Benefícios da natação para criança com mielomeningocele: estudo de caso Beneficios de la natación para un niño con mielomeningocele: estudio de caso |
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*Mestre em Atenção à Saúde e Docente do Centro Universitário de Patos de Minas Coordenadora do Programa de Natação Adaptada do Centro Universitário de Patos de Minas **Graduado em Educação Física pelo Centro Universitário de Patos de Minas (Brasil) |
Cristiane Alves Martins* Wellington Valline Ezequiel** |
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Resumo Mielomeningocele é o caso mais comum e mais grave de espinha bífida, em que ocorre extravasamento do canal medular levando a perda das funções motoras e sensitivas. O presente estudo teve como objetivo investigar os benefícios da natação para criança com mielomeningocele – estudo de caso. Os métodos utilizados na pesquisa partiram de um estudo de caso, com criança portadora de mielomeningocele com lesão medular da região lombar. Os procedimentos de coleta de dados ocorreram em dois momentos distintos: inicialmente foi aplicado questionário com informações demográficas e de saúde, em seguida foi feito teste de aptidão física, proposto por Rikli & Jones (1999). Adiante foi proposto programa de exercícios físicos – a natação, em que foram realizadas 15 aulas em dias alternados durantes três dias da semana, a duração de cada aula foi de 50 minutos. A coleta dos dados ocorreu nos meses setembro e outubro de 2012. Ao término das intervenções foi reaplicado teste de aptidão física descritos acima. Os resultados do estudo mostraram melhora considerável em força de membros inferiores identificada pelo teste de sentar e levantar da cadeira, e no teste de agilidade não foi identificado melhora. Concluiu-se que a atividade de natação contribuiu para a melhora da força muscular de membros inferiores, mas necessita de atividades direcionadas para melhora do equilíbrio dinâmico e agilidade. Unitermos: Mielomeningocele. Exercício físico. Lesão medular.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
As lesões medulares podem ser definidas como condições adquiridas, resultantes de uma lesão da vértebra e/ou dos nervos da coluna da coluna vertebral. Essas condições quase sempre estão associadas a algum grau de paralisa por causa dos danos à medula espinhal (WINNICK, 2004).
A prevalência de casos de lesão medular associado a fatores externos como: violência urbana, acidentes de automobilísticos e outros são dados preocupantes para a saúde, uma vez que esta lesão pode de levar a incapacidades físicas e funcionais impossibilitando o indivíduo em exercer funções comuns do dia-a-dia (COLLANGE, 2008).
A lesão afeta a condução de sinais motores e sensitivos levando, na maioria dos casos, deficiências físicas em grau severo com paralisia parcial ou total de membros superiores, inferiores (GORGATI, 2008). O grau de comprometimento está diretamente associado ao nível de extravasamento do canal medular e a localização desta lesão na coluna vertebral, quanto mais elevado for à lesão maior será o grau de comprometimento (SHIMITZ, 2004).
A espinha bífida conhecida como um tipo de deformidade congênita provocada pelo não fechamento de dois ou mais arcos vertebrais durante a formação da coluna vertebral na gestação, é classificada em três níveis: mielomeningocele, meningocele e oculta (GORGATI, 2008; GAIVA, 2009).
O foco do estudo foi a mielomeningocele, por ser o tipo mais comum e mais grave de espinha bífida, em que ocorre extravasamento do canal medular e, conseqüentemente, uma perda parcial ou total das funções motoras e sensitivas abaixo do nível da lesão (GORGATI, 2008).
Há o conhecimento de que os comprometimentos físicos e neurológicos causados pela lesão medular são irreversíveis, mas estudos buscam ainda, identificar possibilidades de melhorias na saúde destes indivíduos através da prática de exercícios físicos.
A natação é uma modalidade esportiva bastante desenvolvida em programas de atividade física para pessoas com deficiência, de acordo com alguns estudos, esta prática traz importantes benefícios, como: melhora do tônus muscular, força, flexibilidade, condicionamento cardiorrespiratório, melhora da autoestima, integração social e outros (NASCIMENTO, 2007; PEREIRA et al, 2005; ALMEIDA e MARQUES TONELLO, 2007).
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo principal, comparar a aptidão física para força de membros superiores e agilidade de uma criança com mielomeningocele, antes e após a prática da natação.
Relato de caso
A criança na qual se baseia este estudo de caso tem oito anos, é do sexo masculino, sua altura é de 1,28 metros, massa corporal de 35 quilogramas. Diagnosticado no nascimento a espinha bífida do tipo mielomeningocele, localizado na região lombar. A criança apresenta comprometimentos motores em membros inferiores apresentando dificuldades de locomoção, sustentação e equilíbrio.
Segundo anamnese realizada com a mãe, esta relatou que a criança necessita de acompanhamento com equipe multiprofissional (médicos, terapeuta ocupacional, pedagoga e psicóloga) por razões do tipo: disfunções neurológicas; risco permanente de infecções, problemas de incontinência urinária e fecal; deformidades musculares, ósseas e articulares, baixa autoestima, dependência funcional e outros. Necessita de auxílio para realizar atividades da vida diária como: autocuidado, alimentação, locomoção etc.
Após identificar as características da criança, foi proposto um programa de intervenção de atividade física com o intuito de comparar aptidão física de força e agilidade, antes e após intervenção.
O programa de atividade física direcionado no estudo foi à natação, a criança não estava praticando nenhum programa de atividade física orientada antes do estudo, apenas aulas de Educação Física Escolar. Foram realizadas quinze aulas de natação, com duração de 50 minutos/aula, freqüência de três vezes por semana, em dias alternados (segundas, quartas e sextas). O planejamento das aulas foram baseados em exercícios de braçadas e pernadas do crawl, através de exercícios educativos em que foram mantidos a mesma seqüência nas correntes aulas.
Foi realizado o teste de aptidão física para força e agilidade, proposto por Rikli e Jones (1998), com os seguintes exercícios:
a. Sentar e levantar da cadeira: objetivo de identificar a capacidade de força de membros inferiores.
Deve iniciar o exercício sentada completamente na cadeira, apoiando as costas, e mantendo os pés apoiados no chão. Em relação à posição dos braços houve uma adaptação, deixando-se o sujeito com os braços soltos ao invés de cruzados em frente o tronco, uma vez que a posição dos braços proposta pelo protocolo (braços cruzados) tirava o equilíbrio do avaliado. Os pés devem ficar afastados na largura dos ombros. Ao sinal do avaliador o sujeito devia levantar e sentar na cadeira o maior número de vezes durante 30 segundos. (RIKLI E JONES, 1999)
b. Levantar da cadeira e caminhar: objetivo de avaliar o equilíbrio dinâmico e agilidade.
Inicialmente, o sujeito deve ficar sentado na cadeira com as mãos na coxa. O pé dominante deve ser colocado ligeiramente à frente com o corpo inclinado à frente. Ao comando do avaliador, levanta-se da cadeira, dar a volta no cone localizado a uma distância de 2,5 metros da cadeira e sentar. Fazer uma vez para o aprendizado e realizar o teste em duas tentativas considerando o melhor tempo (RIKLI E JONES, 1999).
Os testes de Riklin e Jones de avaliação funcional é usualmente utilizados em estudos com população idosa, a escolha do referido instrumento justifica pela dificuldade de se encontrar protocolos de avaliação funcional para pessoas com deficiência física. Os protocolos de testes de aptidão física para idosos são testes mais passíveis de serem realizados com indivíduos que apresentem alguma limitação. Não foram utilizadas as tabelas de comparação dos escores propostas por estes autores, por referirem à população idosa. No estudo foram considerados como valores de referência os resultados dos testes pré e pós-treinamento.
Força de membros inferiores
A figura 1 demonstra os resultados do teste de sentar e levantar antes e após o treinamento com exercícios físicos aquáticos, pode-se observar que o número de repetições realizadas aumentou após o treinamento o que demonstra melhora na força de membros inferiores do sujeito estudado.
Figura 1. Gráfico de resultados do teste de força de membros inferiores (sentar e levantar da cadeira por 30 segundos)
Agilidade
A figura 2 mostra os resultados do teste de levantar e caminhar antes e após o treino de natação. Observa-se após o treinamento o tempo gasto para levantar, contornar o cone e sentar foi menor. A criança apresentou dificuldades em realizar este teste devido aos comprometimentos motores causados pela lesão medular que fica localizada na região lombar, fator este que dificultou a realização do teste. Este resultado mostra a necessidade de desenvolver atividades que possam trabalhar melhor agilidade e equilíbrio desta criança.
Figura 2. Gráfico de resultados do teste de agilidade (levantar da cadeira e caminhar)
Em anamnese realizada após o programa de intervenção, a mãe relata ter notado mudanças significativas e positivas na vida da criança. Dentre as melhorias destaca: melhora da força de membros superiores e inferiores, bem estar físico e mental, melhora da auto-estima, independência em atividades como tomar banho, alimentar-se e deambular.
Discussão
A partir do acompanhamento do programa de atividade física, pôde-se observar melhorias na aptidão física da criança. De acordo com evidências mostradas pelos testes físicos realizados antes e após o programa de treinos, somado aos relatos da mãe, identificou-se que a natação pode ser uma prática que trouxe benefícios importantes para o desenvolvimento de criança com mielomeningocele. Foi identificado melhora da força muscular dos membros inferiores, porém não houve melhora do equilíbrio dinâmico e agilidade.
Pôde-se observar, com desenvolver das aulas, a melhora da autoestima da criança, independência para realizar as atividades propostas e aprendizado nas atividades propostas.
Compreende-se a importância da prática regular de atividade física, em específico a natação, como fator de melhoria para as capacidades físicas como: força, condicionamento cardiorrespiratório, flexibilidade, resistência necessária para manutenção do corpo em atividades da vida cotidiana (SILVA, 2005; TSUTSUMI, 2004).
Ressalta-se a importância de programas direcionados e adaptados as limitações e especificidades da criança portadora de lesão medular, considerando suas dificuldades e buscando programas de incentivo as práticas desportivas como meio de integração social, independência funcional e melhora da qualidade de vida.
Tendo em vista os resultados alcançados pelo estudo, vale considerar o apoio familiar, em especial a participação dos pais em todos os encontros, como forma de incentivo, transferindo segurança e tranqüilidade à criança. O trabalho multidisciplinar também contribuiu para realização do estudo, de forma a oferecer conhecimentos fundamentais que foram considerados nos planejamentos das atividades.
Quanto ao trabalho como um todo, vislumbra-se a importância de se trabalhar a interdisciplinaridade, de modo a fomentar maiores resultados no tocante ao processo de melhoria do desenvolvimento motor, assim como da aptidão física da criança com lesão medular.
Referências
ALMEIDA, Patrícia Alves; MARQUES TONELLO, Maria Georgina. Benefícios da natação para alunos com lesão medular. Lecturas: Educación Física y Deportes Revista Digital. Buenos Aires, n.106, 2007. http://www.efdeportes.com/efd106/beneficios-da-natacao-para-alunos-com-lesao-medular.htm
PEREIRA, Ana Flávia Leão et al. A atuação da educação física na reabilitação em caso de lesão medular incompleta. Anais do 8º encontro de extensão da UFMG, Belo Horizonte, v.8, n.1, out., 2005.
COLLANGE, Luanda André et al. Desempenho funcional de crianças com mielomeningocele. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 58-63, 2008.
GAIVA, Maria Aparecida Munhoz et al. O cuidado da criança com espinha bífida pela família no domicílio. Revista de Enfermagem da UFRJ, Rio de Janeiro, v. 13, n. 4, p. 717-725, out. 2009.
GORGATTI, M. G.; BÖHME, M. T. S. Atividade física e a lesão medular. In: GORGATTI, Márcia Greguol, COSTA, Roberto Fernandes. Atividade física adaptada: qualidade de vida para pessoa com necessidades especiais. 2ª ed. Barueri: Manole, 2008. cap. 5, p. 149-184.
NASCIMENTO, Luciana Gomes do; SILVA, Sabrina Leite da. Benefícios da atividade física sobre o sistema cardiorrespiratório, como também, na qualidade de vida de portadores de lesão medular: uma revisão. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 42-50, 2007.
RIKLI, R.E.; JONES, C.J. Development and validation of a functional fitness test for community-residing older adults. Journal of Aging and Physical Activity, Champaign, v. 7, n. 2, p. 129-161, 1999.
SHIMITZ, Thomas J. Lesão Medular. In: O´SULLIVAN, Susan B.; SCHIMITZ, Thomas J. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento. 2. ed. Barueri: Manole, 2004. cap. 27, p. 874-923.
SILVA, Maurício Corte da et al. Efeitos da natação sobre a independência funcional de pacientes com lesão medular. Revista Brasileira de medicina do Esporte, São Paulo, v. 11, n. 4, p. 251-256, jul./ago, 2005.
TSUTSUMI, Olívia et al. Os benefícios da natação adaptada em indivíduos com lesões neurológicas. Revista de Neurociência, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 82-86, 2004.
WINNICK, Joseph P. Educação física e esportes adaptados. 3ed. Barueri: Manole, 2004. 552p.
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