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Fatores associados no desempenho de atletas negros e 

brancos nas provas de velocidade no atletismo e natação

Factores asociados al rendimiento de atletas negros y blancos en las pruebas de velocidad en atletismo y natación

 

Graduanda/o em Bacharelado de Educação Física

Faculdade Metodista Granbery

(Brasil)

Denise Aparecida Machado Pinto

denise.dio@ig.com.br

Gleyson Custódio da Silva

gleysoncustodio@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Com a evolução do treinamento esportivo, as provas de velocidade tanto do atletismo quanto da natação vivenciaram freqüentes quebras de recordes. Estes recordes desde que começaram a ser computados foram efetuados em sua maioria por negros nas provas de atletismo e brancos nas provas velozes de natação. Diversos fatores podem influenciar para um bom desenvolvimento, isso vale apenas para a competição de alto nível, onde cada milissegundo é crucial para a vitória ou para a derrota. O estudo pretende investigar os fatores envolvidos na prevalência do desempenho de atletas negros e brancos em provas rápidas no atletismo e natação respectivamente, analisar o perfil antropométrico, composição corporal e adaptações e ajustamentos desses atletas em questão através de pesquisas bibliográficas.

          Unitermos: Atletas negros e brancos. Atletismo. Natação. Desempenho.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O atletismo é um dos esportes mais tradicionais e praticados em todo o mundo. Disputado desde a Grécia antiga, esse esporte é subdividido em diversas modalidades tendo a corrida de velocidade como uma das mais antigas e a única prova a ser disputada em todas as edições dos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, quando era realizada em uma reta de aproximadamente 192 metros. Com a evolução do esporte e da recriação dos Jogos Olímpicos, a prova de 100 metros vem sendo disputada desde os jogos de Atenas em 1896.

    Os primeiros relatos que fazem referência à natação aparecem no Egito, no ano de 5.000 a.C. Nas sociedades primitivas a natação era uma atividade de sobrevivência (para pescar e também não se afogar). Nos primeiros Jogos Olímpicos da era Moderna de 1896 (assim como a corrida de velocidade), já contemplavam a natação como esporte com provas a partir dos 100 metros.

    Com a evolução do treinamento esportivo, as provas de velocidade tanto do atletismo quanto da natação vivenciaram frequentes quebras de recordes. Estes recordes desde que começaram a ser computados foram efetuados em sua maioria por negros nas provas de atletismo e brancos nas provas velozes de natação. De acordo com resultados de pesquisas, não poderíamos afirmar com exatidão que o desempenho de um atleta seja considerado apenas pela cor da pele. Diversos fatores podem influenciar para um bom desenvolvimento, isso vale apenas para a competição de alto nível, onde cada milissegundo é crucial para a vitória ou para a derrota.

    Há vários estudos envolvendo a comparação no desempenho de negros e brancos em diversos esportes, porém não existem muitas publicações relacionadas às provas rápidas nas pistas e piscinas. Entretanto, sabemos que fatores culturais e socioeconômicos podem acarretar na escolha de um determinado esporte, fato que pode explicar por que vemos a maioria de atletas brancos em provas na água e negros em provas de chão.

    O estudo pretende investigar os fatores envolvidos na prevalência do desempenho de atletas negros e brancos em provas rápidas no atletismo e natação respectivamente, analisar o perfil antropométrico, composição corporal e adaptações e ajustamentos desses atletas em questão através de pesquisas bibliográficas.

    A motivação para a realização deste estudo está relacionada ao interesse por esses dois esportes e a atração proporcionada aos seus espectadores na prática dos mesmos independentemente de questões socioeconômicas, culturais ou cor da pele. Este estudo interessa a todos os profissionais da área esportiva, biológica e da saúde, praticantes das duas modalidades esportivas, técnicos e estudantes que pretendem aprofundar as pesquisas nessa área.

Pré-definição estereótipos

    Com a evolução dos métodos de treino e aumento do interesse financeiro combinado por buscas de recordes e questões culturais relacionadas ao esporte, ocorreu a pré-definição de estereótipos em relação a cor da pele dos atletas de atletismo e natação. Hall (1997 apud MACNEILL, 2006) define estereótipos não apenas como rótulos ou mitos sobre generalizados a respeito de grupos de pessoas. Estereótipos como negros não sabem nadar e brancos não sabem correr rápido, servem para classificar atletas de formas que simplificam uma diversidade de valores, comportamentos e histórias. Os estereótipos não são apenas representações simplificadas de poder desiguais, eles são elementos constitutivos e constituintes de relações de poder que afetam a identidade.

    Atletas musculosos e com ossos pesados de qualquer cor, acostumados a se sobressaírem nos esporte de força e velocidade, são facilmente perdidos num esporte como a natação que, a princípio, recomenda a técnica acima da força. Por exemplo, o caso do nadador americano Cullen Jones, um acidente quase fatal em um tobogã de água o levou a fazer aulas de natação, transferindo-o da opção mais convidativa e à qual se adequava, dos estereótipos do basquete para a piscina culturalmente racista.

Cullen Jones, medalha de oro em 4x100 em Beijing 2008 e

Lia Neal, medalha de bronze em 4x100 metros livres em Londres 2012 (Bet.com)

A genética

    A pré-definição desses estereótipos é carregada de justificativas como o potencial genético e composição corporal. Tim e Vylder (2010) argumentam sobre a descoberta do genoma humano há alguns anos, que apesar de não ter descoberto a cura de algumas doenças, nos esportes está ajudando a desemaranhar o intrincado tema que envolve a genética, a raça e os talentos. Até agora não há provas de que exista um simples gene que determine o “sim” ou “não” para o atletismo. Scott (2003) apud Idem identificou em corredores de velocidade australianos o gene ACTN3 que promove a contração rápida do músculo, mas ele descobriu que esse gene estava ausente nos astros jamaicanos das corridas.

    O fator genético que pode definir o desempenho de certos atletas, também pode revelar o limite do corpo humano em determinado esporte. Etchatz (2010) comenta que o investimento dos patrocinadores, principalmente da televisão, veio acompanhado pela profissionalização dos atletas e consequentemente da evolução do treinamento físico e mental propiciada por avanços das ciências. Toda essa evolução sobre a prática esportiva traz a tona os seguintes questionamentos: qual é o limite do corpo humano? Ele está próximo ou distante da contínua evolução da preparação esportiva?

    Tais perguntas ganham força: frequentemente recordes são quebrados, sejam índices do atletismo, natação e outros esportes. Questionado sobre a proximidade do limite da capacidade física do corpo humano, o professor doutor José Fernandes Filho, afirma que ainda falta muito tempo para o organismo humano chegar ao seu limite. Desde 1912, quando as marcas dos atletas que completavam as provas de 100 metros foram oficialmente registradas, o recorde da modalidade baixou pouco mais de um segundo. Há quase um século tais recordes vêm sendo quebrados centésimo a centésimo, possibilitando mais um longo tempo pela frente até que o limite seja alcançado. Este mesmo professor conta que o pesquisador Gideon Ariel, fundador do Centro Olímpico de Treinamentos do Colorado, concluiu através de uma simulação feita em computador que o menor tempo possível para um atleta percorrer os 100 metros são 9,6 segundos.

    De acordo com os cálculos de Ariel, abaixo desse tempo, 9,6 segundos, os tendões poderiam se romper e os ossos se quebrariam devido à força empregada na realização do feito. Entretanto, muitos cientistas contestam essa hipótese, alegando a impossibilidade de determinar um tempo fixo em razão das variáveis como condições ambientais no dia da prova, o perfil genético do atleta e sua preparação psicológica. Fato já contrariado pelo velocista jamaicano Usain Bolt, que bateu o recorde mundial dos 100 metros rasos com o tempo de 9,58 segundos em 2009, um pouco abaixo do limite esperado por Ariel.

Usain Bolt, recorde mundial em o campeonato mundial de atletismo em Berlin 2009 (Elmundo.es)

    Relacionando os atletas negros e brancos com recordes mundiais nas provas de velocidade do atletismo, Bejan, Jones, Charles (2010) mostram que o primeiro recorde mundial abaixo dos 10 segundos foi realizado pelo norte americano Jim Himes , que é negro, marcando 9,95 segundos nos Jogos Olímpicos do México em 1968 (Tabela 1). Em 2010, Christophe Lemaitre foi o primeiro e único branco, até agora, a correr os 100 metros rasos abaixo dos 10 segundos, marcando 9,98 segundos na final do campeonato europeu de atletismo. Foram necessários 42 anos para que um branco conseguisse realizar esse tento.

Tabela 1. Recordes mundiais nos 100m rasos no Atletismo (Bejan, Jones, Charles, 2010)

Diferenças raciais e antropometria

    As diferenças raciais, segundo Mcardle, Katch, Katch (2011) podem afetar o desempenho atlético. Os atletas velocistas e os saltadores em altura negros, por exemplo, possuem membros mais longos e quadris mais estreitos que seus congêneres brancos. De uma perspectiva mecânica, um velocista negro com o tamanho das pernas e dos braços idêntico a um velocista branco possui um corpo mais leve, mais baixo e mais esbelto a ser impulsionado.

    Em comparação com negros e brancos, os atletas asiáticos possuem pernas mais curtas em relação aos componentes da parte superior do tronco, o que constitui uma característica dimensional benéfica nas provas de distâncias mais longas e no levantamento de pesos. Tais afirmações presentes no estudo de Bejan, Jones, Charles (2010) “The evolution of speed in athletics: why the fastest runners are black and swimmers white”, concluem que as diferenças antropométricas entre negros e brancos tem relação direta no desempenho em seus esportes de dominância. Essa pesquisa indica que nos indivíduos negros, em média, o centro de gravidade está localizado 3% acima do que em indivíduos brancos.

    Essa diferença poderia explicar o porquê negros têm membros inferiores maiores e os indivíduos brancos têm os troncos bem mais desenvolvidos, segundo essa publicação a relação entre o posicionamento do centro de gravidade entre negros e brancos daria uma vantagem de 1,5% no tempo total para os negros em provas de velocidade do atletismo, e os mesmos 1,5% de vantagem para os brancos nas provas rápidas de natação, o que pode parecer pouco, porém em esportes que são definidos por detalhes essa diferença pode ser fundamental para a definição de um campeão.

Christophe Lemaitre, recorde da França (tuxboard.com)

Adaptação e rendimento físico

    Pereira e Souza Jr (2005) define adaptação como um conjunto de mudanças estruturais e funcionais que ocorrem de forma irreversíveis com possibilidades de transmissão para outras gerações devido ao seu valor adaptativo para a espécie. Então, não é correto afirmar que um atleta se adapta ao processo de treinamento físico ou qualquer mudança momentânea do meio ambiente, mas que ele sofrerá o processo de ajustamento ao treinamento físico. No treinamento esportivo de alto nível o melhor termo a ser utilizado seria a do “ajustamento” empregado por Moran (1994) como alterações fenotípicas pela exposição a estímulos ambientais que são por meio de ajustamentos morfológicos ambientais podendo ser reguladoras, de aclimatação e de desenvolvimento.

    Os ajustamentos reguladores ocorrem de forma rápida e refletem na flexibilidade fisiológica e comportamental de um organismo, a forma de como se vestir e tipos de abrigo estão entre os mecanismos reguladores mais comuns que aumentam as possibilidades humanas de sobreviver e viver com relativo bem-estar em ambientes variados.

    Ajustamentos de aclimação levam mais tempo para entrar em operação, pois exigem uma mudança na estrutura do organismo. Para que ocorram, é preciso que haja um estimulo externo por um período de tempo suficiente. São geralmente reversíveis quando cessa a situação que produziu a alteração orgânica. Por exemplo, o desenvolvimento muscular em virtude de exercícios físicos frequentes e vigorosos reverte-se quando o indivíduo passa a levar uma vida mais sedentária.

    Os ajustamentos de desenvolvimento são irreversíveis e ocorrem durante o crescimento e o desenvolvimento do indivíduo. Estas respostas são ajustamentos do organismo às condições ambientais que predominam durante o período de desenvolvimento. É durante esse período que o organismo humano é capaz de se moldar às condições ambientais predominantes (plasticidade genética). Por exemplo, uma criança cujo crescimento se dê em altitudes elevadas desenvolverá pulmões mais dilatados e uma maior capacidade torácica para se ajustar às condições gerais de baixa concentração de oxigênio. Passado o período de crescimento, uma pessoa que não seja oriunda do local não conseguirá desenvolver uma maior caixa torácica.

    Ao analisar o perfil corporal dos atletas recordistas nas provas de velocidade nas pistas e nas piscinas, podemos observar que estes estão dentro de um padrão corporal para o esporte. Algumas pesquisas levam em consideração a teoria da evolução de Darwin, definindo os melhores atletas aqueles que estão melhores adaptados ao ambiente de determinado esporte. Por exemplo, os jogadores de basquete são altos, pois se adaptaram melhor ao esporte em relação aos mais baixos.

    Outras pesquisas analisam diversos fatores no ajustamento destes atletas em relação ao esporte, segundo Pereira e Souza Jr (2005) alterações fenotípicas decorrentes do treinamento físico são resultantes de ajustamentos do organismo a algum tipo de estimulo proporcionado do desporto.

    A partir destas afirmações, um atleta de ponta em um esporte qualquer passou por um ajustamento em relação ao seu ambiente de treino, esses ajustamentos aliados com fatores étnicos, genéticos, fisiológicos, psicológicos, antropométricos e socioculturais seriam a combinação para o “atleta perfeito”, uma vez que não é possível prever o desempenho de um atleta analisando estes fatores de forma isolada. Seria necessário a realização de pesquisas que investiguem os fatores associados ao desempenho de indivíduos negros e brancos nos esportes com ênfase na velocidade de atletismo e natação.

Conclusão

    Na competição esportiva de alto nível, podemos analisar diversos fatores que definem o desempenho dos atletas de diversos esportes. Em provas rápidas do atletismo e da natação esses fatores parecem influenciar com mais precisão, pois cada milissegundo é importante para um atleta ser campeão.

    Fatores socioeconômicos, culturais, composição corporal, genética, e ajustamentos são bem distintos em relação as populações de nosso planeta, a dominância de negros nas provas de atletismo e brancos nas provas de natação, comprovam questões culturais de nossa sociedade sobre esses esportes.

    O elemento socioeconômico é um forte denominador que comprova a participação de grupos étnicos nos esportes pista e piscinas. Em nosso país, negros ainda estão em sua maioria nos níveis de baixa renda e com uma certa dificuldade de acesso às aulas de natação, assim sendo estes tendem a procurar esportes mais baratos, como o atletismo, para a sua prática.

    Tendo em vista a análise desses vários fatores, ainda há poucas pesquisas que comparam o desempenho de negros e brancos nos esportes de natação e atletismo. Sugere-se uma pesquisa que relacione todos os fatores supracitados com o perfil socioeconômico e ajustamentos dos grupos étnicos nos esportes em questão.

Referências

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