal. (1986), sugerem que o limite desta razão seria de 30% (os valores totais de cortisol devem ser aproximadamente 30% dos valores do hormona testosterona), ou seja, quando há diminuição dos valores da razão testosterona/cortisol, o atleta se encontra em condição de sobretreino. No entanto, os mesmos autores chamam a atenção para o fato de que a relação testosterona/cortisol não é unânime, pois nem sempre está relacionada com quedas do desempenho atlético.

Parâmetros psicológicos. Perfil dos estados de humor

    O estresse causado devido à intensificação do treino, juntamente com as constantes pressões por bons resultados pode provocar distúrbios a nível fisiológico e psicológico, modificando o estado imunológico (GLEESON, 1997; MOREIRA et al., 2008).

    Nas modalidades desportivas coletivas o estresse é na maioria das vezes quantificado através da quantidade de trabalho realizado (volume), sem levar em consideração os fatores psicológicos (WALLACE et al., 2008). Deste modo, instrumentos simples, confiáveis e sensíveis são necessários para detectar possíveis alterações dos parâmetros psicológicos condizentes com um possível estado de fadiga.

    O stress físico e psicológico durante períodos prolongados de treino intenso pode conduzir a um estado crônico de imunossupressão, o que torna os atletas de elite, pessoas particularmente vulneráveis a infecções (GLEESON, 1997).

    Alguns estudos têm mostrado que os parâmetros psicológicos são mais sensíveis e consistentes quando comparados com indicadores fisiológicos. Outra vantagem está na economia de tempo e recursos financeiros, visto que instrumentos psicométricos, garantem avaliações rápidas sem grandes investimentos. Já análises sanguíneas e outros diagnósticos do género demandam tempo para análises e investimentos laboratoriais e profissional (KELLMAN, 2002; KENTTA, 1998).

    O POMS (Profile of Mood States) tem sido um dos instrumentos mais utilizados em psicologia para avaliar os estados emocionais e de humor. A principio foi construído para avaliar as variações dos perfis de humor em populações psiquiátricas, mas com o passar dos anos, sua utilização foi direcionada para outros indivíduos. Apesar da avaliação de POMS não incluir as dimensões fisiológicas, é uma ferramenta eficiente e de fácil aplicabilidade, por isso, tem sido muito utilizada no âmbito desportivo como forma de investigar a relação entre as variáveis psicológicas e os efeitos do treino (VIANA, et. al 2001) .

    A partir de alguns estudos que exploraram as diferenças entre indivíduos praticantes e não praticantes de desporto através de parâmetros psicológicos (POMS), surgiu o conceito de Perfil de Iceberg. Os indivíduos com este perfil, geralmente são praticantes de alguma modalidade desportiva, para tanto, apresentam níveis mais elevados na escala de Vigor, e resultados mais baixos nas cinco demais escalas de sinal negativo do POMS: Tensão, Depressão, Hostilidade, Fadiga e Confusão (VIANA, et. al 2001).

    Segundo Lehmann, et. al. (2000), um dos mecanismos utilizados para controlar o treino e diagnosticar precocemente o sobretreino é a caracterização das alterações no estado geral de bem estar do atleta, que podem ser notadas recorrendo a testes como o POMS. Entretanto, a aplicação desta ferramenta deve considerar a experiência dos atletas, pois pode haver receio de que suas respostas possam levá-los a exclusão de um jogo ou competição importante.

Parâmetros de performance

    Wilmore e Costill (2004) consideram que a primeira indicação de sobretreino é normalmente a deteriorização do desempenho físico à medida que o treino aumenta.

    Seguindo o mesmo raciocínio Viru e Viru (2003) consideram a diminuição da capacidade de trabalho, principalmente quando avaliado a qualidade de execução, como um forte indicador de fadiga.

    Também Rowbottom et al. (1998), referem o decréscimo da capacidade física, como os indicadores primários tanto do sobretreino quanto de sobresolicitação.

    Se um decréscimo na capacidade de desempenho (sobresolicitação) é necessário para mais tarde alcançar um aumento de performance, a magnitude deste declínio pode variar bastante, pois é dependente da forma como foi avaliado. Esta variabilidade dificulta o controlo entre o que é sobresolicitação e sobretreino. As quedas de desempenho podem ser sintomas chaves de um estado de sobretreino, por outro lado, a importância deste déficit é muitas vezes de apenas 1-3%, entrando no grau de variabilidade de medida dos testes de avaliação funcional. Entretanto, em muitos desportos, esta “insignificante” marca pode ser a diferença entre quem vence e quem chega em segundo (LEHMANN, et. al. 2000). Por isso, os autores chamam a atenção para o fato de que, quando após uma intensificação do treino, se manifesta uma quebra no rendimento do atleta, deve-se pensar numa possível condição de sobretreino, normalmente devido a um excessivo período de sobresolicitação aliado a períodos demasiadamente breves de regeneração. Para tanto, o desempenho dos atletas durante uma época desportiva deve ser monitorado constantemente, ao passo que servirá como informação sobre os possíveis ganhos de rendimento ou indicadores de fadiga.

Conclusão

    Como podemos observar no decorrer desta revisão o sobretreino pode ser interpretado de várias formas. As causas principais são oriundas do acumulo de trabalho (treinos e competições) aliado a curtos períodos de recuperação. Num primeiro momento esta manifestação é caracterizada como sobresolicitação, representando uma situação de fadiga aguda, porém de duração limitada, onde é reversível após um curto período de recuperação. Em seguida à sobresolicitação, caso o seu controlo não seja efectuado de maneira correcta, pode haver um processo de fadiga crônica, definida como sobretreino (overtraining). Neste caso o atleta é levado à exaustão física e mental ao longo da época, acarretando diminuição da performance por tempo indeterminado. A prevenção do sobretreino inclui um planejamento que permita intercalar sessões de treino com períodos de recuperação adequados. Para tanto, é fundamental o controle das cargas de treino e períodos competitivos ao longo da temporada fazendo uso dos diversos parâmetros de ordem física, fisiológica, bioquímicas, hormonais e psicológicas.

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