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Introdução

    Lombalgia é definida como uma categoria de dor localizada na região inferior do dorso entre a última costela e a prega glútea, com presença ou não de rigidez¹. Quando a dor lombar irradia para os membros inferiores é denominada lombociatalgia, quadro caracterizado pelo acometimento do nervo ciático devido principalmente a uma compressão deste nervo^2,3.

    A dor lombar é considerada um problema de saúde pública, pois atinge uma grande parcela da população em algum momento da vida, além de ser um dos principais motivos da redução da capacidade funcional^3,4. O Programa Nacional de Doenças Reumáticas destaca que a lombalgia não é uma doença, e sim um sintoma. Apresenta um grande impacto na saúde pública pelo fato de ser freqüentemente relatada pela população em idade ativa^5,6.

    Estudos indicam que a lombalgia é responsável por metade das disfunções que acometem o sistema musculoesquelético e uma das principais causas de dor e considerada a terceira causa de incapacidade em qualquer faixa etária⁷.

    Cecin et al.⁸, nas Diretrizes Lombalgias e Lombociatalgias consideram a lombalgia um termo inadequado para o diagnóstico de uma patologia na coluna lombar. Tratar uma lombalgia sem destacar a real causa dos sintomas pode colocar em risco a saúde do indivíduo. Portanto, o termo sugerido mais adequado é Doença da Coluna Vertebral Lombar.

    O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão de literatura para identificar as causas e os diagnósticos mais prevalentes de dor lombar em estudos epidemiológicos.

Materiais e métodos

    Para a revisão de literatura foram utilizadas as seguintes bases de dados: LILACS, MEDLINE, SCOPUS, SafetyLit, PubMed, IBECS, Google Scholar e SciELO. Para tanto, os descritores usados na pesquisa, de acordo com o DECS (Descritores em Ciências da Saúde) foram: dor lombar, epidemiologia, prevalência e diagnóstico de dor lombar e seu respectivos em inglês e espanhol.

    Como critérios de inclusão, foram aceitas publicações em línguas portuguesa, inglesa e espanhola, artigos que incluíssem estudos epidemiológicos originais, estudos epidemiológicos de revisão e pesquisas in vivo, que abordassem as principais causas/diagnóstico da dor lombar, publicados entre os anos de 1990 a 2013.

Tabela 1. Artigos Incluídos na Revisão classificados pelo Qualis das áreas 21 e Medicina II

Autor (ano)	Título do Artigo	Periódico Publicado	Local do Estudo	Qualis
Almeida-Matos; Santos-Gusmão9 (2008)	Valor Diagnóstico da Ressonância Magnética na Avaliação da Dor Lombar	Salud Publica	Brasil	-
Attal, Perrot, Fermanian10 (2011)	The neuropathic components of cronic low back pain: a prospective multicenter study using the DN4 questionnaire.	The Journal of Pain	França	A1
Barbosa, Silveira, Lemos11 (2011)	Lombalgia: fatores de melhora e piora entre os pacientes atendidos no ambulatório de ortopedia.	Saúde Coletiva	Brasil	B5
Caraviello, Wasserstein , Chamlian, et al12 (2005)	Avaliação da dor e função de pacientes com lombalgia tratados com um programa de Escola de Coluna.	Acta Fisiátrica	Brasil	B3
Carragee13 (2001)	Psychological and functional profiles in select subjects with low back pain.	The Spine Journal	EUA	A2
Engel, Korff, Katon14 (1996)	Back pain in primary care: predictors of high health-care costs.	Pain	EUA	A1
Goubert, Crombez, Bourdeaudhuij15 (2004)	Low back pain, disability and back pain myths in a community sample: prevalence and interrelationships.	European Journal of Pain	Bélgica	A2
Graup; Santos; Moro16 (2010)	Estudo descritivo de alterações posturais sagitais da coluna lombar em escolares da rede federal de ensino de Florianópolis	Revista Brasileira de Ortopedia	Brasil	B1
Kjaer, Leboeuf-Yde, Sorensen17 (2005)	An epidemiologic study of MRI and low back pain in 13-year-old children.	Spine	EUA	B1
Muraki, Akune, Oka, et al18 (2012)	Incidence and risk factors for radiographic lumbar spondylosis and lower back pain in japanese men and woman: the ROAD study.	Osteoarthritis and Cartilage	Japão	A2
Pinto-Meza, Serrano-Blanco, Codony, et al19 (2006)	Prevalencia y comorbilidad física y mental del dolor dorsal y cervical crónicos en España: resultados del estudio ESEMeD	Medicina Clinica	Espanha	B2
Ramírez; Lemus20 (2010)	Disfunção da Articulação Sacroilíca em jovens com dor lombar.	Fisioterapia em Movimento	Colômbia	B1
Symmons, Van Hemert, Vandenbroucke, et al21 (1991)	A longitudinal study of back pain and radiological changes in the lumbar spines of middle aged woman.	Annals of the Rheumatic Diseases	EUA	A1

Fonte: Dados da Pesquisa

Resultados

    A busca dos dados ocorreu através da associação dos descritores: dor lombar, lombalgia, epidemiologia, prevalência e diagnóstico. Assim, foram encontrados 24 artigos. Logo após foi realizada a aplicação dos critérios de inclusão e a fase de leitura dos resumos. Ao final foram selecionados 13 artigos que se encaixavam no objetivo da pesquisa (Tabela 1). Os estudos selecionados tinham como objetivo verificar as principais causas e diagnósticos que levam à dor lombar, além de verificar o perfil epidemiológico desses indivíduos.

Tabela 2. Perfil epidemiológico dos pacientes

Autor (ano)	País de Origem	Distribuição por Sexo	Distribuição por Idade (anos)	Ocupação/Nível de Educação
Almeida-Matos; Santos-Gusmão9 (2008)	Brasil	Sem descrição	Sem descrição	Sem descrição
Attal, Perrot, Fermanian10 (2011)	França	60,6% Feminino	Média de 54,7 ± 14,3	Sem descrição
Barbosa, Silveira, Lemos11 (2011)	Brasil	58,6% Masculino	Média de 47	Elétrico-mecânicos, Serviços gerais e Motorista
Caraviello, Wasserstein , Chamlian, et al12 (2005)	Brasil	86,7% Feminino	Média de 48,1	Empregadas Domésticas
Carragee13 (2001)	EUA	Sexo Feminino: 51% Patologia Discal; 56% Espondilolistese; 35% Osteomielite Piogênica; 19% lombalgia crônica	Patologia Discal (45,7); Espondilolistese (44,4); Osteomielite Piogênica (49,1); Lombalgia crônica (31,4)	Sem descrição
Engel, Korff, Katon14 (1996)	EUA	52,8% Feminino	Entre 18-44 anos	35,5% com Ensino Médio
Goubert, Crombez, Bourdeaudhuij15 (2004)	Bélgica	53,7% Feminino	36-45 anos	Empregado
Graup; Santos; Moro16 (2010)	Brasil	64,7% Masculino	Média: Feminino - 16 Masculino - 15,87	Alunos do Ensino Médio
Kjaer, Leboeuf-Yde, Sorensen17 (2005)	EUA	Sem descrição	13 anos	Sem descrição
Muraki, Akune, Oka, et al18 (2012)	Japão	66,7% Feminino	Feminino (68,3) Masculino (69,8)	Sem descrição
Pinto-Meza, Serrano-Blanco, Codony, et al19 (2006)	Espanha	61,3% Feminino	Maior que 65 anos	Trabalhador e Aposentado
Ramírez; Lemus20 (2010)	Colômbia	92,5% Feminino	Média de 21,1 ± 2,1	Universitários
Symmons, Van Hemert, Vandenbroucke, et al21 (1991)	EUA	Sexo Feminino	Sem descrição	Sem descrição

Fonte: Dados da Pesquisa

    A tabela 2 indica o perfil epidemiológico de pacientes encontrados nos estudos que apresentavam queixa de dor lombar. A tabela 3 indica quais os diagnósticos de doenças da coluna lombar foram descritos nos artigos.

Tabela 3. Principais diagnósticos para Dor Lombar

Autor (ano)	Principais Diagnósticos
Almeida-Matos; Santos-Gusmão9 (2008)	Diagnóstico a partir de RM: 20% para Hérnia de Disco, 15% para Doença Degenerativa, 10% para Espondiloartrose, 5% para Discite Infecciosa; 50% não foram encontradas alterações.
Attal, Perrot, Fermanian10 (2011)	Ordem decrescente dos principais diagnósticos: Hérnia de disco, Estenose Espinhal, Doença Degenerativa do Disco, Doença Degenerativa da Coluna Lombar e Escoliose Lombar.
Barbosa, Silveira, Lemos11 (2011)	Hérnia de Disco presente em 58,6% dos indivíduos portadores de lombalgia. O restante sem definição
Caraviello, Wasserstein , Chamlian, et al12 (2005)	51,1% dos participantes com lombalgia mecânico-postural, 4% com fibromialgia, 6,7% com osteoartrose de coluna, 8,9% abrangiam escoliose, artrite reumatóide, hipercifose e Mal de Pott.
Carragee13 (2001)	Principais diagnósticos encontrados: Patologia Discal, Espondilolistese, Osteomielite Piogênica, Lombalgia Crônica.
Engel, Korff, Katon14 (1996)	Transtornos do Disco Vertebral, Artrite, Lesão Musculoesquelética e Trauma.
Goubert, Crombez, Bourdeaudhuij15 (2004)	Degeneração Articular, Hérnia de Disco e Lombalgia.
Graup; Santos; Moro16 (2010)	90,9% com retificação da coluna lombar; 9,1% com hiperlordose lombar.
Kjaer, Leboeuf-Yde, Sorensen17 (2005)	Degeneração Discal.
Muraki, Akune, Oka, et al18 (2012)	Osteofitose
Pinto-Meza, Serrano-Blanco, Codony, et al19 (2006)	Artrite foi considerada o principal diagnóstico que leva a dor vertebral.
Ramírez; Lemus20 (2010)	35,8% dos participantes apresentaram como causa da dor lombar Disfunção da Articulação Sacroilíaca.
Symmons, Van Hemert, Vandenbroucke, et al21 (1991)	Degeneração Discal

Fonte: Dados da Pesquisa

Discussão

    O diagnóstico de doença da coluna vertebral lombar é amplo. Do ponto de vista evolutivo, as lombalgias e lombociatalgias decorrem de várias causas, podendo estar relacionadas às afecções primárias das vértebras, ligamentos, medula espinhal, raízes nervosas ou secundárias decorrentes de órgãos próximos ou distantes da dor, com ou sem envolvimento neurológico^8,22.

    A classificação das lombalgias é feita por meio de critérios combinados e baseados na sintomatologia do indivíduo e por meio dos exames complementares²³. Quanto à causa, as lombalgias são classificadas em mecânico-degenerativas, sem participação de fator mecânico e inespecíficas, e quanto à duração, em aguda, subaguda e crônica. As mecânico-degenerativas ocorrem devido a alterações musculoesqueléticas e biomecânicas. As sem participação de fator mecânico resultam de processos inflamatórios, infecciosos, metabólicos, neoplásicos, psicossomáticos, viscerais e miofasciais. Quando não é encontrada uma causa anatômica ou fisiológica, a lombalgia é dita inespecífica^1,8. Na prática clínica, a causa específica da lombalgia corresponde a apenas 15% das dores lombares²⁴.

    No presente trabalho foi possível identificar que, dentre as doenças da coluna vertebral causadoras de dor lombar apresentadas nos estudos, destacam-se como maior freqüência as de origem mecânico degenerativas. Segundo Barbosa et al.¹¹, Almeida-Matos; Santos-Gusmão9, Attal et al.¹⁰ e outros autores^13,14,17,21 a hérnia de disco e outros transtornos discais foram os diagnósticos clínicos mais prevalentes entre os indivíduos pesquisados, sendo responsáveis pela lombalgia. A hérnia discal é precedida por alto esforço sobre a coluna, que causa o deslocamento do núcleo pulposo devido à ruptura do anel fibroso. Quando a hérnia é posterior, é comum observar a lombociatalgia²⁵.

    Dentre outras causas de origem mecânico-degenerativas, foi possível observar que as alterações posturais também desempenham papel para o surgimento da dor lombar, como escoliose, hipercifose, retificação da coluna lombar e hiperlordose lombar^10,12,16. Como tais alterações resultam em um desequilíbrio na coluna vertebral e assim, se tornam incômodas à coluna lombar são consideradas grandes causadoras da lombalgia, pois geram tensão muscular e provocam altas pressões sobre músculos e ligamentos. Esforços dinâmicos e estáticos podem contribuir para o excesso de esforço realizado pela coluna²⁶.

    Quanto às causas sem envolvimento inicial de fator mecânico, observou-se a predominância das seguintes afecções: discite infecciosa, espondiloartrose⁹, fibromialgia, Mal de Pott¹² e osteomielite piogênica¹³. No estudo feito por Helfenstein Junior, Goldenfun e Siena²⁶, a fibromialgia foi identificada como o diagnóstico de dor lombar mais freqüente.

    Um aspecto observado no estudo é que a maioria dos participantes das pesquisas pertence ao sexo feminino, tendo apenas Barbosa et al.¹¹ e Graup; Santos; Moro16, como autores que demonstraram a prevalência de diagnósticos relacionados à dor lombar pertencentes ao sexo masculino. Silva, Fasse e Valle²⁷ atribuem a predomínio de lombalgia em indivíduos do sexo feminino devido ao fato de as mulheres combinarem tarefas domésticas com as atividades realizadas fora de casa, onde estão sujeitas a cargas de alto peso, a posições viciosas, a tarefas repetitivas e com alta velocidade. As mulheres são também mais sujeitas a lombalgias por apresentar características anatômicas e fisiológicas que contribuem para o aparecimento da dor, como menor estatura, menor massa muscular e óssea, maior massa gordurosa e articulações mais frágeis.

    Nos idosos, a lombalgia sem participação inicial de fator mecânico é provocada por: metástases, síndrome da cauda equina, doenças infecciosas, infecções geniturinárias^{28,29,30,31,32,33}.

    O processo de envelhecimento, com alterações fisiológicas e anatômicas da coluna contribuem para a lombalgia. Estudos comprovam tal situação, pois observaram que a lombalgia afeta uma faixa etária elevada, entre 40 e 59 anos de idade ^{3,12,27,34,35}. Tais informações concordam com os nossos achados, pois em sete artigos foi observado a incidência da dor lombar em idades mais avançadas^{10,11,12,13,15,18,19}.

    Nos estudos que informaram a ocupação dos participantes, foi verificado que, a maioria pertence à classe trabalhadora e estudantil, ou seja, indivíduos ativos na sociedade^{11,12,15,16,19,20}. Tais dados comprovam a afirmação que a lombalgia tornou-se um impacto na saúde pública, pelo fato de estar presente na população em idade ativa^5,6.

Considerações finais

    Com este estudo, foi verificada a incidência de doenças da coluna vertebral lombar em indivíduos com idade ativa e do sexo feminino. Ao se tratar das principais causas e diagnósticos de dores lombares, a literatura aponta causas definidas. Baseado na literatura dos últimos vinte anos foi possível observar que os diagnósticos mais relatados se encontram dentro das causas mecânico-degenerativas, em especial a hérnia de disco, que se mostrou a patologia que mais resulta em dor lombar. Como uma forma de diminuir os altos índices de dor lombar na população, é necessário o esclarecimento e a educação do indivíduo. A abordagem preventiva da lombalgia é uma preocupação social e individual, que oferece benefícios a curto e longo prazo. Novos estudos que revelem as principais patologias relacionadas à lombalgia são necessários para a confirmação e esclarecimento, com maior precisão, de questões ainda não definidas.

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