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Especialização esportiva precoce

La especialización deportiva precoz

 

*UNAERP - Universidade de Ribeirão Preto, Campus Guarujá

**Escola de Educação Física e Esporte da USP

***Centro Universitário Ítalo Brasileiro

(Brasil)

Gustavo Couto Fernandes*

Dr. Antonio Carlos Mansoldo** ***

Me. Caio Graco Simoni Da Silva***

Me. Ivan Wallan Tertuliano* **

mansoldo@usp.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho apresenta reflexões relacionadas à criança e o treinamento esportivo de alto rendimento. Tais reflexões foram constatadas através de revisão bibliográfica pertinentes ao tema especialização precoce, pois esse tema trata do treinamento esportivo para crianças. O objetivo desse trabalho foi “visitar” os autores que tratam do tema Especialização Precoce e, através disso, fazer um levantamento bibliográfico das idéias, crenças e comprovações científicas que cercam tal temática. Esse é um tema muito abrangente dentro da educação física pois, com o passar dos anos, as crianças estão cada vez mais cedo entrando para o esporte de alto rendimento. Esporte de alto rendimento visa apenas à competição, os resultados positivos e o máximo que o atleta pode ofertar de seu desempenho. Alguns autores defendem que a criança antes dos 10 anos de idade deve aproveitar sua infância com brincadeiras, recreações, jogos cooperativos e criar uma maior sociabilização com as demais crianças. No entanto, existe um grande número de crianças inseridas no esporte de alto rendimento, pois familiares e outros vêem o esporte como um futuro promissor com sucesso, fama e dinheiro. A literatura leva a reflexão de que até que ponto esse início precoce da criança no esporte pode ser benéfico ou prejudicial a ela? Será que é interessante fazer uma criança perder sua infância em prol de um esporte de alto rendimento? Será que a criança está preparada para treinamento de alto rendimento? A resposta para essas perguntas é não. As crianças não estão preparadas psicologicamente, fisicamente e motoramente para tal feito. Sendo assim, existem ponderações que devemos tomar como base para preparação de uma preparação esportiva adequada para essa fase da vida, infância.

          Unitermos: Treinamento esportivo. Infância. Alto rendimento. Especialização precoce.

 

Abstract

          This paper presents some considerations related to the child and high performance sports training. Such reflections were observed through the literature review related to the theme early specialization, because this theme is sports training for children. The objective of this work was to "visit" the authors that deal with Early Specialization and thereby, do a bibliographical survey of ideas, beliefs and scientific evidence surrounding such thematic. This is a very comprehensive within physical education, because over the years, children are increasingly coming early for high performance sport. High performance sport refers only to competition, the positive and the most we can offer to the athlete performance. Some authors argue that child before 10 years of age should enjoy their childhood with games, recreation, cooperative games and create greater socialization with other children. However, there are a large number of children involved in high performance sport, for family members and others see the sport as a promising future, with success, fame and money. The literature leads us to thinking that far this early in the child's sport can be beneficial or harmful to her? Is it interesting to a child losing his childhood in favor of a high performance sports? Does the child is prepared for training of high income? The answer to these questions is no. Children are not prepared psychologically, physically and under motor for such a feat. Thus, there are considerations that must be taken as the basis for preparing a proper sport preparation for this phase of life, infancy.

          Keywords: Sports coaching. Infancy. High yield. Early specialization.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nos últimos anos, pode-se notar que o esporte na infância tem se tornado assunto de suma importância dentre o meio esportivo.

    No Brasil, pode-se encontrar, cada vez mais, centros de treinamento e escolinhas, visando o esporte infantil como algo muito valioso e muito promissor. No país do futebol não é difícil encontrar crianças que almejam um futuro de sucesso, fama e dinheiro, porém, isso ocorre não somente no futebol, mas em diversas modalidades esportivas.

    Com a busca excessiva por grandes atletas, dirigentes e treinadores antecipam uma fase que deveria ser iniciada mais adiante, fazendo com que a especialização precoce acabe sendo uma realidade muito presente dentro do esporte (WHITING; ZERNICKE, 2001). Porém, quando se pensa em desenvolvimento motor, maturações psicológicas e biológicas, entre outros fatores, têm que priorizar na infância o respeito, a individualidade que cada criança possui. O trabalho deve ser pautado no lúdico, fazendo com que as crianças tenham o interesse de continuar a participar das atividades com alegria e determinação.

    Essa busca excessiva é tratada na literatura como Especialização Esportiva Precoce. Especialização Esportiva Precoce (Especialização Precoce). É o processo pelo qual as crianças começam a se especializar, fora da idade correta, em esportes específicos (BARBANTI, 2003).

    Baseado na literatura, as perguntas que norteiam esse trabalho são: Até que ponto esse início precoce da criança no esporte pode ser benéfico ou prejudicial a ela? Será que é interessante fazer uma criança perder sua infância em prol de um esporte de alto rendimento? Será que a criança está preparada para treinamento de alto rendimento? Existem recomendações de preparação da criança para uma possível investida, futura, em alto rendimento?

    O presente estudo delimitou-se a pesquisa bibliográfica do tema e pautou-se em crianças com idade entre 10 e 13 anos, ou seja, pré-púbere. Dos 10 aos 13 anos de idade o pré-púbere ou pré-adolescente passa por inúmeras mudanças físicas e psicológicas que podem interferir diretamente em mudanças do repertório motor (GRECO; BENDA, 1998).

    Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi “visitar” os autores que tratam do tema Especialização Esportiva Precoce e, através disso, fazer um levantamento bibliográfico das ideias, crenças e comprovações científicas que cercam tal temática.

Revisão de literatura

    Na área de Crescimento e Desenvolvimento, existem 3 definições que merecem atenção: Crescimento, Desenvolvimento e Maturação.

    Crescimento refere-se às mudanças no tamanho do individuo, ou seja, aumento da estrutura do corpo decorrente da multiplicação ou aumento de células (GALLAHUE; OZMUN, 2005). RUBIN (2000) caracteriza o crescimento físico de acordo com alterações pertencentes a fenômenos bioquímicos, celulares, biológicos e morfológicos. Para Rubin, a genética é quem determina a união destas variáveis, podendo, também, ser influenciado por aspectos ambientais, como nutrição.

    Desenvolvimento é um processo de mudanças inseridas simultaneamente, através de interações com o meio ambiente e deve ser visto como um processo contínuo que dura por toda a vida (GALLAHUE; OZMUN, 2005). HAYWOOD e GRETCHELL (2010) caracterizam o desenvolvimento como um processo gradativo de mudanças. Essas mudanças estão relacionadas principalmente a ordem qualitativa das coisas, pois, com o passar do tempo as funções motoras e a aprendizagem das mesmas estarão sempre se desenvolvendo, ou seja, em constante mudança.

    Para GALLAHUE e OZMUN (2005) a maturação refere-se às mudanças qualitativas que capacitam o organismo a progredir para níveis mais altos de funcionamento e que, vista sob uma perspectiva biológica, é fundamentalmente inata, ou seja, é geneticamente determinada e resistente à influência do meio ambiente. Segundo BARBANTI (2003), maturação serve para determinar o princípio e o fim da vida de qualquer pessoa, caracterizando, assim, todo o processo maturacional. Tal processo deve ser gradativo e deve seguir por toda a vida até que se atinja o nível máximo de maturação do ser humano.

    Para FOSS e KETEYIAN (2000), a idade que se refere à fase pré-púbere, compreende dos 10 aos 12 anos. Desta forma, cronologicamente, trata-se de uma criança, pois o surgimento das características que o inserem na puberdade ainda não surgiram. Segundo NESPEREIRA (2002), a fase pré-púbere refere-se a crianças com idade entre 10 e 13 anos. Essa fase é caracterizada para todos que se encontram nessa faixa etária, independente das diferenças notadas acerca da maturação sexual. Segundo o autor, nas meninas tal fenômeno é sempre adiantado, em relação aos meninos. Nespereira ressalta que nessa etapa da vida é que acontece a primeira etapa da maturação sexual, ou seja, é o estágio que precede o primeiro evento de ejaculação nos meninos e também a primeira menstruação nas meninas.

    Quando a criança aprende a prática esportiva, de uma forma planejada e bem específica, pode-se considerar uma iniciação esportiva (ALMEIDA, 1996). PAES (2002) afirma que a iniciação esportiva se dá quando há início todo o processo de aprendizagem física, bem como psíquica e social. O autor destaca que a iniciação esportiva pode ser caracterizada quando a criança inicia o processo de aquisição de diversas habilidades básicas e também o repertório motor, considerado necessário para se realizar qualquer atividade chamada específica.

    GRECO e BENDA (1998) dividiram a Iniciação Esportiva de acordo com a idade e fases em que cada uma das crianças está inserida, respectivamente. Essas fases os autores caracterizam como fase universal, fase de orientação, fase de direção, fase de especialização e fase de alto nível, respectivamente.

    A fase universal é para crianças com idade entre 6 e 12 anos. Nessa fase as crianças aprendem as habilidades básicas como locomoção, estabilização e manipulação. A fase de orientação enquadra crianças com idade entre 11 e 12 anos de idade e vai até as que possuem entre 13 e 14 anos. Nessa fase que as crianças começam a realizar os movimentos automaticamente. A fase de direção abrange crianças com idade entre 13 e 16 anos de idade. Nesta fase se inicia a especialização em determinada modalidade. A fase de especialização abrange pessoas com idade entre 16 e 18 anos. Nesta fase, o objetivo principal a ser alcançado é a especialização em determinada modalidade. Por fim, a fase de alto nível contempla pessoas com idade acima dos 18 anos. Nesta fase, prioriza-se apenas o melhor em termos rendimento que o atleta pode ofertar.

    Para MARINS e GIANNICHI (2003) o treinamento esportivo deve respeitar algumas variáveis como, por exemplo, ordem dos exercícios, número de séries, repetições, tempo de descanso entre as séries, intensidade dos exercícios e o número de treinamentos por dia ou por semana. De acordo com o objetivo do treinamento se torna essencial desenvolver um processo de treinamento.

    Esse processo deve seguir uma ordem lógica e sequencial, levando em conta as habilidades de cada um, respeitando suas individualidades. Esse sistema de treinamento é definido por periodização de treinamento esportivo (BOMPA, 2002). Para que se consiga o sucesso é preciso saber unir todas as habilidades motoras necessárias para essa modalidade, para que assim, possa se chegar a resultados satisfatórios no esporte (GAMBLE, 2006).

    A fim de atingir excelência no treinamento esportivo e na periodização do mesmo, alguns métodos de treinamento são utilizados: Treinamento Isométrico, Excêntrico, Isocinético, Pliométrico, Combinado ou Concorrente, Intervalado, entre outros.

    Segundo BARBANTI (2003), Especialização Precoce é o processo pelo qual as crianças começam a se especializar, fora da idade correta, em esportes específicos. Especialização Precoce é o período em que se aplicam programas e métodos de treinamento especializados a crianças. Tudo isso, somados a participação em competições frequentes, juntamente com o aprimoramento tático, técnico e físico (WHITING; ZERNICKE, 2001). GRECO e BENDA (1998) afirmam que expor crianças menores de 12 anos de idade a treinamentos com cargas elevadas, em média 3 vezes por semana, com 2 horas diárias é considerado Especialização Precoce.

    LÔBO e col. (2005) dizem que quando a criança inicia o treinamento esportivo em determinado esporte, antes de sua idade chamada ideal, é considerada Especialização Precoce, não quando ela inicia de fato no esporte. Tal especialização, segundo os autores, é caracterizada quando as cargas em que as crianças são submetidas são muito altas, o que não condiz com o grau de desenvolvimento das mesmas. Essa carga elevada gera um cansaço muito cedo, além de uma queda no rendimento da criança, o que é denominado barreira de desenvolvimento.

    Para GRECO e BENDA (1998) Especialização Precoce pode causar inúmeros prejuízos às crianças, como riscos a lesões físicas, distúrbios psicológicos, desenvolvimento motor com pouco repertório e até mesmo prejuízos no âmbito esportivo. Outro fator agravante é que, cada vez mais, as crianças que são expostas muito precocemente no esporte estão abandonando o mesmo, justamente pela sobrecarga de treino, fazendo com que ela deixe de lado toda sua infância e vida social, objetivando dedicar-se apenas ao alto rendimento e a competição.

    DE ROSE JR (2002) enfatiza que a competição cria muito mais perdedores do que vencedores. Isso só traz malefício, haja vista uma criança que não possui habilidades ou capacidades físicas suficientes para o desempenho esportivo pode perder o interesse pelo esporte e ficar com medo do mesmo, pois pensa no que aconteceria caso não obtivesse o sucesso desejado.

    Outro fator negativo é o excesso de competições. O excesso de competições gera um perfil cada vez mais seletivo e restrito nas crianças. Segundo MACHADO e PESOTO (2001), na infância todas as crianças deveriam ter as competições como um meio de estimulação para que elas aprendam a gostar do esporte. Para SANTANA (2004), a criança não pode ver o esporte com a ideia de competição e alto rendimento, pois isso faz com que a mesma vise apenas à vitória e a glória. O maior número de casos de especialização precoce está dentro dos clubes esportivos. Isso ocorre porque a opinião da mídia, muito influenciada pela sociedade, entende esse processo como um processo pedagógico normal para identificar novos talentos (PAES, 2002).

    Para WILMORE e COSTILL (2001) o programa a se prescrever para as crianças pré-púberes deve seguir algumas regras básicas. As atividades devem ser realizadas no máximo 3 vezes por semana e os períodos não podem ultrapassar 30 minutos por seção. Nesta etapa, a criança não deve ser exposta a cargas demasiadas. Para utilizar-se de cargas, a criança deve familiarizar-se com o exercício e com seus movimentos específicos. As atividades devem ser realizadas em até 3 séries de 6 a 15 repetições, pois esse seria um ponto ótimo para treinar tais indivíduos. Ainda, por esse lado, o aumento progressivo de carga só deve ser implantado quando a criança conseguir realizar as 15 repetições em ótimo estado. Existe a obrigatoriedade de um exame médico detalhado para que a criança possa dar início a um programa de treinamento.

    Para SIMÕES e col. (2007) o esporte de criança precisa conter um clima menos suscetível de confronto, com menos rivalidade, que gere menor expectativa, conforme mais nova for a criança.

Considerações finais

    Quando se fala em especialização esportiva precoce, alguns aspectos devem ser levados em conta como faixa etária, desenvolvimento motor, repertório motor, entre outros. No presente estudo, reflexões relacionadas à criança e o treinamento esportivo de alto rendimento foram investigadas e citadas. Tais reflexões foram constatadas através de revisão bibliográfica pertinentes ao tema especialização precoce. Baseando-se nessas reflexões, o presente estudo tratou do tema Especialização Esportiva Precoce, utilizando autores que trazem discussões acerca dos benefícios e malefícios dessa proposta.

    Já é visível que cada vez mais cedo as crianças são inseridas no esporte de alto rendimento e que, em nosso país, quase nada tem sido feito para evitar que no futuro, haja perda de um grande atleta, ou algo pior, um grave problema psicológico na criança.

    Como se sabe, em algumas modalidades esportivas, como o judô, a competição se inicia com idades inferiores a 5 anos. Esse início precoce enfatiza a ideia de que não há preocupação dos profissionais da área no futuro dessas crianças, pois o que vale mesmo é o momento e esse momento é a competição e o resultado positivo.

    Por outro lado, nota-se que alguns autores defendem que o ideal é esperar a criança "amadurecer", entender o esporte, esperar o momento certo e aproveitar a infância da maneira que lhe convém, brincando e se divertindo como deve ser. Após esse momento (fase), possa se decidir o caminho a seguir e a criança tomar a decisão do que quer prosseguir no esporte. Desta forma, poderá surgir um grande talento esportivo, com grandes resultados, grandes vitórias, pois a etapa inicial de formação da criança terá sido respeitada e não ficará nenhuma lacuna em seu desenvolvimento.

    Diante da literatura, nota-se que a grande parcela de culpa dessa especialização precoce vem dos pais, juntamente com os treinadores, que buscam na criança uma moeda valiosa para o futuro. Dessa forma, deixa de lado a infância da criança, levando-a ao esporte de alto rendimento e podendo gerar malefícios físicos e mentais nesta criança.

    Muitos autores defendem a ideia de que a iniciação esportiva é de fundamental importância para as crianças. No entanto, todos os autores são categóricos ao afirmarem que na fase pré-púbere, fase que foi utilizada no presente estudo, o sujeito deve ser exposto a atividades que explorem os aspectos físicos e motores, no entanto, sem cobranças competitivas. O jogo deve ser uma ferramenta para alcançar melhoras físicas, psíquicas e motoras e não o fim.

    O termo iniciação esportiva tem sido confundido com iniciação precoce e é a partir dessa confusão que surgem as divergências de opiniões acerca da criança e do esporte.

    O que deve ser levado em conta é que a criança necessita sim da iniciação esportiva, porém dentro de suas limitações, aproveitando o que o esporte pode lhe proporcionar em termos de desenvolvimento motor, afetivo e social. A criança deve entender a modalidade como uma brincadeira e nada mais.

    Diante de tal estudo, pode-se afirmar que o desenvolvimento geral da criança passa também pelo esporte, porém os profissionais da área devem estar atentos a forma de proporcionar o melhor que o esporte pode oferecer, pois somente com esse cuidado é que poderemos ver futuros campeões do esporte. A literatura deixa bem claro a importância da criança viver sua infância, o esporte deve ser um meio de aprendizagem motora, aprendizagem social e melhoria física e não o fim.

Referências bibliográficas

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 180 | Buenos Aires, Mayo de 2013  
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