Coordenação motora com bola em escolares La coordinación motora con pelota en escolares Motor coordination with ball in school |
|||
*Mestra em Ciências do Movimento Humano, PPGCMH/UFRGS **Doutor pela University of Maryland e Professor Associado 3 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul ***Doutora em Ciências do Movimento Humano e Professora da Universidade Federal de Ouro Preto |
Larissa Sabbado Flores* Ricardo Demétrio de Souza Petersen** Siomara Aparecida Silva*** (Brasil) |
|
|
Resumo O objetivo deste estudo foi analisar a coordenação motora com bola em escolares, de 7 a 11 anos, verificando as diferenças entre as idades e os sexos, em cada tarefa-teste. A amostra foi constituída de 155 escolares e a coordenação motora com bola foi avaliada através de habilidades do contexto dos jogos esportivos coletivos, executadas sob condicionantes de pressão. A análise entre os sexos, utilizado o teste t-Student independente, demonstrou tempos menores nos meninos quando comparados às meninas. Entre as idades foram encontradas diferenças estatisticamente significativas (p<0,05), através do teste ANOVA Oneway. Houve também uma relação negativa e moderada das variáveis entre as idades e as tarefas-teste, analisadas pelo teste de Coeficiente de Correlação Momento-Produto de Pearson. Este estudo sugere que com o aumento da idade ocorra uma diminuição do tempo obtido na tarefa-teste, isto contribui com o propósito do ensino-aprendizagem-treinamento da coordenação motora com bola por faixa etária. Unitermos: Atividade motora. Habilidades. Crianças.
Abstract The objective of this study was to analyze the motor coordination with ball in school students, the 7 to 11 years, verifying the differences between the ages and the genders, in each given task-test. The sample comprised 155 school students and the motor coordination with ball was evaluated through skills in the context of the collective sports games, which were carried out under pressure conditions. In the comparison between the genders, the student-t independent test, has found less time for boys when compared to girls. Between the ages has found statistically significant differences (p <0.05), was used ANOVA Oneway test. It also had the negative and moderate relation between ages and tasks-test, analysed through Pearson’s Coefficient of Correlation Moment-Product. This study it suggests that with the increase of the age there is a reduction in the time obtained in the task-test, which contributes to the purpose of teaching-learning-training of motor coordination with ball for age group. Keywords: Motor activity. Skills. Children.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
As ações humanas são definidas pela teoria da ação como um processo intencional dirigido e regulado psiquicamente (Nitsch, 1985; Nitsch e Munzert, 2002). A execução de uma ação, em especial a ação esportiva é compreendida como um processo, organizado e relacionado ao meio (situação). Neste sentido existe um conjunto de capacidades que interagem na busca do objetivo (movimento) (Samulski, 2002).
Segundo Greco e Benda (2007) coordenar significa, etimologicamente, “ordenar junto” e em relação ao esporte essa característica se junta à função de harmonização dos processos parciais do movimento, tendo em vista o objetivo de uma ação, permite que seja alcançado com o menor gasto energético possível. As capacidades coordenativas são consideradas pré-requisito do rendimento, do movimento e dependem da condição dos analisadores (forma de controle motor dos sentidos); situação de aprendizagem; experiência e repertório de movimentos; capacidade de adaptação e reorganização motora do movimento; idade e sexo; fadiga; condições ambientais; e coordenação intra e intermuscular, sendo inerente ao rendimento esportivo (Weineck, 2003).
A coordenação motora sustenta o desenvolvimento das habilidades técnicas que agem interativamente com a capacidade tática, estando presente nas diversas situações dos jogos esportivos coletivos. Kröger e Roth (2006) apontam as exigências coordenativas nas tarefas ou condicionantes de pressão (dificultadores da tarefa) que são: tempo, precisão, complexidade (seqüência), organização, variabilidade e carga.
O desenvolvimento da coordenação motora e a aprendizagem das habilidades possuem como idade favorável para o desenvolvimento a idade escolar (Roth, 1998; Weineck, 2003), sendo que o não aproveitamento correto desta fase sensitiva pode ter como conseqüência que o desempenho, que seria alto num determinado momento e sob certos estímulos, seria atingido mais tarde somente através de muito esforço e treinamento. Nesse sentido este trabalho propõe estudar a coordenação motora com bola em escolares, possuindo como finalidade quantificá-la, apontando as diferenças entre os sexos e entre as idades, servindo de instrumento para um treinamento futuro da mesma.
Metodologia
Amostra e população
A amostra foi composta por escolares do Instituto Rio Branco, situado em Porto Alegre, escolhido por conveniência. O grupo compunha-se de escolares de ambos os sexos com idades de 6 a 15 anos pertencentes à: uma turma de 1ª série com 25 alunos, duas turmas de 2ª série com 26 e 29 alunos; uma turma de 3ª série com 24 alunos, e duas turmas de 4ª série com 26 e 25 alunos. Em um total de 155 crianças, distribuídas aleatoriamente para a realização das atividades.
Instrumentos
A coordenação motora com bola foi avaliada através de instrumento piloto elaborado em um projeto de doutorado do Programa de Pós-graduação em Ciência do Movimento Humano (PPGCMH), da ESEF/UFRGS destinado a medir a Coordenação Motora com bola para os jogos esportivos coletivos, consistia de dezoito tarefas-teste com habilidades básicas exigidas sob fatores dificultadores, condicionantes de pressão (Kröger e Roth, 2006). As habilidades, conhecidas do cotidiano dos alunos foram divididas em habilidades com a mão: lançamento e drible; e com o pé: chute e condução.
Cabe salientar que o condicionante de pressão carga não foi avaliado isoladamente neste estudo, pois como denomina Zakharov (1992) “a carga é tudo aquilo que provoca alterações de adaptação no organismo do esportista”, ou seja, muitas variáveis (estímulos) podem influenciá-la, entendendo que ela está implícita em todas as ações do ser humano.
Delineamento da pesquisa
As tarefas-teste foram aplicadas aos alunos pertencentes à amostra, na própria instituição, após a coordenação da escola ter concordado com a realização da atividade. O consentimento de participação foi dado pela coordenadora de Educação Física e não foi necessário o envio do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) aos pais dos escolares, por se tratar de tarefas comuns as atividades realizadas nas aulas de Educação Física. Assim, as crianças que possuíam algum impedimento de participação nas aulas, também não participaram das tarefas-teste. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da UFRGS, conforme parecer 893.
Tratamento estatístico
A comparação entre sexos, nos dados que apresentaram normalidade foi utilizado o teste t-Student independente. Já nos dados que não se apresentaram dentro da normalidade o teste utilizado foi o teste U de Mann-Withiney. Para as análises entre as idades fez-se uso do teste ANOVA Oneway com Post Hoc de Bonferroni. É importante salientar que, em virtude do número reduzido de escolares em algumas faixas etárias e em algumas tarefas, somente foram considerados os grupos nos quais pelo menos 5 crianças da mesma idade realizaram a tarefa-teste em questão, evitando assim que, por exemplo, uma criança de 6 anos fosse comparada a 15 crianças de 10 anos. Também foi realizada a análise da correlação entre as tarefas-teste e as idades utilizando o Coeficiente de Correlação Momento-Produto de Pearson, e utilizando a mesma correlação foi controlada a variável sexo (correlação de primeira ordem). Nestas correlações utilizou-se como nível de intensidade da relação os termos, forte, moderado e fraco (conforme consta em Dancey e Reidy, 2006 , p. 186) . Para todos os procedimentos o valor da probabilidade aceito foi de p>0,05 e o programa estatístico utilizado foi o SPSS 13.0 para Windows.
Resultados
A descrição dos resultados será apresentada abaixo, separada por parâmetro (condicionantes de pressão) e unida por habilidades (lançamento, chute, drible e condução).
Condicionante de pressão TEMPO
A tarefa-teste de lançamento e chute consistia em o participante executar 15 lançamentos ou chutes em uma área demarcada na parede (de 2m de altura por 2m de largura). Já a tarefa-teste de drible e condução consistia em o participante percorrer um trajeto em forma de um quadrado com 6m, contornando 10 cones.
Participaram destas tarefas-teste um total de 94 crianças. Na análise entre as idades encontramos diferença estatisticamente significativa entre os grupos no lançamento (F=10,31; sig>0,001); no chute (F=8,34; sig>0,001) e na condução (F=38,94; sig>0,001). Já no drible não houve diferença estatisticamente significativa (F=2,19; sig=0,12). Através do teste Post Hoc de Bonferroni verificou-se que existe diferença significativa entre as idades 7 quando comparada às idades superiores (oito, nove, dez e onze) no teste de condução. E entre 8 anos com as demais idades (nove, dez e onze) no lançamento e no chute. Como apresenta a Tabela 1.
Tabela 1. Diferenças entre as idades, por habilidade, no parâmetro Tempo
Na análise entre os sexos encontramos diferença estatisticamente significativa em todas as habilidades (tarefas) e em todos os casos os meninos apresentaram uma média de tempo menor que as meninas. Conforme apresenta tabela abaixo (Tabela 2). Encontrou-se também, nos testes de lançamento, chute e condução, uma correlação negativa, moderada e que não foi afetada pela variável sexo. Diferentemente na habilidade de drible, em ambas as análises, a correlação encontrada apresenta intensidade muito fraca, não sendo estatisticamente significativa.
Tabela 2. Diferenças entre os sexos no parâmetro Tempo
Condicionante de pressão PRECISÃO
A tarefa-teste de lançamento e chute consistia em o participante executar 15 lançamentos ou chutes em algum dos três alvos de 25 cm de raio fixados na parede, formando uma altura máxima de 2 metros. Já a tarefa-teste de drible e condução consistia em o participante acertar os alvos percorrendo, ida e volta, um trajeto de 9 metros de comprimento dividido em 9 quadrados de 1 metros de altura por 1 metros de comprimento e dentro de cada quadrado havia a marcação de 50 cm por 50 cm (os alvos).
Participaram destas tarefas-teste um total de 78 crianças. Na análise entre as idades, o valor de diferença foi estatisticamente significativo entre os grupos somente no drible (F=3,00; sig=0,04). Já nas outras habilidades, não houve diferença estatisticamente significativa (lançamento F=1,67; sig =0,20, chute F=1,10; sig=0,37, e condução F=1,73; sig=0,18). Através do teste Post Hoc de Bonferroni verificou-se que mesmo havendo diferença estatisticamente significativa na habilidade de drible, não foi possível identificar aonde se encontra essa diferença. Conforme apresenta a Tabela 3.
Tabela 3. Diferenças entre as idades, por habilidade, no parâmetro Precisão
Observamos diferença estatisticamente significativa entre os sexos nos testes de lançamento e condução, apontando que os meninos apresentaram uma média de tempo melhor que as meninas, inclusive nas habilidades que não houve diferença estatisticamente significativa (chute e drible). Conforme apresenta tabela abaixo (Tabela 4). Encontrou-se também que em todas as habilidades envolvidas (lançamento, chute, drible e condução) existe uma correlação negativa, moderada e que não foi afetada pela variável sexo.
Tabela 4. Diferenças entre os sexos no parâmetro Precisão
Condicionante de pressão ORGANIZAÇÃO
A tarefa-teste de lançamento consistia em o participante executar 15 lançamentos na área demarcada na parede (2m x 2m) com uma bola em cada mão, as bolas deveriam ser lançadas ao mesmo tempo. Na tarefa-teste de chute o participante deveria realizar 15 chutes na área demarcada na parede (2m x 2m) e ao mesmo tempo equilibrar um bambolê, em contato com o solo, com uma das mãos. As tarefas-testes das habilidades de drible e condução não foram analisadas, em virtude de os participantes terem apresentado muita dificuldade na execução das mesmas, sendo excluídas do estudo.
Participaram destas tarefas-teste um total de 37 crianças. Na análise entre as idades encontramos diferença estatisticamente significativa no lançamento (F=3,35; sig=0,013) e no chute (F=3,69; sig=0,042). Através do teste Post Hoc de Bonferroni verificou-se que existe diferença significativa somente entre as idades 8 e 11 anos, no teste de lançamento. E que mesmo havendo diferença estatisticamente significativa na habilidade de chute, não foi possível identificar aonde se encontra essa diferença. Conforme apresenta a tabela a baixo (Tabela 5).
Tabela 5. Diferenças entre as idades, por habilidade, no parâmetro Organização
Encontramos diferença entre os sexos no teste de chute, mostrando que os meninos apresentam uma média de tempo menor que as meninas, inclusive no lançamento que não houve diferença estatisticamente significativa. Conforme apresenta tabela abaixo (Tabela 6). Além disso, o lançamento e o chute possuem uma correlação negativa, moderada e que não foi afetada pela variável sexo.
Tabela 6. Diferenças entre os sexos no parâmetro Organização
Condicionante de pressão COMPLEXIDADE (Seqüência)
A tarefa-teste de lançamento e chute consistia em o participante lançar ou chutar a bola na parede (na área demarcada de 2m x 2m) e antes de pegar a bola para um novo lançamento ou chute executava as seguintes ações: agachar (duas mãos no chão), encestar no cone à sua direita (localizado a 1,5 metros ao lado e 1 metro para trás do participante), dar um giro de 360º, encestar no cone a sua esquerda e bater duas palmas. O participante realizava essa seqüência de ações duas vezes. Já a tarefa-teste de drible e condução consistia em o participante percorrer, ida e volta, um trajeto de 9m de comprimento dividido em 9 quadrados, destes 5 havia uma marcação indicando a execução das seguintes ações: agachar (colocar as duas mãos no chão), bater duas palmas, dar um giro de 360º, bater duas palmas e saltar (tirar os pés do solo), na volta executava as ações de saltar até agachar.
Participaram destas tarefas-teste um total de 92 crianças. Encontramos diferença entre as idades no lançamento (F=3,90; sig=0,008); no chute (F=4,07; sig=0,006) e na condução (F=5, 17; sig=0,012). Já no drible não houve diferença estatisticamente significativa (F=1,93; sig=0,14). Através do teste Post Hoc de Bonferroni, verificou que existe diferença significativa entre a idades 7 quando comparada a 8, 9, 10 e 11 anos no teste de lançamento. Entre 7 anos quando comparada a 10 e 11 anos na habilidade de chute e entre 8 anos quando comparada a 9 anos na condução. Conforme apresenta, abaixo, a Tabela 7.
Tabela 7. Diferenças entre as idades, por habilidade, no parâmetro Complexidade
Nas habilidades de lançamento, drible e condução houve diferença estatisticamente significativa entre os sexos, mostrando que os meninos apresentam uma média de tempo melhor que as meninas, inclusive na habilidade de chute que houve diferença significativa (Tabela 8).
Tabela 8. Diferenças entre os sexos no parâmetro Complexidade
Encontrou-se também que nas habilidades envolvidas (lançamento, chute, drible e condução) existe uma correlação negativa, moderada e que não foi afetada pela variável sexo.
Condicionante de pressão VARIABILIDADE
A tarefa-teste de lançamento consistia em o participante lançar a bola na parede (na área demarcada de 2m x 2m) de maneiras diferentes: 3 vezes o lançamento deveria ser com a mão direita, 3 vezes com a mão esquerda, 3 vezes quicando no chão e depois na parede, 3 vezes quicando na parede e depois no chão e 3 vezes com as duas mãos por cima da cabeça. Já na tarefa-teste de chute (igual ao lançamento) o participante deveria chutar a bola: 3 vezes com o pé direito, 3 vezes com o pé esquerdo, 3 vezes soltando a bola e chutando antes dela tocar no chão, 3 vezes soltando a bola e após um quique dar o chute e 3 vezes lançando a bola na parede e chutando antes dela tocar no solo.
Na tarefa-teste de drible e condução o participante deveria transportar a bola entre os cones (quadrado de 6m) na seguinte seqüência: do cone 1 para o 2 de lado com a mão (ou pé) esquerdo, do cone 2 para o 3 de frente com a mão(ou pé) dominante, do cone 3 para o 4 de lado com a mão (ou pé) direito e do cone 4 para o 1 de costas com a mão (ou pé) dominante.
Participaram das tarefas-teste um total de 76 crianças. Encontramos diferenças entre as idades no lançamento (F=3,92; sig=0,017). Já no chute (F=2,21; sig=0,13), no drible (F=1,80; sig=0,17) e na condução (F=0,55; sig=0,58), não houve diferença estatisticamente significativa. Através do teste Post Hoc de Bonferroni verificamos diferença significativa entre 8 anos quando comparada a 9 e 11 anos no lançamento. Como apresenta a tabela abaixo (Tabela 9).
Tabela 9. Diferenças entre as idades, por habilidade, no parâmetro Variabilidade
No chute, encontramos diferença entre os sexos significativa, apontando que os meninos apresentam uma média de tempo menor que as meninas, inclusive nas outras habilidades (lançamento, drible e condução) que não houve diferença estatisticamente significativa. Conforme é mostrado na tabela 10. Encontrou-se também que nos testes das habilidades de lançamento, chute e drible existe uma correlação negativa, moderada e que não é afetada pela variável sexo. Diferentemente na habilidade de condução que, em ambas as análises, a correlação encontrada apresenta intensidade muito fraca, não sendo estatisticamente significativa.
Tabela 10. Diferenças entre os sexos no parâmetro Variabilidade
Discussão
O presente estudo comporta informações sobre a coordenação motora com bola de 155 escolares do Instituto Rio Branco, em Porto Alegre, bem como valores das diferenças entre sexos e idades, em cada tarefa-teste.
Os resultados apontaram que, com exceção da tarefa-teste de drible no parâmetro complexidade (sig=0,242), todas as habilidades testadas (lançamento, chute, drible e condução) em todos os parâmetros (tempo, precisão, organização, complexidade e variabilidade) apresentaram-se dentro da normalidade (sig < 0,05) de distribuição dos dados.
Quando foi realizada a análise de diferença entre os sexos, encontrou-se que em todas as habilidades (lançamento, chute, drible e condução) envolvidas em todos os parâmetros (tempo, precisão, organização, complexidade e variabilidade) os meninos obtiveram tempos menores, ou seja, foram mais rápidos (melhores) do que as meninas, mesmo naquelas tarefas em que essa diferença não foi estatisticamente significativa (no chute e drible do condicionante de precisão, no lançamento do condicionante de organização, e no chute do condicionante de complexidade). Essa diferença entre sexos a favor do sexo masculino já havia sido encontrada por Keogh (1965, apud Gallahue e Ozmun, 2005) ao testar corrida no intervalo de 8 aos 12 anos. E também por Lopes e colaboradores (2003), quando analisaram a coordenação motora em um estudo com 3742 crianças, na faixa etária de 6 a 10 anos, utilizando o KTK. Os autores sugerem como explicação para os resultados, que talvez a diferença na educação seja o motivo dos meninos serem mais rápidos, pois as meninas possuem um hábito maior de brincadeiras dentro de casa, enquanto que os meninos ficam muito mais na rua, jogando. Por fim, essa diferença também foi encontrada por Silva (1989, apud Gorla, Araújo et al., 2003) nas idades de 7 a 10 anos, com exceção da idade de 8 anos, ao testar o KTK em 1000 crianças.
Analisando a correlação entre as idades e as tarefas, foi encontrada uma relação de intensidade negativa e moderada, não sendo afetada pela variável sexo. Esses resultados podem ser confirmados ao analisarmos os maiores valores médios de tempo por idade, apresentados sempre aos 6, 7 ou 8 anos. O que poderia explicar isso é o fato dessas idades encontrarem-se no início da fase de desenvolvimento favorável da coordenação motora, denominada “fase de ouro” ou “fase sensível” (Roth, 1998; Weineck, 2003). Como afirmam Martin (apud Roth, 1998) e Barbanti (1996), a capacidade coordenativa possibilita melhor aprendizagem em crianças de 10 e 12 anos, e a coordenação motora parece melhorar com a idade de maneira linear (Gallahue e Ozmun, 2005). Isso nos leva a acreditar que, com o aumento da idade, o nível de coordenação melhora, o que se reflete na diminuição dos valores médios de tempo ao longo das idades. A correlação entre as idades e as tarefas-teste utilizadas neste estudo pode ainda ser confirmada quando observamos, no quadro 1, aqueles condicionantes de pressão que se apresentaram diferentes, nas habilidades, entre as diversas idades.
Quadro 1. Diferenças dos Parâmetros, entre Idades, por habilidade
Nota-se que as diferenças encontradas estão presentes nas idades de 7 e 8 anos, quando em comparação às idades superiores. Deve-se salientar que não foi encontrada diferença estatisticamente significativa na habilidade de drible, sob todos os condicionantes de pressão, e no condicionante de precisão, em nenhuma habilidade. A análise deste quadro corrobora a proposta da Iniciação Esportiva Universal (IEU) (Greco e Benda, 2007), a qual possui como objetivo o ensino dos jogos esportivos coletivos, de maneira incidental, a partir dos elementos comuns dos jogos, objetivando a autonomia do aluno nas suas ações e decisões. A proposta consiste em trabalhar, através de uma maior compreensão do jogo, o aumento do conhecimento tático, e por meio da expansão das capacidades coordenativas a melhoria do treinamento técnico. Apresentando uma seqüência de trabalho para o treinamento da coordenação por idade, representada no quadro 2.
Quadro 2. Exigências Coordenativas
A principal relação entre os resultados apresentados no quadro 1 e no quadro 2 é que na proposta da IEU a divisão das faixas etárias vai ao encontro das diferenças encontradas entre as idades neste estudo. Como foi apresentado, as crianças de 7 anos, ao serem comparadas às crianças de 8 anos, apontaram diferença estatisticamente significativa apenas em uma habilidade e em um parâmetro (condução no condicionante de pressão tempo), confirmando a proposta da IEU, que sugere a possibilidade de trabalhar com a faixa etária de 6 a 8 anos. Ao comparar 8 anos a 9 e/ou 10 anos, também foi confirmada a proposta IEU, pois mesmo havendo mais diferenças nas habilidades e parâmetros analisados (lançamento, nos condicionantes de tempo e variabilidade; e chute, no condicionante de tempo), mostrou-se possível trabalhar com essa faixa etária (8 a 10 anos), principalmente pelo fato de não ter sido encontrada, em nenhuma habilidade e em nenhum parâmetro, diferença estatisticamente significativa entre 9 e 10 anos. Também, não foram encontradas diferenças entre 10 e 11 anos, sugerindo a confirmação da proposta (IEU) de trabalhar a faixa etária de 10 a 12 anos.
Ainda, os autores da IEU, na evolução dos trabalhos com outros autores, agregam a proposta da Escola da Bola (EB) (Kröger e Roth, 2006), que objetiva permitir que as crianças possam experimentar de forma rica e variada diferentes alternativas de movimento. Ou seja, o objetivo principal é a expansão da coordenação motora em uma base ampla, que sirva de reserva, para facilitar, futuramente, o aprendizado de técnicas específicas (Greco, 2005). A sugestão de metodologia da coordenação motora com bola, com base na união das duas propostas, pode ser observada no quadro 3.
Quadro 3. Metodologia para o Desenvolvimento da Coordenação
Considerações finais
Em todas as tarefas-teste analisadas neste estudo, foram encontrados tempos melhores nos meninos quando comparados às meninas, mesmo naquelas tarefas em que o resultado não apresentou diferença significativa.
As diferenças entre as idades se apresentam mais freqüentes entre os 7 e 8 anos de idade comparadas às idades superiores. Estes resultados contribuem com o propósito metodológico da Iniciação Esportiva Universal unida a Escola da Bola, indicando que trabalhar o ensino-aprendizagem-treinamento da coordenação motora com bola, é necessário desenvolver, na fase escolar inicial, os elementos e estruturas comuns aos jogos esportivos coletivos, os quais servirão de base para o treinamento técnico específico. Sugerem, ainda, um aumento contínuo do grau de complexidade das tarefas, pois, quanto mais complexa e difícil for a ação motora a ser executada, maior será o significado das capacidades coordenativas requisitadas (Weineck, 2003).
Até o momento existe, através do Programa Segundo Tempo do Ministério do Esporte (Greco e Silva, 2008), uma iniciativa de utilização da metodologia do treinamento da coordenação motora das duas propostas que embasam este estudo. Cenário este, escolar, ideal para o desenvolvimento de estudos sobre o desenvolvimento da coordenação motora com bola em crianças.
Referências
Barbanti, V. J. Treinamento Físico: Bases Científicas. São Paulo: CLR Balieiro. 1996
Dancey, C. P. e J. Reidy. Estatística sem Matemática para Psicologia - Usando SPSS para Windows Porto Alegre: Artmed. 2006
Gallahue, D. e J. C. Ozmun. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora. 2005
Gorla, J. I., P. F. D. Araújo, et al. O teste KTK em Estudos da Coordenação Motora. Revista Conexões, Escola Superior de Educação Física de Muzambinho, v.1, n.1. 2003.
Greco, P. J. Iniciação esportiva universal e escola da bola: uma integração de duas propostas. In: E. Garcia e K. Lemos (Ed.). Temas atuais em Educação física e esportes X. Belo Horizonte: Ed. Health 2005. Iniciação esportiva universal e escola da bola: uma integração de duas propostas
Greco, P. J. e R. N. Benda. Iniciação Esportiva Universal. Da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Belo Horizonte: Ed. UFMG, v.1. 2007
Greco, P. J. e S. A. Silva. A metodologia de ensino dos esportes no marco do programa segundo tempo. In: A. B. Oliveira e G. L. Perim (Ed.). Fundamentos pedagogicos para o programa segundo tempo. Porto Alegre: UFRGS, 2008. A metodologia de ensino dos esportes no marco do programa segundo tempo, p.81-111
Kröger e K. Roth. Escola da Bola: Um ABC para iniciantes nos jogos esportivos. São Paulo. . 2006
Lopes, V. P., J. A. R. Maia, et al. Estudo do nível de desenvolvimento da coordenação motora da população escolar (6 a 10 anos de idade) da Região Autónoma dos Açores. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v.3, nº 1, jan/jun, p. [47-60]. 2003.
Nitsch, J. R. The Action-Theoretical Perspective1. International Review for the Sociology of Sport, v.20, n.4, January p.263-282. 1985.
Nitsch, J. R. e J. Munzert. Aspectos del entrenamiento de la técnica dasde la perspectiva de la teoría de la acción. Aproximaciones a un modelo integrador. In: J. R. Nitsch, A. Neumaier, et al (Ed.). Entrenamiento de la técnica: contribuiciones para un enfoque interdisciplinario. Barcelona: Editorial paidotribo, 2002. Aspectos del entrenamiento de la técnica dasde la perspectiva de la teoría de la acción. Aproximaciones a un modelo integrador, p.585
Roth, K. Como melhorar as capacidades coordenativas. In: E. Garcia, K. Lemos, et al (Ed.). Temas atuais em Educação física e esportes III. Belo Horizonte: Ed. Health, 1998. Como melhorar as capacidades coordenativas
Samulski, D. M. Psicologia do esporte: manual para a Educação Física, Psicologia e Fisioterapia. São Paulo: Manole. 2002
Weineck, J. Treinamento Ideal. São Paulo: Editora Manole Ltda. 2003
Zakharov, A. Ciência do Treinamento Desportivo. Rio de Janeiro: Editora Grupo Palestra, 1992
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 180 | Buenos Aires,
Mayo de 2013 |