Leishmaniose visceral: epidemiologia dos casos notificados no município de Montes Claros Leishmaniasis visceral: epidemiología de los casos notificados en el municipio de Montes Claros |
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*Graduandas em medicina pelas Faculdades Integradas Pitágoras, Montes Claros, MG **MD, Professor Assistente do Departamento da Saúde da Mulher e da Criança, CCBS/Unimontes e da graduação em Medicina das Faculdades Integradas Pitágoras, Montes Claros, MG |
Camila Matos Versiani* Bruna Tupinambá Maia* Eduardo Gonçalves** eduardo.goncalves2000@yahoo.com (Brasil) |
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Resumo A leishmaniose visceral (LV) representa uma doença de transmissão vetorial endêmica em aproximadamente 72 países, principalmente das regiões tropicais e subtropicais da Ásia, Oriente Médio, África e Américas Central e do Sul. Atualmente, é considerada como uma das seis doenças endêmicas de maior prioridade. No Brasil, essa enfermidade é causada pela Leishmania chagasi, sendo mais prevalente na região nordeste do país. A cidade de Montes Claros, localizada no norte do estado de Minas Gerais, é um dos municípios brasileiros onde a LV transformou-se em uma endemia urbana, sendo classificada pelo Ministério da Saúde como área de transmissão intensiva. O presente estudo teve como objetivo descrever aspectos epidemiológicos dos casos notificados de LV no município de Montes Claros. Trata-se de um estudo de caráter descritivo, transversal e quantitativo que fez uso da análise de dados relativos a casos confirmados de LV humana registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAM), dos anos de 2001 a 2010. Foram notificados 363 casos de LV no município de Montes Claros no período de 2001 a 2010, sendo que a maior quantidade de notificações ocorreu no ano de 2004 (18,5% do total). Do total de casos, ocorreram 26 óbitos. A faixa etária de 1-4 anos foi a mais acometida, com 31,1% das notificações, seguida pela faixa que vai de 20 a 39 anos (19,3%). A pesar da diminuição de casos desde o ano de 2004, ainda são necessárias ações e políticas que visem a prevenção, controle e monitoramento clínico dessa doença. Unitermos: Leishmaniose visceral. Epidemiologia.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A leishmaniose visceral (LV) representa uma doença de transmissão vetorial endêmica em aproximadamente 72 países, principalmente das regiões tropicais e subtropicais da Ásia, Oriente Médio, África e Américas Central e do Sul. Atualmente, é considerada como uma das seis doenças endêmicas de maior prioridade, e crescente problema de saúde pública. No Brasil, essa enfermidade é causada pela Leishmania chagasi, sendo mais prevalente na região nordeste do país (DRUMOND & COSTA, 2011).
Essa enfermidade já foi considerada como zoonose de caráter eminentemente rural, tendo apresentado, mais recentemente, expansão para áreas urbanas de médio e grande porte. Assim, consideram-se como reservatórios no ambiente silvestre as raposas (Dusicyon vetulus e Cerdocyon thous) e os marsupiais (Didelphis albiventris). Já na área urbana, o cão (Canis familiaris) é a principal fonte de infecção. No Brasil, duas espécies de flebotomíneos, até o momento, estão relacionadas com a transmissão da doença, Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi, sendo a primeira de maior significância (BRASIL, 2009).
A cidade de Montes Claros, localizada no norte do estado de Minas Gerais, é um dos municípios brasileiros onde a LV transformou-se em uma endemia urbana, sendo classificada pelo Ministério da Saúde como área de transmissão intensiva (PRADO et al., 2011). Dessa forma, o objetivo desse estudo foi descrever aspectos epidemiológicos dos casos notificados de LV no município de Montes Claros.
Metodologia
O presente estudo caracteriza-se pelo seu caráter descritivo, transversal e quantitativo. Para a coleta de dados, utilizou-se o sistema de notificação oficial do Ministério da Saúde, Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAM). Foi realizada análise de dados relativos a casos confirmados de LV humana registrados nesse sistema, dos anos de 2001 a 2010.
Para tabulação e análise dos dados obtidos foi utilizado o software SPSS® 18.0 (Statistical Package for Social Science for Windows, Inc., USA).
Resultados
Foram notificados 363 casos de LV no município de Montes Claros no período de 2001 a 2010, sendo a maioria em 2004, com 67 notificações (18,5% do total); seguido pelo ano de 2005, com 12,9% dos casos (47 notificações) (Gráfico 1).
Gráfico 1. Notificações de Leishmaniose visceral no município de Montes Claros nos anos de 2001 a 2010, segundo ano de notificação.
Nota-se o elevado número de notificações na faixa etária de 1 a 4 anos, sendo estas correspondentes a 31,1% de todas as ocorrências. Um segundo pico é demonstrado na faixa etária de 20 a 39 anos, sendo as 70 notificações correspondentes a 19,3% do total (Gráfico 2).
Do total de casos, ocorreram 26 óbitos. A faixa etária de 1-4 anos foi a mais acometida, com 31,1% das notificações, seguida pela faixa que vai de 20 a 39 anos (19,3%).
Gráfico 2. Notificações de Leishmaniose visceral no município de Montes Claros nos anos de 2001 a 2010, segundo faixa etária
Quanto ao sexo dos pacientes, foi evidenciado que 223 casos foram correspondentes a indivíduos do sexo masculino (61,4% do total) e 140 casos foram relativos àqueles do sexo feminino. Dessa maneira, o número de óbitos foi maior no sexo masculino (61,5% do total de óbitos).
Em relação à raça, 178 notificações foram referentes a indivíduos de cor parda (49% do total). A quantificação das ocorrências em relação à zona de residência demonstrou esmagadora maioria de indivíduos residentes na zona urbana: 335 ou 92,3% do total de casos.
Discussão
As características do município de Montes Claros, em relação ao clima e à topografia, são favoráveis à proliferação do vetor da LV; assim como a ausência, em alguns locais, de sistema de abastecimento de água e de tratamento de esgoto (many extremely poor dwellings lacking basic water and sewage facilities). Em algumas áreas da cidade, o acúmulo de matéria orgânica representa, ainda, um fator de risco significante para essa enfermidade (MONTEIRO et al., 2005). Porém, a partir de 2004, percebeu-se uma queda no número de casos de LV na cidade de Montes Claros, o que pode estar relacionado ao maior controle dessa protozoose na cidade e região.
No presente estudo, a LV mostrou-se mais frequente em crianças na faixa etária de 0-9 anos, o que foi corroborado pelos estudos de Silva et al. (2008), Carranza-Tamayo et al. (2010) e Brasil (2009). A maior susceptibilidade das crianças pode ser explicada por sua relativa imaturidade celular, o que é agravado pela desnutrição, comumente encontrada em áreas endêmicas, como também pela maior exposição ao vetor da doença no peridomicílio (BRASIL, 2009).
A segunda faixa etária mais acometida foi aquela de 20 a 39 anos, teoricamente pelo perfil de indivíduos mais ativos e trabalhadores, consequentemente mais expostos. Tal resultado foi citado nos trabalhos de Freitas et al. (2006) e Sousa et al. (2008).
Nos últimos anos, a letalidade da LV no Brasil vem apresentando aumento gradativo, passando de 3,2% no ano de 1994 para 6,9% em 2005, correspondendo a um aumento de 117% (MAIA-ELKHOURY et al., 2008). Dentre os fatores que influenciam positivamente o aumento da letalidade, estão o diagnóstico tardio e a expansão da doença em grupos de indivíduos com comorbidades, sendo as principais as complicações infecciosas e as hemorragias (BRASIL, 2006; LINDOSO et al., 2006; OLIVEIRA et al., 2006) .
Evidenciou-se, ainda, a preferência pelo sexo masculino (61,4% do total), uma vez que estes se encontram em áreas de maior risco ou realizam atividades laborais ou de lazer que envolvem riscos de infecção. Tais dados são congruentes com os trabalhos de Freitas et al. (2006), Sousa et al. (2008) e Prado et al. (2011).
Mais de 90% do total de casos notificados é referente a indivíduos que residem na zona urbana. Atualmente, postula-se que a LV esteja passando por alterações no padrão de transmissão da doença, de um perfil inicialmente caracterizado como rural, para um perfil atualmente urbano (FURLAN, 2010; WERNECK, 2008).
Conclusão
O município de Montes Claros possui características favoráveis à ocorrência de LV, como o clima, a topografia, a falta de instalações de esgoto e o acúmulo de matéria orgânica em certas áreas. Os dados obtidos sugerem que a LV ainda é uma doença endêmica no município, apesar da diminuição de casos desde o ano de 2004. Assim, evidencia-se a necessidade de ações e políticas que visem a prevenção, controle e monitoramento clínico dessa doença.
Referências
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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de vigilância epidemiológica. 7. ed. Brasília : Ministério da Saúde, 2009. 816 p.
CARRANZA-TAMAYO, C. O. et al. Autochthonous visceral leishmaniasis in Brasília, Federal District, Brazil. Rev Soc Bras Med Trop 2010; 43:396-399.
DRUMOND, K.O.; COSTA, F. A. L. Forty years of visceral leishmaniasis in the state of Piaui: a review. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo, v. 53, n. 1, p. 3-11, Jan-Feb, 2011.
FREITAS, J.S. et al. Levantamento dos casos de leishmaniose registrados no município de Jussara, Paraná, Brasil. Arq. Cienc. Saude Unipar, Umuarama, v. 10, n. 1, p. 23-27, 2006.
FURLAN, M. B. G. Epidemia de leishmaniose visceral no município de Campo Grande-MS, 2002 a 2006. Epidemiol. Serv. Saúde. Brasília. 2010.19(1):15-24.
LINDOSO, J. A. L et al. Fatores associados à leishmaniose visceral grave. Rev Soc Bras Med Trop 2006; 39(S III): 133-4.
MAIA-ELKHOURY, A. N. S. et al. Visceral leishmaniasis in Brazil: trends and challenges. Cad Saúde Pública, 2008; 24(12): 2941-47.
MONTEIRO, E. M, et al. Leishmaniose visceral: estudo de flebotomíneos e infecção canina em Montes Claros, Minas Gerais. Rev Soc Bras Med Trop 2005; 38:147-152.
OLIVEIRA, A. L. L. et al. Foco emergente de leishmaniose visceral em Mato Grosso do Sul. Rev Soc Bras Med Trop 2006; 39(5): 446-50.
PRADO, P. F. et al. Epidemiological aspects of human and canine visceral leishmaniasis in Montes Claros, State of Minas Gerais, Brazil, between 2007 and 2009. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical ,v. 44, n. 5, p. 561-566, Sep-Oct, 2011.
SILVA, A. R. et al. Situação epidemiológica da leishmaniose visceral, na Ilha de São Luís, Estado do Maranhão. Rev Soc Bras Med Trop 2008; 41:358-364.
SOUSA, R. G. et al. Casos de leishmaniose visceral registrados no município de Montes Claros, Estado de Minas Gerais. Acta Sci. Health Sci. Maringá, v. 30, n. 2, p. 155-159, 2008.
WERNECK GL. Forum: geographic spread and urbanization of visceral leishmaniasis in Brazil. Introduction. Cad. Saúde Pública, 2008.24(12):2937-2940.
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