Rapel para adolescentes: uma proposta de intervenção Rapel para adolescentes: una propuesta de intervención |
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*Graduado em Ciências da Atividade Física pela USP Pós Graduado em Psicologia Política pela USP Mestrando em Participação Política pela USP **Graduanda em Fisioterapia pela UMC ***Professor Doutor em Ciências da Atividade Física pela USP (Brasil) |
Eduardo Mosna Xavier* Nicole Franco Bellido** Marco Antonio Bettine de Almeida*** |
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Resumo Este trabalho tem como objetivo analisar a prática de rapel por jovens a adolescentes. Ademais, tem como propósito avaliar as diferenças na percepção e na prática da atividade de rapel em meninos e meninas na adolescência, com foco no desenvolvimento de capacidade motora e de satisfação pessoal na prática da atividade. Unitermos: Atividades física de aventura. Rapel. Adolescentes.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Os Esportes de Aventura evoluíram sobremaneira nos últimos 30 anos de nossa História, sendo considerados como “modernos”. Segundo GUTTMANN (1978), os Esportes modernos possuem como características “o secularismo, a igualdade de oportunidades na competição e em suas condições, a especialização de regras, a racionalização possibilitando sua internacionalização, a organização burocrática, o impulso para a quantificação e a busca de recordes”. Esta visão recente sobre a abordagem interpretativa do Esporte segue a chamada Escola de Frankfurt que, segundo INGHAM (1979) seria “um modelo de tipo ideal do esporte organizado, pensado em dois momentos históricos distintos, um denominado pré-moderno e o outro moderno”.
Os jovens e adolescentes normalmente denominam os Esportes de Aventura como Esportes Radicais. Segundo UVINHA (2001), “a palavra radical geralmente sugere dois entendimentos: extremismo, quando aplicada ao campo da política; raiz, quando se busca a origem de algo, freqüentemente utilizado, por exemplo, no campo da filosofia”.
Entretanto, no tocante á prática de esportes, o termo “radical” está voltado á uma atividade que gere uma excitação diferenciada, devido aos riscos controlados em que a pessoa “física e mentalmente jovem” está sujeita á aceitar na prática de tal atividade. Ainda segundo UVINHA (2001), os esportes radicais “têm em comum o gosto pelo risco e pela aventura, muitos com a proposta de se engajar também em causas de preservação ecológica”.
Esta procura por sentimentos catárticos de êxtase e excitação, características da adolescência e contagiadas para todas as faixas etárias são um fenômeno recente em nossa História. Segundo TAHARA & SCWARTZ (2006), “A busca pela aventura, pelo desconhecido, longe dos padrões urbanos, tem se mostrado mais freqüente ultimamente, quando se percebe o aumento de vivências naturais, presente nas atividades físicas de aventura em contato direto com o meio ambiente natural, no sentido de buscar condições favoráveis à possibilidade de imprimir mais qualidade à vida”.
2. Os Esportes de Aventura e a adolescência
Os Esportes de Aventura se caracterizam pela formação de grupos, que compartilha a mesma identidade tanto moral quanto física. Estes agrupamentos são costumeiramente denominados de “Tribos”. A adolescência e a juventude, pela características anteriormente citadas, potencializam a forma de c9omportamentos que identificam os seres humanos nesta idade com o apelo de pertencimento à uma determinada Tribo.
Segundo MAGNANI (1992), “quando se fala em “tribos” é preciso não esquecer que na realidade está se usando uma metáfora, não uma categoria: a diferença é que enquanto aquela é formada de outro domínio, e empregada em sua totalidade, “categoria” é construída para recortar, descrever e explicar algum fenômeno a partir de um esquema conceitual previamente escolhido; pode até vir emprestada de outra área, mas neste caso deverá passar por um processo de reconstrução”.
Estas “Tribos” de praticantes de Esportes de Aventura se comportam e se vestem de forma características e peculiares. Este exemplo fica bem evidenciado na chamada “Tribo do Skate”, onde jovens do sexo masculino e feminino apresentam o mesmo estilo de vestimentas (bermudas folgadas, tênis típicos, camisões e bonés), além de utilizar ao mesmo linguajar específicos para se comunicar, com a utilização excessiva de gírias.
Apesar dos Esportes de Aventura serem costumeiramente renegados á um segundo plano midiático, sobretudo por não fazerem partes das chamadas “Modalidades Olímpicas”, é inegável que a disseminação das “Tribos” e o capacidade de se fazer renda através de sua divulgação, gera uma atenção midiática significativa.
Os adolescentes pertencentes a este grupo geram um atraente e lucrativo mercado comercial, em decorrência do grande número de adeptos à elas. Lojas com artigos especializados, revistas específicas e a proliferação de sites para adeptos são exemplos do poderio econômico que pode ser gerado com a comercialização de produtos específicos.
3. Rapel para Adolescentes
3.1. Apresentação da intervenção
Foram realizadas 15 (quinze) descidas de rapel com adolescentes de ambos os sexos, havendo apenas uma desistência (no caso, foi uma menina). No total, 16 (dezesseis) adolescentes responderam as 04 (quatro) perguntas, logo após a realização da atividade prática.
Os questionários eram aplicados imediatamente após o adolescente ter realizado a descida de Rapel, tão logo da retirada dos equipamentos de trabalhos em altura, de forma que as respostas obtidas materializassem, ao máximo, as sensações e impressões dos adolescentes sobre a realização da retro citada atividade.
As respostas do questionário estão apresentas nas 06 (seis) tabelas abaixo:
3.2. Análise dos resultados
A primeira pergunta teve como objetivo verificar o nível subjetivo de ansiedade antes de realizar a realizar do exercício de Rapel, ou seja, verificar se os adolescentes carregavam alguma expectativa positiva ou negativa em realizar um Esporte que não estavam acostumados á fazer. As respostas apresentadas forma contrastantes: enquanto a maioria dos meninos declarou não ter medo em realizar a descida, as respostas das meninas foram menos definidoras, com apenas 02 meninas não declararem vivenciar uma sensação de amedrontamento. Tal resposta poderá conduzir à duas percepções distintas: ou os meninos tiveram uma maior coragem ou, ao menos, intencionaram de demonstrar tal virtude antes de realizar a atividade. A segunda assertiva nos parece mais correta, visto que, na análise das filmagens de abordagem à rampa para realizar o rapel, o nível de apreensão erma similar entre meninos e meninas.
Já a segunda pergunta teve como propósito avaliar o nível subjetivo de ansiedade no início da descida de rapel. Desta forma, buscou-se comparar se os resultados da primeira pergunta (realizada antes da vivência com os equipamentos e com a altura) com esta assertiva (onde os adolescentes já estavam devidamente equipados e próximos do início do exercício. Foi constatado que as respostas (quase que em sua totalidade) mantiveram o mesmo padrão da questão 01.
Com base nas respostas acima comparadas, podemos concluir que os meninos continuaram apresentando uma maior confiança na sua manifestação no questionário que, de certa forma, contraria a avaliação das imagens. Novamente, a pressão social pela manifestação da “coragem” vinculada ao sexo masculino continuou alterando o nível de respostas dos adolescentes deste gênero.
A Questão 03 explorou o nível de percepção subjetiva de diversão na realização do Rapel. Desta forma, procurou-se explorar o quanto de ansiedade foi convertida em momentos de descontração pelo fato de realizar uma atividade que, apesar de ocorrer num ambiente inóspito, possui todos os equipamentos suficientes para transmitir uma segurança em sua execução. Pelas respostas, foi evidente que tanto os meninos como as meninas converteram grande parte da tensão acumulada antes da atividade em descontração e diversão, aproveitando ao máximo a atividade realizada, como demonstra o gráfico abaixo:
O objetivo da Questão 04 foi avaliar a Percepção Subjetiva de Satisfação pela realização do Rapel. Neste caso, foi evidente que a grande maioria dos adolescentes gostou bastante de realizar a atividade, sobretudo, pelo fato de ser uma oportunidade singular de se praticar um esporte que necessita de equipamento e instrutores especializados, além de ser altamente oneroso. Apenas um menino não demonstrou tanto apreço para realizar a atividade. Entretanto, como o questionário foi anônimo, não conseguimos obter os motivos por sua falta de apreço pela atividade em relação à opinião dos demais.
Referências
BOURDIEU, P.A. A juventude é apenas uma palavra. In: Questões de sociologia. Rio de Janeiro, Editora Marco Zero, 1983.
BROHM, J.M. Sociologia política del deporte. Cidade do México. Fundo CE Cultura Econômica, 1982
DIAS, C.A.G & MELO, V.A. & JUNIOR, E.D.A. Os Estudos dos esportes na natureza: desafios teóricos e conceituais. Artigo Científico publicado na Revista Portuguesa de Ciência Desportiva, pp. 358 à 367.
DURHAM, E. A dinâmica cultural na sociedade moderna. Rio de Janeiro. Editora Ensaios de opinião 2+2, 1977.
DURKHEIM, Emile. As regras do método sociológico. São Paulo, Abril Cultural, 1973 (Coleção Os Pensadores).
GUTTMANN, Allen. From ritual to Record – the nature of modern sports. In PRONI, Marcelo & LUCCENA, Ricardo. Esporte: História e Sociedade. Campinas. Editora Autores Associados, 2006.
INGHAM, A.G. Methodology in the sociology of sports: from symptoms of malaise to Weber for a cure. In PRONI, Marcelo & LUCCENA, Ricardo. Esporte: História e Sociedade. Campinas. Editora Autores Associados, 2006.
LUCENA. Ricardo de Figueiredo. O Esporte na Cidade. Campinas. Editora Autores Associados, 2001.
MAGNANI, J.G. Festa no pedaço. São Paulo. Editora Brasiliense, 1984.
MARCELLINO, Nelson. Estudos do lazer: uma introdução. Campinas. Editora Autores Associados, 1998.
MARTENS, R. Competitions: in need of theory. In TANI, GO et al. Competição no Esporte e Educação Física Escolar. Texto científico produzido no livro Saúde Escolar – A criança, a vida e a escola, 1997.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução á Sociologia. São Paulo, Editora Ática, 18ª Edição, 1997.
PRONI, Marcelo & LUCCENA, Ricardo. Esporte: História e Sociedade. Campinas. Editora Autores Associados, 2006.
TAHARA, Alexander Klein & SCHAWRTZ, Gisele Klein. Atividades de Aventura na Natureza: investindo na Qualidade de Vida. Artigo Científico publicado no site: www.efdeporte.com.)
UVINHA, Ricardo Ricci. Juventude, Lazer e Esportes Radicais. Barueri/SP, Editora Manole, 1ª Edição, 2001.
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