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Evolução histórica das mulheres nos Jogos Olímpicos

Evolución histórica de las mujeres en los Juegos Olímpicos

 

*Graduado em Educação Física (UNIVAP/SJC)

**Docente do Curso de Educação Física da FEF (UFMT/CBA)

Doutorando em Engenharia Mecânica na UNESP (FEG/Gta)

(Brasil)

Bianca Zacché Ribeiro*

Marcello de Castro Rodrigues Felipe*

Marcelo Rubens da Silva*

Adriano Percival Calderaro Calvo**

pcdez@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A participação das mulheres nos Jogos Olímpicos ao longo do tempo demonstra uma infeliz realidade da história de nossa sociedade: a exclusão desnecessária da mulher da cidadania. Nos Jogos Olímpicos da Era Antiga, as mulheres eram proibidas de participarem devidas suas supostas fragilidades emocionais e físicas; e eram condenadas à morte caso assistissem. Na modernidade, o criador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna não foi a favor da participação das mulheres. Desta forma, não permitiu participação delas para tentar reproduzir os Jogos Olímpicos da mesma forma que na Antiguidade. A função da FEFI, fundada no início da década de 20, era organizar os Jogos Olímpicos Femininos e Jogos Mundiais Femininos. Sua repercussão positiva facilitou a inserção das mulheres nos Jogos Olímpicos com concomitante extinção da FEFI. Após a inserção das mulheres nos Jogos Olímpicos, por volta da década de 30, sua participação demorou a conquistar representatividade expressiva quanto ao número de participantes e ao número de modalidades que competiam. Isso ocorreu apenas a partir da década de 80. No século XXI, percebe-se a abolição de fatores físicos como limitadores da participação das mulheres nos Jogos Olímpicos, mas outros fatores ainda limitam a expressividade da participação feminina. No entanto, é importante perceber que a sociedade contemporânea esboça modificações positivas para que sejam extintas quaisquer tipos de limitações das práticas físicas femininas e sua consequente inserção no mundo Olímpico.

          Unitermos: Jogos Olímpicos. Mulheres. Olimpíadas.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Discutir a inserção das mulheres nas Olimpíadas requer um breve estudo do contexto histórico desde sua restrição. Desta forma, a liberdade que hoje a mulher possui vem de longa data e através de muitas lutas que elas mesmas travaram (RUBIO; SIMÕES, 1999).

    As mulheres foram afastadas da participação ativa na sociedade, incluindo sua participação como atletas olímpicas. A elas eram entregues os papéis de mães e donas de casa e suas vidas pacatas restringiam-se a isso (OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, 2008).

    Porém, com a revolução industrial e as grandes guerras mundiais, ocorridas entre segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, as mulheres acabaram ocupando os espaços que os homens deixaram nas indústrias, que estavam em função militar durante as guerras. Consequentemente, as mulheres começaram a participar da vida moderna, com novos empregos e status (MIRAGAYA, 2002).

    Essa adversidade no mundo denuncia competências e habilidades femininas compatíveis às masculinas. Portanto, o mundo desperta para o senso crítico feminino voltado às igualdades da cidadania entre gêneros como: (i) o direito ao voto, (ii) a independência financeira, (iii) a prática esportiva, e (iv) a participação em Jogos Olímpicos (MIRAGAYA, 2002).

    Considerando o fascinante universo do movimento social feminino, este estudo busca reunir informações históricas, com ênfase nos desdobramentos sociais ocorridos no Século XX, em prol da inserção da mulher nos esportes.

Proibição da presença feminina nos Jogos Olímpicos da Antiguidade

    Embora haja poucos relatos a respeito da presença feminina em atividades esportivas, é necessário considerar que os registros existentes foram produzidos por homens e sobre a perspectiva masculina, num período em que as mulheres eram marginalizadas na sociedade que viviam. Ou seja, de acordo com os homens, as ações femininas eram irrelevantes para a história da humanidade e, portanto, desprezíveis de serem retratadas. Desta forma, os relatos a seguir estão embasados em visões masculinas das mulheres da época, e podem não retratar fatos verídicos (KENNARD; CARTER, 1994 apud RUBIO; SIMÕES, 1999).

Figura 1. O primeiro campeão olímpico - Coroebus

Fonte: Revoada (2012)

    No ano de 776 a.C, foram iniciadas as Panatéias. Este evento tinha cunho religioso, onde os competidores se reuniam de quatro em quatro anos para honrar os deuses com jogos e lutas (OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, 2008).

Figura 2. Primeiros Jogos registrados 776 a.C.

Fonte: Revoada (2012)

    Nesse período, as mulheres eram privadas da vida pública e econômica, conseqüentemente, eram proibidas de assistir e participar dos Jogos Olímpicos, sob a pena de morte conforme regulamento dos jogos. No entanto, a participação passiva das sacerdotisas era permitida. Elas eram reverenciadas como mensageiras dos deuses, traziam boa sorte aos participantes e eram responsáveis pela entrega da coroa de oliveiras para os vencedores (CHIÉS, 2006).

Figura 3. Sacerdotisa

Fonte: Globo Esporte (2012)

    O argumento utilizado para a proibição das mulheres no evento estava relacionado com o acesso ao Stadium, o local das provas era uma região muito montanhosa, que poderia acarretar em danos fisiológicos aos corpos frágeis femininos (RAMOS, 1983 apud OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, 2008).

Figura 4. Stadium Grécia

Fonte: Boris [s. d.]

    Por outro lado, existe a hipótese que a proibição da presença passiva-ativa feminina nas Panatéias tenha perfil político. Para os gregos, apenas os cidadãos tinham direito à vida pública como participar e assistir eventos esportivos. Para ser um cidadão grego era necessário guerrear. Como as mulheres não desempenhavam essa função, sua participação aos jogos era vetada. Restando-lhes o direito de serem mães de cidadãos gregos (RUBIO; SIMÕES, 1999).

Educação Ateniense e Espartana

    Conforme a educação ateniense, as mulheres eram afastadas das práticas físicas, exceto na infância. No período infantil, a meninas participavam de jogos e atividades esportivas. Porém, à medida que atingia a idade adulta, as moças dedicavam-se à vida doméstica enquanto os moços mantinham as atividades físicas e intelectuais (RUBIO; SIMÕES, 1999).

Figura 5. Representação da mulher em Atenas

Fonte: Frias (2010)

    Diferentemente de Atenas, em Esparta era promovida a mesma educação entre homens e mulheres. O objetivo deste modelo educação, embora idêntica entre os gêneros, era preparar as mulheres fisicamente para a vida doméstica e maternal (MONROE, 1972 apud CHIÉS, 2006). No entanto, há opiniões que indicam que este modelo de educação ia além da educação doméstico-materna, atingindo o desenvolvimento de habilidades em corridas, lutas, e arremessos do disco e do dardo para promoção de festivais físicos (RUBIO; SIMÕES, 1999).

    Esse tipo de educação garantiu às espartanas características com: (i) mulheres audazes e realizadoras, (ii) autoritárias com seus maridos e (iii) independentes nas suas tarefas. Essas características eram necessárias, visto que elas permaneciam longos períodos sem a presença do marido em virtude da dedicação exclusiva dele ao exército. Até os maridos completarem 30 anos, os encontros com as esposas eram esporádicos (KENNARD; CARTER, 1994 apud RUBIO; SIMÕES, 1999).

Participação das mulheres nos Jogos Olímpicos e Jogos Heranos

    A primeira mulher que triunfou nos Jogos Olímpicos antigos foi a princesa espartana Kyniska, famosa por seus cavalos. Kyniska foi filha do rei Archidamus II, e meia-irmã do rei Agis II (KYLE, 2003 apud CHIÉS, 2006).

Figura 6. Kyniska

Fonte: Remijsen; Clarysse [s. d.]

    Devido ao seu status político, a princesa conseguiu que seus animais competissem na prova de quadriga, carro puxado por quatro cavalos. Ela não guiou o carro, porém seus cavalos ganharam nas 96ª e 97ª Olimpíadas, ocorridas em 369 e 392 a.C., respectivamente (DURANTEZ, 1975 apud CHIÉS, 2006).

Figura 7. Quadriga

Fonte: Detlef (2009)

    Estudiosos da participação feminina no esporte afirmam que a vitória de Kyniska não representa o início da evolução das mulheres no meio esportivo, mas sugere um golpe político, onde sua participação foi incentivada para comprovar que a prova com cavalos não dependia das habilidades masculinas, mas apenas da boa saúde dos animais (KYLE, 2003 apud CHIÉS, 2006).

    Outra mulher com destaque nas Olimpíadas da Antiguidade foi Belistiche, da Macedônia. Ela venceu a prova de quadriga de potros da 128º Olimpíada, em 268 a.C.; e de biga de potros da 129º Olimpíada, em 272 a.C. (CHIÉS, 2006)

    Em honra à deusa protetora das esposas e mães, Hera, foi criado em Olímpia, as competições femininas, intitulado como Jogos Heranos (GODOY, 1996 apud CHIES, 2006).

Figura 8. Deusa Hera

Fonte: Baggio; Tieppo; Jaques (2012)

    A única prova era a corrida de 162 metros, realizada no Stadium, reservado às mulheres. Os Jogos Heranos ocorriam com um mês de antecedência ou conseqüência dos Jogos Olímpicos. As vencedoras recebiam a coroa de oliveiras e parte da carne sacrificada à Hera. Em algumas premiações, as vencedoras recebiam a estátua de Hera com seus nomes inscritos (DURANTEZ, 1975 apud CHIÉS, 2006).

Fim dos Jogos Olímpicos da Antiguidade e reintegração da mulher como espectadora nos eventos esportivos

    O imperador Teodósio II conquistou a Grécia no período do domínio Romano (408 d.C), e por ser cristão, proibiu todas as práticas pagãs, isso incluía os Jogos Olímpicos que celebravam festas aos deuses gregos (DURANTEZ, 1975 apud CHIÉS, 2006).

Figura 9. Imperador Teodósio II

Fonte: Mannarino (2010)

    Durante a Idade Média, os eventos públicos ainda eram apenas para os homens, porém as mulheres participavam de jogos com bolas. A partir do século XII, época do feudalismo marcada pelas Cruzadas promovidas pela Igreja Católica, a mulher nobre desenvolve várias habilidades como ler, escrever, caça com falcões, jogos de xadrez, conto de estórias, responder questões com sagacidade, cantar, tocar instrumentos e dançar (KENNARD; CARTER, 1994 apud RUBIO; SIMÕES, 1999).

Figura 10. Mulheres no Feudo

Fonte: Maria (2005)

    No século XVII, a mulher perde seus direitos e é subjugada pelo marido, ou quando solteira, pelo parente homem próximo. A mulher é excluída das atividades de lazer e esportiva (RUBIO; SIMÕES, 1999).

    No final do século XVIII e início do XIX os cavalheiros ingleses levam suas esposas para assistirem eventos de boxe e corridas de cavalos entre outros eventos. As mulheres praticam boliche, cricket, bilhar, arco flecha, jogos rudimentares de futebol e atividades na neve (RUBIO; SIMÕES, 1999).

O retorno dos Jogos Olímpicos na Era Moderna

    As Olimpíadas Modernas foram reiniciadas pelo Barão de Coubertin, Pierre de Frédy, em 1896. Coubertin reproduziu as Olimpíadas da Antiguidade na Modernidade, desta forma, a participação das mulheres permaneceu vetada, restando-lhes apenas a assistir as provas (SCHNAPP, 1996 apud CHIÉS, 2006). Pierre de Frédy reconhecia o direito das mulheres quanto à educação esportiva, inclusive competindo entre elas. Porém, fora da vista dos homens por razões culturais, antropológicas e fisiológicas (DEVIDE, 2002; GIAROLA, 2003 apud OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, 2008; RUBIO; SIMOES, 1999).

    Devido conscientização feminina de seu papel ativo na sociedade industrializada na segunda metade do século XIX e decorrer do século XX, elas iniciaram movimentos por direitos sociais, como o voto e inclusão como cidadãs da sociedade que estavam marginalizadas. Dentro deste contexto, a reivindicação por sua integração nas Olimpíadas foi declarada (MIRAGAYA, 2002).

    Um dos atos representativo do movimento social para a inserção das mulheres nos Jogos Olímpicos da Modernidade em resposta a proibição da participação feminina foi provocado por Stamati Revithi. Ela realizou o percurso da Maratona fora do estádio no dia seguinte a realização da prova masculina. Ela completou o trajeto em quatro horas e meia, conquistando índice menor que alguns homens. Porém, não foi reconhecida e desencadeou a inserção das mulheres nos jogos olímpicos (DEVIDE, 2002; MOURAO, 1998; PFISTER; 2004 apud OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, 2008).

    O avanço das mulheres em relação a sua nova posição no meio esportivo foi gradual, até o momento em que não era mais possível proibi-las, tornando-se intrusas de espaço consagrado dos homens. Como retaliação, os homens não permitiram amplamente a participação feminina nos Jogos Olímpicos. Ou seja, o Comitê Olímpico Internacional (COI), gerenciado por homens, decidiu como seria as participações femininas nos Jogos, adotando critérios conforme modalidade e esporte (RUBIO; SIMÕES, 1999).

Figura 11. Pierre de Frédy, o Barão de Coubertin

Fonte: Claudir (2012)

 

Figura 12. Primeira Olimpíada da Era Moderna

Fonte: Valente (Folha de S. Paulo, 2012)

Inserção e evolução das mulheres nas Olimpíadas Modernas

    Durante a primeira Olimpíada em 1896, em Atenas, as mulheres participaram apenas como espectadoras, porém a grega Stamati Revithi, realizou o percurso da maratona fora do estádio no dia seguinte a prova masculina, em resposta a proibição feminina nas modalidades olímpicas (PFISTER, 2004 apud OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, 2008).

    Ela realizou a corrida em quatro horas e meia, foi mais rápida que alguns homens, porém não foi reconhecida e provocou o início da gradual inserção das mulheres nos esportes olímpicos (MOURAO, 1998; DEVIDE, 2002; PFISTER, 2004; OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, 2008).

    Quatro anos depois, a sede das Olimpíadas de 1900 foi em Paris, marcada na época pelo liberalismo. Devido a lacunas e falta de organização do COI no controle do programa dos jogos foi permitido à participação extra-oficial de mulheres em algumas provas, o golfe e o tênis, por serem belos e não possuir contato físico (RUBIO; SIMÕES, 1999).

Figura 13. Jogos de 1900 Charlotte Cooper da Inglaterra

Fonte: Romanzoti (2012)

    As vencedoras das provas não ganhavam medalha ou a corou de oliveiras, pois não eram consideradas atletas, apenas participantes, portanto recebiam um certificado (MIRAGAYA, 2002).

    Em 1904, Saint Louis, foi inserido o arco e flecha e como demonstração a ginástica. No ano de 1908, em Londres, as provas eram tênis, patinação no gelo, arco e flecha. Na modalidade barco a vela, as equipes eram mistas, as mulheres do time eram esposas dos atletas. Em Estocolmo, 1912, foi permitida a natação (COI, 2006 apud OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, 2008). Em 1916 não houve Olimpíadas devido à primeira guerra mundial (GOELLNER, 2004).

    O COI e a Federação Internacional de Atletismo Amador (FIAA) não permitiam as mulheres oficialmente nos Jogos Olímpicos, especialmente no atletismo. Perante estes obstáculos, a francesa Alice Melliat fundou a Federação Esportiva Feminina Internacional (FEFI) em 1917, a Federação supervisionava recordes, estabelecia regras e promovia o esporte feminino (PFISTER, 2004; OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, 2008).

    A FEFI organizou os Jogos Olímpicos Femininos em 1922, em razão ao seu sucesso, foram re-editados em 1926, 1930 e 1934 como os Jogos Femininos Mundiais. Os Jogos obtiveram enormes públicos, e isso pressionou o COI para a integração feminina nas Olimpíadas Modernas (DEFRANTZ, 1991 apud MIRAGAYA, 2002).

    Em 1920, na Antuérpia, foi incluído o salto ornamental. No ano de 1924, em Paris, foi inserida a esgrima. Em Amsterdã, 1928, foram inseridas as modalidades, ginástica e atletismo, este último com cinco provas (DEVIDE, 2002; MOURÃO; VOTRE, 2005 apud OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, 2008). Ao final da prova de 800 metros algumas mulheres desmaiaram, assim surgiram argumentos que defendiam a exclusão feminina das Olimpíadas devido a sua incapacidade física para provas de resistência (SOARES, 1988 apud RUBIO; SIMÕES, 1999). As Olimpíadas de 1932, em Los Angeles, não foi realizada a prova de 800 metros. Em 1936, em Berlim, as mulheres foram incluídas oficialmente como atletas olímpicas, assim a FEFI foi dissolvida, pois conquistou seu objetivo.

Tabela 1. Ascendência das mulheres nas Olimpíadas

Análise da quantidade de mulheres participantes dos Jogos Olímpicos ao longo do tempo

    Analisando os dados da Tabela 1, é possível verificar que a trajetória de inserção das mulheres nos jogos olímpicos ocorreu de forma linear e vagarosa ao longo dos tempos. No entanto, quando analisamos a variação no número de mulheres que participaram dos Jogos Olímpicos comparados à variação do número de participantes totais da competição, percebe-se que há um padrão similar entre as variações até a década de 90. A partir desta década, a mulher apresenta um padrão de variação mais expressivo que do total de participante. Entretanto, essa grande variação é promissora do ponto de vista do aumento de participantes, conquistando aproximadamente 40% de participantes femininos nos Jogos Olímpicos nos últimos anos de evento (Gráfico 1 e Gráfico 2).

Gráfico 1. Variação da quantidade de participantes nos Jogos Olímpicos (Homens x Mulheres)

 

Gráfico 2. Variação da quantidade de participantes nos Jogos Olímpicos (Homens x Mulheres)

Análise da quantidade de modalidades esportivas nos Jogos Olímpicos ao longo do tempo

    A análise dos dados da Tabela 2 indicam que entre 1980 e 2000, o número de modalidades esportivas competidas por mulheres aumentou o mínimo de 20% por evento, aproximando-se muito do mesmo número de modalidades esportivas praticadas por homens (Gráfico 3).

Tabela 2. Quantidade de modalidades por gênero e modalidades mistas nos Jogos Olímpicos

Discussão

    Percebemos que as maiores alterações que contribuíram para a participação das mulheres nos Jogos Olímpicos iniciaram a partir da década de 80, acentuando-se na década de 90 e estabilizando no século XXI.

    Considerando que há motivos religiosos, filosóficos, sociais entre outros para justificar a ausência das mulheres nas modalidades esportivas ao longo da história. No século XX, surgiram muitas vertentes de estímulos às práticas físicas para diversos públicos, como (i) pessoas saudáveis, (ii) pessoas com deficiência física em virtude dos eventos de guerra e (iii) deficientes físicos e mentais por patologia (SOARES et al., 1992; PETROSKI; PIRES, 1995; SILVA; SEABRA JUNIOR; ARAÚJO, 2008).

    Imaginamos que os movimentos revolucionários industriais, a independência doméstica da mulher em função das guerras juntamente com tais vertentes de estímulos às práticas físicas tenham contribuído para a organização dos Jogos Mundiais Femininos e Jogos Olímpicos Femininos e, consequentemente, inserção das mulheres nos Jogos Olímpicos.

    A expressividade da participação das mulheres nos Jogos Olímpicos Modernos ocorreu a partir da década de 80. Isso deve ter ocorrido em função da impulsão do movimento norte-americano do fitness. Com esse movimento, o atrativo para práticas físicas estavam centrados na estética. Além disso, foi intensificando que mulheres com músculos salientes eram bonitas e atraentes. Desta forma, caiu-se por terra o conceito que era prejudicial à saúde da mulher a prática esportiva intensa. Assim, tornou-se aceitável e bonito esteticamente, mulheres com músculos salientes, sem associá-las à masculinidade (DEVIDE; VOTRE, 2005).

Gráfico 2. Variação da quantidade de participantes nos Jogos Olímpicos (Homens x Mulheres)

 

Figura 14. Kornelia Ender, década de 70

Fonte: Costa (2008)

    No século XXI, nota-se que as mulheres têm participação e inserção muito próxima da participação masculina nos Jogos Olímpicos. Isso é positivo para estimular a compreensão da sociedade que fatores físicos não são limitadores para a participação da mulher em modalidades esportivas.

    Portanto, a sociedade contemporânea demonstra sinais muito positivos para a extinção da exclusão das mulheres em Jogos Olímpicos, nos esportes e exercícios físicos generalizados. Contribuindo para a constante construção de uma sociedade pareada entre homens e mulheres.

Considerações finais

    A mulher no esporte sofreu um longo processo de discriminação pelos homens, que apresentavam argumentos frágeis e dificultaram sua participação em diversas modalidades. No início elas não competiam oficialmente, apenas como participantes, assim não ganhavam medalhas, apenas certificados. Apenas em 1936 elas foram consideradas atletas oficiais dos Jogos Olímpicos. As primeiras modalidades femininas inseridas foram o tênis, tiro com arco, natação e o hipismo, este como modalidade mista.

    Ao longo dos eventos Olímpicos, houve um aumento gradual da porcentagem de participação de atletas do gênero feminino nos jogos. A grande diferença porcentual entre atletas masculinos e femininos foi reduzida neste século. Isto pode ser resultado da evolução social que demonstra interferência no mundo esportivo

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