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Análise postural em deficientes visuais 

utilizando a Escala de New York e a biofogrametria

Análisis postural en discapacitados visuales utilizando la Escala de New York y la biofogrametría

Postural analysis in visually impaired using a Range Of New York and biophotogrametry

 

*Graduado em Fisioterapia pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais

**Graduado em Fisioterapia pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais

Docente do Centro Universitário FAFIBE – Bebedouro SP.

***Graduado em Educação Física pelo Centro Universitário Claretiano de batatais

Docente do Centro Universitário Claretiano de Batatais

***Graduado em Fisioterapia e Odontologia

Docente do Centro Universitário Claretiano de Batatais

Docente da Universidade de Ribeirão Preto, UNAERP

(Brasil)

Ft. Mirela Sant’Ana Rodrigues*

mirela_s.rodrigues@hotmail.com

Ft. Letícia Fernandes Moraes*

moraes1805@hotmail.com

Ft. Gabriel Pádua da Silva**

gabriel_padua@hotmail.com

Ft. Bruno Ferreira**

brunof@com4.com.br

Evandro Marianetti Fioco***

evandro.fioco@gmail.com

Prof. Ms. Edson Donizetti Verri***

edverri@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A cegueira, para fins epidemiológicos, é definida como uma acuidade visual inferior a 0.05 (20/400) até a ausência de percepção luminosa. Não se pode estudar a cegueira como um fator isolado, pois existem problemas diversificados para cada tipo de cegueira que podem ter relação com o desenvolvimento psicomotor como um todo, 80% das informações que recebemos ocorrem por meio dos estímulos visuais, portanto a baixa visão ou sua ausência restringe a experiência de vida e influencia o desenvolvimento do equilíbrio, da coordenação motora e da postura. O presente estudo tem como objetivo avaliar a postura de quatro deficientes visuais através da biofotogrametria e da Escala de New York. Foram encontradas diferenças entre o lado direito e esquerdo na média da biofotogrametria, podendo observar que segundo a angulação, o ombro esquerdo apresenta elevação em relação ao direito; o cotovelo esquerdo apresenta uma semi-flexão em relação ao direito; a escápula direita apresenta uma rotação externa em relação à esquerda; o tornozelo esquerdo apresenta um aumento do ângulo tibiotársico em relação ao direito. Pela Escala de New York pode-se observar que segundo as alterações, todos os deficientes visuais apresentaram déficit severo em suas respectivas posturas, comprovando que o sistema visual é essencial para o controle postural. A presença de assimetrias está associada às alterações posturais, desequilíbrios e patologias. Os resultados obtidos dentro das condições estudadas permitem concluir que os deficientes visuais analisados adotam postura compensatória na tentativa de ajustar o centro de gravidade de acordo com os dados analisados pela Escala de New York. Os resultados obtidos pela biofotogrametria apresentam diferença de angulação entre os lados direito e esquerdo, causando uma assimetria, sendo a mais considerável a analise do ângulo da escápula que obteve maior diferença. Sugere-se que novos estudos sejam conduzidos, com um número maior de amostra, a fim de investigar as alterações e suas condutas especificas.

          Unitermos: Escala de New York. Biofotogrametria. Cegueira.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    No passado a cegueira era considerada apenas uma carência de visão, atualmente o enfoque científico inclui todas as variedades existentes a este objeto de estudo. Não se pode estudar a cegueira como um fator isolado, pois existem problemas diversificados para cada tipo de cegueira que podem ter relação com o desenvolvimento psicomotor como um todo (FIGUEIRA, 2000). A cegueira, para fins epidemiológicos, é definida como uma acuidade visual inferior a 0.05 (20/400) até a ausência de percepção luminosa (Organização Mundial de Saúde – O.M.S.).

    A cegueira, tanto total quanto parcial, pode ser causada por diversas patologias, podendo ser reversível ou não. Dentre as formas irreversíveis, se destacam as degenerações retinianas, a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e a retinite pigmentosa (RP). Apesar do grande esforço terapêutico, são pequenas as possibilidade de reversão. Cientistas tentam estimular a percepção luminosa de pacientes cegos desde a introdução da eletricidade no século XVIII. O sucesso dos implantes cocleares e o avanço da ciência nas últimas décadas viabilizaram o conceito de visão artificial e os testes com métodos mais confiáveis deixam entrever a real possibilidade de ser criar uma prótese visual para a recuperação da visão em cegos (BICAS, 2002).

    Segundo Reis (1998), 80% das informações que recebemos ocorrem por meio dos estímulos visuais, portanto a baixa visão ou sua ausência restringe a experiência de vida e influencia o desenvolvimento do equilíbrio, da coordenação motora e da postura. A cegueira interfere em todos os subsistemas desde os primeiros momentos de vida, pois o organismo está estruturado para realizar um contínuo feedback através da visão, exercendo função reguladora do tônus muscular e a monitorização de todas as outras vias sensoriais (labiríntica, coclear, auditiva e proprioceptiva) que constituem o sistema sensório motor (FIGUEIRA, 2000).

    A ausência de um sentido não será substituído por outro, entretanto, o sistema sensorial pode compensar o que está em disfunção. As crianças com Deficiência Visual Total (DVT) devem relacionar-se com o mundo externo através da percepção construída através da estruturação cognitiva e da organização psicoemocional (SILVA, 2004). O organismo neurocomportamental é organizado para responder as exigências do meio com a integração dos sistemas. Por isso, o lactente com DVT congênita possui alto risco de atraso no desenvolvimento psicomotor. Devido a esses fatores a intervenção essencial desde os primeiros dias de vida pode fazer a diferença no desenvolvimento da criança com DVT (FIGUEIRA, 2000).

    A criança com DVT pode apresentar um ritmo lento quanto à aquisição dos marcos, postura e deslocamento (FARIAS, 2004). Construindo a imagem do mundo através da integração dos sentidos restantes (auditivo, olfativo, proprioceptivo, tátil e cinestésico), portanto há uma estimulação das estruturas sensoriais desde muito cedo, para compensar a deficiência visual e diminuir a defasagem psicomotora, que pode comprometer a evolução postural e o equilíbrio (FIGUEIRA, 2000).

    Sabendo-se os comprometimentos motores referentes à DVT, a proposição de um método de avaliação dos sistemas corporais é altamente justificada como critério diagnóstico e parâmetros para uma intervenção clínica. A visão é importante na estabilização da postura por fornecer continuamente ao sistema nervoso a informação a respeito da posição e dos segmentos do corpo em relação a ele mesmo e ao ambiente. Estudos constataram diferença quanto à presença de inclinação anterior da cabeça, assimetria de ombros, alteração escapular, proeminência abdominal, báscula anterior de pelve e alterações da coluna vertebral nas crianças com cegueira congênita (AMAYA E DE CABRERA, 1991 apud SABCHES, 2008).

    As avaliações posturais ramificam-se de dois sistemas avaliativos, o primeiro compreende achados visuais pelo fisioterapeuta com auxílio da escala de “New York” a fim de padronizar os achados posturais. Tecnologicamente para quantificar as alterações posturais utiliza-se a biofotogrametria que consiste em aplicações fotográficas a curta distância para extrair medidas das formas e dimensões do corpo humano (IUNES, 2005). Esses recursos são utilizados para um diagnóstico físico funcional, com intuito de buscar alterações significativas. Considerando-se a escassez de estudos sobre o assunto, busca-se com este trabalho realizar uma avaliação postural em deficientes visuais da comunidade de Batatais-SP.

Materiais e métodos

    Foram selecionados para a pesquisa 4 indivíduos com idade entre 18 e 23 anos, sendo todos portadores de deficiência visual total (Grupo Experimental). Foram informados sobre os propósito e etapas da pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Para tanto, todo o aparato explicativo do termo de consentimento foi devidamente adaptado para o método Braile através da Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto (ADEVIRP), para melhor compreensão dos portadores de cegueira. O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

    As avaliações foram realizadas nas dependências do Laboratório de Biomecânica do Movimento (LABIM) do Centro Universitário Claretiano de Batatais. A conduta da biofotogrametria foi realizada seguindo um protocolo de posicionamento e padronização de imagem utilizando bolas de isopor com tamanho de 25 mm, fixadas aos pontos de referência encontrados através da anatomia palpatória segundo o programa SAPO (versão 9.68 – Julho de 2007), sendo estes: acrômio, manúbrio do esterno, epicôndilo lateral do cotovelo, espinha ilíaca antero-superior, trocânter maior do Fêmur, linha articular do joelho, maléolo lateral, maléolo medial, ponto médio entre o 2º e 3º metatarso, C7, L4, calcâneo, ângulo inferior da escápula e espinha ilíaca póstero-superior.

    Após estabelecidos os pontos a serem analisados, o indivíduo era posicionado sobre uma plataforma de nivelamento tridimensional em frente a um simetrógrafo. Uma câmera da marca Kodak p880 com 8.5 megapixels era posicionada a um tripé com uma distância de 3 metros entre a lente focal da câmera ao centro corporal do indivíduo. A obtenção das imagens foi realizada por um único avaliador, sem zoom e em três planos de delimitação: Anterior, Lateral e Posterior. Após a coleta, as imagens foram analisadas no próprio programa SAPO, realizando medidas angulares de membro superior, inferior e axial. Ao final os dados foram tabulados e analisados através do software BioSat (versão 5.0).

    A escala de New York foi empregada aos indivíduos na posição ortostática, nas vistas lateral, anterior e posterior como demonstrado nas figuras da tabela da escala. O terapeuta se mantinha à frente do paciente realizando as pontuações nas distintas 13 determinações, ao final era realizada uma análise dos resultados, classificando o grau de comprometimento postural dos portadores de cegueira. Esta escala segue um score para as condições posturais, sendo este: 01 a 39 pontos (severo), 40 a 55 pontos (moderado) e 56 a 65 pontos (normal).

Resultados

    Foram encontradas diferenças entre o lado direito e esquerdo na média dos 4 deficientes visuais pela biofotogrametria. Podendo observar que segundo a angulação, o ombro esquerdo apresenta elevação em relação ao direito; o cotovelo esquerdo apresenta uma semi-flexão em relação ao direito; a escápula direita apresenta uma rotação externa em relação à esquerda; o tornozelo esquerdo apresenta um aumento do ângulo tibiotársico em relação ao direito.

Tabela 1. Média dos valores obtidos pela biofotogrametria

    Pela Escala de New York pode-se observar que segundo as alterações, todos os deficientes visuais apresentaram déficit severo em suas respectivas posturas, comprovando que o sistema visual é essencial para o controle postural.

Tabela 2. Score e classificação pela Escala de New York

Discussão

    O presente estudo apontou alterações importantes quanto à lateralidade do ombro, escápula, cotovelo e tornozelo, quando traçada uma média entre os indivíduos portadores de deficiência visual através da biofotogrametria. A presença de assimetrias está associada às alterações posturais, desequilíbrios e patologias, porém é considerável ocorrer uma assimetria relacionada ao membro superior dominante em indivíduos normovisuais (PIRES et al, 2007 apud PALMER E EPLER, 2000). O estudo de Pires (2007) mostra ainda que os indivíduos de sua amostra apresentaram maior assimetria com os olhos ocluídos do que com os olhos abertos, concluindo que a informação visual é importante para a manutenção da postura.

    Referente aos resultados apresentados pela escala de New York, os quatro indivíduos apresentaram um score final entre 19 e 33 pontos, representando, portanto alterações severas de acordo com os resultados apresentados também nos estudos de Sanches (2008). Mascarenhas et al (2009), avaliaram 22 indivíduos com idades entre 16 e 76 anos, sendo 14 cegueira total e 8 com visão subnormal, onde os indivíduos com cegueira apresentaram maior alteração na cabeça e ombro, enquanto os indivíduos com visão subnormal apresentaram maior alteração de ombro e coluna torácica. Avaliaram também alterações referentes ao tônus, coordenação, equilíbrio e marcha, com resultados maiores nos indivíduos cegos.

    Segundo Bortolaia, Barela e Barela (2003), ao examinarem mudanças no controle postural em crianças portadoras de deficiência visual de acordo com as faixas etárias de 3 a 5, 6 a 8 e 9 a 11 anos nas direções ântero-posterior e médio-lateral de dois emissores infravermelhos afixados nas crianças, concluíram que crianças cegas apresentavam oscilação similar nas faixas etárias de 3 a 5 e 9 a 11 anos, mas aumento entre 6 a 8 anos, sugerindo que essas crianças passam por uma reorganização no funcionamento do sistema de controle postural mais tarde do que crianças sem comprometimento visual.

    De acordo com Malta et al (2006), ao avaliarem o desempenho funcional de crianças com deficiência visual, atendidas no Departamento de Estimulação Visual da Fundação Altino Ventura, constataram que as crianças portadoras de deficiência visual apresentaram desempenho significantemente inferior ao das crianças do grupo controle na habilidade funcional de autocuidados e mobilidade. Estes resultados também podem ser utilizados para o melhor planejamento das atividades de reabilitação visual e integração social destas crianças.

    Matos, Corrêa e Gomes (2005), realizaram um estudo do equilíbrio estático em adultos deficientes visuais através do ENE- Exame Neurológico Evolutivo, e após foram submetidos ao treino de equilíbrio utilizando-se de pranchas, bolas e cama elástica, puderam concluir que os achados falam a favor de um déficit de equilíbrio em adultos deficientes visuais e que não evidenciada melhora considerável do equilíbrio após intervenção terapêutica, o que merece ser melhor investigado.

    No estudo de Oliveira e Barreto (2005), ao realizarem uma avaliação do equilíbrio estático em deficientes visuais adquiridos, verificaram que eles apresentam uma oscilação latero-lateral significativamente maior que os indivíduos com visão normal, porém no deslocamento ântero-posterior não houve diferença significativa entre os grupos. Já no estudo de Interdonato e Greguol (2009), adolescentes cegos apresentaram uma percepção fiel da sua imagem corporal, mostrando em geral um bom nível de satisfação sobre seus atributos. Quando suas competências motoras, os adolescentes fisicamente ativos demonstraram uma percepção levemente mais positiva do que os sedentários, sendo que para ambos os grupos, as menores notas foram atribuídas para a capacidade de manter a boa postura corporal.

    Lopes, Kitadai e Okai (2004), verificaram as principais alterações motoras e de desenvolvimento presentes em crianças portadoras de deficiência visual, objetivando assim um atendimento fisioterapêutico adequado com as características individuais e sua faixa etária. Submeteram os crianças a um protocolo de tratamento fisioterapêutico durante 20 meses, com exercícios para treino de equilíbrio, propriocepção, marcha e coordenação motora. Ao final, concluíram grande melhoria do quadro geral, verificando que os prejuízos que essas alterações trazem ao deficiente visual podem ser minimizados através de programas terapêuticos adequados, recuperando seu controle motor através das experiências sensoriais que podem ser oferecidas à criança enfatizando seu desenvolvimento.

Conclusão

    Os resultados obtidos dentro das condições estudadas permitem concluir que os deficientes visuais analisados adotam postura compensatória na tentativa de ajustar o centro de gravidade de acordo com os dados analisados pela Escala de New York. Os resultados obtidos pela biofotogrametria apresentam diferença de angulação entre os lados direito e esquerdo, causando uma assimetria, sendo a mais considerável a analise do ângulo da escápula que obteve maior diferença (130,63 para D e 108,04 para E). Sugere-se que novos estudos sejam conduzidos, com um número maior de amostra, a fim de investigar as alterações e suas condutas especificas.

Referências bibliográficas

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