Atitude e percepções de atletas de alta performance sobre o treinamento intervalado La actitud y las percepciones de los atletas de alto rendimiento sobre el entrenamiento intervalado |
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*Pós graduanda do Curso de Especialização em Ciência do Treinamento Esportivo UCB/META, RJ **Prof. Doutor do Departamento de Educação Física da UFRRJ Lider do Grupo de Pesquisa em Pedagogia de Educação Física e Esporte ***Mestre em Educação e Professora das Redes Estadual e Municipal do Rio de Janeiro (Brasil) |
Florentina Vicente dos Santos Silva* José Henrique** Janaína da Silva Ferreira*** |
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Resumo A especificidade das provas de atletismo induz ao incremento de métodos de treinamento que contribuam para aperfeiçoar a performance atletica. A aplicação pedagógica dos métodos de treinamento deve observar o estágio de maturação do atleta. O treinamento intervalado desenvolve os principais fatores da preparação física. O objetivo do estudo foi analisar a atitude e percepções de atletas sobre o treinamento intervalado. A pesquisa é descritiva e a amostra foi composta por 30 atletas de alta performance em provas de endurance no atletismo. O instrumento foi um questionário fechado com respostas em escala de quatro pontos. A análise de dados foi deita por meio da estatística descritiva. A maioria absoluta dos atletas apresentou atitude positiva em relação ao treinamento intervalado, considerando a satisfação com o método, as percepções sobre a aprendizagem do método e de habilidades, bem como a percepção de eficácia para a performance atlética. Unitermos: Treinamento intervalado. Atletismo. Performance. Pedagogia do treino.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O atletismo se destaca pela diversidade de provas, caracterizada cada qual, pela presença de gestos biomecânicos e condições específicas de treinamento. A especificidade das provas induz ao incremento de métodos de treinamento que contribuem significativamente para aperfeiçoar a performance do atleta, e sua evolução está interligada à capacidade de utilização dos sistemas energéticos e à resistência de tolerar as altas cargas de trabalho (DANTAS, 2000).
Segundo Prudêncio (2006, p1)
As formas específicas de trabalho, com cargas contínuas ou intervaladas, devem ser dosadas e posteriormente programadas dentro do nível e intensidade compatíveis com as condições físicas e a etapa do treinamento em que se encontram os atletas.
Este fundamento vai ao encontro de assertivas formuladas por Verkhoshanski (1999), o qual afirma que no processo de preparação existem três sistemas que devem ser levados em consideração: o estado do atleta (condicionamento físico), o efeito do treinamento e a carga do treinamento. Relativamente ao ultimo aspecto considera-se fundamental o conhecimento do perfil característico da modalidade em que o atleta busca especializar-se, para que, além do desenvolvimento, se aprimore também os componentes da aptidão física importantes para modalidade.
Os métodos de treinamento devem ser diversificados, observando-se a aplicação pedagógica de cada um deles conforme o estágio de maturação do atleta no que se refere ao desenvolvimento dos órgãos e dos sistemas, os quais permitem ao indivíduo determinar o potencial fisiológico de acordo com os objetivos da periodização dos ciclos de trabalho (BOMPA, 2002, p. 14).
A prática de qualquer modalidade esportiva competitiva sempre estimulou a variabilidade de métodos de treinamento físico que desenvolvem e ampliem as capacidades físicas dos atletas. Dentre os métodos de treinamento aeróbio utilizado por corredores de provas de longa duração, para a melhoria a performance esportiva destaca-se o método intervalado que, conforme definição de Volkov (2002) e Pollock (1993), consiste na aplicação repetida de estimulo aos exercícios e períodos de descanso de modo alternado. Desde o aprimoramento das técnicas para aferição de VO2máx, freqüência cardíaca e tempo de exaustão (TLim), o treinamento intervalado, por sua facilidade em manipular as variáveis de investigação, tem sido objeto de estudos por diversos pesquisadores, não só para o desenvolver a performance física em corridas de velocidade, como também as de endurance. No estudo de Ortiz, Denadai, Stella e Mello (2003) por exemplo, verificou-se que a inclusão de duas sessões de treinamento intervalado por semana pode melhorar significativamente a economia de corrida (EC) dos atletas de endurance em um curto espaço de tempo, ao contrário do treinamento somente contínuo.
Kenney, Wilmore e Costil (2001) descrevem também que o treinamento intervalado desenvolve os principais fatores da preparação física: aumento da capacidade do sistema respiratório, aumento do volume sistólico e do sistema circulatório, hipertrofia dos grandes grupamentos musculares e aumento da força e suas relações com tendões e ligamentos.,
Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi analisar a atitude dos atletas expressa por meio de seu nível de satisfação com o treinamento intervalado; as suas percepções sobre a aprendizagem do método e de habilidades referentes às suas provas, bem como a percepção do impacto deste método para a performance atlética.
Metodologia
Modelo do estudo
Para o alcance dos objetivos propostos a pesquisa se caracteriza como descritiva, a qual de acordo com Lakatos; Marconi (2008) tem o objetivo primordial de descrever características relativas a uma determinada população.
Amostra
A pesquisa foi desenvolvida com um grupo de 30 atletas de alta performance em provas de endurance, filiados à Federação Brasileira de Atletismo, composto por 22 homens e oito mulheres com índices de participação em Campeonatos Brasileiros em suas categorias e experiência competitiva na modalidade. Os atletas aceitaram participar voluntariamente da pesquisa, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Procedimento
A coleta de dados foi realizada durante o congresso técnico de uma competição Pan-Americana promovida pela Federação de Atletismo do Rio de Janeiro (FARJ). Por se tratar de momento crítico para os atletas, a abordagem para coleta de informações foi feita em momentos distintos da apresentação, durante sua presença na sala de espera, recepção e auditório.
Instrumento
Para obtenção dos dados foi aplicado um questionário fechado com opções de resposta na forma de escala de avaliação de 4 pontos (Ruim, Indiferente, Satisfatório e Bom), em que os sujeitos assinalaram, conforme suas atitudes e percepções relativamente a experiência com o treinamento intervalado. Foi analisada a atitude em relação ao treinamento intervalado; as suas percepções sobre as aprendizagens do método e de habilidades com a prática do método intervalado, e o seu impacto para a performance atlética.
Tratamento estatístico
Os dados coletados foram catalogados em um banco de dados e aplicada a estatística descritiva, sendo utilizada a freqüência absoluta e relativa para a interpretação dos resultados. O tratamento estatístico foi realizado no programa estatístico SPSS® e os resultados foram expressos em forma de tabela e gráficos visando a interpretação dos resultados.
Resultados
A Tabela 1 sintetiza os resultados das respostas dos atletas às questões que lhes foram colocadas.
Tabela 1. Nível de satisfação e percepções dos atletas associados ao treinamento Intervalado
Verificou-se, de forma geral, que uma parcela considerável dos atletas demonstrou satisfação com o treinamento intervalado e considerou bom ou satisfatório o aprendizado do método, porém sua percepção do impacto do Treinamento Intervalado (TI) sobre o desempenho foi classificado como apenas satisfatório pela maioria absoluta dos atletas.
Na Figura 1 observa-se que a maioria absoluta dos atletas (60%) demonstrou o mais alto nível de satisfação com o treinamento intervalado. Os 40% restantes dos atletas consideraram em nível “satisfatório” (23,3%) ou foram “indiferente” (16,7%) em suas atitudes em relação ao treinamento intervalado.
Figura 1. Nível de satisfação com o treinamento intervalado
A Figura 2 permite verificar que exatamente metade dos atletas investigados declarou possuir bom domínio do método de treinamento intervalado, enquanto (36,7%) consideram o nível de domínio do método satisfatório e (13,3%) foram indiferentes aos aprendizados sobre o método. Este resultado pode refletir o nível de interesse do atleta em dominar os procedimentos do treinamento, bem como o processo educativo associado ao treinamento desenvolvido pelos técnicos com os seus atletas. O conhecimento e domínio do método tanto potencializa os planos de ação do atleta quanto permite-lhe controlar os processos característicos do treinamento e, portanto, vê-se como importante aspecto o conhecimento dos métodos de treino.
Figura 2. Percepção de domínio do método de Treinamento Intervalado
Considerando que todos os atletas investigados são corredores de fundo, esperava-se que o treinamento intervalado lhes proporcionasse melhoria de habilidades técnicas características da corrida. Na figura 3 pode-se observar que essa assertiva foi válida para a maioria absoluta dos atletas (66,7%) ao considerarem que houve ganhos de habilidades em suas provas específicas. No entanto, um terço dos sujeitos (33,3%) considerou a aprendizagem apenas em nível satisfatório.
Figura 3. Percepção de aprendizagem técnica proporcionada pelo treinamento intervalado
Relativamente à percepção dos atletas sobre a eficácia do treinamento intervalado, verificou-se que na sua maioria (53,3%) consideraram satisfatório o efeito do treinamento intervalado para o desempenho atlético.
Figura 4. Percepção sobre os efeitos do treinamento intervalado para o desempenho atlético
Para a outra parte dos atletas, porém, 23,3% consideraram bom para o desempenho, enquanto a mesma proporção de atletas não percebeu de forma tão evidente tais efeitos, considerando-os “indiferente”.
Conclusões
No campo esportivo o objetivo final do treinamento físico é aumentar as capacidades físicas e motoras do organismo a fim de se executar atividades musculares específicas que visem a otimização da performance. Tubino (1979), corrobora que em muitas modalidades, o desempenho do sistema cardiovascular é o determinante da performance, como por exemplo, nas provas de fundo. Além disso, Matsushigue (1996) comenta que o ótimo desenvolvimento desse sistema permite ao atleta suportar uma maior carga de treinamento e ter uma recuperação mais rápida nos exercícios intensos.
No Atletismo, cada modalidade tem suas particularidades e exige diferentes métodos de preparação física, tática e psicológica, além de outros fatores, como modelos de treinamento utilizados na etapa preparatória e competitiva, cujo objetivo é tirar o melhor proveito do pouco tempo dedicado ao período de preparação.
Na amostra dos atletas de provas de endurance que foi avaliada, constatou-se que os 30 atletas aderem ao método do treinamento intervalado em sessões de treinamento. A maioria absoluta dos atletas apresentou atitude positiva em relação ao treinamento intervalado. Mais de 80% dos atletas investigados informaram domínio bom ou satisfatório deste método de treinamento, tornando mais eficaz a sua utilização em face do nível de conhecimento do atleta e, conseqüentemente, possibilidade de ajuste dos estímulos e recuperação.
Outro aspecto merecedor de destaque foi a percepção positiva dos atletas acerca da aquisição de habilidades motoras relacionadas a corrida com as práticas de treinamento intervalado, possivelmente por corresponderem ao estágio de desenvolvimento individual do atleta e, ainda, com os objetivos da periodização dos ciclos de trabalho.
A percepção de impactos positivos gerados pelo treinamento intervalado foi percebido pela maioria dos atletas, corroborando a literatura especifica que atribui ao treinamento intervalado a possibilidade de aumento da capacidade do sistema cardiovascular. Vários autores têm observado adaptações na freqüência cardíaca, no volume sistólico, no débito cardíaco, na função ventricular e na pressão arterial em repouso e no exercício físico. (NEGRAO; FORJAZ; RONDON; BRUM, 1996).
Na corrida de fundo observa-se que os atletas aplicam um estimulo para se distanciar de um adversário e em outro momento utilizam o descanso ativo, para em seguida iniciar um novo estimulo. Portanto, a combinação de estímulo-recuperação característica do método de treino intervalado, com base no princípio da especificidade, pode trazer benefícios para a performance esportiva em provas desta natureza.
É importante constatar que os métodos de treinamento devem ser variados e específicos para cada modalidade, observando-se a aplicação pedagógica de cada um deles. O treinamento de corrida necessita de diversificação em seu planejamento durante os meses de preparação visando evitar a saturação do atleta e, em conseqüência disto, a perda de motivação.
Conclui-se que a metodologia do treinamento intervalado inserido em um programa de treinamento proporciona satisfação desejável em grande parte dos atletas. Isto se torna informativo para técnicos e treinadores que buscam atividades eficazes e ao mesmo tempo motivantes para os atletas. Sugere-se que mais estudos sejam realizados com sujeitos de outras modalidades atléticas na perspectiva de verificar a satisfação, aprendizado e identificar os impactos que o treinamento intervalado proporciona na performance desses atletas.
Referências
BOMPA,T.O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. São Paulo, SP, Phorte editora, 4ª ed. 2002 .
DANTAS, E.H.M. Quantificação fisiológica da carga de trabalho, num programa de preparação para atletas de alto rendimento. In MOREIRA, W. W.; SIMÕES, R..Fenômeno esportivo e o terceiro milênio, Piracicaba: UNIMEP, 2000, p.147-153.
KENNEY, W. L.; WILMORE.J.H.; COSTIL,D.C. Fisiologia do esporte e do exercício. 2.Ed.. São Paulo. Manole, 2001.
LAKATOS, E. M; MARCONI, M. A.. Técnicas de Pesquisa. Rio de Janeiro. Atlas. 3. Ed.. 2008.
MATSUSHIGUE, K. A Relação das capacidades aeróbia e anaeróbia alática com a manutenção do desempenho no “ataque do voleibol”. 1996. 139p,. Dissertação (Mestrado). Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, SP.
NEGRAO, C. E; FORJAZ, C. L. M; RONDON, M. U. P. B; BRUM, P. C. Adaptação cardiovascular ao treinamento físico dinâmico. Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. SOCESP: cardiologia. Rio de Janeiro, Atheneu, 1996. P532-40.
ORTIZ, M.J.; DENADAI, B.S.; STELLA, S.; MELLO, M. T.. Efeitos do treinamento aeróbio de alta intensidade sobre a economia de corrida em atletas de endurance. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v.11, n. 3, p. 53-56, jul./set. de 2003.
POLLOCK, L.M; WILMOORE, J.H. Exercícios na saúde e na doença: avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. 2ª edição. Rio de Janeiro. Medsi, 1993.
PRUDÊNCIO, V; TUMELERO, S. Capacidades físicas e de treinamento para diferentes posições das praticantes da modalidade de voleibol. Revista Digital, Buenos Aires, n° 94, Março 2006. http://www.efdeportes.com/efd94/volei.htm
TUBINO, M. J. G. Metodologia científica do treinamento desportivo. São Paulo; Ibrasa, 1979.
VERKHOSHANSKI, Y. V. Principles for a rational organization of the training process aimed at speed development. Revista Treinamento Desportivo, v. 4, n. 1, p. 3-7, 1999.
VOLKOV, N. I. Teoria e prática do treinamento intervalado no esporte. São Paulo, SP, Ed. Multiesportes. 2002.
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