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Clube Esportivo Bento Gonçalves: memórias de um 

tradicional clube de futebol do interior do Rio Grande do Sul

El Clube Esportivo Bento Gonçalves: memorias de un club de fútbol tradicional del interior de Río Grande do Sul

 

*Licenciado em Educação Física pela UFRGS

**Acadêmico em Educação Física na UFRGS

*** Professora do Curso de Licenciatura em Educação Física da UFRGS

(Brasil)

Guilherme Sassi*

Paulo Renato Vicari**

Janice Zarpellon Mazo***

sassi_gui@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo tem como objetivo reconstruir o processo de fundação do Clube Esportivo Bento Gonçalves, ocorrido no final da década de 1910 na cidade de Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, até a inauguração de seu estádio próprio no ano de 1945. Para tanto, foi realizada uma análise documental, principalmente a do livro comemorativo que conta um pouco da história do Esportivo, como também, uma revisão bibliográfica em livros e artigos. Através desse estudo pode-se perceber que ao longo de seus 93 anos, o Esportivo conquistou feitos memoráveis como o de ser o primeiro clube do interior a vencer o Sport Club Internacional no estádio Beira-Rio, e estar entre os clubes que realizou uma das maiores goleadas no Grêmio Foot Ball Porto Alegrense. Estas conquistas são destacadas, pois aconteceram em relação aos dois grandes clubes de futebol sediados na capital do Estado e, desta forma, o Esportivo ganhou visibilidade no cenário futebolístico sul-rio-grandense.

          Unitermos: Futebol. Clubes. História do esporte.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Considerações iniciais

    Muitos italianos resolveram tentar a sorte em território brasileiro, em razão das dificuldades encontradas no país de origem. O Brasil passava por um processo de transformação social e econômica, o que gerava a necessidade de uma substituição da mão de obra escrava no final do século XIX. Sendo assim, os imigrantes italianos foram vistos como uma possibilidade de ocupar esse espaço.

    Com o apoio do governo brasileiro, iniciou-se uma entrada em massa de trabalhadores provenientes da Itália no país, conforme Caprara e Luchese (2005). Esses trabalhadores estabeleceram-se em diversas regiões do território nacional, sendo alguns designados ao trabalho em lavouras de café no estado de São Paulo, enquanto outros recebiam pequenos “lotes” de terras, que poderiam ser pagos em parcelas, no sul do país, onde hoje é a região da Serra Gaúcha, a fim de desenvolver essa região.

    Os imigrantes italianos e seus descendentes (ítalo-brasileiros) residentes em Bento Gonçalves no final da década de 1910 decidiram fundar um clube voltado à prática do futebol com o intuito de fazer frente aos clubes de cidades vizinhas, como afirma Souto (1996). Além disso, esse autor (1996) aponta que até 1919, ano de fundação do Clube Esportivo Bento Gonçalves, apenas existiam “clubes de finais de semana” que congregavam amigos das localidades, como, o São Luiz da Cidade Alta, o Canto-Fura da Cidade Baixa, o Liberal e o Caramuru. Todos esses times, além de amadores, jogavam em campos improvisados como terrenos baldios ou espaços cedidos por alguma família da cidade. Com a finalidade de fazer frente às agremiações de cidades vizinhas, jovens de Bento Gonçalves fundaram no ano de 1919 o Clube Esportivo Bento Gonçalves.

    Ao longo dos seus 93 anos, o Esportivo de Bento Gonçalves conquistou feitos memoráveis, a saber: foi o primeiro clube do interior a derrotar o Sport Club Internacional de Porto Alegre no estádio Beira Rio e aplicou uma das maiores goleadas no Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, 5x2. Na época este feito foi muito significativo, pois, afinal o Esportivo era um clube do interior do Estado. Nesta longa trajetória, o Esportivo consolidou-se no cenário futebolístico sul-rio-grandense como um dos clubes mais tradicionais do interior do estado.

    Diante destes acontecimentos, este estudo tem como objetivo reconstruir o processo de fundação do Clube Esportivo Bento Gonçalves, ocorrido no final da década de 1910 na cidade de Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, até a inauguração de seu estádio próprio no ano de 1945.

    Para desenvolver a pesquisa foram realizadas consultas em livros, jornais e artigos relacionados não somente ao próprio clube, como também, as questões da vinda dos imigrantes italianos para o Brasil e sua distribuição no território do país. Já em se tratando de fontes ligadas intimamente ao clube Esportivo, foi percebida certa escassez de material o que dificultou o aprofundamento de certas questões norteadoras da pesquisa. O principal referencial foi o livro comemorativo que conta um pouco da história do Esportivo, cedido pelo próprio clube. Registros em jornais ligados exclusivamente ao Esportivo também não foram encontrados, pois são quase inexistentes fontes deste tipo no período demarcado para neste estudo.

    Cabe ressaltar que foram feitas visitas ao Clube Esportivo Bento Gonçalves em busca de fontes escritas, registros e imagens, contudo apenas estas últimas foram encontradas em uma quantidade significativa. Consultas à Biblioteca Municipal Castro Alves em busca de livros, jornais ou qualquer tipo de fonte relacionada ao clube também não surtiram muito efeito, já que o único livro existente sobre o Esportivo assim como alguns outros registros foram perdidos, quando houve a mudança da sede da biblioteca. Após essa busca de fontes por meio de pesquisas de campo, foi realizada uma análise documental, segundo Pimentel (2001), das fontes históricas obtidas.

Os imigrantes italianos: da Itália até Bento Gonçalves

    De acordo com De Paris (1999), no início do século XIX, a província de São Pedro do Rio Grande do Sul apresentava uma prosperidade econômica que estava relacionada com atividades agropecuárias, às charqueadas e a produção de trigo. A partir do ano de 1824, a província começou a receber muitos imigrantes alemães que se estabeleceram no Vale do Rio dos Sinos, ao receberem pequenos lotes de terras. Essa vinda de imigrantes foi intensificada pelo governo da província com o objetivo de povoar as terras devolutas e acentuar a produção agrícola.

    Passou-se então a ter uma progressiva diminuição da entrada de imigrantes alemães, iniciando assim o incentivo da imigração de italianos. Estes por sua vez receberam terras na região da encosta da serra e tiveram como único auxílio o pagamento destas terras a crédito. Para Amador (2007) esse auxílio era o principal diferencial da colonização italiana no estado do Rio Grande do Sul para a colonização de São Paulo, onde os imigrantes apenas possuíam função de substituir os escravos e não tinha o direito a posse da terra. Porém, mesmo com os auxílios recebidos e o incentivo do povoamento das terras, os imigrantes enfrentavam grandes dificuldades ao ter de enfrentar matas fechadas e isolamento.

    Em 1870, nas terras da encosta da serra foram criadas as colônias de Dona Isabel e Conde d’Eu, que futuramente viriam a compor a cidade de Bento Gonçalves. Os imigrantes chegados a partir de 1875 eram subsidiados pelo governo imperial, sendo beneficiados por outros auxílios além do lote de terras, como, uma casa de tábuas, algumas ferramentas, além de medicamentos e assistência médica gratuita. No mês de outubro do ano de 1890 segundo De Boni (1985), as colônias de Dona Isabel e Conde d’Eu conseguiram a emancipação política, constituindo assim o município de Bento Gonçalves.

    O município de Bento Gonçalves era pequeno e enfrentava problemas de isolamento em relação a outros, devido a distância e aos meios de transporte, na transição do século XIX para o século XX. Esse quadro foi modificando-se, de acordo com Souto (1996), com a inauguração da estrada de ferro, ligando o município à cidade vizinha de Carlos Barbosa, no ano de 1919. Neste ano a cidade de Bento Gonçalves já possuía 21 mil habitantes e começou significativo desenvolvimento na esfera econômica e social.

    Os jovens de Bento Gonçalves frequentavam as reuniões no Clube Aliança, as artes cinematográficas e apresentações musicais realizadas nas praças ou igrejas. Além disso, praticavam o futebol em finais de semana, jogando em campos improvisados, terrenos baldios, ou locais cedidos por alguma família, espalhados por diferentes zonas da cidade. Bento Gonçalves possuía alguns times, segundo Souto (1996), os principais eram: São Luiz, Canto-Fura, Liberal e Caramuru.

    Todos os clubes citados eram amadores, e não tinham consistência para enfrentar igualmente agremiações das cidades vizinhas de Caxias, Garibaldi, Carlos Barbosa, Alfredo Chaves, Prata e Montenegro. Por consequência, o município não era representando em competições intermunicipais. Foi com esse intuito, de possuir um time à altura das equipes dos municípios vizinhos, que Leonardo Carlucci, em uma das reuniões no Clube Aliança, lançou a ideia de fundar um clube que pudesse tomar parte nas competições intermunicipais. A sugestão foi aprovada por todos e assim surge o Esportivo, que de princípio chamava-se Club Sportivo Bento Gonçalves, afirmando a forte influência italiana.

O Clube Esportivo Bento Gonçalves

    Como a ata de fundação aponta (Acta nº 1, 1919) no dia 24 de agosto do ano de 1919, em um dos salões do Clube Aliança, homens e mulheres estavam reunidos para debater a idéia de Ernesto Lorenzoni de criar um clube esportivo. A idéia teve aprovação unânime dos presentes e o citado clube foi denominado Club Sportivo Bento Gonçalves. Além disso, foram instituídos cargos e funções para os presentes, sendo designado presidente Gastão de Almeida e o próprio Ernesto Lorenzoni vice-presidente.

    Outros presentes receberam diferentes funções. De acordo com Souto (1996), Conrado D’Arrigo foi designado a comprar as redes e bola para a prática do futebol, além de procurar um campo de futebol. Ficou decidido pelos presentes que ocorreriam reuniões em todo primeiro domingo de cada mês. Reuniões essas realizadas no próprio Clube Aliança, que cedera o espaço.

    Outro aspecto relevante apresentado na ata de fundação foi a presença de mulheres, algo não muito comum na época. Couberam as mulheres o papel de organizar o clube de tênis, além de buscarem associadas para a denominada “Comissão de Senhoritas”. Pode-se perceber que o documento trata muito mais de questões administrativas e organizacionais da fundação do clube.

    Segundo Souto (1996) outra ata foi redigida (Acta nº 2, 1919), sendo esta datada de 15 de setembro de 1919. O conteúdo da mesma abordava um comunicado da data oficial de inauguração do Clube Esportivo, marcada para o dia 21 daquele mesmo mês. Continha também a programação prevista para a inauguração: às 14 horas a inauguração oficial realizada no Clube Aliança; em seguida às 15 horas, o deslocamento dos sócios para o campo de jogo e às 16 horas o jogo entre as equipes de Bento Gonçalves e de Garibaldi.

    No dia da inauguração também consta outra ata (Acta de Inauguração, 1919), na qual consta um apelo aos presentes para que levassem a frente à recém-formada instituição que lhes retribuiria tal dedicação proporcionando o desenvolvimento físico. De fato, a inauguração foi tida como um grande evento na cidade, marcado pelo comparecimento dos associados e vários convidados no ato inaugural. Depois foram assistir ao jogo de futebol entre o Esportivo e Garibaldi. Antes da partida ocorreu a apresentação da banda de Bento Gonçalves, dirigida pelo maestro Ponticelli. Do jogo entre os clubes de Bento Gonçalves e de Garibaldi não existem muitos relatos, porém segundo Souto (1996), a partida ficou encoberta pela grande festa e empolgação que acometia os bentogonçalvenses e acabou em um empate por 1x1.

    Logo após sua fundação o Esportivo começou a construir sua trajetória pelo interior do estado do Rio Grande do Sul. Como resultado disso, conforme Souto (1996), as agremiações de caráter amador como, Canto Fura, Liberal e São Luiz, que pertenciam a cidade de Bento Gonçalves acabaram cessando suas atividades, devido ao fato de praticamente todos os jogadores transferiram-se para o Esportivo.

    O clube também investia no lazer dos sócios, pois ainda no ano de 1919, o tesoureiro Alindo D’Arrigo foi encarregado de comprar bolas e raquetes para a prática de tênis (SOUTO, 1996). O esporte era praticado principalmente por mulheres, porém não se tem registros sólidos acerca do mesmo. Já na inauguração as mulheres participaram da organização do “Clube de Tênis” um espaço de prática esportiva voltado para elas.

    Todo time de futebol necessita de um campo para poder por em prática suas atividades. No caso do Esportivo não foi diferente. Após a fundação, o grupo de jovens pioneiros marcou uma reunião com o intendente da época, coronel Antonio Joaquim Marques de Carvalho Júnior, a fim de que cedesse uma área para a construção do campo de futebol. Por sua vez, o intendente Carvalho Júnior, sensibilizado com o pedido doou um terreno, onde os próprios jogadores e amigos que colaboraram deram início a construção do campo. Campo esse denominado Eucaliptos, que com o passar dos anos foi recebendo maiores investimentos, sendo cercado, tendo seu terreno nivelado e algumas outras manutenções.

    O Esportivo em seus primeiros anos de existência realizava muitas excursões para as cidades vizinhas de Garibaldi e Carlos Barbosa. As viagens até o destino das partidas eram realizadas por meio de trem, carroças ou a cavalo. Para Souto (1996), como os jogadores não recebiam nada pelos seus serviços e nem todos podiam cobrir as despesas de tais viagens, outros jogadores mais favorecidos economicamente e sócios custeavam esses valores.

Os primeiros jogos e rivalidades

    Uma rivalidade grande com equipes de Caxias do Sul foi formada. Os principais adversários eram o Juvenil, Juventude e Americano. Os times caxienses eram mais antigos e possuíam reforços de jogadores estrangeiros, principalmente uruguaios que eram famosos na época. Relatos afirmam que a rivalidade era tanta que muitas vezes as partidas não eram concluídas por confusões geradas dentro do campo de jogo. Porém, acabava por ali mesmo, pois ao término do confronto, à noite o time mandante oferecia um baile aos visitantes, onde ocorria uma confraternização.

    No ano de 1923, uma data para ser sempre lembrada pelos torcedores do Esportivo, a cidade de Bento Gonçalves recebeu a equipe do Grêmio Foot Ball Porto Alegrense, que enfrentaria o time local. O Esportivo terminou o primeiro tempo vencendo por dois a zero a equipe de Porto Alegre. Entretanto, o Grêmio Foot Ball Porto Alegrense, comandado por Lara conseguiu se sobressair na segunda etapa devido ao seu melhor preparo físico, marcando seis gols, vencendo o jogo pelo placar de 6x2 (SOUTO, 1996).

    Somente 15 anos depois da visita do tradicional clube de futebol da capital do Estado, no dia 23 de outubro de 1938, o Esportivo disputou novamente um jogo com outro tradicional clube de Porto Alegre. O Sport Club Internacional realizou um amistoso com o Esportivo, em uma partida marcada por grande festividade, e homenagem do Esportivo presenteando o Sport Club Internacional com um buquê de flores. A partida por sua vez foi uma das mais emocionantes da história do Esportivo, afirma Souto (1996), que obteve uma vantagem de 3x1, porém na resistiu à pressão imposta pelo Sport Club Internacional, que empatou o jogo em 4x4. Os jogadores locais foram tidos como heróis por conseguirem parar a forte equipe porto-alegrense.

O estádio próprio

    Apenas 22 anos depois de sua fundação, no dia 24 de setembro de 1941, o Esportivo deu os primeiros passos para possuir o próprio estádio (MAZO et al., 2012). Erny Hugo Dreher, presidente do clube enviou ofício ao então prefeito de Bento Gonçalves, João Dentice, solicitando junto a prefeitura a doação de um terreno para a construção de seu estádio. Primeiramente o presidente Dreher expôs que há mais de 20 anos já havia solicitado junto à prefeitura um terreno para a prática do futebol pelo Esportivo. Também, disse que o terreno cedido pela prefeitura foi cercado e a infraestrutura melhorada com despesas pagas pelo próprio clube, mas que as melhorias já não se encontram mais em boas condições. Outro ponto destacado pelo presidente do Esportivo foi a solicitação de auxílio financeiro de sete contos e quinhentos mil réis (valor da época) à prefeitura, para uma reforma no campo que já não está em boas condições, principalmente para prática do futebol.

    Em resposta ao ofício enviado, o prefeito Dentice, comunica ao clube que irá ceder uma área com melhores condições para prática do futebol, na qual será construído um estádio municipal, onde acomodará estruturas para diversos esportes como basquetebol, tênis e futebol. Ainda fala que o estádio ficará sob o uso exclusivo do Esportivo, apenas sendo utilizado pela prefeitura em ações cívicas e para o uso dos colegiais em dias e horas que o campo não estivesse comprometido com jogos do clube. Além disso, um contrato seria redigido acordando tudo o que foi citado e mais a impossibilidade de outro clube que por ventura viesse a surgir usufruir do campo, sendo de responsabilidade da prefeitura a manutenção e guarda do estádio. A infraestrutura do estádio contaria ainda com um pavilhão para acomodação dos torcedores e uma copa (lanchonete), sendo 3% da renda das partidas destinado à prefeitura do município.

    No ano seguinte, na data de 19 de abril de 1942 foi lançada a pedra fundamental para a construção do novo estádio. Enquanto as obras do estádio seguiam, o Esportivo continuava sua caminhada em jogos, já percorrendo todo Estado, participando inclusive do campeonato estadual amador. A inauguração do estádio do Esportivo ocorreu três anos depois de iniciadas, em 26 de agosto de 1945.

    De acordo com Souto (1996), a maior renda vista no estádio do Esportivo, foi na data de sua inauguração, 26 de agosto de 1945, em uma partida comemorativa contra o Clube Atlântico da cidade de Erechim. Cerca de quatro mil espectadores estavam presentes gerando uma renda de quase 900 mil cruzeiros, renda recorde no Estado naquele período. Consta que esse dinheiro foi destinado para o término dos acabamentos do próprio campo de futebol.

    O jogo de futebol foi uma festa. Os jogadores de ambos os times, Esportivo e Clube Atlântico foram recebidos com fogos, confetes e serpentinas. Dante Marcucci, fundador do clube Juventude de Caxias do Sul e prefeito da cidade sobrevoou as imediações do estádio com a esquadrilha de aviões do Aeroclube de Caxias do Sul. Além disso, clubes do Estado enviaram presentes ao Esportivo, parabenizando o clube pela data.

    O apito final da partida comemorativa apontava um empate no placar: 0x0. Mas isto não encobriu a empolgação que acometeu jogadores e torcedores em relação ao feito memorável para um clube do interior: a conquista de uma sede. O estádio denominado Montanha, estava localizado em uma área elevada da cidade Bento Gonçalves, onde hoje é o Bairro Cidade Alta. Enfim, o Esportivo de Bento Gonçalves tinha o estádio próprio que tinha pleiteado fazia mais de 20 anos.

Considerações finais

    Por meio desse estudo pode-se perceber que o Clube Esportivo Bento Gonçalves foi fundado por uma elite de jovens descendentes de imigrantes italianos, que tinham a intenção de disputar campeonatos oficiais com clubes de cidades vizinhas, o que não era possível para os clubes amadores.

    Desde o início o Esportivo recebeu grande apoio por parte da sociedade de Bento Gonçalves. A prefeitura cedeu um terreno para servir de sede e para a prática do futebol. O clube Aliança disponibilizou suas dependências para a realização de reuniões na fase da fundação. Além disso, neste clube eram realizados bailes e jantares com o propósito de comemorar as vitórias do Esportivo, ou até mesmo angariar fundos para viagens e participações em campeonatos e jogos em outros municípios.

    Os associados auxiliavam os jogadores como podiam, desde arrumando transporte para os jogos até mesmo contribuindo com dinheiro que ajudava a pagar passagens e outros gastos. Esses por sua vez demonstravam orgulho em vestir a camisa do Esportivo. Muitos destes jogadores tinham jornadas diárias de até 16h de trabalho que após o encerramento dava lugar aos treinos, sendo a maioria deles treinos físicos, realizados com corridas noturnas. Os jogadores que possuíam um pouco mais de condições financeiras ajudavam seus companheiros. E assim era movido o clube, com o empenho e dedicação de jogadores, sócios, diretores e até mesmo a comunidade contribuía de alguma forma para o desenvolvimento do Clube Esportivo Bento Gonçalves.

    Outro ponto a ser ressaltado é que não era comum na época, é a inclusão de mulheres desde a primeira reunião de fundação. A maioria das mulheres era ligada aos sócios, sendo irmãs ou esposas. Foram inclusas no processo de criação do Esportivo e assumiram cargos na Comissão de Senhoritas buscando mais sócias.

    Como Sassi (2012) apresenta, o Esportivo destacou-se no cenário futebolístico, afinal foi vice-campeão gaúcho e primeiro clube do interior a derrotar o Sport Club Internacional dentro do estádio Beira-Rio. Também cabe referir que foi o clube revelador de Renato Portaluppi, como também passaram pelo clube técnicos de renome como Ênio Andrade e Valdir Espinosa, esse que também atuou como atleta no clube. Podemos ainda mencionar a participação do Esportivo na partida conhecida como o “jogo da neve”, onde em 1979 o futebol ficou para segundo plano em um 0x0 frente a equipe do Grêmio Foot-ball Porto Alegrense. O clube também tem participação na Copa do Brasil, na qual foi eliminado em pleno estádio do Maracanã.

    Estes fatos são mencionados, pois a intenção de estudos desta natureza são o de preservação da memória dos clubes situados em cidades no interior do Estado. Espera-se por meio dos estudos históricos, contribuir para que a memória dos clubes de futebol, quase centenários, seja lembrada pelo seu significado, não apenas para o futebol sul-rio-grandense, mas também para a compreensão do campo esportivo.

Referências

  • Acta nº 1, Fundação do Club Sportivo Bento Gonçalves, 1919.

  • Acta nº 2, Fundação do Club Sportivo Bento Gonçalves, 1919.

  • Acta de Inauguração, 21/09/1919.

  • AMADOR, M. C. P. Italianos para o Rio Grande do Sul: um novo conceito de família. XXIV Simpósio Nacional em História. 2007. ANPUH.

  • CAPRARA, B. S; LUCHESE, T.A. Da colônia Dona Isabel ao município de Bento Gonçalves – 1875 a 1930. Bento Gonçalves: Fundação Casa das Artes, 2005.

  • DE BONI, L. A. Bento Gonçalves era assim. Bento Gonçalves: Fervi (Inplace), 1985.

  • DE PARIS, A. Memórias: Bento Gonçalves – 109 anos. Bento Gonçalves: Suliana, 1999.

  • MAZO, Janice; ASSMANN, Alice et al. Associações Esportivas no Rio Grande do Sul: lugares e memórias. Novo Hamburgo/RS: FEEVALE, 2012. CD ROM.

  • PIMENTEL, A. O método da análise documental: seu uso numa pesquisa historiográfica. Cadernos de Pesquisa, n. 114, p. 179-195, nov. 2001.

  • SASSI, G. Clube Esportivo Bento Gonçalves: memórias de um tradicional clube de futebol do interior do Rio Grande do Sul. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal do Rio Grande do Sul/ Escola de Educação Física. Porto Alegre, 2012.

  • SOUTO, A, S. Clube Esportivo Bento Gonçalves, o Alvi-Azul da capital brasileira do vinho. Bento Gonçalves: Arte & Texto, 1996.

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