Sexualidade feminina e envelhecimento Sexualidad femenina y envejecimiento |
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*Alunas do Curso de Especialização em Pesquisa do Movimento Humano, Sociedade e Cultura do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria. **Professora Doutora do Centro de Educação Física e Desportos – UFSM (Brasil) |
Tatiane Razeira Ojeda* Roberta Bevilaqua de Quadros* Angelita Alice Jaeger** |
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Resumo Este estudo iniciou-se ao desenvolvermos aulas em grupos de convivência de mulheres adultas e idosas, com o objetivo de conhecer e analisar as representações que as elas produzem, atualizam e reafirmam sobre a sexualidade no processo de envelhecimento. O grupo investigado foi composto por 15 mulheres participantes de projetos da Universidade Federal de Santa Maria, com idades entre 52 e 79 anos, sendo cinco casadas, três solteiras, uma divorciada e seis viúvas. O grupo focal foi utilizado como técnica de coleta de dados, sendo as discussões conduzidas pela moderadora e anotadas pela auxiliar. A análise dos dados indica que as mulheres em processo de envelhecimento não possuem receio em discutir sobre sexualidade e possuem diferentes representações sobre o tema, significando, para a maioria delas, um conjunto de sentimentos como amor, atração e companheirismo. Todavia, consideram que, atualmente, o sexo em suas vidas não é relevante. Ainda assim, afirmam que gostariam de encontrar um companheiro para dividir os momentos da vida. Destacam, também, que a participação no grupo de Terceira Idade produziu melhoras nas suas relações interpessoais; afirmam que se sentem mais vivas e dispostas. Ao serem questionadas sobre preconceito em relação à sexualidade, grande parte das mulheres não respondeu. Esse silêncio sugere que o tema da sexualidade continua pulsante e requer maior visibilidade e debate nos estudos que enfatizam o envelhecimento. Unitermos: Envelhecimento. Sexualidade. Mulheres.
Pesquisa realizada com recursos do CNPq.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Diante do visível crescimento da população idosa, surgem novas demandas para a construção de um processo de envelhecimento com qualidade de vida num sentido amplo, compreendendo vários aspectos, entre eles, a necessidade de espaços para socialização, recreação e realização de atividades físicas. Nesses ambientes, as mulheres e idosas/os podem compartilhar suas vivências, manter e fazer novas amizades e se sentir valorizados e envolvidos em seu meio social. Participar de atividades em grupos proporciona uma maior aproximação entre mulheres e idosas/os e a formação de novos vínculos afetivos. Consequentemente, mulheres e idosas e idosos têm maior possibilidade de expressão das suas sexualidades.
Os desejos e os prazeres vividos no processo de envelhecimento estão envoltos pelo mito da terceira idade assexuada, como se, com o passar dos anos, a sexualidade fosse abolida. Barbosa et al. (2002) afirmam que esse argumento ampara a ideia da discriminação da sexualidade para esse grupo social, enfatizando o preconceito e, assim, oprimindo a possibilidade efetiva da sua prática. Vasconcellos et al (2004) citam que para alguns idosos/as a sexualidade não faz parte do cotidiano, seja por não terem companheiro/a, por não haver interesse ou por não serem estimulados/as. Nesse sentido, a ausência de parceiro/a pode explicar a diminuição ou a falta de relações sexuais, mas não explica o desinteresse pelas práticas sexuais.
Após alguns anos de trabalho junto às mulheres e aos/às idosos/as, reafirmamos a importância de compreender as representações1 que orientam a vivência ou não de suas sexualidades. Esse conhecimento nos possibilita romper com a noção de que a vida na velhice é assexuada e nos permite acolher a perspectiva que aponta ser a sexualidade uma prática extremamente relevante para uma boa qualidade de vida dos/as idosos/as, envolvendo, ainda, vários aspectos da vida social. Compreender a sexualidade como um elemento importante na vida de mulheres e idosos/as permite, também, ampliar o conhecimento e as orientações que sustentam as intervenções junto a esse grupo social, especificamente, aquelas desenvolvidas pelo Grupo de Atividades Físicas para Terceira Idade (GAFTI)2. Esse grupo privilegia ações que favorecem o convívio social e que se caracterizem como integradoras, contribuindo para a socialização e a vida autônoma dos/as idosos/as, amenizando o isolamento social; estimula vivências para fazer amizades, viagens, passeios, o bem-viver familiar e o contato com novas pessoas. A centralidade dos trabalhos do grupo almeja que os/as idosos/as amem e sejam amados/as, sintam-se valorizados/as e com grande autoestima.
Partindo dessas considerações, o objetivo geral desta pesquisa será conhecer e analisar as representações que mulheres e as idosas3 produzem, atualizam e reafirmam acerca das sexualidades na terceira idade. Os objetivos específicos buscarão conhecer o que pensam mulheres e idosas sobre sexualidade e em quais condições desponta o preconceito em relação às suas sexualidades; analisar o lugar que a vivência dos desejos e dos prazeres ocupa em seu cotidiano; identificar barreiras que as impedem de vivenciar suas sexualidades; analisar os movimentos que a participação nos grupos de terceira idade produziu nas representações que elas constroem sobre a sexualidade.
O Envelhecimento
Iniciamos citando Debert (1999), que nos traz a forma como se difundiu a expressão terceira idade na sociedade brasileira para se remeter à velhice. Este termo recebe, hoje, uma conotação tão respeitosa e positiva que é utilizado amplamente, pretendendo englobar em si a completa diversidade do segmento social dos idosos. O/A idoso/a de hoje tem uma maior visibilidade no espaço público e está incluído/a nas políticas sociais, havendo, inclusive, um maior interesse da mídia relacionado à terceira idade.
Entendemos por idoso, a partir do senso comum, como aquele que tem muitos anos de idade e muitas experiências. Para Fraiman (1999), o processo de envelhecer não é um simples fato, e, sim, uma arte complexa e incógnita, sendo presenciado por quem vivencia e para quem o assiste. A autora destaca que a idade e o sexo são variáveis que regulam a conduta social e os relacionamentos na sociedade, sendo que o sexo é próprio do indivíduo e faz parte do seu tempo de vida.
A Organização das Nações Unidas (ONU) adotou a idade de 60 anos para categorizar a pessoa na qualidade de idoso/a ou de terceira idade. Embora o envelhecimento populacional seja um fenômeno mundial, no Brasil, nas últimas seis décadas, aumentou nove vezes o número de pessoas com mais de sessenta anos. As estimativas para 2020 apontam um contingente de, aproximadamente, 30,9 milhões de pessoas com mais de 60 anos. O envelhecimento vem ocorrendo, principalmente, em virtude do aumento da expectativa de vida da população, determinado pela melhoria das condições de sobrevivência (BRAGA e LAUTERT, 2004; CAMARANO, KANSO e MELLO, 2004).
Atualmente, alguns termos são utilizados para nomear a idade avançada, tais como velho, idoso, senil, ancião, terceira idade, melhor idade, idade madura. Tais termos atribuem identificação para esta fase da vida, construindo-se, assim, socialmente a velhice. A palavra velho traz a ideia de doença, solidão, inatividade. O termo idoso é usado em documentos jurídicos para efeito de leis e direitos; e terceira idade nos remete à saúde e bem-estar (BORINI e CINTRA, 2002).
Conforme Amaral, Pomatti e Fortes (2007), o processo de envelhecimento não pode ser relacionado somente ao fato de deixar de ser produtivo e dependente, mas sim a uma fase em que há sabedoria e plenitude, na qual se aprende a conviver com as novas situações, já que possuem experiências e conhecimentos adquiridos. Mulheres e homens são seres únicos, que vivem e envelhecem de formas diferentes, pois cada um traz consigo seus valores, crenças e experiências, construindo-se, a partir disso, o processo de envelhecimento, o qual não se pode eliminar, mas sim mudar a maneira de envelhecer.
De acordo com Fraiman (1999), o envelhecimento é entendido como parte do desenvolvimento humano e não uma espera do fim. Sugere que seja o resultado ativo de um processo global de uma vida, durante a qual o indivíduo se modifica incessantemente. Essas mudanças vividas em qualquer idade podem ser lentas ou abruptas, conscientes ou inconscientes, culturais, históricas, sociais, psicológicas ou biológicas. Quando entendidas, promovem um enfrentamento, um diálogo entre a sua situação vivencial presente e a anterior.
Em nosso entendimento, compreendemos a velhice como uma etapa da vida muito rica, pois se tem maturidade, experiência e conhecimento para usufruir de um sentido de vida com mais significado.
A Sexualidade
Ao envelhecer, a sexualidade torna-se um tema normalmente esquecido pelas diversas áreas do conhecimento, incluindo a Educação Física – tema esse pouco conhecido e, tampouco, compreendido pela sociedade e pelas/os próprias/os idosas e idosos. Mas, ao contrário do que se imagina, a velhice deveria ser uma fase da vida como qualquer outra, no que se refere à questão da prática da sexualidade. Em função do desconhecimento, existem muitos mitos que dificultam a compreensão de como a sexualidade pode ser vivenciada na velhice. Nesse sentido, destacamos que sexualidade envolve “rituais, linguagens, fantasias, representações, símbolos, convenções” (Louro, 2001, p. 11), que emergem da cultura e da sociedade, fatores circunscritos a determinados tempo e lugar.
A relação existente entre sexualidade e velhice é representada, muitas vezes, pela sociedade como um período da vida sem sexo. Sobre isso, Barbosa et al. (2002) citam que a sociedade é relutante em pensar no que diz respeito à sexualidade das idosas e idosos, pois discrimina e acaba dificultando a possibilidade da sua vivência de modo privado e irrestrito. Para Risman (2005), o envelhecimento é, predominantemente, representado como o momento em que idosos/as assumem os cuidados com os/as netos/as, envolvem-se na produção de artesanatos e cuidados com a casa; acredita-se que desse modo aproveitam a aposentadoria. Consoante a isso, existe a falsa crença de que a atividade sexual decai com a idade; essa noção contribui para a escassa atenção dirigida à sexualidade, negando a sua importância para a/na qualidade de vida.
A falta de informação a respeito do tema sexualidade na velhice acaba contribuindo para a produção de uma visão única sobre o assunto, ou seja, a construção de uma representação da velhice assexuada, o que, em síntese, acaba inibindo a expressão da sexualidade entre as/os idosas/os. Ainda hoje, os desejos e prazeres estão fortemente ligados à ideia de reprodução e, nessa perspectiva, a vivência da sexualidade perde espaço como uma justificativa social diante do envelhecimento.
Barbosa et al. (2002) expressam a unanimidade em afirmar que a atividade sexual não se extingue com o passar dos anos; o que pode ocorrer é a diminuição de sua frequência. Apesar disso, pensa-se a sexualidade como algo mais amplo e que a velhice alargaria os limites e possibilidades de vivenciá-la.
Corroboramos com os autores supracitados, pois convivendo com os grupos de terceira idade percebemos que o significado da sexualidade vai além do ato sexual; ela pode ser expressa pelo toque, olhares, emoções, demonstradas por diversos sentimentos vivenciados em ambientes de socialização.
Fraiman (1999) observa que, ao longo da vida sexual adulta, mulheres e homens perdem a capacidade de criação e imaginação em suas relações sexuais devido à rotina; boa parte faz sexo sem intimidade. Isso é o resultado de uma sociedade opressora que valoriza o consumo e o que é descartável, na qual o sexo é sinônimo de prazer sem envolvimento e sentimento. Embora, muitas vezes, vista como atração e contato genital, a sexualidade tem sentido mais amplo, de afeto, carinho e relação de pessoas.
Pascual (2002) cita que o tema sexualidade é tratado de forma repressiva, sendo negada e reprimida, não havendo ainda educação sexual, e a prática, frequentemente, é vista como pecaminosa e obscena. Essas atitudes preconceituosas e de negação acabam favorecendo o desinteresse na velhice. Butler e Lewis (1985) ressaltam a sexualidade na vida dos idosos, destacando que a sexualidade e o sexo são vivências prazerosas que realçam os anos que se seguem, além de ser de alta complexidade psicológica.
Percebemos que algumas mudanças de atitudes, pensamentos e comportamentos são necessárias para que ocorra a desconstrução dos mitos e tabus que cercam o tema da sexualidade, superando a ideia de vivê-la apenas para a reprodução, sem satisfação sexual e prazer. A sexualidade influencia a saúde, a qualidade de vida e a satisfação de viver a vida – por parte de mulheres e homens que estão envelhecendo, mudando e se adaptando no que se refere à sexualidade. Com a velhice, ocorre uma diminuição da quantidade, e, em contrapartida, uma melhora na qualidade das relações, surgindo, assim, sentimentos e emoções, melhorando a qualidade de vida dessas idosas e idosos.
Caminhos metodológicos
Por tratar-se de um estudo de abordagem qualitativa, foi utilizado o grupo focal como técnica de coleta de dados, pois a temática que se pretende investigar oportuniza a abordagem em grupo. O objetivo principal do grupo focal é obter uma visão aprofundada, ouvindo um grupo de pessoas falando sobre problemas de interesse para o pesquisador (Raffel, 2001).
O grupo focal foi composto por 15 pessoas (mulheres adultas e idosas) com idade entre 52 e 79 anos, sendo cinco casadas, três solteiras, uma divorciada e seis viúvas, participantes do grupo de terceira idade vinculado ao NIEATI. A escolha deste grupo foi motivada pela integração e familiaridades das pesquisadoras com as colaboradoras.
O encontro para realização do grupo focal ocorreu na cidade de Santa Maria, RS. Para o andamento da discussão, primeiramente explicamos o enfoque da investigação e os procedimentos utilizados no grupo focal. A reunião iniciou com a leitura de um artigo4 sobre o tema sexualidade e, em seguida, as discussões foram conduzidas por uma moderadora, que utilizou uma dinâmica de grupo, a fim de conhecer e registrar as falas, sentimentos e emoções expressas pelas participantes.
O roteiro de perguntas utilizado no grupo focal buscou sustentação nos objetivos específicos, envolvendo os seguintes temas: significado da sexualidade; a importância do sexo para elas; preconceito em relação à sexualidade; sexualidade referente aos relacionamentos; e, por último, a participação nos grupos de terceira idade e as mudanças em sua representação sobre a sexualidade.
Algumas reflexões sobre as discussões
A proposta do estudo foi acolhida pelo grupo, não havendo demonstração de constrangimento na discussão sobre o tema em questão, pois houve um diálogo sobre a proposta, buscando sanar quaisquer dúvidas e, sobretudo, oportunizar tranquilidade e confiança para que qualquer manifestação, ideia e/ou sentimento expressos fossem acolhidos com respeito e atenção de todas as participantes.
Com relação ao que pensam sobre o significado da sexualidade, oito colaboradoras responderam que significa amor; duas responderam atração; uma respondeu que significa companheirismo; e quatro delas não responderam. Percebemos que a maioria delas demonstrou que entende a sexualidade num aspecto positivo, relacionando com sentimentos que vão além do ato sexual. Essas representações reafirmam o que outros estudos destacaram. Ribeiro (2002, p. 126) assegura que é “comum confundir a sexualidade com a relação sexual, sendo esta parte integrante da sexualidade, compreendendo olhares, toques, carícias, sensações e não somente a relação de órgãos genitais.” Complementam Butler e Lewis (1985) que a sexualidade, para muitas/os idosas/os, oportuniza a vivência de sentimentos, valorizando o afeto, a lealdade, a estima, o amor, possibilitando, assim, crescimentos e mudanças.
Quando questionadas sobre a importância da sexualidade em suas vidas, constatamos que nove delas afirmaram que a sexualidade não ocupa lugar importante; cinco responderam apenas que sim, que tem importância (sem justificar), e uma não respondeu. Confidenciam que o lugar secundarizado que a vida sexual ocupa nos seus cotidianos encontra respaldo nas experiências que tiveram com um único parceiro, nas quais as práticas sexuais eram pouco ou não prazerosas. Sobretudo, destacaram que, na maioria das vezes, elas não desejavam o ato sexual, mas consentiam em razão da representação das suas funções de esposa.
Nessa direção, oito das colaboradoras entrevistadas destacaram que a prioridade de suas vidas são os filhos/as; uma respondeu que o neto é sua prioridade; quatro responderam que o mais importante em sua vida é a liberdade; uma respondeu que as amizades são mais importantes e apenas uma delas não se manifestou a respeito da questão. Nota-se que a maioria vive em função da família, e ainda ressaltaram que os filhos interferem em seus relacionamentos, muitas vezes até impedindo-as de se relacionarem seriamente com alguém, como vemos no depoimento de uma das participantes: “os filhos não querem dividir a atenção com outra pessoa”.
Observando as falas das participantes, percebeu-se que a família ocupa o lugar central em suas vidas. Essa dedicação ultrapassa o desejo de vivenciar algum relacionamento com outra pessoa e, embora muitas vezes chegassem a desejá-lo, acabam cedendo quando percebem que os filhos/as não aceitariam o seu envolvimento com outra pessoa e/ou sua inserção no contexto familiar. Nesse sentido, a dedicação fica exclusivamente para a família; em outros casos, não se relacionar ocorre pela simples opção de não se envolver em outro casamento ou relação, preferindo a liberdade. Cada uma age de acordo com suas vontades, com seu posicionamento, e, também, com a realidade familiar.
Entre as idosas que afirmaram que a vivência da sexualidade é importante em suas vidas, a mais velha do grupo, com 79 anos, relatou que tem sonhos eróticos e se masturba, e não pretende ter um companheiro, pois se satisfaz dessa forma. Sua posição contrasta com as representações padronizadas que a sociedade elabora e institui acerca da prática sexual na velhice, em especial a da masturbação. No estudo de Risman (2011) sobre sexualidade e estímulos na terceira idade, ressalta-se que para as pesquisadas a masturbação é entendida como algo normal e como uma forma de sentir prazer, sendo que o praticam por falta de parceiro e por gostarem de masturbar-se, mostrando que o desejo e a atividade sexuais continuam presentes.
Sobre a questão de se sentirem alvos de preconceito em relação à vivência da sexualidade, obtivemos apenas uma resposta afirmativa; duas disseram que não percebem representações de preconceito e doze delas não responderam. Mas percebemos que em conversas paralelas algumas idosas relataram que existem preconceitos por parte dos jovens, mas que isso não interfere em sua vida. Entendemos que a falta de resposta da maioria das colaboradoras deve-se ao pouco entendimento sobre o termo preconceito, ou não tiveram razões para especificar.
Quando abordamos, no grupo focal, a questão de relacionamentos afetivos e amorosos, sete delas disseram que gostariam de encontrar um companheiro, três responderam que gostam de ficar sozinhas e cinco delas não se manifestaram. Vejamos algumas dessas falas: “é muito difícil encontrar uma pessoa boa” (Participante 10); “medo de pegar uma doença” (Participante 8); “arrumar sarna pra se coçar” (Participante 2). Mesmo com essas falas, relataram que gostariam de encontrar um companheiro para dividir os momentos da vida, para conversar, passear, dançar e namorar.
Quando questionadas sobre a participação nos grupos de terceira idade e as mudanças em suas representações sobre a sexualidade, todas as componentes do grupo focal responderam que de alguma forma foram influenciadas positivamente, visto que melhoraram suas relações com as pessoas, se sentem mais dispostas, vivas e desinibidas. Mencionaram, ainda, que não têm receio de mostrar o corpo nem acompanhar as marcas do envelhecimento inscritas em seus próprios corpos. Viana e Madruga (2008) afirmam que a saúde sexual também sofre influências pela atividade física, principalmente no que tange à população de idosas/os em seus aspectos físicos e psicológicos, proporcionando numerosos benefícios.
Iwanowicz (apud Viana e Madruga, 2008) fala sobre o papel da Educação Física no que se refere ao corpo, ressaltando que o "cuidar do corpo em termos da nossa cultura significa tratar da nossa saúde e do nosso prazer". Acreditamos ser importante sentir, conhecer e ter consciência corporal, pois é no corpo que percebemos as mudanças que a velhice acarreta e é nele que vivemos os sentimentos, emoções e prazeres.
Algumas considerações sobre o estudo
Percebemos que houve no grupo em questão uma diversidade de posicionamentos e manifestações na discussão sobre o assunto sexualidade, e que as colaboradoras possuem diferentes representações sobre o tema. Através dos debates, percebemos que a sexualidade significa, para a maioria delas, um conjunto de sentimentos e atitudes. Todavia, os/as filhos/as são prioridades em suas vidas, mas sabem que nem sempre elas são prioridades na vida deles/as. Por isso, muitas gostariam de encontrar um companheiro, compartilhando carinho, prazer e amor.
A frequência delas nos grupos de terceira idade é de extrema importância porque o convívio social proporciona trocas de experiências, de novos conhecimentos e manutenção e ampliação de suas amizades. Nessa perspectiva, pontua-se como necessidade premente que profissionais que atuam junto aos grupos de terceira idade voltem, em seu processo de trabalho, sua atenção à discussão das necessidades afetivas no processo de envelhecimento.
Faz-se necessário compreender a sexualidade na velhice como algo natural, já que existem discriminações, seja por parte da família, seja da sociedade. Parece oportuno destacar que as/os idosas/os que conseguem lidar e conviver com as modificações físicas mantêm uma vida sexual ativa, permitindo-se novas vivências amorosas, nas quais valorizam mais o companheirismo, o afeto e o cuidado do que a relação sexual propriamente dita.
Ao finalizar, destaca-se ainda que o método empregado para o presente estudo se mostrou apropriado. No grupo, a experiência de uma participante, ao ser explicitado, abria caminho para as manifestações das demais. De igual forma, vale salientar a amistosidade no encontro com as colaboradoras desse estudo, destacando que se sentiram muito à vontade e usaram de muita franqueza para fazer suas colocações. As mulheres adultas e idosas que frequentam os grupos de terceira idade buscam, além da atividade física, relacionar-se, conversar, compartilhar, identificar-se com um grupo, fazer amizades, sentirem-se vivas e ativas, sendo capazes de fazer pulsar os seus sentimentos e emoções.
Notas
Entendida como um sistema lingüístico e cultural, a representação é arbitrária, indeterminada e vinculada às relações de poder, dado que sua produção envolve “o poder de nomear, de descrever, de classificar, de identificar, de diferenciar – o poder de definir, enfim, quem está incluído e quem está excluído de quais grupos/posições sociais” (Meyer, 2000, p.58).
Projetos desenvolvidos no Núcleo Integrado de Estudos e Apoio à Terceira Idade (NIEATI) do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) desde a década de 1980, sendo reconhecido no Brasil o pioneirismo dessas ações.
Ao desenvolver o trabalho junto às mulheres e idosas, percebemos nelas um desconforto quando utilizada a palavra “velha”. Muitas delas associam a palavra a “coisas” que não têm mais utilidade, estragadas, inúteis. Na maioria das vezes, utilizam e gostam do termo “terceira idade”, pois associam à velhice ativa e saudável. Utilizaremos a palavra “idosa” em respeito às representações que o termo evoca nas participantes desta pesquisa.
O artigo escolhido para discussão tem como autora Hildebrandt et al. (2008), intitulado Idosos e sua percepção acerca da sexualidade na velhice. Esse artigo trata de aspectos que envolvem a velhice, como a sexualidade e os espaços de socialização, e tem como objetivo analisar a percepção sobre a sexualidade na velhice de idosos que freqüentam grupos de terceira idade. Esse estudo mostra que a participação de idosos em atividades de grupos favorece o encontro e a formação de novos casais, levando o idoso a desfrutar novas emoções, aflorando sua sexualidade.
Referências
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