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Sistematização da dimensão conceitual nas aulas 

de Educação Física: uma proposta de intervenção

La sistematización de la dimensión conceptual en las clases de Educación Física: una propuesta de intervención

 

*Mestre em Educação Física

Universidade Presbiteriana Mackenzie

**Pos Graduado em Educação Física Escolar

Instituto Presbiteriano Mackenzie

Ronê Paiano*

Alex Donizete Ribeiro Andreaça**

rone.pefe@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste trabalho foi o de registrar e analisar os procedimentos adotados para a escolha, sistematização e implantação de conteúdos conceituais ligados à saúde no Ensino Médio em uma escola particular do estado de São Paulo, assim como a opinião dos alunos sobre estas aulas e conteúdos. Foram sujeitos desta pesquisa 69 alunos do 1º ano do ensino médio, sendo 32 meninos e 37 meninas. De acordo com as respostas 62 alunos acreditam que sua formação ficará mais completa e 63 acreditam que vão usar os conteúdos selecionados na vida. Quanto às estratégias de aula reprovaram aulas apenas expositivas, mesmo com a utilização do Power Point e desejariam aulas nas quais o professor utiliza-se de vídeos e nas quais pudessem debater mais sobre os temas.e em Educação

          Unitermos: Educação Física Escolar. Ensino Médio. Aula teórica.

 

Abstract

          The aim of this study was to record and analyze the procedures adopted for selecting, ordering and deployment of conceptual content related to health in high school at a private school in the state of São Paulo, as well as the students' opinion on these lessons and contents. The study subjects were 69 students in the 1st year of high school, 32 boys and 37 girls. According to the answers 62 students believe that their training will be more complete and 63 believe they will use the selected content in life. Regarding class strategies only disapproved expository classes, even with the use of Power Point and would like classes in which the teacher uses video and in which they could discuss more about the topics.

          Keywords: Physical Education. Secondary Education. Lecture.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O processo de transformação e questionamento que a Educação Física sofreu, desde o final dos anos oitenta, proporcionou não apenas a necessidade de inclusão de atividades que vão além das modalidades tradicionais, mas também a possibilidade de sistematização de conteúdos de natureza conceitual, procedimental e atitudinal.

    De acordo, com Neira e Mattos (2000, p. 13). “A idéia de uma educação para saúde - subsidiada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997) - conquistou em nossa sociedade um valor inestimável” proporcionado ao aluno a possibilidade de se tornar autônomo na busca da promoção de saúde e qualidade de vida”.

    No ano letivo de 2011 começou uma nova era no ensino médio de uma escola privada do estado de São Paulo. A Educação Física passou a ter aula teórica e foi definido que no simulado que prepara os alunos para o Vestibular teriam 04 questões sobre a Educação Física e na prova multidisciplinar que prepara os alunos para o Enem teriam 02 questões sobre a Educação Física.

    Esta nova realidade trouxe os seguintes desafios: a) que conteúdos selecionar? b) que estratégias adotar para o ensino destes conteúdos?

    Redimensionar a Educação Física no Ensino Médio é fundamental, seja para a ocupação de um espaço de aprendizagem na escola, seja para mostrar a íntima relação dos conhecimentos que essa disciplina tem com a realidade mais ampla da vida do aluno, visando dotá-lo de uma autonomia para toda a vida. (MOREIRA e PICCOLO 2012, p.13)

    Em função disto, o objetivo deste trabalho foi o de registrar e analisar os procedimentos adotados para a escolha, sistematização e implantação de conteúdos conceituais ligados à saúde em uma escola particular de São Paulo, assim como a opinião dos alunos sobre estas aulas e conteúdos.

    Este processo envolveu a escolha dos conteúdos, para todo o ensino médio, tendo como base os conteúdos mais votados pelos alunos, a aplicação das aulas teóricas, a confecção das questões para as provas e avaliação das aulas teóricas.

Método

    Foram sujeitos da pesquisa 69 alunos do 1º ano do ensino médio, sendo 32 meninos e 37 meninas, de uma escola particular do Estado de São Paulo. Na escola pesquisada, todas as turmas têm duas aulas semanais e no caso do ensino médio essas aulas são realizadas no mesmo dia e em seqüência (dobradinha). O fechamento de notas e as avaliações são realizados a cada trimestre, nomeados de etapa para esta pesquisa.

    Para a escolha dos conteúdos que seriam ministrados, procuramos saber os interesses dos alunos sobre o que eles gostariam ou não de ter nas aulas de Educação Física.

    Correia (1996) foi um dos precursores na aplicação do planejamento participativo nas aulas de educação física e concluiu que houve uma participação satisfatória de alunos nas aulas e valorização do componente curricular por alunos e professores o que também perceberam Freire e Souza (2008).

    Se em outras fases de ensino é importante que o professor discuta com seus alunos a definição dos conteúdos a serem tratados nas aulas, no Ensino Médio isto se torna primordial. É preciso que o professor consiga mediar entre os desejos expressos pelos discentes com os pontos necessários à educação e formação deles. (MOREIRA e PICCOLO, 2012, p. 52)

    Os sujeitos da pesquisa tiveram que preencher um formulário adaptado de Tibeau e Lorenz (2008) no qual deveriam sinalizar os conteúdos que desejariam ter nas aulas e os que não desejariam sendo permitido escolher mais de uma opção. O questionário foi aplicado na quadra, no início da aula, motivo pelo quais os alunos estavam tranquilos. As respostas de meninos e meninas foram tabuladas e reunidas em um quadro único.

    Ao final da segunda etapa os alunos responderam a um questionário para verificarmos a aceitação da proposta, validarmos as escolhas de conteúdos realizadas com base na tabulação dos instrumentos e avaliarmos se a dinâmica de aula estava sendo bem recebida. Preencheram o questionário de avaliação 63 sujeitos (33 meninos e 30 meninas do 1º ano do ensino médio ) que responderam às questões sentadas na quadra e antes de iniciarmos a aula. Neste dia faltaram 6 alunos que participaram do primeiro momento porém não puderam opinar nesta etapa.

Resultados e discussão

    O formulário adaptado de Tibeau e Lorenz (2008) continha a seguinte solicitação: Caro aluno: Conforme sua preferência assinale com um X os conteúdos que você gostaria ou não gostaria de ter nas de educação física.

    Uma vez recolhidos, todos os questionários foram preenchidos e as respostas agrupadas em um só quadro que aparece a seguir.

Quadro 1. Opiniões de alunos e alunas sobre os conteúdos preferidos e os

não preferidos. (elaborado pelos autores a partir dos resultados da pesquisa)

Temas mais escolhidos

    Analisando os temas mais escolhidos (musculação, IMC, Alcool e atividade física, nutrição e atividade física. Obesidade, anorexia e bulimia, anabolizantes, etc.) podemos observar que esses temas são do cotidiano dos alunos e desperta o interesse em aprender, pois, existe a conexão com a sua realidade algo a ser objetivado segundo alguns autores (CORREIA, 1999; DARIDO, 2001; BARROS e DARIDO, 2009; SILVA et al, 2011).

Temas menos escolhido

    Ao olharmos para os temas menos escolhidos (históricos e regras, osteoporose, efeitos da altitude, etc.) podemos supor dois motivos, faixa etária dos alunos e distância ou desconhecimento do tema ligado à saúde.

    Em relação à faixa etária é muito provável que os temas ligados ao histórico dos esportes despertem interesses e devam ser trabalhados com os alunos do ensino fundamental I e não do ensino médio. Vale ressaltar que a falta de interesse em ter aula teórica sobre as regras (dimensão conceitual) não implica em dizer que os alunos não gostam de jogar o esporte em questão (dimensão procedimental), como temos observado ao longo dos anos na nossa prática profissional. Talvez, por se tratarem de alunos do Ensino Médio, prefiram outros conteúdos sendo as regras mais necessárias e interessantes para quem está no início do processo de aprendizagem. Em função disto optamos por trabalhar os conteúdos conceituais ligados às modalidades na quadra, durante o jogo, parando e explicando as regras o que pode favorecer a fixação e não necessitando, em nossa opinião de um momento em sala de aula. O entendimento e fixação tendem a se fixarem mais em uma situação concreta, prática, vivenciada do que em uma situação abstrata hipotética.

    Resultado que suporta esta afirmação foi encontrado por Paiano, Rodrigues e Moraes (2011) ao levantarem o interesse de conteúdos conceituais de alunos do Ensino Fundamental II, alunos de 6º e 7º ano demonstram um maior interesse em assuntos relacionados a informações básicas sobre as modalidades (histórico, regras, onde praticar, etc.), já os alunos de 8º e 9º ano atribuem uma maior importância a assuntos relacionados à atividade física e seus efeitos sobre o corpo humano.

    Quanto aos outros temas o desinteresse pode ser fruto de serem temas ligados a problemas de saúde do idoso e não necessariamente de adolescentes ficando distante da sua preocupação e consequentemente interesse.

Planejamento e avaliação (simulado)

    Com base nos resultados da tabulação elaboramos uma sugestão de conteúdos para cada etapa e série do Ensino Médio com o intuito de aproximar o que seria tratado em sala de aula e consequentemente apareceria como conteúdo das avaliações.

Quadro 2. Conteúdos escolhidos pelos autores com base nas manifestações dos alunos

    Os conteúdos selecionados aproximam-se do que Moreira e Piccolo (2012) propuseram.

    “Dar aos alunos chances de conhecerem um pouco mais sobre o funcionamento e as reações orgânicas ao exercício dos seus próprios corpos poderá induzi-los ao desenvolvimento de hábitos saudáveis em relação à prática do exercício físico sistematizado.” (MOREIRA e PICCOLO, 2012, p. 64)

Como os alunos avaliaram os conteúdos e estratégias de aula

    Ao final da 2ª Etapa avaliamos se os alunos gostaram dos conteúdos e que sugestões dariam para dinamizar as aulas uma vez que, foi utilizada a metodologia da aula expositiva com o recurso de apresentações em Power Point.

    Quando perguntados se os conteúdos das aulas teóricas apresentadas na 1ª Etapa e na 2ª Etapa atenderam as suas expectativas, 62 alunos responderam sim e apenas 01 respondeu não. Da mesma forma 63 alunos acreditam que os conteúdos apresentados na 1ª e 2ª Etapa podem ser utilizados para a vida. Estes dados sinalizam no sentido de contribuir para reduzir o que Kravchychyn, Oliveira e Cardoso (2008) verificaram em seu estudo onde alunos do Ensino Médio não utilizam os conteúdos da disciplina Educação Física – predominantemente esportivos – em seu cotidiano.

    Como os conteúdos foram escolhidos a partir das sugestões dos alunos o resultado não nos surpreendeu uma vez que, quando o aluno faz parte do processo de escolha dos conteúdos a chance deles se tornarem significativos é muito maior.

    O Ensino Médio é o último ciclo da educação básica brasileira, no qual os conhecimentos sobre a saúde associada ao movimento humano já devem (ou deveriam) estar assimilados e fazendo parte do dia-a-dia dos estudantes. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) preconizam, de forma ampla, que o objetivo primordial da Educação Física neste nível é o de ensinar o cidadão a monitorar, controlar e ter autonomia em seu programa de atividades físicas,ou seja, a criação, incorporação e manutenção de um estilo de vida saudável.

    Em relação às aulas, a maioria dos alunos acredita que com aulas teóricas a sua formação passará a ficar mais completa sendo que 57 responderam que sim e apenas 07 não.

    O dado bastante relevante veio da pergunta final: Que sugestões vocês dariam para dinamizar as aulas teóricas e ampliar os conhecimentos?

  • (16) só power point.

  • (12) power point e debate.

  • (31) power point, debate e vídeo.

  • (04) power point, debate, vídeo e pesquisa.

    Estes resultados tem forte relação com jovem de hoje que não aguenta mais apenas ouvir o professor. Para estes jovens conectados quase o tempo todo na internet, no youtube e em outras mídias as aulas necessitam ser dinâmicas, com recursos diversificados e com a participação ativa deles em debates ou emitindo suas opiniões.

Conclusão

    Este trabalho cumpriu o seu objetivo de registrar os procedimentos adotados para a sistematização da dimensão conceitual nas aulas de Educação Física não esgotando as possibilidades de propostas de intervenção muito menos pretendendo ser um caminho único a ser seguido, mas sim de trazer alguma luz a este cenário.

    Optou-se por privilegiar a participação e o protagonismo do aluno em diversas etapas deste processo. Isto foi viabilizado a partir do preenchimento, por eles, de um questionário que sinalizou os temas de maior interesse os quais escolhemos para as aulas teóricas que foram ministradas nas três etapas do Ensino Médio.

    As aulas ministradas na sala de aula, uma por etapa, que poderiam ser um motivo de descontentamento para o aluno que normalmente busca nas aulas de Educação Física um momento de descontração e de movimentação, foram muito bem avaliadas. Pois quando perguntados se os conteúdos das aulas teóricas apresentadas na 1ª Etapa e na 2ª Etapa atenderam as suas expectativas, 62 alunos responderam sim e apenas 01 respondeu não. Da mesma forma 63 alunos acreditam que os conteúdos apresentados na 1ª e 2ª Etapa podem ser utilizados para a vida.

    A inclusão da dimensão conceitual trouxe uma valorização para a Educação Física também verificada na pesquisa de Verenguer e Menezes (2006).

    Em relação à metodologia adotada para expor os conteúdos teóricos, os resultados dos alunos sinalizam uma forte necessidade de adequação, pois, enquanto apenas 16 valorizaram a estratégia adotada, 31 desejariam uma aula com power point, debate e vídeo.

    Para atender aos jovens de hoje não basta à aula expositiva, por melhor que ela seja, é necessário o diálogo, a crítica, deixar que eles coloquem as suas opiniões, trazer vídeos, estimular que os alunos a produzirem vídeos, ou seja, aproveitar seus conhecimentos tecnológicos, para ilustrar, dinamizar e tornar o ambiente de aprendizagem ainda mais atrativo.

    Educação Física na instituição pesquisada está em um processo de busca de uma nova identidade. Os dados deste trabalho mostram que os alunos começaram a perceber que as aulas vão além do jogo e que eles ganharam conhecimentos não apenas para ser avaliados na prova, mas sim que vão ser úteis ao longo da vida. Dessa maneira esperamos que os alunos do Ensino Médio tenham autonomia para que ao sair do colégio saiba de uma forma consciente o que fazer para uma manter uma boa qualidade de vida.

Referências

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  • BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais – Educação Física: Educação Física/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, DF: MEC/SEF: 1997.

  • CORREIA, W. R. Planejamento Participativo e o Ensino de Educação Física no 2º grau. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, supl. 2, p. 43-48, 1996.

  • DARIDO, Suraya Cristina. Os conteúdos da educação física escolar: influências, tendências, dificuldades e possibilidades. Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001.

  • FREIRE, Elisabete dos Santos; SOUZA, Aécio Gomes. Planejamento Participativo e Educação Física: Envolvimento e Opinião dos alunos do Ensino Médio. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.7, n. 3, p. 29-36, 2008.

  • KRAVCHYCHYN, C.; OLIVEIRA, A. A. B.; CARDOSO, S. M. V. Implantação de Sistematização e Desenvolvimento da Educação Física do Ensino Médio. Revista Movimento, Porto Alegre, v. 14, n. 02, p. 39-62, 2008.

  • LORENZ, F. C., TIBEAU, C. Educação Física no ensino médio: estudo exploratório sobre os conteúdos teóricos. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 9, n. 66 – 2003. http://www.efdeportes.com/efd66/medio.htm

  • MATTOS, M. & NEIRA, M. Educação Física na Adolescência. São Paulo: Phorte, 2000.

  • PAIANO, R.; RODRIGUES, L. H.; MORAIS, J. S. Educação física escolar e a dimensão conceitual: identificando os interesses e necessidades dos alunos. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 16, n. 160, 2011. http://www.efdeportes.com/efd160/educacao-fisica-escolar-e-a-dimensao-conceitual.htm

  • NISTA-PICCOLO, V. L., MOREIRA, W. W. Esporte para a vida no Ensino Médio. 1 ed. São Paulo, Cortez, 2012.

  • SILVA, T. da C.; FREIRE, E. S.; PAIANO, R.; COUTINHO, M. M.. Educação Física no ensino médio e fisiologia do exercício: o que os alunos devem aprender? EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 161, 2011. http://www.efdeportes.com/efd161/educacao-fisica-no-ensino-medio.htm

  • TIBEAU, C.; LORENZ, C. F. Instrumentos de coleta de dados utilizados em duas pesquisas sobre Educação Física no ensino médio. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 12, n.118, Marzo, 2008. http://www.efdeportes.com/efd118/educacao-fisica-no-ensino-medio.htm

  • VERENGUER, Rita de Cássia Garcia; Menezes, Rafael. Educação Física no Ensino Médio: O sucesso de uma proposta segundo os alunos. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 5, n. especial, p. 99-107, 2006.

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