Comparação do perfil funcional
de tornozelo e pé de atletas praticantes de taekwondo com e sem histórico de
entorse Comparación del perfil funcional
de tobillo y pie de luchadores de taekwondo con y sin |
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*Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) **Professor do Curso de Fisioterapia da UNIOESTE, Mestrado em Ciênciasdo Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul ***Professor do Curso de Fisioterapia e do Mestrado em Biociências e Saúde da UNIOESTE Doutorado Ciências da Saúde Aplicadas ao Aparelho Locomotor pela Faculdade de Medicinade Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo (Brasil) |
Daniela Siviero* Jhenifer Karvat* Juliana Sobral Antunes* Samia Khalil Biazim* Alberito Rodrigo De Carvalho** Gladson Ricardo Flor Bertolini*** |
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Resumo O objetivo deste estudo foi comparar o perfil funcional de tornozelo e pé, pela escala de FAAM, em atletas praticantes de taekwondo com e sem histórico de entorse de tornozelo. O grupo amostral foi composto por 93 atletas, entre 12 a 46 anos, os quais participaram de uma competição na cidade de Cascavel – PR, nos dias 16 e 17 de junho de 2012. Para a avaliação da função foi utilizada a escala de Medida funcional de pé e tornozelo (FAAM - Foot and ankle ability measure), sendo um instrumento que avalia o desempenho físico de indivíduos com diversas desordens que acometem os membros inferiores como um todo. Esse instrumento é dividido em dois domínios, sendo uma subescala de atividades de vida diária (AVD’s), composta por 21 itens, e outra de esporte, composta por 8 itens. Cada item é pontuado em uma escala de 0 (incapaz de fazer) a 4 (sem qualquer dificuldade). Logo, a pontuação máxima na subescala de AVD’s é 84 pontos e na de esporte 32. Os valores são transformados em porcentagem, em que 100% indica o nível mais alto de funcionalidade. Em relação aos resultados verificou-se diferença significativa nos atletas que tiveram entorse comparando com os atletas que não tiveram, em relação às sub-escalas de AVD’s e esporte. Desta maneira conclui-se que os atletas com entorse de tornozelo tiveram maior comprometimento das atividades de vida diária e atividades esportivas com relação aos que não tiveram entorse. Unitermos: Traumatismos em atletas. Traumatismos do pé. Traumatismos do tornozelo.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O taekwondo é uma modalidade esportiva considerada global e simétrica, tendo em vista a utilização de membros superiores, inferiores e do tronco, em movimentos de ataque e defesa, sempre associados a gestos de chute altamente dinâmicos e em situações de instabilidade (LYSTAD; POLLARD; GRAHAM, 2009). Por ser o taekwondo um esporte cada vez mais competitivo, as valências físicas como, força, velocidade, equilíbrio, resistência e coordenação são atributos importantes para o atleta desta modalidade (MELHIM, 2001).
Fundamentos específicos do taekwondo exigem uma grande mobilidade articular de membros inferiores em situações de luta e treinamento, nas quais o atleta movimenta-se em diferentes direções ao mesmo tempo em que chuta, sobrecarregando as articulações envolvidas, principalmente aquelas dos membros inferiores (CAVALHEIRO; TOIGO, 2009).
Em razão das características do gesto específico desse esporte, os atletas de taekwondo são especialmente expostos a riscos frequentes de lesões (ESTEVES; REIS; SANTOS, 2006). O mecanismo mais comum de lesão relatado no taekwondo é pelo movimento de receber (defesa) ou dar um chute (ataque) (KAZEMI et al., 2009; LYSTAD; POLLARD; GRAHAM, 2009). O aumento da resistência no pé aumenta a carga sobre as articulações dos membros inferiores, podendo resultar em entorses (CAVALHEIRO; TOIGO, 2009).
Visto que o tornozelo e o pé são muito comprometidos nesta modalidade esportiva, um modo de avaliar sua função é por meio da escala de Medida funcional de pé e tornozelo (FAAM - Foot and ankle ability measure). Este é um instrumento que avalia o desempenho físico de indivíduos com diversas desordens que acometem os membros inferiores como um todo, sendo dividido em uma subescala de atividades de vida diária (AVD’s), composta por 21 itens, e outra de esporte, composta por 8 itens (MOREIRA; SABINO; RESENDE, 2010).
Contudo, devido à carência na literatura com relação à avaliação funcional do tornozelo e pé em atletas de taekwondo e por ser esta uma das regiões mais acometidas durante uma competição, objetivou-se neste estudo comparar o perfil funcional de tornozelo e pé de atletas competidores de taekwondo com e sem histórico de entorse de tornozelo, pela escala de FAAM.
Materiais e métodos
Caracterização da amostra
O grupo amostral foi composto por 94 atletas de taekwondo, sendo que 44 destes atletas apresentaram histórico de entorse de tornozelo e 50 não apresentaram. Os atletas que tiveram entorse possuíam média de idade de 15 ± 4,2 anos, sendo no total 13 indivíduos do sexo feminino (29,55%), e 31 do sexo masculino (70,45%). Além disso, 25% dos indivíduos tinham faixa de cor preta e 75% possuíam faixas coloridas.
Já os atletas que não tiveram entorse possuíam média de idade de 16 ± 6,7 anos, eram no total 13 indivíduos do sexo feminino (25,49%), e 38 do sexo masculino (74,51%), sendo que 13,73% dos indivíduos apresentaram faixa de cor preta e 86,27% apresentaram faixas coloridas.
A competição foi realizada nos dias 16 e 17 de junho de 2012, no Ginásio Sérgio Mauro Festugatto, na cidade de Cascavel-PR.
Momentos de avaliação
No primeiro contato, foi explicado a cada voluntário sobre as intenções e procedimentos da pesquisa, bem como foi questionado sobre o interesse deste em participar da mesma, sendo aceito o convite foi iniciada a avaliação.
Avaliação da função do tornozelo e pé
A avaliação dos atletas ocorreu por meio de um questionário aplicado antes ou após o horário de suas lutas. Desta maneira para a avaliação da função do tornozelo e pé foi utilizada a escala de FAAM, sendo um instrumento que avalia o desempenho físico de indivíduos com diversas desordens que acometem os membros inferiores como um todo. Sendo assim, esse instrumento é dividido em dois domínios, sendo uma sub-escala de atividades de vida diária (AVD’s), composta por 21 itens, e outra de esporte, composta por 8 itens. Cada item é pontuado em uma escala de 0 (incapaz de fazer) a 4 (sem qualquer dificuldade). Logo, a pontuação máxima na sub-escala de AVD são 84 pontos e na de esporte 32. Os valores são transformados em porcentagem, em que 100% indica o nível mais alto de funcionalidade de tornozelo e pé (MOREIRA; SABINO; RESENDE, 2010).
Para completar a pontuação da escala de FAAM, os participantes responderam uma avaliação global no final de cada sub-escala. Nessa avaliação global, os atletas avaliaram o nível de função com respeito as AVD’s e atividades desportivas, em um nível de 0% a 100%, sendo que, 0% indica uma incapacidade para executar as AVD’s ou tarefas esportivas, enquanto que 100% reflete o nível da função antes da lesão, correspondendo às perguntas 1 e 2 (CARCIA; MARTIN; DROUIN, 2008).
Cada atleta foi abordado por um avaliador. O avaliador explicou para o atleta sobre a pesquisa e como ele deveria proceder para responder o questionário. Qualquer duvida que o atleta tivesse com relação a interpretação das questões, era respondida no momento da entrevista. Além disso, os atletas também eram questionados quanto a terem sofrido um entorse de tornozelo ou não.
Análise estatística
A normalidade dos dados foi avaliada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Como não houve normalidade dos dados, então a analise estatística foi realizada pelo teste de Mann-Whitney, sendo aceito o nível de significância de α=5%.
Resultados
Tabela 1. Resultados da avaliação das sub-escalas de AVD’s e de esporte, e das perguntas
1 e 2 da escala FAAM, com valores expressos em mediana em função da distribuição anormal da amostra
Comparando os resultados do grupo com entorse em relação ao grupo sem entorse verifica-se que houve diferença significativa tanto na sub-escala das AVD’s como na sub-escala de esporte, isso significa que o grupo com entorse apresenta mais prejuízos nas AVD’s e atividades esportivas. Já em relação às perguntas 1 e 2 não teve diferença significativa.
Discussão
Neste estudo verificou-se que 44 atletas tiveram entorse, sendo que 25% possuíam faixas pretas e 75% faixas coloridas, e dos 50 atletas que não tiveram entorse, 13,73% possuíam faixas pretas e 86,27% faixas coloridas. Em relação aos atletas com entorse de tornozelo, estes apresentaram certa dificuldade nas AVD’s e esportivas comparando-se aos atletas praticantes de taekwondo que não sofreram entorse.
Corroborando os resultados deste estudo com Kazemi et al. (2009) verifica-se que segundo esse autor as lesões mais graves no taekwondo ocorrem em maior porcentagem nos atletas de faixas coloridas em relação aos atletas que possuem faixas pretas. O que pode-se vislumbrar nesse trabalho, pois 75% dos atletas que sofreram entorse eram de faixas coloridas e apenas 25% eram de faixa preta.
Já a redução das atividades esportivas e de vida diária ocorridas em atletas que sofreram entorse de tornozelo pode ser recorrente de uma fadiga, impacto muscular durante a defensiva, sobrecargas mecânicas decorrente da luta, treinamento intenso e desconforto nos membros inferiores (BRIDGE; JONES; DRUST, 2009; LYSTAD; POLLARD; GRAHAM 2009).
Deve-se considerar que as entorses de tornozelo foram as lesões prevalentes no estudo atual, e são as lesões esportivas mais frequentes, e ainda podem levar à dor crônica, edema e instabilidade funcional devendo, portanto, ser prevenidas principalmente por exercícios de propriocepção. É importante alertar sobre a necessidade do tratamento adequado dos atletas lesionados, respeitando o período necessário para cicatrização e recuperação tecidual, evitando o surgimento de lesões crônicas as quais podem gerar limitações futuras tanto esportivas quanto na realização das AVD’s (TAMBORINDEGUY et al., 2011).
Contudo, existem poucos estudos na literatura relatando a influência das entorses de tornozelo nas AVD’s e esportivas. Desta maneira, sugerem-se mais estudos para melhor entendimento da relação das entorses com o meio esportivo e com as AVD’s.
Conclusão
Conclui-se que os atletas com entorse de tornozelo tiveram maior comprometimento das atividades de vida diária e atividades esportivas com relação aos que não tiveram entorse.
Referências
BRIDGE, C. A.; JONES, M. A.; DRUST, B. Physiological Responses and Perceived Exertion During International Taekwondo Competition. International Journal of Sports Physiology and Performance, Illinois, v. 4, n. 4, p. 485-493, dez. 2009.
CAVALHEIRO, J. E. N. S.; TOIGO, A. M. Influência do tipo de piso em lesões nos membros inferiores de praticantes de taekwondo chute bandal tchagui. Lecturas: Educación Física y Deportes. Buenos Aires, v. 14, n. 139, 2009. http://www.efdeportes.com/efd139/lesoes-de-praticantes-de-tae-kwon-do.htm.
CARCIA, C. R.; MARTIN, R. L.; DROUIN, J. M. Validity of the Foot and Ankle Ability Measure in athletes with chronic ankle instability. Journal of Athletic Training, Dallas, v. 43, n. 2, p.179-183, mar./abr. 2008.
ESTEVES, A. C.; REIS, D. C.; SANTOS, S. G. Impact and time of impact in bandal tchagui kick of the taekwondo. The FIEP Bulletin, Foz do Iguaçu, v. 76, p. 448-450, 2006.
KAZEMI, M.; CHUDOLINSK, A.; TURGEON, M.; SIMON, A.; HO, E.; COOMBE, L. Nine year longitudinal retrospective study of Taekwondo injuries. Journal of the Canadian Chiropractic Association, Toronto, v. 53, n. 4, p. 272-281, dez. 2009.
LYSTAD, R. P.; POLLARD, H.; GRAHAM, P. L. Epidemiology of injuries in competition taekwondo: A meta-analysis of observational studies. Journal of Science and Medicine in Sport, Belconnen, v. 12, n. 6, p. 614-621, nov. 2009.
MELHIM, A. F. Aerobic and anaerobic power responses to the practice of taekwondo. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, São Paulo, v. 35, p. 231-234, ago. 2001.
MOREIRA, T. S.; SABINO, G. S.; RESENDE, M. A. Instrumentos clínicos de avaliação funcional do tornozelo: revisão sistemática. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v. 17, n. 1, p. 88-93, jan./mar. 2010.
TAMBORINDEGUY, A. C.; TIRLONI, A. S.; REIS, D. C.; FREITAS, C. R.; MORO, A. R. P. Incidência de lesões e desvios posturais em atletas de taekwondo. Revista Brasileira de Ciência do Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 4, p. 975-990, out./dez. 2011.
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