Corporeidade e ecologia na Educação Física Escolar Corporeidad y ecología en la Educación Física Escolar |
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*Autor. Professor da Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú - PMBC Mestrando em Educação Física – UFSC **Coautor. Professor no curso de especialização em Educação Física Escolar - WPÓS Mestre em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência – UNIFESP (Brasil) |
Leandro Bianchini* Luciano Nascimento Corsino** |
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Resumo Este trabalho buscou através de uma pesquisa bibliográfica discutir e criar uma síntese sobre as temáticas corporeidade e ecologia relacionadas ao contexto educacional da Educação Física. Foram utilizados autores que demonstram a importância da corporeidade não só como um princípio norteador, mas como uma possibilidade de refletir sobre as concepções reinantes de corpo na sociedade. A ecologia além de ser uma questão emergente a nível mundial se aproxima da corporeidade e abre um leque novo de opções didáticas para a Educação Física. Tais conceitos permitem buscar uma nova forma de ver o mundo, forma essa que permite vislumbrarmos um futuro melhor. Unitermos: Educação Física. Corporeidade. Ecologia.
Abstract This study sought through a literature review and discuss creating a synthesis on the thematic related to ecology and corporeity in the educational context of physical education. Authors were used to demonstrate the importance of corporeity not only as a guiding principle but as an opportunity to reflect on the prevailing conceptions of the body in society. The ecology besides being an emerging issue worldwide, approaches the corporeity and opens up a range of new options for teaching Physical Education. These concepts allow seek a new form of viewing the world, we see how this allows a better future. Keywords: Physical Education. Corporeity. Ecology.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A Educação Física no âmbito escolar vem se modificando nesses últimos anos de forma que passou de uma simples atividade compensatória e domesticadora, que marcou sua gênese higiênista, a uma disciplina obrigatória da Educação básica que se justifica pela busca de qualidade de vida e promoção da saúde. Ao se inserir na área da Saúde, a Educação Física, de certo modo, cresceu e se tornou uma profissão de respeito, tanto que fora criado um conselho profissional federal que regulamenta e fiscaliza a sua prática. No entanto, como apontado, “de certo modo” ela ainda sofre em outras instituições, como a escola.
A Educação Física Escolar deveria ser também uma profissão respeitada, mas não é o que parece acontecer. Cada vez mais, por diversos motivos os jovens não se interessam pelas práticas corporais, domínio da Educação Física. O que esta surgindo é uma nova cultura jovem que dominam uma nova prática, também conhecida como “Práticas Digitais” (Videogames, Televisão, Computadores, Celulares, Tablets). Somado a isso, é comum hoje em dia ver um jovem trazer um documento assinado por um professor de academia de musculação, pedindo para ser dispensado das aulas de Educação Física.
A Educação Física parece caminhar na “corda bamba”, a qualquer hora pode despencar e cair em esquecimento. Ela se apresenta muitas das vezes colaborando para a criação de uma corporeidade no educando desprovida de sentimentos e ludicidade. Fato que tornou e ainda torna o inocente educando em mais uma “máquina poluente” viciado em consumo.
No presente trabalho, busca-se considerar dois conceitos conjuntamente, a “corporeidade”, apresentada por Santin (2003) e a “Ecologia” que diversos outros autores sugerem (LORENZ, 1986; CORNELL, 1996; SILVA, 2007). Acredita-se que uma consciência ecológica deva ser um principio norteador das aulas da Educação Física, buscando resgatar os educandos das “garras” dessa condição antiecológica e insensível.
Então, o objetivo desse trabalho é buscar uma aproximação destes dois conceitos: “Corporeidade” e “Ecologia” com uma intencionalidade voltada para a prática da Educação Física Escolar.
Metodologia
Esta pesquisa enquadra-se como qualitativa, pois estaremos lidando com valores e significados que não são possíveis de serem mensuráveis quantitativamente. A sua relação está dentro das ciências sociais, nas quais são tratadas questões particulares, dentro de um universo amplo e subjetivo das ações e relações humanas (MINAYO, 2002).
Tendo um caráter exploratório, essa pesquisa se classifica como do tipo pesquisa Bibliográfica que para Gil (2002, p. 44) é uma pesquisa “[...] desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Portanto, os instrumentos desta pesquisa serão os livros e os artigos científicos relacionados à temática abordada.
A Corporeidade redefinindo a Educação Física Escolar
Silvino Santin em 1987 trás a tona a reflexão filosófica da corporeidade, que surge como uma possibilidade de reencontrar a fisionomia (identidade) da Educação Física, no contexto escolar.
Para esse mesmo autor a Educação Física “tem condições de se autossustentar a partir de fundamentos que lhe são próprios [Ou seja, de forma autônoma] pelo próprio homem, mais precisamente, pelo Humano. É o humano que sustenta e alicerça a Educação Física.” (SANTIN, 2003, p.33-34)
Bracht (1992) classificou essa tentativa de legitimação da Educação Física nas escolas, como uma tentativa de fundamentação autônoma. Que segundo ele, “[...] são aquelas que situam a razão ou importância pedagógica das atividades corporais de movimento nelas mesmas. Nesta perspectiva, estas atividades encerrariam elementos humanos fundamentais.” (1992, p.43)
Esta “tentativa de fundamentação autônoma” possui como base teórica a antropologia filosófica e a fenomenologia, estas em divergência com as ciências modernas, vão retomar as antigas inquietações e questões que a antecedem, voltando assim, a uma compreensão do existencialismo humano.
A corporeidade humana se torna um dos elementos que mais caracteriza a Educação Física tal como ela é. É nesta corporeidade que podemos, no entendimento de Santin (2008) confundi-la com corpo. No entanto, um corpo visto como um todo unitário, indissociável e inalienável. Neste corpo que a Educação Física deve encontrar sua razão de ser (SANTIN, 2003, 2008).
Merleau-Ponty em sua longa reflexão apresenta e discute as formas que se apresenta o corpo em nossa sociedade. Primeiramente, visto como um objeto mecanicista e avança com sua visão fenomenológica no corpo sujeito onde este é sujeito da experiência originária da “percepção”. Assim, de forma crítica e análoga surge o conceito que utilizamos nesta pesquisa de corpo que é o “Corpo próprio”. Nessa outra forma de ver o corpo, Merleau-Ponty afirma: “[...] eu não estou diante de meu corpo, estou em meu corpo, ou antes sou meu corpo.” (MERLEAU-PONTY, 1999, p.207-208, grifo nosso)
Esta fisionomia nos trará uma visão mais humana da Educação Física, que pelo principio que Bracht (2007) já havia mencionado, esta deixaria de ser apenas um “apêndice” de outras áreas, e poderia ter uma corporeidade legitima que a identificasse como uma prática indispensável ao ser Humano. “A Educação Física é um direito e um dever do homem” (SANTIN, 2003, p.98).
Reencontrando a sensibilidade humana na ecologia
Sobre o sentimento ou a sensibilidade humana, infelizmente assim como o lúdico, cada vez mais se tornam algo tido como “obsoleto” em nossa sociedade. “Toda a compreensão da sensibilidade e da corporeidade foi perdida pelo homem. O homem aos poucos foi negando seu corpo. Deixou de ser corpo. Lentamente o homem deixou de sentir” (SANTIN, 2003, p.112). Cada vez mais os homens se parecem com maquinas, pois deixam de demonstrar a sua primordial ação humana que o qualifica como tal.
Atualmente, o que prevalece, são os sorrisos falsos, o fazer por fazer, os rostos de desanimo, seres alienados e “sem vida”. A frieza se espalha e contaminam a sociedade moderna de tal forma que crianças são os novos alvos do estresse e da depressão.
“Recuperar esta sensibilidade esmagada pelas pesadas construções produtivas de nossa civilização é uma tarefa urgente e necessária, não só a cargo da Educação Física, mas de toda preocupação educacional” (SANTIN, 2003, p.112). E para tal o mesmo autor sugere que “é preciso aprender escutar-se, ouvir a fala da corporeidade, atender aos sinais do sentir.” (SANTIN, 2003, p.114).
Lorenz (1986) além de enfatizar esta real necessidade de recuperar a sensibilidade no homem, sugere uma possibilidade ecológica onde, devemos voltar-se a natureza. Para tal: “a escola que ensina o homem voltar a sentir é o livro da natureza.” (apud SANTIN, 2003, p.116)
Diversos outros autores como Silva (2007) e Cornell (1996, 1997) trazem esta “temática ecológica” como uma forma de enxergarmos e sentirmos a grandeza de nossa corporeidade em total relação com o mundo. Em um sentido bem lembrado por Merleau-Ponty (1999) de um “ser-no-mundo” ou como aponta Silva (2007) “Corpomundo”.
Educação Física Ecológica
A considerar o estudo de Santin (1992), é possível afirmar que a Educação Física pode ser equiparada com a Ecologia. O problema é que ainda é difícil fazer com que as pessoas pensem de forma una. Fomos educados a entender o mundo dissociado das coisas, sendo que na real o mundo e nossa corporeidade funcionam em harmonia. Isto é a Ecologia e ter esse princípio ecológico é o que nos faz reencontramos a si mesmos e consequentemente nos humaniza.
Essa preocupação, segundo Morin (2001, p.75-76) aparece como sendo um dos saberes necessários a Educação do futuro. “A união planetária é a exigência racional mínima de um mundo encolhido e interdependente. Tal união pede a consciência e um sentimento de pertencimento mútuo que nos una à nossa Terra, considerada como primeira e ultima pátria.”
Ele afirma entre outros conhecimentos que devemos inscrever em nós uma “consciência ecológica” (MORIN, 2001, p. 76). A Educação Física nos princípios da corporeidade e da ecologia, se aproximando de uma filosofia de vida, como já fora comentado antes, deve enxergar todas as possibilidades a qual esta grande área/saber possui.
Começando pela busca da sensibilidade e do lúdico, que pode ser objetivados em aulas ao ar livre, em contato direto com a natureza ou não. Nesse sentido, temos como um bom exemplo, Joseph Cornell (1996) que criou possibilidades práticas na natureza, favorecendo todos os sentidos. Seus livros servem como guias básicos, que de forma simples auxiliam a todos que gostam de ter experiências ao ar-livre na natureza.
Na impossibilidade de levar os educandos em contato direto com a natureza, podemos também adotar estratégias que favoreçam a consciência ecológica. Existem hoje diversos vídeos que permitem momentos de discussão e reflexão. Durante as aulas envolvendo Jogos e Esportes em quadras e ginásios, uma simples mudança nos princípios reinantes dessas práticas pode colaborar para uma atitude ecológica.
Considerações finais
A presente pesquisa mostrou que a corporeidade como um balizador da Educação Física possui proximidades com o pensamento ecológico, e não deixa de ser uma referência para a Educação Física, que valoriza e legitima a inserção desta disciplina no âmbito escolar.
Compreende-se, portanto, que corporeidade e ecologia podem ser considerados como princípios norteadores da Educação Física enquanto componente curricular, visando uma educação de qualidade, que possa contribuir com a formação do cidadão.
Referências
BRACHT, Valter. Educação física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1992.
______. et al. Pesquisa em ação: educação física na escola. 3. ed. Ijuí: Unijuí, 2007.
CORNELL, Joseph. Brincar e aprender com a natureza: um guia sobre a natureza para pais e professores. São Paulo: Companhia Melhoramentos: Editora SENAC, 1996.
GIL, Antonio C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
LORENZ, Konrad. A demolição do homem. São Paulo: Brasiliense, 1986.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p.103-278.
MINAYO, Maria C. S. (Org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 3. ed. São Paulo: Cortez: Brasília, DF: UNESCO, 2001.
SANTIN, Silvino. Corporeidade. In: FENSTERSEIFER, P. E.; GONZÁLEZ, F. J. (Org.). Dicionário crítico de educação física. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2008, p.103-104.
______. Educação Física: temas pedagógicos. Porto Alegre: EST, 1992.
______. Educação Física: uma abordagem filosófica da corporeidade. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2003.
SILVA, Fabiano W. Corpo e natureza: perspectivas para uma educação do corpomundo. 2007. 155 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Centro de desportos departamento de educação física, UFSC, Florianópolis, 2007.
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