Análises sociais do impacto da construção do estádio do Corinthians para Itaquera Análisis sociales sobre el impacto de la construcción del estadio del Corinthians Itaquera Analysis of the social impact of the construction of the stadium for Corinthians Itaquera |
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*Graduando do curso de Ciências da Atividade Física Universidade de São Paulo Bolsista CNPq Iniciação Científica **Orientador Professor Doutor Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Universidade de São Paulo Pesquisas Interdisciplinares em Sociologia do Esporte |
Adriano Vicente Froncillo* Marco Antonio Bettine de Almeida** (Brasil) |
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Resumo Tendo em vista essa atual discussão sobre as vantagens e desvantagens da construção do estádio na Zona Leste e o apoio do governo para a realização da abertura da Copa nesse local, este estudo busca trazer os pontos positivos e negativos para fornecer base teórica para algum tipo de posicionamento sobre o tema. O objetivo deste artigo é verificar o impacto da construção do estádio do Sport Club Corinthians Paulista no bairro de Itaquera em São Paulo, observando o desenvolvimento da Zona Leste como um todo, do ponto de vista econômico, político e social através da realização dessa obra e do posterior evento que ocorrerá no local. Para tanto, foi realizada uma revisão literária com base nas seguintes palavras-chave: futebol; estádio; Copa do Mundo; Corinthians; desenvolvimento socioeconômico. Além disso, foi realizada uma pesquisa documental com base em jornais, revistas e mídias digitais seguindo as mesmas palavras-chave, porém com enfoque em notícias relacionadas à Zona Leste de São Paulo. Unitermos: Copa do Mundo. Impactos sociais. Itaquera-SP.
Resumen Dada esta discusión actual acerca de las ventajas y desventajas de la construcción del estadio en la zona oriental y el apoyo del gobierno para la celebración de la apertura de la Copa en este lugar, este estudio pretende aportar los aspectos positivos y negativos al proporcionar una base teórica para algún tipo de posicionamiento sobre el tema. El objetivo de este trabajo es investigar el impacto de la construcción del estadio de Sport Club Corinthians Paulista, en el barrio de Itaquera en Sao Paulo, observando el desarrollo de la Zona Oriente en su conjunto, en términos de desarrollo económico, político y social a través de la realización de este trabajo y el evento posterior a ocurrir en el sitio. Por lo tanto, una revisión de la literatura se realizó usando las siguientes palabras clave: fútbol, estadio, Copa del Mundo, Corinthians, el desarrollo socioeconómico. Además, se realizó un estudio documental basado en los periódicos, revistas y medios digitales a lo largo de las mismas palabras clave, pero centrándose en las noticias relacionadas con la zona este de Sao Paulo. Palabras clave: Copa del Mundo. Repercusiones sociales. Itaquera-SP.
Abstract Given this current discussion about the advantages and disadvantages of building the stadium in East Zone and government support for holding the Cup opening in this location, this study seeks to bring the positives and negatives to provide theoretical basis for some kind of positioning on the subject. The aim of this paper is to investigate the impact of the construction of the stadium of Sport Club Corinthians Paulista in the neighborhood of Itaquera in Sao Paulo, noting the development of the East Zone as a whole, in terms of economic, political and social through the completion of this work and the subsequent event to occur on site. Therefore, a literature review was performed using the following keywords: football, stadium, World Cup, Corinthians; socioeconomic development. In addition, a survey was conducted documentary based on newspapers, magazines and digital media along the same keywords, but focusing on news related to the East Zone of São Paulo. Keywords: World Cup. Social impacts. Itaquera-SP.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O futebol é parte importante da cultura do brasileiro. Os estádios de futebol se tornaram os palcos dessa expressão cultural, onde o povo atinge a catarse, ou seja, liberam as emoções que geralmente não podem fazer em circunstâncias normais. Isso é um dos motivos que faz com que os estádios se tornem parte muito importante da cultura e do lazer do povo brasileiro, se tornando, algumas vezes, ferramenta de alienação e controle do povo.
Os estádios de futebol no Brasil eram usados por governantes como forma de ganhar o apoio das massas. Em meados dos anos 1930 e 1940, começa-se a valorizar a atividade física e as práticas esportivas, formando uma sociedade “disciplinada” e tornando a construção de “estádios-monumentos” uma parte importante disso.
Em outubro de 2007, com a desistência de Argentina e Colômbia, a FIFA, órgão máximo do futebol mundial, oficializa o Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 2014 e em maio de 2009 é divulgado as cidades que receberão as partidas. Entre elas, estava São Paulo.
Após diversas discussões e vistorias em estádios, inclusive no Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, estádio privado pertencente ao São Paulo Futebol Clube, as partes (FIFA, CBF, governo e diretoria do clube) entraram em acordo de que a abertura da Copa seria realizada no estádio a ser construído na Zona Leste de São Paulo (Itaquera) pelo Sport Club Corinthians Paulista.
Com esse anúncio e o início das obras em 2011, a Câmara Municipal aprovou a emissão de certificados (CIDs) no valor de 420 milhões de reais para estimular o desenvolvimento da região. Na prática, esses certificados serão comprados por investidores que poderão utilizá-los como forma de pagamento de ISS e/ou IPTU. De acordo com pesquisas realizadas, a Zona Leste é a região com o maior número de moradores de São Paulo e requer um rápido e intenso desenvolvimento. Tal necessidade é usada como argumento para a realização da abertura da Copa em Itaquera. Algumas das estimativas de legado desse evento são: ampliação de investimentos privados na Zona Leste; aumento de comércio regional; queda no número de desemprego; melhoria da infra-estrutura (metrô, trem, ônibus, vias); melhora no turismo da região; dentre outros benefícios citados no relatório da Accenture em 2011 (Prefeitura SP – Accenture, 2012.
Apesar de todos esses argumentos, houve manifestações em 2011 de pessoas na região que reclamam que a obra irá acarretar na remoção de diversos moradores. De acordo com a prefeitura, existem projetos de urbanização em duas comunidades: as favelas da Paz e Agreste de Itabaiana. Esses projetos, de fato, irão remover diversos moradores dessas regiões por tempo indeterminado.
Tendo em vista essa atual discussão sobre as vantagens e desvantagens da construção do estádio na Zona Leste e o apoio do governo para a realização da abertura da Copa nesse local, este estudo se torna importante para levantar os verdadeiros pontos positivos e negativos, tentando se aprofundar no assunto para fornecer base teórica para algum tipo de posicionamento sobre o tema.
O objetivo deste artigo é verificar o impacto da construção do estádio do Sport Club Corinthians Paulista no bairro de Itaquera em São Paulo, observando o desenvolvimento da Zona Leste como um todo, do ponto de vista econômico, político e social através da realização dessa obra e do posterior evento que ocorrerá no local.
Para tanto, foi realizada uma revisão literária com base nas seguintes palavras-chave: futebol; estádio; Copa do Mundo; Corinthians; desenvolvimento socioeconômico. Além disso, foi realizada uma pesquisa documental com base em jornais, revistas e mídias digitais seguindo as mesmas palavras-chave, porém com enfoque em notícias relacionadas à Zona Leste de São Paulo.
Cronologia da Copa do Mundo da FIFA de 2014
A Copa do Mundo da FIFA é o maior evento esportivo internacional que envolve somente um esporte, no caso, o futebol. De acordo com o site da entidade que a organiza, o torneio é uma forma de sensibilizar o mundo, desenvolver o esporte e construir um futuro melhor de diversas maneiras.
Pelo seu formato atual, envolve 208 federações dos países filiados à FIFA, que disputam uma competição eliminatória por três anos a fim de conseguir uma das 31 vagas do torneio (uma vaga é reservada à seleção do país que sedia a Copa).
Os números publicados pela FIFA da última Copa do Mundo, 2010, na África do Sul são os seguintes: transmissão para 204 países por 245 canais diferentes; 3.170.856 espectadores nas 64 partidas (média de 49.670 por jogo); mais de seis milhões de espectadores nos telões espalhados por 16 lugares no mundo (dez na própria África, Roma, Paris, Berlim, Sydney, Cidade do México e Rio de Janeiro); 177.853 crachás de credenciamento; quase 250 mil hóspedes nos programas de hospitalidade; mais de 750 mil litros de cerveja e 390,6 mil cachorros quentes comercializados; e por volta de 500 mil estrangeiros visitaram a África do Sul na época da Copa.
Além disso, parcerias e direitos de transmissão geraram recursos para programas e atividades sociais, como “20 centros para 2010”, que teve como objetivo promover a saúde pública, a educação e o futebol para comunidades carentes no país.
Por conta desses números, acredita-se que a Copa do Mundo da FIFA pode gerar investimentos e recursos para o desenvolvimento não só das cidades que recebem os jogos, mas do país sede em geral.
Candidato único, o Brasil foi escolhido oficialmente em 30 de outubro de 2007, em Zurique, Suíça. Mesmo sem concorrentes, o país poderia não ser escolhido caso não cumprisse as exigências da FIFA. A delegação brasileira foi composta pelos, à época, presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da CBF, Ricardo Teixeira, 12 governadores estaduais, o ministro do esporte, Orlando Silva, o senador Marco Perillo, representando o Congresso Nacional, o escritor Paulo Coelho, o ex-atacante Romário e o técnico da seleção brasileira Dunga.
Após a confirmação do Brasil como anfitrião do evento, era hora de escolher as cidades que sediariam os jogos e em maio de 2007, 21 cidades apresentaram seus projetos a CBF, porém durante o ano seguinte não se sabia ainda se seriam 12 ou apenas 10 cidades-sede no evento.
Em janeiro de 2008, o presidente da FIFA, Joseph Blatter, confirmou que, devido às dimensões continentais do Brasil, seriam 12 cidades a abrigar os jogos da Copa. No mesmo ano, começaram as inspeções da entidade às 17 cidades candidatas a receber a Copa. Finalmente em 2009 foram escolhidas as 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, no Brasil: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza, Natal, Manaus e Cuiabá. Deixando de fora Florianópolis, Goiânia, Campo Grande, Belém e Rio Branco.
Com a escolha da final para o estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, restava definir o local de abertura da Copa. A ideia inicial era levá-la para São Paulo, centro financeiro e comercial do Brasil e uma das maiores cidades do mundo. O estádio Cícero Pompeu de Toledo, ou Morumbi, propriedade do São Paulo Futebol Clube, foi a opção considerada para receber não só os jogos, como a abertura também. Portanto apresentou diversos projetos à FIFA e à CBF a fim de modernizar o estádio e se enquadrar nas exigências que o evento pede.
Após diversas negociações, a o comitê da FIFA aprovou um projeto orçado em R$ 630 milhões, porém o clube recuou e tentou aprovar um modelo mais barato, de R$ 265 milhões. Com os prazos expirados e a negativa deste modelo, o Morumbi foi excluído oficialmente da Copa em 2010. Apesar disso, o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, garantiu que São Paulo não ficaria de fora da Copa. Em setembro de 2010, data de comemoração do centenário do Sport Club Corinthians Paulista, o clube anuncia um acordo com a construtora Odebrecht para a construção do seu tão desejado estádio, no bairro de Itaquera, Zona Leste de São Paulo. Inicialmente o orçamento seria de R$ 335 milhões, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que reservara uma linha de crédito para as obras da Copa do Mundo. Esses eventos fizeram com que São Paulo fosse escolhido o local de abertura da Copa do Mundo, na nova arena corintiana, decisão tomada após reunião entre o então governador de São Paulo, Alberto Goldman, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o presidente da CBF e do Comitê Organizador Local do Mundial, Ricardo Teixeira, em 2010.
Para tanto, o projeto apresentado pelo clube inicialmente deveria ser modificado. O orçamento subiu, em 2011, para R$ 820 milhões e a capacidade total do estádio foi aumentada para 68 mil lugares.
No mesmo ano foi aprovada na Câmara Municipal uma lei que emite um pacote de isenção ao Corinthians no valor de R$ 420 milhões, a serem utilizados na construção do estádio em Itaquera, se aproveitando de um programa de desenvolvimento existente na região leste de São Paulo. Este programa, porém, só havia liberado R$ 3 milhões em imunidade de IPTU e ISS para nove empresas, nos seus, até então, sete anos de existência.
Benefícios dos Megaeventos para os países sede
Devido à importância de São Paulo para o Brasil, sendo a cidade mais populosa e o centro financeiro do país, foi escolhida como sede de abertura da Copa do Mundo de 2014. O estádio escolhido para abrigá-la, como dito anteriormente, foi o do Sport Club Corinthians Paulista, em Itaquera, tradicional reduto corintiano e uma área carente de infraestrutura e oportunidades.
Outro fato que contribuiu para a escolha do local foi à semelhança que São Paulo tem com as sedes de abertura das edições anteriores da Copa. Uma das semelhanças é que, assim como Chicago (1994), Paris (1998), Seul (2002), Munique (2006) e Johanesburgo (2010), São Paulo é a cidade com o maior PIB do país, sendo o centro financeiro e econômico. Além disso, todas essas cidades têm em comum o aspecto da diversidade de sua população, recebendo turistas a todo o momento.
Muito se tem falado sobre os benefícios que a abertura da Copa do Mundo em Itaquera pode trazer para a cidade de São Paulo. A Zona Leste é um dos lugares mais carentes e precisa de investimentos, sendo esse o principal argumento do Estado para ajudar com o pacote de isenção o Corinthians a construir seu estádio. Para eles, a construção dessa obra, agregada a abertura do evento, trará benefícios muito grandes para a região.
Uma análise superficial do impacto econômico sobre as cidades sede de outro megaevento esportivo, as Olimpíadas, mostra que tal acontecimento gera um investimento muito maior dos setores públicos e privados do que o usual, gerando um grande impacto econômico. Além disso, o impacto em infraestrutura foi muito grande, melhorando muito a rede de transporte e hoteleira da região. Outro ponto importante é a criação de empregos, os Jogos Olímpicos aumentaram muito os postos de trabalho (principalmente na construção civil, telecomunicações e hotelaria).
A seguir a análise de dois Jogos especificamente, os de Barcelona (1992) e os de Londres (2012), dados retirados do relatório da Accenture:
Em Barcelona, 1992, o desemprego caiu pela metade durante os Jogos (estava em seu patamar mais elevado), sendo que as instalações esportivas e infraestrutura foram responsáveis por gerar mais de 20 mil empregos permanentes. Na área do turismo, os Jogos fizeram com que em menos de vinte anos, passasse a representar 12% do PIB da cidade (antes representava entre 1 e 2%), sendo que o número de estrangeiros visitando a cidade passou para 3,5 milhões de pessoas por ano.
Comparado com 1986, a malha rodoviária de Barcelona aumentou em 15% após as Olimpíadas. O sistema portuário aumentou em 17% e a área verde em 78%. Outro ponto a se destacar é que as Olimpíadas em 1992 trouxeram para Barcelona um crescimento muito grande na confiança econômica, graças as atividades das empresas que chegaram a cidade.
As Olimpíadas de Londres mostraram que é possível recuperar completamente uma determinada região. Era uma antiga região industrial que estava abandonada e desconectada com o resto da cidade, onde não havia nenhum tipo de investimento. Os Jogos fizeram com que o governo fizesse uma completa despoluição da área. Houve um investimento de R$ 126 milhões para recuperar a Docklands Light Railway, construindo 30 novas pontes e túneis, além de um anel rodoviário de 12 km ao redor do Parque Olímpico. No futuro, essa região será uma fronteira imobiliária, pois está integrada à toda Londres e tem uma estrutura moderna.
Os Jogos Olímpicos demonstram ter um potencial muito grande, se organizado corretamente, para o desenvolvimento de suas cidades sede. A Copa do Mundo, sendo o evento esportivo de maior audiência do mundo, também pode ter esse efeito sobre suas sedes.
Tomando o exemplo da última Copa, na África do Sul (sede da abertura foi Johanesburgo) em 2010, o evento representou um aumento significativo no PIB do país, com mais de 50 mil empregos permanentes gerados (entre 130 mil a 250 mil no total). Além disso, houve um gasto de aproximadamente R$ 530 milhões durante a estadia de mais de 300 mil turistas. A região do estádio Ellis Park recebeu, entre 2001 e 2008, um investimento de US$ 15,4 milhões do governo e outros US$ 55,6 milhões do setor privado em urbanização e infraestrutura. Na parte dos transportes, foi construído um sistema que liga a periferia ao centro (Bus Rapid Transit) e um trem de alta velocidade ligando Johanesburgo a Pretoria e ao aeroporto OR Tambo. Outro ponto a se destacar é que a cidade conseguiu mudar sua imagem perante o mundo em relação aos seus problemas com segurança e criminalidade.
No caso da Alemanha, Munique na abertura em 2006, a Copa representou um aumento de 1,7% no PIB do país, sendo que o turismo entre 2006 e 2008 representou 1,6 bilhões de euros. Criou 50 mil novos empregos, gerando um valor econômico de 1,5 bilhões de euros. Em todas as cidades sede foram gastos 3,58 bilhões de euros no total em infraestrutura de transporte, com 7,2 milhões de turistas a mais se comparado ao mesmo período no ano anterior a Copa, sendo que 75% deles foram especialmente por causa dela. Foram vendidos mais de 1,26 milhões de ingressos para os jogos, sendo que os contratos de TV e rádio geraram uma receita superior a quatro bilhões de euros. Na questão da imagem para o mundo, 95% dos turistas entrevistados afirmaram que o povo alemão é amigável, aumentando a recomendação do país como um destino de viagem.
No Brasil já existem alguns impactos consolidados com a Copa de 2014. Os gastos no país relacionados à Copa chegam a R$ 29,60 bilhões, sendo que esse investimento gera uma renda de R$ 63,48 bilhões. Além disso, as obras da Copa já geraram 3,63 milhões de novos empregos. Essa produção deverá aumentar a arrecadação tributária em R$ 18,13 bilhões. Os setores que mais foram beneficiados, ou seja, que mais aumentaram suas atividades foram: construção civil, alimentos e bebidas, serviços de informação, turismo/hotelaria, serviços prestados a empresas e eletricidade/água/gás/esgoto/limpeza urbana. Por tudo isso, a Copa deve impactar os PIBs municipais em R$ 7,18 bilhões, graças aos investimentos de R$ 14,54 bilhões nas cidades sede.
Existem alguns exemplos no mundo de investimentos em equipamentos esportivos que acabaram por valorizar ou revitalizar uma região da cidade. Dois exemplos são o Petco Park e o Estádio Amsterdã Arena.
O primeiro se localiza em uma das regiões que era considerada das mais perigosas e degradas de San Diego, a East Village. A construção do estádio se deu devido a uma parceria entre o governo e um time de baseball para a capitação de recursos financeiros. Após três anos da inauguração do estádio, mais de U$ 4,3 bilhões estão previstos para serem empregados em residências, comércio ou serviços públicos, se tornando referência mundial. O segundo exemplo mostra que a construção da Arena em Amsterdã conseguiu revitalizar uma região dominada por imigrantes do Suriname e da África que moravam em guetos, onde dominava o vandalismo, poluição e criminalidade. Além da valorização e melhora na condição de vida das pessoas, houve um maior fluxo de “visitantes” devido a uma maior acessibilidade.
No Brasil mesmo existem casos de revitalização e valorização de uma área com a construção de um estádio de futebol, como o estádio do Morumbi e o Maracanã, porém em outras épocas e com um contexto da região completamente diferente do que ocorre em Itaquera.
Contextualização de Itaquera
De acordo com dados retirados da Pesquisa Origem e Destino realizada pelo metrô de São Paulo em 2007, a Zona Leste é a região com maior número de habitantes da cidade, com mais de quatro milhões de habitantes e também a maior densidade populacional. Apesar disso, ela é a região com menor índice de densidade de emprego, mostrando que a população que mora lá tem que se deslocar para outros centros para conseguir trabalhar.
Outro ponto a se destacar é que a densidade construtiva da Zona Leste se encontra em melhores condições nas regiões mais próximas ao centro da cidade e na região em estudo, Itaquera, encontram-se as famílias com menor renda.
Sobre Itaquera especificamente, o estádio será construído no que é considerado centro comercial do bairro, tendo ao lado o shopping Metrô Itaquera, o Poupatempo e a estação de metrô e da CPTM Corinthians-Itaquera. Além disso, encontra-se próximo à estação Artur Alvim, importante pelas linhas de ônibus em circulação na região. Também em construção próximo ao futuro estádio esta o Pólo Institucional e Tecnológico de Itaquera, que engloba escolas técnicas e laboratórios.
No que diz respeito ao acesso à região, além das já citadas estações de metrô e CPTM, Itaquera tem duas grandes avenidas que a atravessam: a Av. Radial Leste (sentido leste-oeste) e a Av. Jacu-Pêssego (sentido norte-sul). Talvez por mau planejamento, as duas avenidas não têm alças de acesso que as conectem, causando muitas vezes má circulação e transtornos na região.
Um ponto muito defasado em Itaquera são as áreas de lazer que a região dispõe. Com poucas áreas verdes que recebem tratamento digno, a população de Itaquera tem poucas alternativas para receberem esse tipo de atendimento, se limitando a lugares como o SESC Itaquera e o Parque do Carmo, por exemplo. Em relação a equipamentos essências (como UBSs e EMEIs, por exemplo), a principal carência encontra-se no baixo número de vagas em creches.
Com relação aos tipos predominantes de tecido urbano encontram-se as favelas, os conjuntos habitacionais (COHAB e CDHU) e os loteamentos irregulares (e alguns regulares de baixo padrão). Além disso, é importante ressaltar que a maioria das ocupações está localizada em áreas de risco de desabamento ou enchentes.
Tendo em vista o contexto em que a população de Itaquera está inserida e destacando tantos problemas, a próxima parte desse estudo buscará mostrar os investimentos realizados na região antes da construção do estádio (e, consequentemente, antes do anúncio da abertura da Copa do Mundo na região) e os investimentos realizados após o início dos trabalhos e os benefícios e/ou malefícios de tal obra para Itaquera.
Benefícios e malefícios da Copa do Mundo para Itaquera
Apesar do que se pensa e muitas vezes são falados na mídia, os investimentos na Zona Leste não começaram por causa da Copa do Mundo. Em Itaquera, especificamente, existiram muitos investimentos durante a década de 1990 principalmente, como as obras da Avenida Jacu-Pêssego.
Antes disso, no final da década de 1980, foi inaugurada a estação de metrô Corinthians-Itaquera e, mais recentemente, o Shopping Itaquera.
Alguns investimentos já começam a serem realizados por causa da abertura da Copa, como a injeção de R$ 1,2 bilhão do BNDES para reformas no aeroporto de Guarulhos. Apesar de ser importante um aeroporto em boas condições, esse tipo de investimento não atinge diretamente a população de Itaquera.
Apesar disso, pode-se dizer que, de fato, não há uma grande movimentação para a realização de investimentos em Itaquera. Por conta disso, há o argumento forte de que a realização da abertura da Copa em um estádio construído na região fará com que a Zona Leste se torne um foco para que empresas invistam seu dinheiro.
Os benefícios relacionados a esse evento e o que de fato ficará com a população se denominam o legado da Copa do Mundo. A estimativa do governo, dos organizadores e dos idealizadores do estádio é de que o evento traga melhorias diretamente nos setores de infraestrutura, imobiliário e econômico.
No que diz respeito à infraestrutura há promessas de melhorias nas avenidas que cercam o estádio (Radial Leste e Jacu-Pêssego), no metrô e na linha de trem, além da diminuição da criminalidade. A questão imobiliária envolve diversos investimentos não só do governo como de empresas privadas, a fim de criar novas moradias, melhorar a condição de vida e da imagem de Itaquera. No setor econômico se espera uma maior geração de empregos, aumento do PIB e do potencial de consumo. Recentemente a prefeitura de São Paulo anunciou que realizará a Operação Urbana Consorciada Rio Verde – Jacu, que promete melhorar o acesso da Zona Leste com o centro da cidade. Do ponto de vista social, a realização da Copa do Mundo em Itaquera pode aumentar a auto-estima do povo, melhorias na educação e capacitação, além de, teoricamente, melhorias em segurança e saúde.
De fato, na teoria, a realização de tal evento pode trazer heranças muito boas para a região, porém existem alguns fatos que podem ser ruins para a população de Itaquera.
Primeiramente houve por parte da FIFA, a fim de evitar aglomerações e tumultos, recomendou à SPTrans que a estação de metrô Corinthians-Itaquera não fosse utilizada durante a realização da Copa do Mundo, o que pode prejudicar vários moradores da região que dependem desse meio de transporte. No que diz respeito ao investimento que deveria ser feito na região, a experiência no Pan-americano de 2007, no Rio de Janeiro, mostra que o orçamento final foi oito vezes maior do que o inicial, dinheiro que poderia ser aplicado de outra forma. (SAMPAIO, 2012)
O fato de que a obra pode ter uma paralisação por conta do atraso da emissão dos CIDs e do financiamento do BNDES, pode fazer com que se gaste mais dinheiro a fim de evitar um “vexame” e os investimentos se tornem menores, podendo não cumprir algumas das promessas que foram feitas anteriormente.
Para finalizar, um dos pontos mais negativos nesse contexto é que a própria população de Itaquera pode ser prejudicada. O dossiê, Megaeventos e Violações de Direitos Humanos, aponta que 160 mil famílias podem ser removidas dos seus lares, o que iria contra todos os argumentos de melhorias e desenvolvimento da região e seu povo (SAMPAIO, 2012).
Considerações finais
É inegável a visibilidade e o potencial de investimentos que a realização de um Megaevento em um país pode proporcionar. Uma Copa do Mundo no Brasil, depois de mais de 50 anos com toda certeza movimentará uma quantidade muito grande de dinheiro.
A partir de tudo isso e do que foi apresentado anteriormente aqui, é inegável que tal acontecimento pode mudar a situação de uma população. Além disso, temos exemplos no próprio Brasil de que a construção de um estádio revitalizou e ajudou no desenvolvimento de determinadas regiões.
A Zona Leste de São Paulo e, por sua vez, o bairro de Itaquera são regiões muito carentes de investimentos em todos os setores. O argumento de desenvolver a região e ajudar seu povo é repetido exaustivamente quando se fala na abertura da Copa do Mundo, e é um motivo muito forte inclusive. De fato, se o dinheiro for bem investido e o governo municipal, estadual e federal conseguirem organizar junto aos responsáveis pelo torneio para atrair empresas dispostas a investir na região e melhorar a condição de vida dessa população e, ao mesmo tempo, proporcionar uma boa realização desse evento, pode-se dizer que o impacto é positivo.
Porém, como foi visto até agora, possíveis atrasos na obra e ameaças de desapropriação de milhares de moradores da região mostram que a realização da Copa do Mundo e sua abertura no estádio a ser construído pelo Sport Club Corinthians Paulista podem ter motivos que passem longe de servir como foco de desenvolvimento da região.
Apesar disso, o impacto e motivos de tal evento na região só serão analisados com maior propriedade futuramente, onde poderá se verificar qual foi o legado da realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
Referências bibliográficas
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MASCARENHAS, G.; OLIVEIRA, L. D. “Adeus ao proletariado?”: A dimensão simbólica do estádio da cidadania (Volta Redonda – RJ / Brasil). EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, nº 101, out. 2006. http://www.efdeportes.com/efd101/estadio.htm
SAMPAIO, P. A. C.; SILVA, J. V. P.; BAHIA, C. S. Investimento em infraestrutura do Mundial FIFA 2014: “Quem ganha?” e “Quem paga a fatura?”. Motrivivência, ano XXIV, nº 39, p. 76-91, dez./2012.
Sites
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Prefeitura SP. Operação Urbana Rio Verde – Jacu. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/novas_operacoes_urbanas/termos_de_referencia/index.php?p=17817. Acesso em: 10 de março de 2013.
R7 Esportes. Fielzão: remoção de moradores causa revolta na zona leste. Disponível em: http://esportes.r7.com/futebol/noticias/fielzao-remocao-de-moradores-causa-revolta-na-zona-leste-20110711.html. Acesso em: 16 maio 2012.
Terra Esportes. Com São Paulo em risco, Teixeira se reúne com paulistas após a Copa. Disponível em: http://esportes.terra.com.br/futebol/copa/2014/noticias/0,,OI4501549-EI18776,00-Com+Sao+Paulo+em+risco+Teixeira+se+reune+com+paulistas+apos+a+Copa.html. Acesso em: 20 de agosto 2012.
Terra Esportes. Jornal: abertura da Copa 2014 tem que ser em SP, diz R. Teixeira. Disponível em: http://esportes.terra.com.br/futebol/copa/2014/noticias/0,,OI4500979-EI18776,00-Jornal+abertura+da+Copa+tem+que+ser+em+SP+diz+R+Teixeira.html. Acesso em: 20 de agosto 2012.
Terra Esportes. Pacaembu, Arena e estádio corintiano surgem como opções em SP. Disponível em: http://esportes.terra.com.br/futebol/copa/2014/noticias/0,,OI4501252-EI18776,00-Pacaembu+Arena+e+estadio+corintiano+surgem+como+opcoes+em+SP.html. Acesso em: 20 de agosto 2012.
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EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 18 · N° 179 | Buenos Aires,
Abril de 2013 |