Além da gestão urbana: considerações sobre a relação de urbano, rural e geotecnologias Más allá de la gestión urbana: consideraciones sobre la relación urbano, rural y geotecnologías |
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*Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social, Unimontes (Brasil) |
Caroline Marci Fagundes Coutinho* Francisco Malta Guélmer Faria Maria do Carmo dos Santos Carvalho |
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Resumo Neste artigo será abordado o conceito de urbano e cidade em comparação com o espaço rural. Para a nova estruturação desses espaços, serão apresentadas algumas das possibilidades do uso de tecnologias de geoprocessamento para a gestão urbana. Ao final, o geoprocessamento pode ser considerado um meio de operacionalização e viabilização de um planejamento urbano eficaz. Unitermos: Gestão urbana. Espaço urbano. Geotecnologias.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Atualmente pensar no urbano não é somente pensar na cidade. As novas reflexões já estão no âmbito da não definição de um espaço específico propriamente. E essa nova roupagem influencia diretamente a questão do rural, pois este espaço também acompanhou o processo de transformação do urbano. Diante da complexidade de se delimitar este espaço, atualmente se tem ferramentas tecnológicas para auxiliar no planejamento no urbano.
Neste artigo será abordado o conceito de urbano e cidade em comparação com o espaço rural. Para a nova estruturação desse espaço, serão apresentadas algumas das ferramentas para o planejamento urbano, como alguns mapas podem auxiliar nesta atividade.
O Urbano e o Rural em foco: Considerações a partir do espaço
Para uma melhor abordagem sobre o urbano, serão resgatados autores da sociologia e geografia, em busca de uma melhor análise deste fenômeno.
Um autor clássico da Ciências Sociais que consolidou o estudo sobre as cidades foi Max Weber. Ao analisar e definir o conceito de cidade, o autor foi além e criou categoriais para distingui-las.
Para Weber (1973) o espaço da cidade vai além do seu tamanho
Pode-se tentar definir de diversas formas a “cidade” (...), é comum a todas representá-la por um estabelecimento compacto (...), como uma localidade e não casarios mais ou menos dispersos. [...] A localidade considerada sociologicamente significaria um estabelecimento de casas pegadas umas às outras ou muito juntas, que representam, portanto, um estabelecimento amplo, porém conexo, pois do contrário faltaria o conhecimento pessoal mútuo dos habitantes, que é específico da associação de vizinhança. (WEBER, 1973, p.68).
Ao analisar a cidade, Max Weber não negligenciou os aspectos do campo. Para o autor a diferenciação destes vai além da organização do espaço e perpassa pela organização econômica, pois a formação da cidade proporcionou o surgimento do fenômeno “economia urbana”, substituindo a “economia autárquica” e a “economia nacional”.
O autor propõe um olhar para a cidade através do econômico, afirma que para isso seria necessário estabelecer um parâmetro para analisar a dependência da indústria e do comércio por parte dos habitantes para viverem. E assim define
Falaremos de “cidade” no sentido econômico quando a população local satisfaz uma parte economicamente essencial de sua demanda diária no mercado local e, outra parte (...), mediante produtos que os habitantes da localidade e a povoação dos arredores produzem ou adquirem para colocá-los no mercado. (WEBER, 1973, p. 69).
Neste apontamento de Weber é possível notar um indicativo de como se dá a relação entre o espaço urbano e rural, onde produtos originados nos dois espaços são trocados mutuamente, um atrelamento da produção local e da relação social.
Já Manuel Castells (2000), ao analisar o urbano, propõe a seguinte definição de cidade:
As cidades são a forma residencial adotada pelos membros da sociedade cuja presença direta nos locais de produção agrícola não era necessária. Quer dizer, estas cidades só podem existir na base do excedente produzido pelo trabalho da terra. (p. 41).
A cidade é o lugar geográfico onde se instala a superestrutura político-administrativa de uma sociedade que chegou a um ponto de desenvolvimento técnico e social (natural e cultural) de tal ordem que existe uma diferenciação do produto em reprodução simples e ampliada da força de trabalho, chegando a um sistema de distribuição e de troca, que supõe a existência. (CASTELLS, 2000, p. 42-43).
Referência também nos estudos sobre o urbano, este autor é enfático ao afirmar que o
Urbano designaria então uma forma especial de ocupação do espaço por uma população, a saber, o aglomerado resultante de uma forte concentração e de uma densidade relativamente alta, tendo como correlato previsível uma diferenciação funcional e social maior. (CASTELLS, 2000, p. 40).
Ainda pertencente à definição de Castells (2000), mas fazendo uma comparação com o rural, o autor afirma que é no espaço urbano que é notado uma “heterogeneidade social e funcional”, que acontece pelo distanciamento vigente na sociedade moderna.
Já Salgueiro (2002) é enfática ao colocar que existem diversos olhares sobre a definição da cidade. Buscando uma conceituação urbana ou citadina, apresenta que
Da etimologia das palavras retiramos duas dimensões fundamentais para o conceito de cidade. Por um lado, a dimensão material consubstanciada numa forma física com certas características de edificação e de ocupação, com uma certa estrutura e organização; por outro lado, a dimensão social dada pela concentração de pessoas, uma sociedade com valores, necessidades, regras e problemas. (SALGUEIRO, 2002, p. 23-24).
Em seu texto O que é urbano, no mundo contemporâneo Monte-Mór (2006) realiza uma análise sobre os aspectos formadores do espaço urbano, em alguns momentos com comparação com o rural, resgatando autores clássicos e apresentando novos direcionamentos teóricos.
Para o autor, a incorporação da idéia do urbano ao espaço da cidade se deu a partir da consolidação da indústria, criando a cidade industrial. Analisando a relação entre a cidade e o campo, Monte-Mór (2006) define que
A cidade passou a não mais apenas controlar e comercializar a produção do campo, mas também a transformá-la e a ela agregar valor em formas e quantidades jamais vistas anteriormente. O campo, até então predominantemente isolado e autosuficiente, passou a depender da cidade para sua própria produção, das ferramentas e implementos aos bens de consumo de vários tipos, chegando hoje a depender da produção urbano-industrial até para alimentos e bens de consumo básico. (MONTE-MÓR, 2006, p. 8).
Assim, ao delimitarmos o que é cidade e urbano, conseqüentemente, afirmamos o que é campo e rural. Estes dois espaços estão intimamente relacionados pela dependência, pois para o bom funcionamento de um, é necessário, no mínimo, a normalidade do outro. Contudo, é necessário delimitar as funções, sejam econômicas ou sociais, de cada espaço.
Gestão Urbana e Geotecnologias
Antes conhecido como Administração, hoje a Gestão é um termo utilizado para orientar normas e funções com o objetivo de organizar uma produção, sempre em busca de resultados positivos. A Gestão Urbana não foge a este conceito. Esta adjetivação só enfatiza o foco deste planejamento, que acontece, inicialmente, na cidade.
Caracterizando a cidade para pensar na gestão, Rezende e Frey (2005) apontam que
A cidade é um organismo dinâmico e complexo. Esse organismo pode ser caracterizado por grandes diversidades e múltiplos contrastes, gerando inúmeras dificuldades ao gestor público. Nesse sentido a gestão urbana deve desempenhar um papel relevante para contribuir na diminuição desses contrastes, dificuldades e conflitos e também na solução dos múltiplos problemas enfrentados. (REZENDE E FREY, 2005, p. 53).
Neste espaço de diversidade é necessário buscar conhecimento em múltiplas fontes. Assim, os autores afirmam que a gestão urbana abrange a governança urbana, perpassando por diferentes orientações da política e dos conhecimentos sobre o urbano. E a diversidade não se faz somente na interdisciplinaridade dos estudos, mas também no envolvimento dos atores.
No presente, a gestão urbana contempla um incomensurável conjunto de variáveis e de diferentes atores, experimentando transformações fundamentais que exigem um debate controvertido em torno dos possíveis caminhos da gestão pública das cidades na sociedade da informação que crescentemente vem se consolidando (REZENDE E FREY, 2005, p. 52).
Na governança urbana cidadãos e poder público são responsáveis conjuntamente pela cidade, em todos os aspectos – e o produto deste trabalho é sempre a melhora na qualidade de vida.
Para Villaça (1999) a Gestão Urbana está ligada a questão de gerir o espaço urbano a partir dos aspectos sociais e econômicos, e assim, o planejamento torna-se fundamental para a realização das ações necessárias. O Planejamento Urbano é definido uma ferramenta para definir os caminhos para o desenvolvimento urbano, como ele deve ser organizado e melhor direcionado, sempre buscando a melhoria da qualidade de vida no município.
Ao pensar em mecanismos para conhecer o espaço de atuação do planejamento urbano, inicialmente a cidade, as ferramentas tecnológicas já se tornaram imprescindíveis. Conhecidas como Geotecnologias ou Geoprocessamento, são instrumentos tecnológicos que possibilitam conhecer melhor o espaço a ser estudando, que permitem informações espaciais mais precisas. Definir uma única nomenclatura para esse segmento dos estudos geográficos possui algumas divergências, contudo, conforme Leite (2006) aponta que o conceito apresentado por Rosa e Brito (1996) promove uma melhor interpretação sobre o tema:
O conjunto de tecnologias destinada a coleta e tratamento de informações espaciais, assim com o desenvolvimento de novos sistemas e aplicações, com diferentes níveis de sofisticação. Em linhas gerais o termo geoprocessamento pode ser aplicado a profissionais que trabalham com processamento digital de imagens, cartografia digital e sistemas de informação geográfica. Embora estas atividades sejam diferentes estão intimamente interrelacionadas, usando na maioria das vezes as mesmas características de hardware, porém softwares diferentes. (LEITE, 2006, p. 23 apud ROSA e BRITO, 1996, p. 07).
Outros mecanismos relacionados à tecnologia na geografia são o Sensoriamento Remoto, que basicamente é a possibilidade de se obter dados através de satélites, e o Sistema de Informação Geográfica (SIG), que é um avanço no tratamento de dados geográficos, antes realizados manualmente. O SIG trata dos dados da superfície terrestre, desde a captura de imagens até o processo final de análise dos dados. (LEITE, 2006).
Para pensarmos a gestão e o planejamento do espaço urbano, é de extrema importância o amparo de métodos de estudo, pesquisa e ação para a realização de atividades que possam gerar influências positivas na qualidade de vida dos atores sociais que pertencem a esse espaço. Assim, as geotecnologias são instrumentos de valiosa contribuição para todo o processo de pensar o urbano. Segundo Leite (2006)
O geoprocessamento é extremamente importante para se planejar o espaço urbano, permitindo assim, o uso racional do espaço e conseqüentemente subsidiar a estruturação de uma cidade oferecendo melhor qualidade de vida para sua população. E com toda a problemática socio-ambiental urbana que encontra-se hoje, a aplicação do geoprocessamento pode ser uma técnica para reduzir esses problemas. (LEITE, 2006, p. 34).
Essas tecnologias possuem diferentes aplicações no âmbito da geografia. Informações do solo, hidrografia, zoneamento, entre outras, são possibilitadas a partir do uso do geoprocessamento. Segundo Carvalho e Leite (2009)
Informações básicas do relevo, hidrografia, características geológicas, geomorfológicas, declividades ou áreas de ocorrências de doenças e área de expansão urbana, análise de infra-estrutura, informações socioeconômicas, Plano Diretor, Lei de Uso e Ocupação do Solo, Zoneamento Econômico-Ecologico, cadastro técnico multifinalitário, análise de interesses ambientais, cadastro escolar, entre outros são apenas algumas das possibilidades de informações espacializadas que podem ser geradas através de mapas básicos e temáticos com recursos do geoprocessamento. (CARVALHO e LEITE, 2009, p. 3644).
Essas aplicações possibilitam uma melhor percepção sobre a real situação do espaço, bem como podem auxiliar diretamente no planejamento da gestão urbana. Há inúmeras possibilidades de apresentação de mapas, desde localizações mais simples, como os exemplos a seguir
Mapa 1. Localização do Município de Montes Claros-MG
Fonte: IBGE, 2012
Como exemplo visual dos recursos disponíveis dessas tecnologias, Carvalho e Leite (2009) apresentam algumas possibilidades de produtos.
Figura 1. Aplicações de Geoprocessamento na Gestão Urbana
Fonte: PBH - www.pbh.gov.br, apud Carvalho e Leite, 2009
As tecnologias que compõem o geoprocessamento possibilitam agrupar dados sobre território, espaço e socioeconômicos para a promoção de soluções para o planejamento e gestão urbana.
Considerações finais
Desde a origem das reflexões sobre o espaço urbano, sua delimitação sempre foi complexa. Antigamente como o espaço da cidade, hoje como algo sem fronteiras, o urbano incorpora não só território, mas também as características dos atores sociais que atuam neste espaço.
O espaço urbano precisa ser analisado, também, sob a ótica do rural, pois entre estes há uma relação de dependência. Assim, o planejamento urbano deve ser realizado de forma integrada, onde o foco seja na cidade, mas agrupando algumas necessidades do espaço rural.
Para a realização do Planejamento e Gestão Urbana hoje, há as tecnologias relacionadas ao geoprocessamento que auxiliam de forma decisiva nessas atividades. O planejamento deve ser pautado em informações o mais precisas possível da realidade a ser trabalhada, e o geoprocessamento é decisivo nesses projetos.
Assim, diante dos conceitos apresentados aqui, é possível considerar que mesmo com a complexidade da realidade do espaço urbano, hoje já existem instrumentos tecnológicos que amparam e promovem o melhor conhecimento do espaço a ser trabalhado. Deste modo, o geoprocessamento pode ser considerado um meio de operacionalização e viabilização de um planejamento urbano eficaz.
Referências
CARVALHO, G. A.; LEITE, D. V. Geoprocessamento na gestão urbana municipal – a experiência dos municípios mineiros Sabará e Nova Lima. Anais XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Natal, Brasil, 25-30 abril 2009, INPE, p. 3643-3650.
CASTELLS, Manuel. A questão urbana. O Fenômeno Urbano: delimitações conceituais e realidades históricas. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2000.
LEITE, Marcos Esdras. Geoprocessamento aplicado ao estudo do espaço urbano: O caso da cidade Montes Claros-MG. Dissertação de mestrado.Universidade Federal de Uberlândia, 2006.
MONTE-MÓR, Roberto Luís de Melo. O que é o urbano, no mundo contemporâneo. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2006.
REZENDE, D. D.; FREY, K. Administração estratégica e governança eletrônica na gestão urbana. EGESTA, Santos, n. 1, p. 51-59, abr/jun. 2005.
SALGUEIRO, T. B. Espacialidades e Temporalidades nas áreas urbanas. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri Carlos; LEMOS, Amália Inês Geraiges (org.). Dilemas urbanos: novas abordagens sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2002.
VILLAÇA, F. Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil. In: DEAK, Csaba; SHIFFER, Sueli (Org.). O processo de urbanização no Brasil. São Paulo: Edusp, 1999. p. 169-243.
WEBER, Max. Conceito e Categorias de Cidade. In: O Fenômeno Urbano. Rio de Janeiro: ZAHAR Editores, 1973.
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