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Obesidade e exclusão social do esporte. Uma crítica ao 

comportamento de alguns profissionais de Educação Física

La obesidad y la exclusión social en el deporte. Una crítica a la conducta de algunos profesionales de la Educación Física

Obesity and social exclusion in sport: A critique of the behavior of some Physical Education professionals

 

Pós graduando em Treinamento desportivo e Fisiologia do exercício

pela Universidade Castelo Branco

(Brasil)

Marckson da Silva Paula

marckson2011@ig.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo a reflexão crítica sobre os possíveis comportamentos de profissionais de Educação Física, que tornam o esporte em uma ferramenta excludente, excluindo um público que necessita da participação em atividades físicas e instruções sobre a imagem corporal, os obesos. O estudo em questão leva a um pensamento mais amplo sobre as dimensões sociais do esporte, trazendo informações sobre o impacto na saúde dos obesos, quando privados do direito de se movimentar e acumular experiências sobre a cultura corporal do movimento, que ocasiona um prazer pelo lúdico e reprodução de um estilo de vida saudável.

          Unitermos: Esporte. Exclusão social. Obesidade. Imagem corporal.

 

Resumen

          Este estudio tiene como objetivo la reflexión crítica sobre los posibles comportamientos de los profesionales de educación física que hacen del deporte un instrumento excluyente, con exclusión de personas que necesitan participar en actividades físicas y las instrucciones sobre la imagen corporal, los obesos. Este estudio lleva a una reflexión más profunda sobre las dimensiones sociales del deporte, aportando informaciones sobre el impacto en la salud de la persona obesa, cuando se le priva del derecho a la actividad física y a tener experiencias sobre la cultura corporal de movimiento, lo que provoca un placer por lo lúdico y la reproducción de un estilo de vida saludable.

          Palabras clave: Deporte. Exclusión social. Obesidad. Imagen corporal.

 

Abstract

          This study aimed to critical reflection on the possible behaviors of physical education professionals that make the sport a tool exclusionary, excluding an audience that needs the participation in physical activities and instructions on body image, the obese. This study leads to a broader thinking about the social dimensions of sport, bringing information about the health impact of obesity, when deprived of the right to move and accumulate experiences about body culture movement, which causes a pleasure for entertaining and reproduction of a healthy lifestyle.

          Keywords: Sport. Social exclusion. Obesity. Body image.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Antes de tudo, é de suma importância entender o que é o esporte, quais suas influências para uma mudança de estilo de vida, entender algumas das características psicológicas dos obesos, o preconceito e discriminação que as crianças obesas sofrem durante sua trajetória escolar, a relevância da cooperação nas aulas de Educação Física Escolar (EFE), conscientização dos profissionais de Educação Física em dar suporte à prática inclusiva do esporte, criar adaptações a fim de abranger o máximo possível de participações de alunos nas aulas de EFE.

    O esporte é um dos maiores eventos da atualidade, a cada dia vem se tornando mais importante, as mídias estão dedicando cada vez mais espaços para abordar esse assunto, mostrando a sua relevância para o mundo moderno e sua aceitação como um fenômeno sociocultural que deve ser entendido e estudado, a fim de ser moldado para fazer parte do currículo escolar. (DARIDO, 2008)

    Há outros autores que também definem o esporte. Tubino (2001 apud DARIDO, 2008) afirma que o esporte é o maior fenômeno do século XX. O esporte moderno surgiu na Inglaterra, durante o período de Revolução Industrial, no fim do século XIX, com o surgimento de diversas modalidades esportivas da atualidade, como por exemplo, o futebol. (DARIDO, 2008)

    O esporte passou por diversas alterações, uma delas foi a criação do Método Desportivo Generalizado (MDG), criado na França, por Augusto Listello, esse método agregava caráter esportivo às aulas de Educação Física, dando aspecto lúdico, onde o objetivo era iniciar os alunos em atividades físicas variadas, proporcionando várias atividades esportivas sendo regido por regras que poderiam ser mais rígidas ou não. O esporte era tido como um meio de se preparar para a vida, formação social e não como um fim em si mesmo. O esporte também se tornou responsável por condicionar fisicamente os militares para as guerras, tornando-se um meio e fim da Educação Física. (DARIDO, 2008)

    A Educação Física também passou a utilizar o esporte como um meio para se escolher os talentos e separá-los dos outros alunos nas aulas de Educação Física, o esporte de alto rendimento era excludente e dava privilégios àqueles alunos mais habilidosos, priorizava o alto rendimento, a seleção de talentos, o professor de Educação Física era visto como um professor-treinador e o aluno era visto como aluno-atleta. Essas reflexões ainda se fazem presentes, mesmo que de forma menos acentuada. (DARIDO, 2008)

    Esse legado trago pela história da Educação Física, ainda hoje, está presente nas aulas de Educação Física de muitos profissionais, onde suas aulas tornam-se excludentes e privam os alunos menos habilidosos ou com algum tipo de dificuldade, de participarem de suas aulas e, com isso tomarem gosto pelas atividades físicas, preferindo outros tipos de atividades no ambiente fora da escola.

    As crianças obesas têm maior dificuldade em participar das aulas de EFE, pois, na maioria das vezes, as aulas são excludentes, com metodologias antiquadas e simplistas, tornando-se monótonas. A exclusão social no esporte é relevante pelo fato de impedir que todos tenham direito de participar sem que a habilidade seja um requisito único. Como afirma Tubino (2001 e TUBINO et al. apud DARIDO 2008), o esporte deve ser praticado sem que haja exclusão, competição excessiva, facilitando o exercício crítico da cidadania, apresentando descontração, prazer pelo lúdico, em contraste ao esporte-performance, onde há competição, adversários, regras não flexíveis, resultados, gerando exclusão.

    A obesidade deve ser combatida desde a infância, segundo McArdle (1996 apud PAULA e CUSSATI, 2012) as crianças obesas tendem a ter maiores propensões de serem adultos obesos. A exclusão social desse grupo das aulas de EFE, pode afetar de forma desastrosa no que diz respeito à saúde pública, pois essas crianças poderão se distanciar da prática de atividades físicas quando estiverem fora do âmbito escolar, gerando um quadro de sedentarismo e causando doenças hipocinéticas.

    Darido (2008) relata que o esporte na escola deve abordar a Cultura Corporal do Movimento, inclusão do aluno no âmbito escolar, porém a autora diz que é necessário um debate, um tratamento pedagógico sobre o esporte na escola, orientando a sua metodologia para criar-se uma utilização social do esporte.

Objetivo

    O presente estudo teve como objetivo analisar a prática pedagógica de profissionais de EF, mostrando os riscos da exclusão social de obesos das aulas de EFE.

Metodologia

    O estudo em questão é uma revisão de literatura, trata-se de uma pesquisa classificada do tipo qualitativa, foram analisados artigos de revistas científicas digitais, como os periódicos EFDeportes, Movimento, Pensar a prática, Scielo Brasil, além de outras fontes. As palavras-chave utilizadas foram: obesidade, obesidade e exclusão social, exclusão social na escola, imagem corporal.

A obesidade

    A obesidade é encarada como um grave problema de saúde pública, o interesse em se controlar a propagação da obesidade é grande, faz-se necessário saber que o acúmulo de gordura corporal em excesso, sobretudo na região abdominal, poderá causar diversas doenças cardiovasculares. (JANUARIO et al. apud PAULA e CUSSATI, 2012). Concordando com Januário et al. (apud PAULA e CUSSATI, 2012), Friedrich, Schuch e Wagner (2012) afirmam que esse problema de saúde pública pode ser definido como um estágio de acúmulo de gordura corporal, que irá afetar a saúde.

    Alguns autores mostram que a obesidade está intimamente ligada às doenças crônico-degenerativas, tais como: a diabetes, hipertensão arterial, certos tipos de câncer, doenças cardiovasculares e também lombalgias. (TROIANO, 2002; PANGRAZI, 2003; LOBSTEIN, BAUR, 2004 apud TRICHÊS, 2010).

    Diversos estudos relatam os benefícios da atividade física regular e alimentação saudável contra os fatores de risco à saúde (CARREL et al., 2005; HANSEN et al., 1991; KRAUSE et al., 2007; MCMURRAY et al., 2002; PERICHART et al., 2008 apud FRIEDRICH, SCHUCH e WAGNER, 2012).

    Em um estudo realizado por Malanowski e Laat (2011) com 33 crianças de ambos os sexos, de 7 a 10 anos, apontou para um resultado em que 71% das meninas foram classificadas no estado de sobrepeso/obesidade e 58% dos meninos também ficaram classificados nessa faixa. Ferreira (2006 apud MALANOWSKI e LAAT, 2011), em seu estudo realizado na cidade de Ubá, em 14 escolas da rede pública de ensino, verificou que 32,85% das crianças estavam classificadas com sobrepeso e 23,7% em obesidade.

A imagem corporal

    A nossa imagem corporal é definida através do que pensamos sobre nosso corpo e como vemos o mesmo, essa imagem é tida como a forma que o nosso corpo se apresenta para nós mesmos (CORRÊA e HERNANDEZ, 2010). Os autores afirmam também que a percepção distorcida da imagem corporal está mais presente em mulheres e adolescentes, cita também a influência da mídia na padronização de corpos, correlacionando o dinheiro, sucesso e felicidade com o corpo ideal e fazendo com que as pessoas que estejam “fora de forma” se incomodem e almejem alcançar os corpos perfeitos padronizados pela mídia.

    Na adolescência, em destaque, ocorrem diversas mudanças no corpo e com essas mudanças, as alterações na imagem corporal. Trichês (2010) afirma que a adolescência é uma etapa de evolução e desenvolvimento do ser humano. Vitalle e Tomioka (2003 apud TRICHÊS, 2010) afirmam que a adolescência é a segunda maior fase de desenvolvimento biopsicossocial, ficando atrás apenas do nascimento, os autores também relatam que o adolescente ainda está em fase de adaptação do novo corpo, tendo diversas mudanças acontecendo, como crescimento de pelos nas genitálias, mudança de voz, cólicas e outras alterações. Por isso, a obesidade na adolescência pode ser também um fator negativo de relevância, implicando para com a forma de como o adolescente verá seu próprio corpo.

    Além das mudanças morfológicas do corpo, na adolescência ocorrem as alterações psicológicas, a criação de novos conceitos, valores próprios, identificação com determinados grupos, busca da autonomia e diminuição da dependência dos pais (LOBSTEIN, BAUR, 2004 apud TRICHÊS, 2010). As mudanças afetam principalmente indivíduos do sexo feminino, onde, segundo Trichês (2010), há uma dificuldade maior de aceitação do corpo, como por exemplo, os seios que agora são maiores, podem causar vergonha durante a participação nas aulas de EFE.

    São vários os fatores que afetam a imagem corporal, a obesidade em si, também pode mudar a consciência de imagem corporal das crianças e adolescentes, alunos mais obesos tendem a sofrerem com certos tipos de gozações feitas por parte dos seus colegas, Corrêa e Hernandez (2010) comentam que as crianças obesas já sofrem com os apelidos tendenciosos feitos pelos seus colegas de classe, adolescentes e adultos obesos também tendem a sofrer preconceitos no meio profissional e acadêmico nos quais estão inseridos.

    Um estudo realizado na cidade do Rio de Janeiro, citado por Palma et al. (2003), com 5.457 indivíduos relatou que as pessoas com faixa etária de 20 a 29 anos são as que mais ingressam nas academias de ginástica, com 32,96% de adesão à atividade física, entretanto, 12,5% de indivíduos com faixa etária de 10-19 anos aderiram à atividade física nas academias de ginástica do estado. Esses dados mostram a insatisfação de adolescentes e jovens sobre a sua imagem corporal.

Exclusão social e impacto na saúde pública

    A não participação nas aulas de EFE implicam em inatividade física, sedentarismo e, consequentemente, maior propensão a doenças crônico-degenerativas. Já foi comprovado em diversos estudos que as crianças e adolescentes obesos tendem a ter maior propensão a desenvolverem doenças metabólicas. Como relata Terres et al. (2006), há uma maior probabilidade de crianças e adolescentes com índice de massa corporal (IMC) elevado apresentarem classificações de sobrepeso e obesidade. Segundo Guo e Chumlea (1999 apud TERRES et al., 2006), adolescentes obesos com 18 anos têm 0,7 a mais de probabilidade de serem adultos obesos do que outros adolescentes com seu IMC sendo classificado como normal.

    Terres et al. (2006) também confirmam a ideia de que a obesidade passou a ser tratada como um problema de saúde pública e não apenas um problema particular de cada obeso. A obesidade é um fator de risco relevante para desenvolvimento de diversas patologias, como a diabetes, hipertensão arterial, aumento de triglicerídeos e colesterol (FONSECA, SICHIERI e VEIGA, 1998 apud TERRES et al., 2006).

    Em estudo realizado em Pelotas, com o objetivo de estudar a obesidade como fator de risco à hipertensão arterial, Picini (1993 apud GIGANTE et al., 1997) mostrou que os avaliados obesos tinha 2,5 vezes mais riscos de apresentarem hipertensão arterial, se comparados com indivíduos com seus pesos adequados.

    O aumento do sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes vem aumentando a cada dia, no estudo de Terres et al. (2006), 20,9% dos avaliados apresentaram sobrepeso e 5% apresentaram obesidade. Em estudo realizado por Coronelli e Moura (2003) com cerca de 172 escolares do município de Campinas, SP, apontou para 24,4% de prevalência à obesidade, no mesmo estudo observou-se como fator de risco para hipercolesterolemia, a obesidade, com 31,4% dos avaliados.

    Em um estudo transversal com 1.035 pessoas com idade entre 20 e 69 anos na zona urbana de Pelotas, realizado por Gigante et al. (1997), mostrou uma prevalência maior de obesidade em pessoas que afirmaram não ter praticado exercícios físicos no ano anterior. Isso remete à ideia de que o exercício físico pode manter o bom funcionamento do corpo, sem que haja um grande acúmulo de gordura corporal, gerando a obesidade e, com isso, as doenças metabólicas.

Construção de uma ação pedagógica diferente

    Faz-se necessário uma mudança no significado dos estereótipos adotados pela sociedade como padrões de beleza e de corpo ideal, também a mudança de atitude nas metodologias aplicadas nas aulas de EFE. Daólio (2005 apud GONÇALVES e AZEVEDO, 2007) diz que todos alunos são iguais em direitos à prática de atividades físicas na escola, o professor não deve priorizar o alto rendimento e, com isso, preferir os mais habilidosos em detrimento dos menos habilidosos, pois estaria formando elites de forma desnecessária e não respeitando à busca pela autonomia de todos, sem restrições.

    Segundo Gonçalves e Azevedo (2007), as aulas de EF deveriam ser um espaço de crítica e questionamentos a esse padrão de corpo perfeito, ideal, adotado pela sociedade moderna, dando opções aos alunos para que escolham o corpo que querem carregar socialmente, colocando a Educação Física na escola como uma atividade essencial para a condição da humanidade, promovendo uma re-significação do corpo. Os autores também afirmam ser de responsabilidade essa busca pelo questionamento ao padrão de corpo, à influência da mídia e outras formas de veiculação da informação na construção dos padrões corporais, na compreensão e ciência sobre o alto rendimento, cabendo aos professores uma ação pedagógica diferenciada dessa pedagogia de exclusão.

    Algumas metodologias podem ser aderidas a fim de evitar a exclusão social, uma delas é a cooperação, com esse método, diminui-se a competição, a ideia de adversários, de resultados, e passa-se a ter a ideia de cooperação, trabalhar em ação conjunta e coletiva, não há objetivos individuais e sim, coletivos. Soler (2006) afirma que a cooperação valoriza o jogar com o outro e não contra o outro, prioriza a relação social por meio do jogo e da ajuda ao próximo, há a participação de todos, sem que haja a exclusão social.

    Partindo da ideia de cooperação, Silva (2003 apud FEITAL e OLIVEIRA, 2011) afirma que um dos efeitos da obesidade é o isolamento do obeso em relação às outras crianças, com isso, o professor de EFE deverá adaptar suas aulas para uma abordagem cooperativa, a fim de tornar sua aula cooperativa e não competitiva, uma vez que os obesos são excluídos das aulas quando há a formação de grupos de acordo com a habilidade para tal modalidade esportiva. O autor também cita a importância de serem proporcionadas atividades lúdicas e prazerosas aos alunos, criando um sentimento de satisfação e consequentemente, de reprodução fora do contexto escolar.

    A Educação Física, como cita Soler (2006) deve proporcionar atividades em que haja a participação de todos, a lei 9394/96 já deixa claro que devemos adotar estratégias para a participação de todos nas aulas, priorizando a inclusão.

Conclusões

    Conclui-se que é importante o pensamento e reflexão crítica sobre a prática pedagógica dos profissionais de EFE a fim de evitar possíveis exclusões de alunos obesos das aulas de EFE, uma vez que essas exclusões poderão afetar o padrão de comportamento desses alunos, influenciando assim, na reprodução dessas atividades desenvolvidas no âmbito escolar para fora do contexto escolar.

    É necessário que haja uma conscientização dos profissionais de EFE, visando uma mudança de suas metodologias e estratégias de ensino, com o objetivo de desenvolver uma educação cada vez mais inclusiva e libertadora, promovendo vivências prazerosas para os alunos, de forma que dê suporte a uma mudança no estilo de vida e, com isso, diminua a prevalência de doenças metabólicas que estão relacionadas à obesidade e inatividade física.

    A utilização dos métodos cooperativos pode ser uma alternativa, pois nesse método não é necessária a habilidade motora especializada para o desenvolvimento das atividades lúdicas, colocando todos alunos em um ambiente propício para a interação social, a cooperação, em detrimento da competição e da disputa com o próximo. Essa cooperação poderá incentivar os adolescentes e crianças obesas a praticarem exercícios físicos fora do contexto escolar, melhorando sua saúde e diminuindo os riscos de se contrair doenças crônico-degenerativas.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 180 | Buenos Aires, Mayo de 2013  
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