Prática da ginástica laboral para motivação na adoção do exercício físico fora do ambiente de trabalho La práctica de la actividad física laboral para la motivación para la adopción del ejercicio físico fuera del ámbito de trabajo |
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*Pós-Graduanda em Treinamento Funcional da Universidade Gama Filho, RJ **Mestre em Ciências do Esporte, professora da Universidade Católica Dom Bosco, MS ***Doutorando em Saúde, professor da Faculdade Unigran Capital, MS (Brasil) |
Heloyse Elaine Gimenes Nunes* Raquele Tiana Kohler** Brunno Elias Ferreira*** |
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Resumo A implantação da Ginástica Laboral (GL) dentro das empresas auxilia na prevenção de doenças e promoção da saúde dos trabalhadores, proporcionando melhor qualidade de vida dos mesmos, que trabalham mais satisfeitos e saudáveis. Este estudo teve como objetivo verificar se um programa de GL motiva seus participantes a realizar exercício físico fora do ambiente de trabalho. O instrumento de coleta de dados foi um questionário próprio, respondido por 57 trabalhadores de uma universidade que participavam da GL. Para análise dos resultados foram feitos cálculos de porcentagem das questões fechadas. Os resultados mostraram que 73,5% dos praticantes se sentiram motivados pela GL a praticar exercícios fora do trabalho. Conclui-se que este programa de GL foi capaz de motivar seus funcionários a adotarem um estilo de vida mais saudável. Unitermos: Atividade física. Qualidade de vida. Saúde.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introduçäo
A sociedade atual é marcada por intensas e rápidas transformações, cujas conquistas têm afetado a vida humana em seus aspectos coletivo e individual (MUROFUSE; MARZIALE, 2005). Esses fatores auxiliaram no aumento da produtividade e lucros, contudo resultou na delimitação de funções das etapas do processo produtivo.
O movimento humano envolve todos os sistemas orgânicos e as alavancas corporais são adaptadas para a velocidade, amplitude e precisão de movimentos. O uso inadequado do corpo humano gera desequilíbrios e degeneração osteomuscular precoce (MENDES; LEITE, 2008), que muitas vezes repercute até em afastamento do trabalho e influencia em outros aspectos afetando a qualidade de vida do trabalhador (PESSOA et. al., 2010).
Atualmente as empresas vêm demonstrando preocupação com a saúde de seus trabalhadores, visto que muitas vezes o adoecimento ou insatisfação destes pode gerar prejuízos, tanto financeiro como produtivo. A Ginástica Laboral (GL) é considerada uma estratégia nas empresas, visto que é um programa de qualidade de vida e de promoção de saúde e lazer realizada pelos trabalhadores durante o expediente de trabalho (MENDES; LEITE, 2008).
Um programa voltado para promoção de saúde deve incluir como meta a diminuição de sedentarismo, mas sabe-se que só a prática da GL não é o suficiente para sair desta condição, sendo assim este estudo buscou verificar o efeito de um programa de GL na motivação para a prática de exercícios fora do ambiente de trabalho.
Metodologia
A pesquisa foi realizada na cidade de Campo Grande (MS/Brasil), durante o segundo semestre de 2012. A amostra compreendeu 57 funcionários de cinco setores que praticavam a GL em uma universidade privada, sendo que destes participantes 41 eram do sexo feminino e 16 do masculino, com faixa etária entre 19 a 65 anos.
Para realizar a coleta foi elaborado um questionário com sete questões fechadas que abordavam sobre a participação na GL e a prática de exercício físico fora do trabalho. Os dados foram tabulados no Software Microsoft Excel 2007, transformando-os em variáveis numéricas. Em seguida realizou-se cálculo de porcentagem para apresentação dos resultados.
Resultados e discussão
A amostra foi constituída por todos os participantes da GL que expressaram interesse em colaborar com a pesquisa, contudo verificou-se que o nível de participação da empresa é de apenas 24,4%.
Em muitas empresas a participação na GL é obrigatória, mas nesta empresa a participação era facultativa. Em um estudo sobre participação na GL, apresentou-se que apenas 18,8% participavam de forma voluntária (BERNARDES, 2011), que é próximo aos dados encontrados no presente estudo. Entretanto é fato que este percentual de participação é um pouco maior, visto que alguns trabalhadores não estão presentes durante o horário em que a ginástica acontece (ou por troca de turno ou horário de almoço).
Sabe-se que empresa oferece a GL com intuito de diminuir casos de afastamento, absenteísmo e melhorar a produtividade e lucro. Em uma pesquisa realizada por Rego (2003) com funcionários participantes da GL, observou-se que após a prática da GL os trabalhadores não procuraram o departamento médico sendo que antes, 60% dos funcionários procuravam. O mesmo estudo diz que após a implantação da GL não houve afastamentos por motivos de saúde.
Tabela 1. Prática de exercício físico fora do trabalho
Prática de exercício fora do ambiente de trabalho antes da implantação da GL
No estudo de Giordani (2011) observou-se que 60% dos trabalhadores não praticavam atividades físicas regulares. Já na pesquisa de Candotti et. al. (2011) constatou-se que 52,6% estavam praticando, enquanto 47,4% não estavam, valores estes bem similares aos encontrados na nossa pesquisa. Segundo o Heaney e Goetzel (1997, apud BERNARDES, 2011) muitos dos indivíduos que aderem à GL já são pessoas ativas, provavelmente por já possuir gosto pela atividade física ou estarem conscientes da importância da atividade física.
O fato de algumas pessoas não praticarem exercício físico pode estar relacionado à falta de gosto pela prática, muitas vezes resultante de experiências ruins de atividade física, além da falta de interesse ligado a baixa auto-estima. Contudo a própria GL pode ser um motivador, visto que o exercício físico tende a estar relacionado à melhor auto-estima, pode ser uma oportunidade para quebrar paradigmas de incapacidades. Através do contato social proporcionado pela GL também há um auxílio no conhecimento de si mesmo (SHIGUNOV et al, 2002).
Motivação da GL para prática fora do trabalho
Em estudo de Candotti et. al. (2011) verificou-se que 50% se sentiram motivados. Outras pesquisas observaram que 52% (MENDES, 2000) e 50% (DIAS, 2004) foram influenciados. De acordo com os achados no estudo de Ferracini e Valente (2010, apud BERNARDES, 2011) 46,6% dos funcionários praticaram atividade física com mais frequência. Já Rego (2003) encontrou que 80% dos trabalhadores se sentiram motivados após terem iniciado a GL, e em outro estudo 70% foram motivados (CANDOTTI et. al., 2011). Nossos dados se parecem mais com estes últimos estudos, visto que mais da metade dos funcionários se sentiram motivados após iniciarem a prática da GL.
Para Polito e Bergamaschi (2010) com a implantação da GL na empresa o trabalhador aprende sobre seu corpo e cuidados que deve ter com o mesmo, despertando uma consciência corporal que o leva à pratica de atividade física fora do trabalho e como consequência provoca diminuição de fatores de risco para a saúde, como tabagismo, alcoolismo, sedentarismo e obesidade.
Segundo Candoti et. al. (2011) acredita-se que esta associação entre GL e a motivação para prática de exercício físico fora do ambiente de trabalho deve-se ao fato que a GL seja uma oportunidade de realização de uma atividade fisica orientada e essa aproximação pode gerar interesse, curiosidade e motivação para prática habitual. Os participantes da GL tendem a ser menos inativos no tempo livre, fazer menor consumo de álcool e tabaco, ter menor percepção negativa de estresse e consumir mais frutas e verduras (GRANDE et. al., 2011).
A GL objetiva não só a prevenção, mas também o combate ao sedentarismo e promoção de saúde que incentive adoção de hábitos de vida saudáveis, assim demonstra a relevância de provocar motivação para praticar atividade física, visto que é um meio de melhorar a qualidade de vida geral.
Prática de exercício fora do ambiente de trabalho após da implantação da GL
Neste estudo observou-se que 19,2% dos funcionários que estavam sedentários, se tornaram fisicamente ativos. Estudo similar diz que 17% afirmaram ter iniciado a prática de atividade física fora do expediente devido a GL (MENDES, 2000). Segundo Costa e Gotze (2008) o que motivou os funcionários a aderirem após a GL foi o gosto pelo exercício físico para 68% das mulheres, seguido de saúde com 24%, e os homens 47% pelo gosto e 47% pela saúde.
Os funcionários que não praticam relatam que o principal motivo é a falta de tempo. De acordo com o estudo de Candotti et. al. (2011), 92,7% dos funcionários que não praticam ainda se sentem motivados para iniciar e apenas 7,3% não. Ainda constatou-se que 92,7% dos funcionários (sedentários) que participam há mais de um ano da GL se sentem motivados. Dados divergentes dos encontrados aqui, visto que apenas 57,7% se sentem motivados. Contudo, dos funcionários que já estavam ativos, 86,7% consideraram que a GL foi um fator motivacional para prática fora do ambiente de trabalho.
Se analisarmos a relação do tempo de prática da GL com a prática fora do trabalho, percebemos que dos funcionários que praticam há mais de um ano, 60,8% praticam atividade física fora; dos que fazem ginástica de 6 meses a um ano, apenas 35,7% estão ativos; e dos que praticam GL há menos de 6 meses, 70% são praticantes de exercício físico fora do trabalho.
Com base no modelo transteórico para prática de atividade física, o esperado seria que os funcionários que praticam há mais tempo a GL já estivessem em fases avançadas como de ação e manutenção, e que os trabalhadores sedentários estivessem praticando GL há menos tempo já estariam nas fases de pré-contemplação, contemplação e preparação para realizar a atividade física. Ao analisar cuidadosamente os dados, observa-se que apesar do percentual alto de funcionários que praticam há menos de 6 meses, estes já realizam atividade física antes da iniciarem a GL, então neste caso, eles se adequam ao público que já tem gosto pela atividade física e se interessam em realizar mais atividades.
Um estudo sobre do efeito da GL em um período de quatro meses foi capaz de provocar alterações no estilo de vida, pois mostrou forte evidencia de aumento dos níveis de atividade física (MARTINS; DUARTE, 2000), entretanto, no presente estudo dos 19,2% dos funcionários que se tornaram ativos, 50% já realizam há um ano; 25% de 6 meses a um ano; e 25% há menos de 6 meses. Isso mostra que na presente amostra, o tempo para alteração no estilo de vida relacionado a prática de atividade física foi maior, mas pode ser que outras variáveis do estilo de vida tenham sido modificadas anteriormente, como alimentação, controle do estresse, relacionamentos, entre outros.
Prática na academia da empresa
No Brasil são raras as empresas com programas de atividade física para promover conscientização e aumento da prática, visando melhora da qualidade de vida. Apesar das tentativas bem intencionadas de proporcionar oportunidades aos trabalhadores de academias próximas e com descontos, a participação não é muito constante (MACIEL et. al., 2005). A empresa analisada neste estudo possui academia para atender os funcionários e disponibilizam mensalidades com descontos para estes. Todavia, observou-se que apenas 19,6% dos funcionários que praticam atividade física fora do trabalho utilizam deste espaço.
A academia oferece as seguintes modalidades: musculação, aulas de ginástica, natação e hidroginástica. A maioria dos frequentadores de academias são motivados por questões estéticas (ARAÚJO et. al., 2007). Contudo, pode ser que estes funcionários não se sintam a vontade neste ambiente por não terem o mesmo objetivo com a prática, por não conhecer e não gostarem destas modalidades, ou ainda pela questão dos horários, que são reduzidos na academia.
Um dos motivos que as pessoas não praticam atividade física é a falta de tempo, falta de recursos financeiros e falta de oportunidade. Talvez uma boa estratégia seria ofertar modalidades como grupo de corrida, caminhada, esportes, já que a maioria dos funcionários que relatam realizar atividade física em outros locais, praticam essas atividades.
Outra barreira para adesão à prática de atividade física que é explicada pela teoria da autodeterminação é a questão do sentimento de incapacidade em realizar atividade física e medo de fracasso. Pode ser que ao oportunizar atividades que os funcionários já tenham certo repertório motor ou que sejam mais próximas de movimentos que executamos no dia a dia, como caminhar e correr, haja um maior motivação para adesão. Mas sabe-se que não é um problema local, que apesar da tentativa de elaborar estratégias para combater ao sedentarismo, este já é considerado um problema de saúde pública, visto que 60% dos adultos são considerados inativos (WHO, 2000; GIORDANI, 2011).
Considerações finais
A proposta do programa de GL da empresa estudada é voltada para a promoção da saúde, sendo que a prevenção é entendida como um resultado deste processo e não como objetivo principal. Desta forma, entende-se que seus objetivos estão sendo atingidos de forma eficaz, visto que mais da metade de seus participantes (73,5%) relataram ser motivados para aderir ou continuar o exercício fora do ambiente de trabalho, que significa uma conscientização desses funcionários e vontade de modificar hábitos de vida.
Contudo, percebeu-se que dos funcionários que estavam ativos 86,7% se sentiram motivados a permanecerem ativos fora do trabalho, enquanto que apenas 57,7% dos sedentários se sentiram motivados a iniciarem a prática de exercício. Tais números devem ser levados em consideração no planejamento das aulas da GL e elaboração de estratégias para que um maior número de sedentários sejam motivados a modificarem seu estilo de vida.
Referências
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DIAS, A. G. A contribuição de um programa de ginástica laboral na aderência ao exercício físico fora da jornada de trabalho. 2004. 90 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Motricidade Humana) - Programa de Mestrado em Ciência da Motricidade Humana, Universidade Castelo Branco, 2004.
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