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Ensino de lutas na escola: elemento pedagógico
ou estímulo à violência?

La enseñanza de los deportes de combate en la escuela. ¿Un recurso pedagógico o un estímulo a la violencia?

Fight at school of education: teaching component incentive or violence?

 

*Graduado em Educação Física (UNEMAT)

**Mestre. Faculdade de Educação Física (UNIC). Curso de Educação Física (UNIVAG)

Núcleo de Aptidão Física, Informática, Metabolismo, Esporte e Saúde (NAFIMES/UFMT)

(Brasil)

Saulo Bonfim de Oliveira*

Adilson Domingos dos Reis Filho**

reisfilho.adilson@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          As lutas enquanto conteúdo da Educação Física escolar tem sido esquecida, especialmente, por se acreditar que a prática das mesmas gera violência. O objetivo deste estudo foi investigar se o conteúdo lutas é abordado nas aulas de educação física escolar e caso não o seja, qual seria o motivo para não ensiná-lo. A pesquisa foi realizada no município de Cáceres-MT, com 15 professores de educação física, atuantes na rede pública e/ou privada. Utilizou-se como instrumento um questionário fechado, contendo seis questões. Os principais resultados foram: ausência do conteúdo lutas no plano de ensino e a falta de capacitação dos professores para ministrarem tal conteúdo. Assim, a temática luta ainda é pouco utilizada nas aulas de educação física escolar, especialmente pela falta de preparo e conhecimento dos professores para lidar com a temática.

          Unitermos: Lutas. Educação. Conteúdo. Violência.

 

Abstract

          The fight while content of school physical education has been forgotten, especially because they believe that the practice of fighting breeds violence. The aim of this study was to investigate whether the content is covered in class fight in school physical education. The research was conducted in the city of Cáceres-MT, with 15 physical education teachers, working in public and/or private school. It was used as instrument a questionnaire, containing six questions. The main results were: fight in the absence of content and teaching plan, lack of qualified teachers for such content. Thus, the thematic fight is not widely used in school physical education classes, especially the lack of preparation and knowledge of teachers to deal with the theme.

          Keywords: Fight. Education. Content. Violence.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As lutas enquanto conteúdo na Educação Física escolar ainda é pouco utilizada, muito provavelmente em decorrência de algumas concepções errôneas, especialmente, àquelas que relacionam a prática das lutas à violência e/ou ao vandalismo. Outro fator que talvez iniba a utilização dos conceitos e vivências corporais das lutas no cotidiano das aulas de educação física seja a falta de formação e informação acerca das possibilidades pedagógicas para se trabalhar as lutas como conteúdo.

    De acordo com Brasil (1997), nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN's –, a luta pode ser conceituada como jogo de oposição, em que os alunos podem utilizar-se de técnicas e estratégias para vencer seu oponente. Como atividades que englobam a luta, pode-se citar alguns exemplos, desde as brincadeiras de cabo de guerra e braço de ferro até práticas mais complexas como a capoeira, o judô, o karatê, dentre outras (Brasil, 1998 p. 70), desde que, sejam seguidos os princípios de inclusão e diversidade de movimento e, principalmente, a cultura dos alunos, atendendo assim, as necessidades dos indivíduos.

    Como parte da cultura humana, as lutas representam um meio eficaz de educação e um conjunto de conteúdos altamente importante para a Educação Física escolar, pois, qualquer que seja a modalidade de luta, exige respeito às regras, a hierarquia e a disciplina, valorizando a preservação da saúde física e mental de seus praticantes. As lutas assim como os demais conteúdos da educação física, devem ser abordadas na escola de forma reflexiva, direcionada a propósitos mais abrangentes do que somente desenvolver capacidades e potencialidades físicas (SOUZA JUNIOR e SANTOS, 2010).

    Diante do exposto, Darido e Rangel (2005) indicam como possibilidade pedagógica para o conteúdo de lutas, a discussão dos conceitos (equilíbrio/desequilíbrio, imobilizações, história e outros), procedimentos (aprendizagem dos movimentos) e atitudes (respeito ao próximo, formação de caráter, dentre outras).

    Independentemente do tipo de luta abordada, o professor de Educação Física, a partir de sua formação pedagógica reúne competências e habilidades para inserir em suas aulas alguns elementos das lutas como possibilidade de formação integral do aluno, porém, isso nem sempre acontece. Desta forma, o presente estudo teve como objetivo investigar se o conteúdo de lutas é abordado nas aulas de educação física escolar e caso não o seja, qual seria o motivo para não ensiná-lo.

Contextualização

A origem das lutas

    A verdadeira origem das lutas continua sendo uma incógnita, pois muitos são os relatos sobre o surgimento das mesmas, porém nenhum desses relatos demonstra ao certo a origem das lutas. Alguns autores descrevem sobre a prática das lutas gregas, dos gladiadores romanos, dos combates praticados pelos chineses, entre outros. De acordo com Alves Júnior. (2001):

    Na história da humanidade quando levamos em consideração o estágio já urbano, ao se fazer uma breve gênese das lutas observa-se que não foram poucos os registros encontrados nas mais diversas civilizações. Remontando entre os anos 3000 e 1500 a.C., os sumerianos deixaram imagens de três duplas de lutadores representando diversas fases de uma luta, com características que D. Palmer e M. Howell (ALVES JÚNIOR, 2001) consideraram como sendo, “uma das provas mais antigas” do que hoje entenderíamos como atividade de luta. Outras evidências de práticas de lutas também foram encontradas em outras culturas, através dos desenhos encontrados dentro da tumba egípcia de Beni Hassan e também em Creta, por volta de 2000 a.C. (ALVES JÚNIOR, 2001, p 73).

    As lutas fazem parte do contexto da humanidade desde o período classificado como história antiga (quatro a seis mil a.C.) sendo um aspecto natural dos indivíduos daquela época visto a necessidade de sobrevivência e seu caráter utilitário e guerreiro. Vários são os relatos de lutas em livros sagrados, como por exemplo, a Bíblia Hebraica, no qual textos bíblicos relatam a luta entre Davi e Golias. Conforme Reid e Croucher (2003, p. 21): citado por Ferreira “Desde as épocas antigas temos registro de lutas a dois. A história de Davi e Golias com uma pedra atirada por uma funda é uma das descrições mais detalhadas [...].”

    Por volta de 1.125-255 a.C. a China alcança o maior esplendor de sua cultura, durante a dinastia dos Chou, foram criadas escolas que incluíam atividades físicas de modo sistematizado, inclusive a luta. Sendo que, na China e na Índia surgiram as primeiras formas de combate organizado. No Japão, há registros de que o jiu-jitsu desenvolveu-se como um sistema nacional da cultura física. Na Grécia havia os Jogos Fúnebres, descrito por Homero no Canto XXIII da Ilíada, mandados celebrar por Aquiles em honra a Patróclo, na Guerra de Tróia, consistia de várias provas incluindo a luta entre elas. Os gregos também tinham uma forma de lutar, conhecida como “pancrácio” (FERREIRA, 2006). Em Roma, os gladiadores, lutavam entre si e contra as feras, para alegrar a multidão nos anfiteatro.

    Alguns lutadores possuem uma visão filosófica do que vem a ser uma luta, como afirma Lee (2003, p. 23): “[...] o objetivo da arte é projetar uma visão interior para o mundo; declarar, em uma criação estética, o espírito mais íntimo e as experiências pessoais de um ser humano”.

    Atualmente existem várias modalidades de lutas espalhadas pelo mundo, como por exemplo: Judô, Jiu-Jitsu, Tae-Kwon-Do, Kung Fu, Boxe, Luta livre, Karatê, a Capoeira, dentre outras, que vem se destacando e conquistando seu espaço no cenário mundial, conforme Trusz e Nunes (2007) “Os esportes de combates integram os jogos olímpicos desde seu início. Na primeira olimpíada da era moderna, em 1896, já se faziam presente a esgrima e a luta”. Muitas das lutas citadas anteriormente se organizaram de tal forma que conquistaram seu espaço como esporte olímpico.

    O principal objetivo do ensino de lutas nas escolas não está ligado aos aspectos técnicos e táticos, e sim ao ensino da essência e os valores priorizados pelas lutas abordadas de forma correta. Destacamos, por exemplo, que no Brasil a capoeira por ter surgido como parte de manifestações da cultura dos escravos. A capoeira é privilegiada quando se diz respeito ao ensino do conteúdo “lutas nas escolas”, pois apresenta em sua essência aspectos como a música, o ritmo e a expressão corporal. Pode ser ainda compreendida como uma forma de expressão do anseio de liberdade do povo brasileiro colonial, mas também nasceu pela necessidade de cultivar, enraizar e propagar sua cultura. Segundo Vieira, (1998) "a capoeira surgiu no Brasil como luta de resistência de uma comunidade que trazia uma imensa bagagem cultural de sua terra de origem".

O ensino de lutas nas aulas de Educação Física

    As lutas podem ser inseridas no contexto escolar não somente como outra modalidade como as tradicionais (futsal, basquetebol, voleibol e handebol), mas também a partir de atividades que possuem elementos da luta, como por exemplo, as brincadeiras de cabo-de-guerra, braço de ferro e outras. Sendo assim, o conteúdo lutas pode contribuir para o esporte competitivo e de alto rendimento, como, no caso da escola, colaborar na formação de um indivíduo cooperativo, disciplinado e que utilize os seus ensinamentos e fundamentos de forma positiva junto da sociedade em que vive, Segundo Ruffoni (2000, p. 2):

    Ao se propor e defender uma educação física voltada para a cultura corporal, para a prática das lutas, é imprescindível que se compreenda que será somente por meio da cultura que o esporte possuirá significados. A relação corpo-educação, por intermédio da aprendizagem significa aprendizagem da cultura, dando ênfase aos sentidos dos acontecimentos e a aprendizagem da história, ressaltando assim a relevância das ações humanas. Corpo que se educa é corpo humano que aprende a fazer história, fazendo cultura.

    Fazendo parte da cultura, as lutas representam hoje um meio eficaz de educação e um conjunto de conteúdos altamente valiosos para Educação Física escolar que, infelizmente, ainda é pouco utilizada como recurso pedagógico. Por este motivo, muitos questionam como um aluno de graduação poderia aprender judô ou karatê em apenas seis meses e, assim, esteja apto a empregar o conhecimento adquirido no momento em que estivesse atuando em escolas. Contudo, entende-se que não se faz necessário ter sido um praticante, já que o principal objetivo desse conteúdo nas aulas são os conceitos e valores que tal prática pode oferecer aos alunos. Vale destacar ainda que o conteúdo de lutas não se resume apenas ao ensino das modalidades tidas como tradicionais (Judô, Karatê, Kung Fu, dentre outras), mas, também, a prática da luta informal, visto que existe uma gama de atividades inerentes à luta que despertam o interesse das crianças.

    É inquestionável o poder de fascinação que as lutas provocam nos alunos. Nos dias atuais, constatamos que o tema está em voga, seja em desenhos animados, em filmes ou academias. Não é difícil encontrar crianças brincando de luta nos intervalos das aulas, colecionando figurinhas dos heróis que lutam em seus desenhos animados. Os adolescentes compram revistas que se referem ao tema, livros de técnicas de luta e matriculam-se em academias para realizar a prática da luta. Portanto, por que não considerar o uso das lutas nas aulas de educação física escolar?

    Se o fenômeno lutas aparece na escola, conforme Nascimento e Almeida (2007), isso acontece pelas aberturas preconizadas por essa instituição para terceiros realizarem, em seu espaço, oficinas, voluntárias ou não, desvinculadas da disciplina de Educação Física e do projeto político-pedagógico da Escola. (NASCIMENTO & ALMEIDA, 2007)

    Segundo Santos (2009, p. 3):

    Não é função da educação física escolar a preparação exímia de lutadores. Da mesma forma, também nos cursos de formação de professores (as) de educação física o que se espera é a preparação para atuação como educador e não como um lutador profissional! Neste sentido, pensamos que a educação física escolar ao tematizar as lutas, precisa necessariamente lidar com esse conhecimento de maneira particular e diferente do que ocorre nos campos específicos dessas práticas.

    De acordo com Nascimento (2007) e Santos (2009) o conteúdo aparece na escola por intermédio de terceiros, o que não justifica a não utilização das lutas na educação física escolar, pois quando abordadas por terceiros, por vezes em forma de oficinas, esta é feita a partir de um único tipo de luta, e de forma técnica, sem planejamento escolar que vise às necessidades pedagógicas dos alunos.

    Além disso, o conteúdo é tratado nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN's (BRASIL, 1997) como cultura humana e deve ter ser abordado nas aulas de educação Física escolar de maneira lúdica, sendo o professor de Educação Física o profissional mais indica, uma vez que, se ensinado por terceiros, a prioridade poderá assentar-se no aspecto técnico das lutas, fugindo assim das recomendações e da essência da Educação Física escolar.

    Partindo deste entendimento, propiciada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s (BRASIL, 1997), as lutas devem ser abordadas com estratégias metodológicas que não visem apenas à técnica pela técnica, mas sim que o aluno a vivencie de uma maneira que lhe proporcione prazer, respeitando suas características de crescimento, pois o organismo humano, principalmente nessa fase está em constantes transformações, que são úteis à vida e as adaptações ao mundo externo.

    Outro fator determinante na inclusão das lutas nas aulas de Educação Física escolar são os benefícios que o conteúdo pode trazer quando se diz respeito ao desenvolvimento do aluno, como aponta Ferreira (2006, p. 39-40):

    Esta prática pode trazer inúmeros benefícios ao usuário, destacando-se o desenvolvimento motor, o cognitivo e o afetivo-social. No aspecto motor, observamos o desenvolvimento da lateralidade, o controle do tônus muscular, a melhora do equilíbrio e da coordenação global, o aprimoramento da idéia de tempo e espaço, bem como da noção de corpo. No aspecto cognitivo, as lutas favorecem a percepção, o raciocínio, a formulação de estratégias e a atenção. No que se refere ao aspecto afetivo e social, pode-se observar em alunos alguns aspectos importantes, como a reação a determinadas atitudes, a postura social, a socialização, a perseverança, o respeito e a determinação.

    É comum encontrarmos professores sem a formação adequada ensinando as lutas, muitas vezes de forma impensada e irresponsável, dando ênfase apenas ao caráter técnico/ competitivo, desviando assim o objetivo mais amplo da educação Física que é contribuir para o processo de formação plena dos alunos, assim como outros componentes curriculares que estão presentes na escola.

Lutas versus violência

    Segundo Oliveira e Santos (2006), um dos pontos levantados por alguns professores de educação física que não foram contemplados em sua formação acadêmica com a disciplina de Lutas, é que a utilização de elementos das práticas de lutas nas aulas de educação física escolar poderia favorecer o aumento de agressividade entre os escolares. Tal insegurança ocorre frequentemente entre aqueles que não puderam vivenciar em sua formação as possibilidades de se trabalhar os conceitos e procedimentos das diversas formas de lutas para o enriquecimento cinestésico-corporal e cultural de quem às pratica.

    Oliveira e Santos (2006) diz:

    Ao invés de aumentar a agressividade, ela contribuirá eficientemente, como comprova a literatura e a práxis educativa de quem trabalha com lutas aplicadas a mais de 28 anos, que as lutas são preponderantes no ato de refreamento do comportamento de agressividade e ainda estudos comprovam que as lutas atuam na formação do caráter das crianças e adolescentes os tornando perseverantes com a auto estima positiva e altamente seguros de sua capacidade de vencer sem ter medo de perder (OLIVEIRA e SANTOS, 2006, p 5).

    Dessa forma, deve-se ter consciência que durante o desenvolvimento desse conteúdo na escola, a explicação e aplicação das regras devem partir do professor e, porque não, construídas pelo professor e pelo aluno. O professor justifica os motivos de utilização desse conteúdo, tornando-o compreensível ao aluno, que por sua vez, poderá auxiliar o professor na organização e desenvolvimento do mesmo.

    Quando abordado como conteúdo da Educação Física na escola de forma alguma deve assumir uma condição de enfrentamento e confusão entre os alunos, pois como afirma Reid e Croucher (1983, p. 29):

    [...] o surgimento de uma arte marcial não depende somente da prática de certos movimentos e da capacidade de resistir a provações físicas. As artes marciais também têm um conteúdo intelectual e um sistema de valores.

Material e métodos

    O presente estudo foi realizado no município de Cáceres-MT, Brasil, com 15 professores de educação física, atuantes na rede pública e/ou privada. Utilizou-se como instrumento um questionário fechado, contendo seis questões, cujo objetivo foi o de levantar dados a respeito da importância dada pelos professores ao conteúdo de lutas na escola, bem como a relação com a violência e de que forma as lutas podem contribuir no desenvolvimento dos alunos durante a sua prática. Todos os professores assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido concordando em ser voluntários da pesquisa.

Resultados e discussão

    Nas tabelas 1 e 2, são apresentadas as perguntas e respostas dos professores em relação ao conteúdo de lutas e a sua utilização nas aulas de educação física escolar.

    Na tabela 1, dos 15 professores entrevistados, apenas quatro declararam utilizar a luta como conteúdo de suas aulas, sendo que, um dos professores é faixa-prata em Tae-Kwon-Do.

Tabela 1. Utilização do conteúdo Lutas na Educação Física escolar

    Em relação à importância do conteúdo de lutas nas aulas de educação física, apenas um dos 15 professores considerou que não seria importante a utilização dos conceitos e práticas corporais que envolvem as lutas, justificando a não inserção das lutas em suas aulas. Esse mesmo professor também considera que tal prática poderia incentivar a violência entre os alunos (Tabela 1).

    Contraditoriamente, tal professor relatou assim como os demais entrevistados, que o ensino das lutas poderia ajudar na disciplina dos alunos (Tabela 1). Observa-se pela confusão e contradição de respostas que existem ainda professores que desconhecem as possibilidades de se trabalhar com o conteúdo de lutas no âmbito escolar, talvez pela falta de interesse e comodismo ou pelo fato dessa temática não ter sido oferecida em sua formação acadêmica.

    É comum encontrarmos profissionais de Educação Física que se negam a trabalhar o conteúdo de lutas devido a compreensões equivocadas de que estas podem contribuir para uma atividade de violência por parte dos seus praticantes, no caso em questão os alunos. Porém segundo Brasil (1998, p. 96):

    A compreensão por parte do educando do ato de lutar (por que lutar, com quem lutar, contra quem ou contra o que lutar; a compreensão e vivência de lutas no contexto escolar (lutas X violência; vivência de momentos para a apreciação e reflexão sobre as lutas e a mídia; análise dos dados da realidade positiva das relações positivas e negativas com relação à prática das lutas e a violência na adolescência (luta como defesa pessoal e não para arrumar briga).

    A tabela 2 apresenta a continuidade do questionário aplicado aos professores, quando estes foram indagados sobre quais seriam as contribuições e as dificuldades encontradas por eles para a utilização das lutas como conteúdo da educação física.

Tabela 2. Contribuição e dificuldades para o ensino das Lutas na Educação Física escolar

    Quando indagados como as lutas poderiam contribuir para o desenvolvimento dos alunos (Tabela 2), observa-se que a maioria dos professores entende que as lutas possuem uma riqueza de movimentos, assim como, a responsabilidade proporcionada por elas. Corroborando com as respostas obtidas junto aos professores, Ferreira (2006, p. 39-40) relata que:

    [...] esta prática pode trazer inúmeros benefícios ao usuário, destacando-se o desenvolvimento motor, o cognitivo e o afetivo-social. No aspecto motor, observamos o desenvolvimento da lateralidade, o controle do tônus muscular, a melhora do equilíbrio e da coordenação global, o aprimoramento da idéia de tempo e espaço, bem como da noção de corpo. No aspecto cognitivo, as lutas favorecem a percepção, o raciocínio, a formulação de estratégias e a atenção. No que se refere ao aspecto afetivo e social, pode-se observar em alunos alguns aspectos importantes, como a reação a determinadas atitudes, a postura social, a socialização, a perseverança, o respeito e a determinação.

    Em relação à maior dificuldade encontrada pelo professor para se implantar o conteúdo de lutas nas aulas de Educação Física, foram apresentadas duas opções (Tabela 2). Destas, dez professores responderam que a maior dificuldade é a falta de materiais e cinco que é a falta de preparo e conhecimento sobre o assunto. Vale lembrar que nem sempre todas as escolas são equipadas com materiais que auxiliam na prática pedagógica de inúmeras atividades, e assim, alguns conteúdos deixam de ser oferecidos por falta desses elementos como foi levantado pela maioria dos professores entrevistados. Contudo, inúmeros materiais alternativos podem ser utilizados para o ensino das lutas, bastando para isso ao professor à criatividade e o interesse, podendo dar ênfase a ludicidade dos movimentos e não a técnica per se. Quanto à falta de conhecimento apontada por alguns professores, conforme Oliveira e Santos (2006, p. 6):

    É provável que muitos profissionais não utilizem deste conteúdo, pelo fato de não o dominarem. Mas se este conteúdo faz parte da cultura corporal, ele pode ser utilizado da melhor maneira possível, propiciando à criança vivenciar diferentes tipos de lutas que fazem parte da cultura corporal do ser humano desde muitos séculos.

    Ainda segundo os autores, a falta de informação de muitos profissionais em relação às lutas, ocorre pela falta de embasamento teórico-prático da formação acadêmica.

    Deve se levar em conta que as lutas devem ser trabalhadas de forma diferenciada das formas encontradas em academias ou clubes, pois são várias as formas encontradas para se implantar o conteúdo nas aulas (OLIVEIRA; SANTOS, 2006). Conforme mencionado anteriormente, não há a necessidade do professor de educação física ser um lutador, mas ao menos, ter um mínino de conhecimento, podendo utilizar-se de filmes, palestras de mestres de variadas lutas, dentre outros recursos, para que sejam transmitidos os ensinamentos e valores das lutas.

    Destaca-se ainda que as lutas devem ser abordadas em todas as fases escolares dos alunos, como afirma Ferreira (2006, p. 37):

    Ao se lecionar a disciplina de educação física, desde a educação infantil até o ensino médio, comprova-se que as lutas fazem sucesso em todas as faixas etárias. Na educação infantil, as lutas de animais (luta do sapo, luta do jacaré ou a luta do saci) têm ajudado muito na liberação de agressividade das crianças, além de serem trabalhados, nestas atividades, todos os fatores psicomotores. No ensino fundamental, lutas que requerem um maior esforço trazem excelentes respostas, como a luta do “empurra e puxa” ou o “uga-uga” (tirar o colega de dentro do círculo central). No ensino médio, as modalidades começam a ser exploradas de uma maneira mais profunda, levando ao conhecimento do tema, fazendo um resgate histórico das modalidades e as relacionando com a ética e os valores.

Conclusão

    Fundamentados na literatura e nas respostas dos professores aqui apresentadas, pode-se concluir, ao menos para este estudo que o conteúdo lutas ainda é pouco utilizado nas aulas de educação física escolar, especialmente pela falta de preparo e conhecimento dos professores para lidar com a temática. Espera-se que, com a abordagem das lutas nas matrizes curriculares atuais, os futuros professores possam usufruir deste campo de conhecimento para o enriquecimento da formação cultural de seus alunos.

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