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O uso social do corpo. A busca do corpo 

perfeito para a integração na sociedade

El uso social del cuerpo. En busca del cuerpo perfecto para la integración en la sociedad

 

Graduandas em Educação Física

(Brasil)

Áquila Andrade Rocha

aquilaandradeedf@hotmail.com

Jéssika Clara da Silva Barbosa

jessika_clara@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo da pesquisa foi investigar quais as motivações para as práticas da musculação, assim como as representações e usos sociais do corpo entre praticantes de musculação e métodos para a obtenção de um corpo “ideal”. Foi realizado um estudo pautado em observações com os alunos de academias de musculação de Conceição do Araguaia, PA e entrevistas com 10 freqüentadores de uma academia de ginástica. A prática da musculação tanto entre pessoas de classe media como populares, a grande razão para essas praticas é, sobretudo a estética. A maioria tem uma grande insatisfação com o corpo real em comparação ao padrão ideal difundido pela mídia, o receio de ser desvalorizado ou excluído de grupos, o capital simbólico associado ao corpo “malhado” e a incansável busca na aquisição imediata dos resultados favorecem também o uso de produtos nocivos ao corpo como os anabolizantes. As pessoas principalmente os jovens em questão tem uma visão alienada da construção dos valores associados ao corpo na sociedade de consumo, à informação de qualidade sobre os benefícios e os malefícios, causados ao corpo pela realização de exercícios musculação e o uso dos produtos lesivos com relação ao descontentamento com a imagem corporal imagem. Na academia de ginástica conseguimos visualizar e obter através dos questionários informações que o individuo procura ter o corpo “belo” para estar bem em meio à sociedade e segundo os entrevistados estar bem consigo mesmo por ser admirado por amigos e não ser vetado por grupos sociais.

          Unitermos: Musculação Sociedade. Corpo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Podemos compreender que o corpo é um vetor muito importante para a construção da identidade do individuo, também percebemos a sua importância para interação dos grupos sociais. Há uma idéia que o corpo é construído a partir de varias significações, culturalmente usadas e associadas às pessoas vistas como corporeidade. O corpo não é só produto, mas também, quem constrói a sociedade. Os significados culturais das praticas corporais, o símbolo do corpo na cultura e através dele podemos obter o conhecimento de nossa sociedade. (SOARES, 2010)

    Nas academias de ginásticas, conseguimos visualizar como o individuo procura ter o corpo “perfeito” para chamar atenção, ou para facilidade de integrar – se na sociedade. O culto ao corpo vem crescendo cada vez mais em meio à sociedade, isso vem interferindo no comportamento e nas relações humanas aonde a quantidade de músculos é mais importante do que valores e o próprio caráter. Para Soares (2004)

    A virtude e os valores humanos vão sendo resumidos a centímetros de bíceps, de cinturas, de coxas, de nádegas sob um custo extraordinário, envolvendo exercícios e o suporte de um arsenal de drogas e de cirurgias.

    Dentro desta lógica do capitalismo, surge a partir do século XIX na Europa a afirmação de um projeto de educação corporal, com métodos e princípios que tinham como início controlar o corpo disciplinar, formar homens mais maleáveis e adaptados para a produção. Dessa forma o capitalismo se apropria do uso dos corpos dos indivíduos impondo então uma nova subjetividade ao uso do corpo. Como afirma Le Breton:

    “Toda a ordem política vai de encontro à ordem corporal. A análise leva a critica do sistema político identificado com o capitalismo que impõe a dominação moral e material sobre os usos sociais do corpo e favorece a alienação.” (2006, p. 79)

    “O movimento ginástico europeu foi, portanto, um primeiro delineamento deste esforço e o lugar de onde partiram as teorias da hoje denominada Educação Física separaram o pensamento moderno em torno das práticas corporais que se construíram fora do mundo do trabalho, trazendo a idéia de saúde, vigor, energia e moral colocadas à sua aplicação.” (Soares, 1997, p. 10)

    A ginástica neste momento passa então a convir como instrumento e potencializadora do processo de supremacia do capital. O anseio era evidente estabelecer rapidamente um modelo de homens, fortes disciplinados e submissos ao capital. A ginástica atualmente sistematizada pela ciência e pela tecnologia rompe então com seu núcleo inicial que era distinguida dentro dos campos do entretenimento, passa a reelaborar e difundir novos usos do corpo, ou seja, o treinamento do homem para as novas requisições do capital, com o desenvolvimento da ética, do caráter, do ânimo e da disposição física para o trabalho.

    O presente trabalho pretende então construir uma reflexão teórica sobre a visão de corpo presente na modernidade, e suas semelhanças com a visão de corpo defendida nas leituras sociológicas. Para isso nos amparamos nas reflexões sobre a modernidade e sua transição da idade média feita por contribuições de Le Breton (2006) sobre o controle político da corporeidade e em Soares (2001) para a compreensão e o papel do corpo desde sua origem como em seu desenvolvimento e uso na sociedade capitalista.

Delineando a investigação

    Um dos aspectos que passam despercebidos por muitas pessoas e tem caracterizado a sociedade de consumo atual é a crescente importância atribuída ao aspecto corporal. Nas últimas décadas, o corpo tornou-se alvo de uma atenção redobrada com o desenvolvimento de técnicas de cuidado dos corpos como dietas, musculação e cirurgias estéticas. Homens e mulheres investem cada vez mais tempo, energia e recursos financeiros no consumo de bens e serviços destinados à construção e manutenção da imagem corporal o culto ao corpo tem aumentado a insatisfação dos indivíduos com o mesmo.

    Dessa forma o estudo se estruturou assim: primeiro trazemos um pouco das formas que o corpo vem assumindo ao longo da história discutindo o papel do corpo na sociedade e na modernidade, após isto buscamos a relação do corpo e o que leva o individuo a atender a disseminação da mídia, por fim buscamos a compreensão do verdadeiro entendimento de qual seja o papel do corpo atualmente.

    A mídia intervém bastante no conceito de estética e beleza (e demais aspectos do consumismo), porém, não existiria essa "indústria" de culto ao corpo se não tivesse consumidores, sobre existir solução para casos como bulimia, anorexia, obesidade, etc. Há com certeza, mas isso somente se transformará com as mudanças nas opiniões dos indivíduos e da sociedade, porém, há a probabilidade de ainda haver um "jogo de manipulação" por parte da mídia a favor do narcisismo junto ao consumismo. O papel da Educação Física nesse assunto não é dogmatizar os sujeitos e a sociedade sobre os problemas decorrente do culto ao corpo, mas proporcionar discernimento para determinar os seus hábitos, sem serem induzidos pela "moda".

    A mídia ela não mostra o modelo ideal de corpo diretamente, ou ela influencia o corpo magro demais, ou um corpo “exagerado” aonde algumas partes do corpo como bíceps, glúteo, seios quanto maior melhor.

    O fanatismo para o corpo “perfeito” tem feito os indivíduos ultrapassar os limites do seu corpo. Algumas mulheres procuram o corpo magérrimo que hoje é mostrado nas passarelas de moda. Já os homens são mais influenciados pelas propagandas de “galãs” aonde são mostrados seus físicos malhados e as mulheres se viram somente para observá-los.

    Na academia que realizamos a pesquisa foi observado o comportamento dos alunos que praticam a musculação. Através da observação analisamos que os rapazes ao treinar ficam admirando os corpos das mulheres, mas nem todas, somente as que fazem musculação e estão como dizem eles “gostosas”, já as outras que praticam os outros exercícios da academia como jump, steep e ritmos e etc. são taxadas como “gordinhas”. As mulheres também se preocupam em se exibir para o sexo oposto. Encontramos a problemática com relação ao comportamento entre homens e mulheres através das respostas obtidas pelas perguntas feitas a eles.

    Selecionamos duas respostas do questionário:

1º Qual a importância do corpo para a interação social?

    O corpo é algo primordial para interagirmos na sociedade, pois dependendo da forma que ele se encontra somos muito bem visto por determinados grupos sociais, isto é, se ele estiver em “forma ideal” de acordo com o padrão que a mídia tenta nos influenciar, caso contrario se não estivermos nesse padrão estético somos muitas vezes criticados por alguns grupos sociais, dificultando assim a interação social.

2º Você acha que a estética favorece na vida social?

    A estética favorece na vida social porque a sociedade atual impôs uma ideologia onde afirma que devemos manter o corpo em forma, ou seja, “malhado”, então dessa maneira a pessoa que tem seu corpo considerável “perfeito” em muitos casos é mais favorecido na vida social de que outra que não tem o chamado corpo “ideal”.

    Através dessas e de outras respostas percebemos que realmente as pessoas não estão preocupadas com a saúde, mas somente pelo reconhecimento, admiração e pela interação social, se houver resultados benéficos em relação ao bem-estar é somente conseqüência da pratica não porque o individuo procurou essa melhora de forma direta.

Considerações finais

    Buscamos por meio dessa pesquisa entender quais os reais motivos que as pessoas se preocupam tanto com o corpo, chegando ao ponto de investir todos os recursos em busca da “perfeição”. Nas informações apresentadas ajudam-nos a perceber que exigências a respeito de um determinado modelo de corpo escravizam não apenas as mulheres, mas, também os homens.

    Neste estudo, a busca por um determinado corpo, de acordo com os modelos socialmente legitimados, pode levar homens e mulheres a doenças e, também, à morte, simbólica ou até mesmo biológica. Não apenas por tomarem como base padrões muitas vezes fora da possibilidade humana, condenados pelos órgãos mundiais de saúde, mas principalmente pela “violência simbólica” (Bourdieu, 1999) a qual são submetidos caso não consigam enquadrar seus corpos nesses modelos.

    Conclui-se que a aparente libertação dos corpos, indicada por sua atual presença na publicidade, na mídia e nas interações cotidianas, tem por trás um processo de “imitação”. Devido a mais nova moral, a Goldenberg, M.96 da “boa forma” (Goldenberg & Ramos, 2002), a exposição do corpo, em nossos dias, não exige dos indivíduos apenas o controle de suas pulsões, mas também o (auto) controle de sua aparência física. A obsessão com a magreza, a multiplicação das academias de musculação, o uso de anabolizantes, são apenas alguns dos exemplos que ajudam o poder de padronização dos modelos, um desejo maior de concordância estética que se choca com a autonomia do sujeito.

Referências

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