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O golfe, os golfistas e… o aquecimento

El golf, los golfistas y... el calentamiento

 

CESPU - Instituto Superior de Ciências da Saúde-Norte, Gandra

(Portugal)

Ana Paula Brito

anapaulabrito08@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Cada golfista, na sua constituição corporal, reúne cerca de 650 músculos, que executam funções tão diversificadas, que vão desde a simples posição postural do permanecer em pé, andar, falar, rir, pegar no taco, escrever e ler eventualmente este artigo. Predominando os quase 500 músculos voluntários que atendem aos comandos do sistema nervoso central, o sistema muscular estriado esquelético ou voluntário inclui cerca de 434 músculos e apenas 75 pares estão envolvidos na postura geral e no movimento corporal. As suas fibras musculares podem ser milimétricas, como as constituintes dos músculos dos dedos, ou ter até 10 centímetros de comprimento, como as dos músculos da coxa, apresentando sempre uma constituição finíssima, com um diâmetro que não excede 1 décimo de milímetro, seguindo a “lei do tudo ou nada”, ou seja, ou se contraem ao máximo ou ignoram o estímulo nervoso. Contudo, as fibras de um mesmo músculo apresentam diferentes graus de excitação, sendo algumas mais sensíveis, podendo iniciar a sua contracção 4 milésimos de segundo após uma estimulação e outras apenas responderem caso o cérebro insista na referida ordem, sendo fundamental, neste processo, o número de células nervosas motoras que o cérebro seleccionou para transportar a ordem ao músculo, assim como o número de fibras que compõe a estrutura de cada uma dessas células nervosas e o controle que exerce. Perante esta complexidade corporal de cada golfista, surge a necessidade de uma breve reflexão e contextualização de um correcto e eficaz aquecimento, promotor de uma maior consciência corporal, capaz de actuar preventivamente ao nível de lesões com consequências indesejáveis e aumentar a performance desportiva.

          Unitermos: Aquecimento. Golfe. Golfistas. Performance.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O aquecimento ou activação geral é recomendado como uma forma de preparação do treino dos atletas, como fase de adaptação aos momentos que antecedem o início das competições, com o objectivo de proporcionar uma maior performance desportiva, evitando lesões musculares.

    Não existe um consenso sobre a melhor forma de como estruturar devidamente um aquecimento, considerando as suas múltiplas vertentes, havendo necessidade de uma maior integração científica, relativamente ao tipo de exercícios que devem integrar a parte do plano antes de iniciar o treino, com o intuito de uma melhoria da performance e prevenção de lesões.

    A sua intervenção deve direcionar-se ao nível orgânico, muscular, articular e psicológico, visando a obtenção de estados físico e psicológico ideais, uma prevenção cinética e coordenativa, assim como a prevenção de lesões (Sweet, 2001).

    Os benefícios que lhe podem ser atribuídos estão relacionados com o aumento da temperatura muscular, uma melhoria do metabolismo energético, o aumento da elasticidade dos tecidos musculares e tecido conjuntivo (sem qualquer propriedade contráctil) dos tendões, o aumento no débito cardíaco e do fluxo sanguíneo, a melhoria na função do sistema nervoso central e do recrutamento das unidades motoras neuro-musculares (Robergs & Roberts, 2002).

    O aquecimento – geral, específico, activo, passivo, mental e combinado – é um conjunto de actividades de diferentes formas que, mediante um volume e uma intensidade de exercícios adequados, visam preparar os atletas para um desempenho máximo (Machado et al., 2007).

    Assim e como foi referido, o aquecimento é uma parte integrante de todos os desportos, não sendo o golfe uma excepção, não existindo regras para a opção dos exercícios a seleccionar, devendo-se contudo ter sempre em apreciação, o tipo de intensidade da actividade a desenvolver, as condições climatéricas, entre outras. O golfista deve possuir uma consciência corporal que lhe permita uma correcta e eficaz movimentação na sua realidade desportiva.

    Porém, um aquecimento de golfe deve ter uma sequência, que atendendo à especificidade da modalidade, deverá ser iniciado com uma caminhada como meio de adaptação às exigências que a volta de golfe irá solicitar. Esta caminhada deverá ter uma cadência ritmada, havendo uma primordial preocupação com o controle respiratório, acompanhando a evolução dos batimentos cardíacos. Este tipo de exercício respiratório será extremamente eficaz para que o golfista refreie todas as reacções fisiológicas, comportamentais, emocionais e psicológicas, motivadas pela eventual ansiedade competitiva, através de feedbacks sensoriais, fundamentais para a obtenção de uma melhoria da performance do seu desempenho. Será também determinante no decurso da volta de golfe, promovendo uma melhoria da capacidade de resposta ao aumento do ritmo metabólico do tecido muscular, considerando o aumento das necessidades dos músculos envolvidos nos movimentos, sendo supridas pelo aumento do aporte local por parte dos sistemas cardiovascular, respiratório, endócrino e nervoso, uma vez que a função do sistema cardiorespiratório consiste na condução de oxigénio, nutrientes e hormonas para os tecidos periféricos, removendo conjuntamente os subprodutos do metabolismo (Gyton & Hall, 2006).

    Seguidamente o golfista deve centralizar a sua preocupação na realização de exercícios que serão impulsionadores da reposição do aporte sanguíneo, assim como da realização de movimentos de amplitude normal com o mínimo de restrições possíveis, através do alongamento muscular dos grupos musculares envolvidos na biomecânica do swing, preparando, deste modo, o seu organismo para o desempenho dos movimentos inerentes à modalidade de uma forma mais eficiente.

    Assim, através de uma exercitação voluntária de movimentos de amplitude angular máxima, por uma articulação – como por exemplo do ombro, pulso, entre outras – e por um conjunto de articulações enquadrados nos seus limites morfológicos, promoverá um aumento da sua flexibilidade, permitindo uma maior mobilidade e performance do swing.

    Na sequência do aquecimento, o golfista deve executar exercícios de propriocepção e equilíbrio, visando uma maior aquisição e compreensão da sua consciência corporal, promovendo, deste modo, a obtenção de competências para reconhecer, identificar e seleccionar os procedimentos e movimentos corporais. Os movimentos executados por um golfista têm objectivos circunscritos à modalidade, obrigando a um elevado nível de concentração. Para que a especificidade dos movimentos se torne mais eficiente, desperdiçando o mínimo de energia, devem apresentar como objetivo um treino funcional, que dispõe o organismo de uma forma integral, segura e eficiente, através do centro corporal. O golfista percebe a execução dos diferentes movimentos, segundo Schmidt et al. (1980), através da propriocepção, de receptores musculares junto às fibras musculares e nas articulações, abarcando a percepção de todos os deslocamentos, assim como a correta transferência de peso no decurso do swing. Contudo é no jogo curto que o golfista faz um maior apelo à sua sensibilidade proprioceptiva.

    Todos os movimentos têm a sua origem no CORE, centro de gravidade corporal, encontrando-se localizado no complexo quadril/lombar/pélvico, coluna torácica e cervical. Hibbs et al. (2008), sugerem que os atletas de elite requerem níveis mais elevados de estabilidade do CORE para a performance desportiva durante as actividades físicas, uma vez que têm a função de estabilizar e manter a postura em movimentos amplos ou exíguos. O CORE é fundamental para a manutenção do equilíbrio muscular apropriado de toda cadeia cinética. Constituído por 29 músculos que se inserem no complexo quadril/lombar/pélvico, encontram-se divididos em duas categorias, de acordo com o sistema de estabilização e o sistema de movimento, viabilizando o treino ao nível da estabilidade, equilíbrio, tempo de reacção e agilidade de movimentos associados às actividades desportivas. Os músculos do CORE preenchem todo o cumprimento do tronco, estabilizando a coluna vertebral, a zona pélvica, a zona da escápula e ombros, edificando uma base sólida de suporte ao movimento, mantendo a zona neutra intervertebral dentro dos limites fisiológicos de estabilidade, quando se contraem, utilizando com eficácia a força, potência, controle muscular e resistência neuromuscular. A estabilidade da região lombo-pélvica é crucial, uma vez que uma fragilização destes músculos origina uma perda da curvatura apropriada e uma postura incorrecta. Como os músculos do tronco estabilizam a coluna vertebral, desde a pélvis até ao pescoço e ombros, permitem transmitir movimentos potentes aos membros superiores e inferiores, viabilizando a manutenção de uma postura correcta e a redução da tensão sobre a coluna vertebral. (Machado.1977). Esta correcção dos desequilíbrios posturais, através do aquecimento evita o aparecimento de lesões.

    Como já referimos, os exercícios para estabilização do CORE utilizam basicamente o sistema proprioceptivo. Assim, no aquecimento, o golfista, segundo Mendelsohn et al. (2004), deve ter em atenção que a propriocepção advém de um input sensorial dos receptores localizados nos fusos musculares, tendões e articulações, cuja missão é destrinçar a posição e o movimento articular, a direcção, a amplitude e a velocidade, bem como a tensão relativa à carga efectuada sobre os tendões. Através desta aferência proprioceptiva, o sistema nervoso central aduz a capacidade de monitorizar o efeito de seus comandos, de acordo com um mecanismo de retroalimentação, até que o movimento seja concluído.

    O aquecimento deve apresentar uma progressão gradual, do lento para o rápido, do simples para o complexo, com os olhos abertos para olhos fechados, tendo como objectivo uma prossecução do equilíbrio muscular e articular, aperfeiçoando a correcção do posicionamento do golfista e principalmente prevenindo lesões. Visando as respostas adequadas aos estímulos do jogo de golfe, no aquecimento o golfista deve considerar que o estímulo primordial é o peso do taco e, como tal, deve iniciar o aquecimento com um taco curto e por último o Drive. Antes de iniciar o jogo, no 1º Tee o golfista deve aquecer com o Drive e não no Putting Green, pois o movimento da tacada que irá realizar pode ser considerado como o mais pujante de uma volta de golfe. Deste modo, o golfista ficará operacional a nível da sensibilidade e proprioceptividade, e da intensidade da força a mobilizar, harmonizando o controlo do peso do taco, evitando movimentos compensatórios dos membros superiores, através de uma correcta activação muscular, precavendo o overswing no 1º Tee e lesões musculares. A base das competências de um swing eficiente e automatizado cremos ser o indigitamento de um eficaz encadeamento muscular.

    Segundo Bricot (2009), uma postura correcta abarca um conjunto heterogéneo das posições contínuas ao nível articular e muscular, num determinado momento, com o menor gasto energético mas com a obtenção da máxima eficiência. Estático ou em movimento, o golfista apresenta uma manutenção da postura arquitectada através da acção dinâmica das forças aplicadas sobre ossos, músculos e articulações, sustentando e conduzindo o corpo sem sobrecargas, com a máxima eficácia e o mínimo de esforço, compensando o efeito da gravidade, no centro de gravidade corporal e de forças externas promotoras de desequilíbrios, mantendo o equilíbrio e contribuindo decisivamente para a manutenção da consciência espaço/temporal. Posturas inadequadas desviam o centro de gravidade representando uma sobrecarga muscular.

    A postura estática consiste na postura do corpo em pé e parado. A manutenção do equilíbrio nesta posição, depende do conjunto de músculos, ligamentos e fáscias, ossos e articulações da coluna vertebral, sendo os principais responsáveis pelo equilíbrio do corpo e fundamentais para a competência dos movimentos corporais. Os pés são os elementos capitais de nossa estática, pois sem bons apoios dos pés no chão não há estabilidade estática, uma vez que a posição condiciona a forma, tamanho e orientação da base de sustentação. Logo, no aquecimento o golfista deve ter particular atenção ao seu address/stance. Contudo, para aperfeiçoar a postura, é imprescindível executar exercícios de alongamento e fortalecimento muscular. Antes de iniciar o aquecimento e quando o golfista se desloca para o campo de golfe, deve ter em consideração a forma como transporta o seu equipamento. Deve ponderar no modo como carrega, evitando arrastar o respectivo equipamento, promotor de um adverso alinhamento na postura inicial, assim como permanecer numa postura estática, sem alternância de posicionamento, nem manter a coluna cervical flexionada por delongados períodos.

    O golfista deve considerar no seu processo de treino ou competitivo, que se inicia com o aquecimento, a melhoria e correcção da sua postura, visando uma eventual evolução do seu handicap devido à correcta execução do swing, através da rentabilização dos músculos mais adequados, a manutenção de um equilíbrio capaz de afiançar que a coluna vertebral não sofra uma pressão exagerada, evitando compensações, reduzindo a probabilidade de contrair lesões. O golfista deve ser capaz de descodificar o seu corpo na posição estática e extrapolar esses parâmetros para a concretização do swing. Deve assim discriminar a diferenciação entre a postura estática e dinâmica, visando um correcto alinhamento postural e a manutenção do mesmo alinhamento no momento da execução da tacada. A postura dinâmica no decurso do swing, é primordial, pois pode diferir da postura estática no address.

    Considerando que o swing pode ser descrito como um gesto técnico, de força explosiva de curta duração, conciliando movimentos de rotação ao nível dos membros superiores e inferiores continuamente para o mesmo lado, podendo provocar problemas posturais e musculares, o aquecimento deve estimular os aspectos sensório/percetivo/motores, através de exercícios que exigem apelo à coordenação, equilíbrio e força, melhorando deste modo as competências do esquema corporal, do controlo, da programação, da execução, da aprendizagem, contextualizadas numa atmosfera cuja envolvência se fundamenta nas características inerentes a uma volta de golfe. A observação destes princípios irá contribuir para um aperfeiçoamento na execução do padrão motor do swing, apartando eventuais movimentos indesejados ao golfista. Movimentos de rotação incorrectos poderão ser promotores de movimentos compensatórios no swing, visando compensações a nível do equilíbrio, possivelmente devido a um transfer incorrecto do peso, a uma posição incorrecta dos ombros no decurso do backswing, comprometendo o normal prosseguimento de um eficaz swing.

Considerações finais

    O aquecimento através da selecção de exercícios específicos, que condicionam uma preparação muscular e articular por meio de movimentos apropriados, melhoram a precisão técnica e previnem lesões nos golfistas. Uma correcta activação muscular permitirá que os músculos no seu comprimento normal se apresentem flexíveis, reunindo benéficas propriedades viscoelásticas, devendo o golfista manter a posição, não efectuando qualquer insistência, quando efectivar exercícios de alongamentos e percepcionar que atingiu o limite do respectivo comprimento, uma vez que o objectivo não se fundamenta num ganho de flexibilidade mas sim numa optimização na colocação dos segmentos para o swing. Os benefícios de um aquecimento na modalidade golfe primordialmente assentam na diminuição do risco de lesões, na consciencialização das competências corporais do rendimento na prestação desportiva, fortalecendo a componente mental, maximizando a participação do golfista ao nível técnico das tacadas de golfe. Para que os objectivos sejam atingidos, os exercícios deverão ser efectuados segundo uma sequência apropriada, recrutando as cadeias musculares de uma forma sincronizada, para a obtenção da correcta sensibilidade para um eficiente e automático swing, mantendo uma postura correcta, assim como um ritmo respiratório adaptado aos timings inerentes à prática do golfe diminuindo a ansiedade do golfista.

Bibliografia

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