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Um olhar sobre a educação corporal, moda e estética

Una mirada sobre la educación corporal, la moda y la estética

 

*Tecnóloga em Estética e Cosmética pela ULBRA Carazinho

**Mestre em Educação, docente e coordenadora

do curso de Educação Física da ULBRA Carazinho

(Brasil)

Magali Casagrande Agostinetto*

Patrícia Carlesso Marcelino**

patriciacarlessosiqueira@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A estética, o corpo e a moda são percebidos de acordo com cada época e com cada processo educativo. Esta revisão bibliográfica objetivou verificar quais são as tendências contemporâneas relativas ao corpo, a estética e a moda, observando a estética através dos tempos e sua significação em nossa sociedade moderna e verificando os paradigmas corporais vigentes que permeiam nosso tempo, o corpo e a influencia da mídia e da educação. Com base nas informações advindas desse estudo e de acordo com Araújo; Shermes (2012) percebe-se que se vive numa sociedade cuja construção da imagem do corpo saudável (independente de ser ou não realmente saudável) preconiza como fato o indivíduo se parecer belo e saudável. Isto é decorrente de um processo de estetização da vida cotidiana e das influências da cultura de consumo, na qual realidade e imagem são consideradas sem distinção. Neste processo, a mídia cria ícones de beleza e saúde, produz modelos a serem seguidos e que, muitas vezes, são tipos distorcidos de beleza e até de saúde.

          Unitermos: Educação corporal. Estética. Moda. Corpo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Nesse artigo de revisão de literatura, apresentaremos algumas reflexões sobre o corpo, a moda, a estética e suas significações e também de que maneira o corpo, a moda e o processo de educação estética se diferenciam de acordo com a época e contextos históricos.

    Marcelino (2012) aborda que, o corpo é a única possibilidade que temos de nos experimentar como seres humanos, tecendo nossa própria existência num emaranhado de relações. Nesse sentido, a noção de corporeidade coloca-se como mais abrangente para definir a unidade mente-corpo que os termos “consciência de corpo” ou “consciência corporal”, tendo em vista, inclusive, a discussão científica e filosófica contemporânea, ainda sem respostas conclusivas, sobre a natureza da consciência, seus limites e abrangência.

2.     A educação corporal

    Ao longo da historia humana, o homem apresenta inúmeras variações na concepção e no tratamento do corpo, bem como nas formas de comportar-se corporalmente, que revelam as relações do corpo com um determinado contexto social. Desse modo, Gonçalves (1999) enfatiza que se variam as técnicas corporais relativas a movimentos como andar, pular, correr, nadar etc.; os movimentos corporais expressivos (posturas, gestos, expressões faciais), que são formas simbólicas de expressão não verbal; a estética corporal, que abrange idéias e sentimentos sobre a aparência do próprio corpo (pudor, vergonha, idéias de beleza...) o controle de estrutura dos impulsos e das necessidades.

3.     O corpo e o processo de civilização

    Marcelino (2012) explica que ao longo do processo histórico da civilização ocidental, constatamos assim, a crescente ação de um poder que atua sobre o corpo: de um lado, diminuindo suas potencialidades de empatia e comunicação e determinando-lhe formas especificas de comportar-se; de outro lado, com o avanço da ciência e da tecnologia investindo-o, também de um poder que abre possibilidades de aperfeiçoamento quase ilimitadas de suas habilidades, de conservação da saúde e prolongamento da vida.

4.     A imagem corporal

    A imagem corporal é desenvolvida desde o nascimento até a morte, sofre modificações resultantes do processamento de estímulos. Durante a fase pré-escolar a criança desenvolve o seu conceito de imagem corporal. Nessa fase ela começa a reconhecer a aparência das pessoas de forma positiva ou negativa, conhece o significado do “bonito” e “feio” e já reflete sobre o que as pessoas pensam a respeito da aparência dela. A imagem corporal envolve três fatores: perceptivo, que é a percepção do próprio corpo e a estimativa de tamanho e peso do mesmo; subjetivo que é referente à satisfação, ansiedade e a preocupação com a aparência; e o comportamental que são situações evitadas devido ao desconforto pela aparência física (ANDRADE et al, 2012).

    Ao analisar a beleza corporal, é possível afirmar que, sobre ela, recai um “padrão”, onde se tem idéia de uniformidade. O padrão de beleza corporal seria um conjunto de características que um corpo deveria apresentar para ser considerado como belo por um determinado grupo de indivíduos. Este padrão se apresenta em múltiplas maneiras: “a imagem consensual do belo”; “cultura estética do corpo do brasileiro”; “ditadura do corpo”; “padrão de corpo”; “uma estética corporal padronizada”; “imagem ideal”; “padrão atual de beleza física ocidental” (FREITAS et al, 2010).

5.     A estética corporal e a ditadura da moda e da beleza

    A estética é o estudo dos valores no domínio da beleza e da arte. Pode ser conceituada mais amplamente como a ciência do belo ou a filosofia da arte. A palavra “estética” atravessa a história da humanidade, mas foi criada somente no século XVIII por Baumgarten (1714-1762), apesar de não ter um nome específico antes desse período, sempre houve a tarefa de refletir sobre a arte e o belo. Japiassu e Marcondes (1990 apud NOVAES, 2001) relatam que para Baumgarten a estética significava a teoria da sensibilidade, pois, considerava-a uma ciência, onde sua obra teve como objetivo a análise e formação do gosto, dando tratamento ao belo em termos de sensação e de sentimento.

    Só mais recentemente a estética tem sido considerada uma ciência independente, com seu próprio método, mas ela sempre esteve ligada a historia da arte e à reflexão cultural e filosófica. Os historiadores e pensadores se debateram com um desafio para sistematizar a história da estética, pois de um lado a estética relacionou-se com a literatura e a arte, e de outro, com a cultura e a filosofia (NOVAES, 2001).

6.     Beleza corporal e mídia

    O corpo que se vê é aquele que esta na moda. Ele é exibido em novelas, cartazes, filmes, desfiles, aonde a nudez vem emergindo cada vez mais limpa. A busca por um corpo que se vê bonito, atraente, vistoso, moreno e atlético é constante onde, cerca de um décimo da economia mundial gira em torno da compra de produtos cosméticos, de academias para modelar o corpo e de empresas que produzem roupas para se mostrar o corpo. Nesse século, tudo o que é para mostrar e exibir são permitidos, uma época positivamente exibicionista. O médico e psicoterapeuta considera a espiritualidade, as grandes virtudes do homem, a transcendência nada mais é do que a sensorialidade atingindo ao seu limite. (GAIARSA, 2005.)

7.     A beleza corporal e a moda através dos tempos

    A palavra moda geralmente é associada a roupas, vestimentas e afins, mas seu significado é mais explicito, pois, englobam os mais diversos aspectos de uma cultura, como os objetos de decoração, a língua, o agir, as obras culturais e seus autores, as idéias e os gostos, contagiando-os com seus entusiasmos e suas oscilações velozes (FREITAS, et al, 2010).

Figura 1. Linha do tempo da moda 1775 a 2000

Fonte: Jones (apud TRINDADE 2010)

    A década de 1910 foi marcada pelo fim do uso de espartilhos pelo estilista Paul Poiret, dando lugar ao chemise, sendo que o mesmo defendia que se devia mostrar a beleza natural do corpo feminino, onde bastava como suporte uma cinta e um soutien. Sendo que o pensamento de que o espartilho era prejudicial à saúde iniciou do arquiteto Henry van de Velde e foi aceito por médicos, pedagogos, artistas e sociólogos investindo assim contra a moda pouco natural (TRINDADE, 2010).

    Os anos 20 foram conhecidos como a época da dança de charleston-girl e do jazz, onde as mulheres começaram a usar vestidos curtos com franjas e longos colares, numa libertação sexual. A moda feminina experimentou uma troca extraordinária, a mulher aparece ao público fumando e dançando, com cabelo liso e bem curto com franjas acima da linha das sobrancelhas, cintura muita baixa, joelhos apenas cobertos pelas saias, roupas folgadas e meias de seda (TRINDADE, 2010).

    Na década 1930 evidenciou-se uma nostalgia pelos modelos clássicos, apresentando uma beleza absoluta, remanescente de idéias grego-romanos e renascentistas. Os homens preferiam mulheres loiras, os penteados imitavam os ondulados das gregas, porém com brilhantina. Surge a indústria de tintura, a maquiagem segue o estilo clássico com formatos escultóricos, sendo que as sobrancelhas eram completamente depiladas (TRINDADE, 2010).

    Por volta da década de 1940 e 1950, Trindade (2010) aborda que ocorreu o racionamento de roupas causado pela Segunda Guerra Mundial. A indústria investe na precisão e acabamentos, roupas com muitos detalhes, há introdução de corantes sintéticos. Por um lado a riqueza com linha princesa e cintura marcada e, por outro lado, a pobreza com pensamento de aproveitar o que se tem e remendar, surge o salto plataforma.

    Já os anos 1960 foram considerados a década da revolução, pois, surgiu o movimento hippie, onde houve a quebra da diferenciação do feminino e masculino, surgindo então o unissex, muitas cores, franjas nas roupas, túnicas, vestidos floridos cumpridos, calças boca-de-sino, pantalona, bolsas e acessórios de couro rústico (TRINDADE, 2010).

    Na década de 70, foram consideradas antimoda, surgindo o movimento punk que manifestava contra o sistema de consumo, usando calças rasgadas, saias curtas e com rasgos, jaquetas pretas de couro tacheadas. As maquiagens eram carregadas em preto, os cabelos eram espetados e coloridos e febre nos jeans (ROCHA, 2011).

    Já na década de 80 enquanto a forma física virou obsessão, a moda tornou-se particular, sendo que ficou conhecida como os anos de contraste. Quebrando o estilo unissex, usavam babados, saias armadas de tafetás e laços, meias fumê, cabelos cacheados, maquiagem teatral alongando os olhos e focalizando desenhos em alguma parte do rosto (ROCHA, 2011).

    Os anos 1990 revolucionaram a forma de se pensar e fazer moda, surgindo uma moda democrática. Utilizavam jeans surrados, sobreposições de blusas brancas ou pretas com camisas de flanela com estampa xadrez, tênis, roupas justas, esportivas, com cores fosforescentes e ácidas. O corpo passou a ser elemento fundamental na transformação estética, onde as academias de ginástica tornaram-se moda em todo mundo, ocorrendo a democratização das cirurgias plásticas e popularização do uso de piercings e tatuagens. A preocupação em exibir a silhueta livre de gorduras e sem nenhuma imperfeição foi a marca da década (ROCHA, 2011).

    O ano 2000 foi marcado pela mistura de estilos das décadas anteriores às novidades da modernidade. Eram usadas saias florais, tranças no cabelo, bolsas de couro transpassadas, tiras de couro no meio da testa e brincos, pulseiras e colares feitos com penas e sementes. A moda possibilitou a visibilidade do belo aos diferentes tipos de corpos. Na busca pelo corpo perfeito apelavam à intervenções cirúrgicas, mas a marca foi a prevenção e exibição de um corpo bonito, porem saudável (ROCHA, 2011).

    E assim a cada momento e época vigente, a moda, o corpo e nossa história se transformam!

8.     Considerações finais

    Vive-se numa sociedade cuja construção da imagem do corpo saudável (independente de ser ou não realmente saudável) preconiza como fato o indivíduo se parecer belo e saudável. Isto é decorrente de um processo de estetização da vida cotidiana e das influências da cultura de consumo, na qual realidade e imagem são consideradas sem distinção. Neste processo, a mídia cria ícones de beleza e saúde, produz modelos a serem seguidos e que, muitas vezes, são tipos distorcidos de beleza e até de saúde (ARAUJO; SCHEMES, 2012).

    O mercado estético está cada vez mais valorizado, a cada dia surgem pessoas preocupadas com o corpo, querendo entrar nos padrões corporais da moda, ou seja, na eterna busca pelo “corpo perfeito”. Como futura profissional da área da estética temos que ter um extremo cuidado para que não trabalhemos somente com a aparência física e estética de cada pessoa, mas sim, o corpo como um todo, pois cada um tem suas particularidades e é único.

Referências

  • ANDRADE, Jessica S.S. et al. A influência da sociedade na imagem corporal de escolares. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 172, 2012. http://www.efdeportes.com/efd172/a-influencia-da-sociedade-na-imagem-corporal.htm

  • ARAÚJO, Denise C. de; SCHEMES, Claudia. Corpos modelados, corpos esculpidos: a busca pela perfeição. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 172, 2012. http://www.efdeportes.com/efd172/corpos-modelados-corpos-esculpidos.htm

  • FREITAS, Clara M.S. M, LIMA, Ricardo B., COSTA, Antonio S. e FILHO, Ademar L. O padrão de beleza corporal sobre o corpo feminino mediante o IMC. São Paulo: Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, 2010.

  • GAIARSA, Jose A. O corpo que se vê e o corpo que se sente In: DANTAS, Estélio H. M. Pensado o corpo e movimento. Rio de Janeiro: Shape, 2005.

  • GONÇALVES, Maria Augusta Salim. Sentir, pensar e agir a corporeidade São Paulo: Papirus, 1999.

  • MARCELINO, Patrícia Carlesso. Sexualidade e corporeidade na maturidade. Artigo apresentado no X fórum de Pesquisa, ensino e extensão, ULBRA Carazinho, 2012.

  • NOVAES, Jefferson. Estética, o corpo na academia. Rio de Janeiro: Sprint, 2001.

  • TRINDADE, Jurema, Roehrs. Estudo da beleza através dos tempos. Canoas: Editora da ULBRA, 2010.

  • ROCHA, Maria Helena da Silva. De 1960 a 2009: a evolução dos padrões corporais a partir das tendências de moda. Um estudo de Claudia e Nova. Brasília, 2011. http://bdm.bce.unb.br/bitstream/10483/2521/1/2011_MarinaHelenadaSilvaRocha.pdf. Acesso em: 05 out. 2012.

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