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Considerações contextuais e conceituais acerca 

do excesso de peso corporal em adolescentes

Consideraciones contextuales y conceptuales sobre el exceso de peso corporal en adolescentes

Contextual and conceptual notes about body weight excess in adolescents

 

*Laboratório de Atividade Motora Adaptada

Centro de Ciências da Saúde e do Esporte

Universidade do Estado de Santa Catarina

**Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano

Centro de Ciências da Saúde e do Esporte

Universidade do Estado de Santa Catarina

(Brasil)

Carla Regiane Vargas* **

carlavargas80@yahoo.com.br

Gisele Graziele Bento* **

Franciele Cascaes da Silva* **

Beatriz Angélica Valdívia Arancibia*

Paulo José Barbosa Gutierres Filho*

Rudney da Silva* **

rudney.silva@udesc.br

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo discutir os aspectos relacionados ao excesso de peso corporal em adolescentes a partir da compreensão da transição nutricional, das conceituações do estado nutricional e dos critérios em antropometria. Para tanto, foram incluídas obras da literatura especializada sobre o fenômeno da transição nutricional, as diversas conceituações do estado nutricional e os diferentes critérios em antropometria. Foram selecionados somente artigos completos, escritos em língua inglesa e portuguesa e publicados na última década. Deste modo, pode-se concluir que ocorreram diversas mudanças políticas, econômicas e sociais, que provocou a transição nutricional. O excesso de peso e a obesidade afeta principalmente crianças e adolescentes pela sua vulnerabilidade social, educacional e familial, devido às disponibilidades alimentícias, o poder de compra, os costumes alimentares e o estilo de vida adotado. Conclui-se ainda que a diversidade dos critérios de antropometria acarreta dificuldades na definição de excesso de peso e obesidade e, conseqüentemente, na comparação dos resultados de publicações nacionais e internacionais.

          Unitermos: Adolescência. Atividade física. Excesso de peso corporal.

 

Resumen

          Este estudio tiene como objetivo discutir los aspectos relacionados al exceso de peso corporal en adolescentes a partir de la comprensión de la transición nutricional, la conceptualización del estado nutricional y los criterios en antropometría. Para tal efecto, fueron incluidos textos especializados de literatura sobre el fenómeno de la transición nutricional, los diversos conceptos de estado nutricional y los diferentes criterios en antropometría. Fueron solamente seleccionados artículos completos, escritos en lengua inglesa y portuguesa, publicados en la última década. De este modo, se puede concluir que ocurren diversos cambios políticos, económicos y sociales, que provocan la transición nutricional. El exceso de peso y la obesidad afecta principalmente a niños y adolescentes por su vulnerabilidad social, educacional y familiar, debido a la disponibilidad alimenticia, al poder de compra, las costumbres alimentares y el estilo de vida adoptado. Se puede concluir, que la diversidad de los criterios de antropometría trae consigo dificultades en la definición de exceso de peso y obesidad, y consecuentemente, en la comparación de resultados de publicaciones nacionales e internacionales.

          Unitermos: Adolescencia. Actividad física. Exceso de peso corporal.

 

Abstract

          This study was to discuss the aspects related to excess body weight in adolescents from the understanding of the nutritional transition, the concept of nutritional status and the criteria in anthropometry. Thus, we included works of literature on the phenomenon of nutritional transition, the different conceptualizations of nutritional status and the different criteria in anthropometry. We selected only full articles, written in English and Portuguese language and published in the last decade. Thus, we can conclude that various changes occurred political, economic and social, which caused the nutrition transition. Overweight and obesity affects mostly children and teenagers by their social vulnerability, educational and familial due to food availability, purchasing power, food habits and lifestyle adopted. It is concluded that the diversity of criteria anthropometry entails difficulties in the definition of overweight and obesity, and therefore the comparison result of national and international publications.

          Keywords: Adolescence. Physical activity. Excess body weight.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As necessidades impostas pelo estilo de vida atual vêm modificando os comportamentos nutricionais e de atividade física que podem alterar as características da composição corporal de adolescentes, favorecendo o aumento da prevalência dos estados de excesso de peso e obesidade (ALMEIDA; SILVA; CYRINO, 2009), prejudicando a saúde desses indivíduos, principalmente pela influência ao consumo e à utilização dos nutrientes (CHRISTAKIS, 1973; VASCONCELOS, 2008). McLaren (1976) aponta que o estado nutricional pode ser definido como uma resultante do equilíbrio entre o consumo alimentar e as necessidades nutricionais. Contudo, deve-se destacar que, nas sociedades industrializadas, ocorre uma transição nutricional caracterizada pelo aumento progressivo da obesidade em substituição à desnutrição de adolescentes (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; MONDINI et al., 2007; SIMÕES; NAVARRO, 2008; ALMEIDA; SILVA; CYRINO, 2009).

    A transição nutricional, no Brasil, ocorreu nas décadas de 70 e 80 (CINTRA et al., 2007) e está relacionada às diferenças no estado nutricional, as quais podem ter influências genéticas, ambientais ou interação de ambas (FONSECA; SICHIERI; VEIGA, 1998). A transição nutricional se torna evidente na infância e na adolescência a partir do pouco controle sobre o ambiente em que vivem essas populações, por exemplo, naquilo que se refere à disponibilidade nutricional, à influência dos hábitos inativos parentais e às mudanças ambientais típicas da escola (MONDINI et al., 2007). A transição nutricional brasileira evidencia a relevância do monitoramento do estado nutricional, principalmente para a fase da adolescência (SILVA et al., 2008), o qual pode ser realizado através de avaliações antropométricas que considerem as dimensões físicas e a composição global do corpo humano como seus indicadores, auxiliando no processo de controle do crescimento e do desenvolvimento infanto-juvenil e atentando precocemente para agravos à saúde (SALOMONS; RECH; LOCH, 2007).

    A avaliação antropométrica é um método amplamente utilizado e que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde – OMS principalmente para estudos epidemiológicos, pois apresenta facilidade de execução, baixo custo e inocuidade, além de relativa precisão na detecção de problemas associados ao estado nutricional, principalmente de excesso de peso corporal, como a obesidade e o sobrepeso (WHO, 1995; SIGULEM; DEVINCENZI; LESSA, 2000; CINTRA et al., 2007; DUMITH; FARIAS Jr., 2010). O excesso de peso corporal é considerado um dos principais problemas nutricionais que acomete adolescentes em todo o mundo, configurando-se como um grave problema de saúde pública nas últimas décadas (ALBANO; SOUZA, 2001; PADEZ et al., 2004; ALMEIDA; SILVA; CYRINO, 2009).

    Considerando que a obesidade é um dos graves problemas da sociedade atual, este estudo teve como objetivo discutir os aspectos relacionados ao excesso de peso corporal em adolescentes a partir da compreensão da transição nutricional, das conceituações do estado nutricional e dos critérios em antropometria. Para tanto, foram realizados levantamentos bibliográficos durante os anos de 2011 e 2012, principalmente no portal de buscas dos Periódicos Capes, além das bibliotecas universitárias da região metropolitana da capital do estado de Santa Catarina. Foram levantadas ainda obras disponíveis na literatura especializada sobre o fenômeno da transição nutricional, conceituação do estado nutricional e diferentes critérios em antropometria. Para análise do material levantado, foram utilizadas ferramentas elementares da análise de conteúdo e da revisão sistemática para identificação, seleção, padronização e apresentação dos resultados, neste caso, das prevalências disponíveis nos artigos identificados (BARDIN, 2000; LAVILLE; DIONE, 2003).

Aspectos contextuais e conceituais relacionados ao estado nutricional

    No Brasil, ocorreram transformações quanto à geração de renda, estilos de vida e, especificamente, demandas nutricionais (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; KAC; VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ, 2003). Nos anos 50 ocorreram mudanças na geração de renda que foram associadas à transição demográfica de uma população rural de 66% para uma população urbana com mais de 80% (IBGE, 2000; BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). Além da rápida transição demográfica, houve outras mudanças, como na estrutura das ocupações e empregos, passando de um mercado primário (agropecuária, agricultura) para o setor secundário e terciário da economia (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). Nas demandas nutricionais, as mudanças foram sentidas a partir da década de 80, com a diversificação da produção e do consumo, a qual ocorreu com lançamento de produtos semiprontos, étnicos, dietéticos, saudáveis e naturais (MENDONÇA; ANJOS, 2004).

    As alterações nas demandas nutricionais se evidenciaram com o crescimento econômico, a urbanização e a industrialização. Para Cyrillo, Saes e Braga (1997), o crescimento econômico se dá pelo aumento da renda per capita. No entanto, o problema mais eminente está na concentração de renda, que tem se agravado cada vez mais nas últimas décadas, evidenciando assim desigualdade de renda, considerado um dos problemas da população pobre brasileira. Contudo, o país não tem dificuldades em gerar renda (IBGE, 2000), pois a renda média do trabalho seria suficiente (se distribuída de maneira equânime) para satisfazer às necessidades básicas de todos os brasileiros. A distribuição de renda e o aumento do poder de compra poderá ser uma das soluções para recuperação de carências alimentares e nutricionais no Brasil (BARROS; TARTAGLIA, 2003).

    Além das questões econômicas, as alterações nutricionais foram evidenciadas pelo processo de industrialização e modernização. A industrialização dos alimentos é apontada como uma das principais causas para o crescimento energético da maioria das populações do ocidente (MENDONÇA; ANJOS, 2004). Nas três últimas décadas, o aumento energético se deu com a crescente substituição de proteínas vegetais por proteínas animais e de carboidratos por lipídios. Com isso, os riscos de obtenção de doenças crônico-degenerativas se elevaram (BARRETTO; CYRILLO, 2001). Além disso, o aumento da ingesta energética contribuiu para a transição nutricional, em que há a inversão nos problemas nutricionais de uma população, sendo, em geral, mudança da desnutrição para a obesidade, caracterizada como transição nutricional (KAC; VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ, 2003; MONDINI et al., 2007; SIMÕES; NAVARRO, 2008).

    No Brasil, atualmente, observa-se essa transição nutricional em toda a população, principalmente entre adolescentes. Entretanto, nas regiões mais pobres do país, isso ocorre com menor proporção (ALMEIDA; SILVA; CYRINO, 2009). Para Cintra et al.(2007), a transição nutricional brasileira iniciou entre 1974/1975 e 1989, com significativa redução da mortalidade infantil, desnutrição e o aumento da obesidade. Segundo Batista Filho e Rissin (2003), os resultados encontrados nas últimas três décadas demonstram um forte indicativo de um comportamento epidêmico de excesso de peso e obesidade entre adolescentes. A disponibilidade de alimentos pode ter colaborado para a transição nutricional brasileira, pois a quantidade energética por pessoa no ano de 1965 era 2.330 Kcal, passando no ano de 1997 para 2.960 Kcal, inclusive ultrapassando os requerimentos médios diários. A evolução da disponibilidade de alguns grupos alimentares, em alguns aspectos, foi favorável para subnutrição (consumo de produtos de origem animal), no entanto, para o excesso de peso e a obesidade, foi desfavorável (BARRETO et al., 2005).

    O excesso de disponibilidade alimentar, por ser relacionado ao padrão de vida, acesso à alimentação e moradia, é considerado, pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento, como um dos principais problemas de saúde na adolescência (BARBOSA FILHO et al., 2010). A disponibilidade domiciliar de alimentos durante a adolescência pode ter influências dos hábitos alimentares de seus familiares e o pouco controle sobre o ambiente em que vive (fatores de riscos nutricionais) (SIGULEM; DEVINCENZI; LESSA, 2000; MONDINI et al., 2007). Há outros fatores que podem influenciar no estado nutricional, como o próprio estilo de vida dos adolescentes da atualidade, o hábito de omitir refeições e consumir refeições rápidas (FONSECA; SICHIERI; VEIGA, 1998).

    As mudanças nos padrões nutricionais e as características antropométricas, principalmente de adolescentes de baixa renda, contribuem para o aumento nas prevalências de excesso de peso e obesidade (ALMEIDA; SILVA; CYRINO, 2009). Para compreender os padrões nutricionais de adolescentes com vulnerabilidade social, necessita-se conhecer as principais conceituações do estado nutricional expostos na literatura, como pode ser observado no Quadro 1, exposto a seguir.

Quadro 1. Definições de estado nutricional

    As definições de estado nutricional encontradas na literatura possuem enfoques biológicos e sociais. As principais definições sobre o estado nutricional, na sua maioria, dizem a respeito das questões biológicas, como o consumo e gasto energético (CHRISTAKIS, 1973; MCLAREN, 1976; VASCONCELOS, 1995). Na definição de Monteiro (1978), também há tendências biológicas, no entanto, relaciona-as aos costumes alimentares dos familiares. Na dimensão social, temos o conceito da OMS (1999), que observa o nível de produção alimentícia e o poder de compra com costumes alimentares familiares. O estado nutricional, em relação ao nível biológico, pode ser expresso em três modalidades de manifestação orgânica: 1) manifestação produzida pelo equilíbrio entre o consumo e as necessidades; 2) manifestação produzida pela insuficiência quantitativa e/ou qualitativa do consumo em relação às necessidades; 3) manifestação produzida pelo excesso ou desequilíbrio do consumo de alimentos em relação às necessidades (VASCONCELOS, 2008). A dimensão biológica do conceito de estado nutricional pode ser observada na Figura 1.

Figura 1. Dimensão biológica do conceito de estado nutricional. Fonte: Vasconcelos (2008)

    A compreensão das diferenciações do estado nutricional, principalmente nas diversas classes sociais e nos distintos indivíduos, demanda o conhecimento das determinações (1) estruturais, que correspondem aos processos gerais da organização social, (2) particulares, que se referem ao consumo de cada classe socioeconômica, e (3) individuais, que se relacionam à organização da produção e consumo alimentar individual (VASCONCELOS, 2008). Esses três níveis podem ser observados na Figura 2, que demonstra a dimensão social do conceito do estado nutricional.

Figura 2. Dimensão social do conceito de estado nutricional. Fonte: Vasconcelos (2008)

    Considerou-se como definição do estado nutricional a relação entre a ingestão alimentar e as necessidades nutricionais, levando em conta o nível de produção alimentícia e o poder de compra relacionado aos costumes alimentares familiares (CHRISTAKIS, 1973; MCLAREN, 1976; OMS, 1999; VASCONCELOS, 1995). A determinação do estado nutricional principalmente em adolescentes se torna cada vez mais evidenciado, pois, no Brasil e em todo o mundo, têm ocorrido transformações nas demandas nutricionais. Essas mudanças podem ser observadas com a transição nutricional, com um rápido declínio de desnutrição e um aumento na prevalência da obesidade. Essa transição deve-se em parte pela disponibilidade domiciliar de alimentos durante a adolescência. O estado nutricional de adolescentes tem se modificado principalmente devido à transição nutricional, portanto, o monitoramento dessa população se faz necessário.

Critérios de referência em antropometria para adolescentes

    A composição corporal de adolescentes vem mudando negativamente, principalmente com o aumento na prevalência da obesidade (ALMEIDA; SILVA; CYRINO, 2009). A avaliação do estado nutricional tem sido amplamente utilizada, pois avalia o crescimento e as proporções corporais em um indivíduo ou em uma comunidade, visando a estabelecer atitudes de intervenção (SIGULEM; DEVINCENZI; LESSA, 2000). Além disso, a antropometria é considerada, na avaliação do estado nutricional, como o método mais utilizado de diagnóstico nutricional em nível populacional, sobretudo na adolescência, pela sua facilidade de execução, baixo custo e inocuidade. O método antropométrico possui limitações, no entanto, é utilizado universalmente e proposto pela OMS (SIGULEM; DEVINCENZI; LESSA, 2000; CINTRA et al., 2007). A antropometria visa monitorar a evolução das modificações do crescimento durante a adolescência, verificando os sujeitos expostos ou não aos déficits nutricionais e aos excessos (WHO, 1995; SIGULEM; DEVINCENZI; LESSA, 2000).

    Para a obtenção do índice de massa corporal – IMC utilizam-se dados antropométricos, como peso corporal e estatura. O IMC é recomendado pela OMS para a prática clínica e para estudos epidemiológicos, devido à facilidade de utilização e ao baixo custo de mensuração (REILY, 2002; DUMITH; FARIAS Jr., 2010). A diferenciação dos valores de IMC para adolescentes comparados aos adultos requer pontos de cortes específicos por idade (REILY, 2002) e, dessa maneira, surgem diferentes critérios de IMC, obtidos a partir de estudos nacionais e internacionais através de metodologias e populações distintas (MUST et al., 1991; COLE et al., 2000; KUCZMARSKI et al., 2002; CONDE; MONTEIRO, 2006).

    Os critérios nacionais representam valores absolutos semelhantes para IMC entre diferentes conjuntos de dados nacionais, e assim proporcionam um grau de coerência nas definições entre nações (REILY, 2002). Os valores de referência publicados por Must et al. (1991) foram derivadas de NHANES I e recomendadas como de uso internacional pela OMS. Em seus conjuntos de dados, possui uma abordagem abrangente das curvas de crescimento, mesmo sendo advindos de populações dos EUA (FLEGAL et al., 2001).

    O critério de Cole et al. (2000) foi baseado em pesquisas realizadas em diversos países, incluindo Estados Unidos, Grã-Bretanha, Inglaterra, Singapura, Holanda, Hong Kong e Brasil, sendo recomendado pela International Obesity Task Force para avaliação nutricional de crianças e adolescentes na faixa etária de 6 a 18 anos (FLEGAL et al., 2001; CONDE; MONTEIRO, 2006; SILVA et al., 2008). Recentemente, os autores complementaram o estudo publicando valores para diagnosticar baixo peso, consequentemente permitindo determinar também o peso adequado (BARBOSA; SOARES; LANZILLOTTI, 2009). Para Cole et al. (2000), a referência que publicaram é menos arbitrária e mais internacional do que outros e recomenda o seu uso em comparações internacionais.

    Como referência nacional, o Brasil conta com os critérios de Conde e Monteiro para a avaliação nutricional de crianças e adolescentes, calculados a partir de medidas antropométricas obtidas para a população brasileira (SILVA et al., 2008). O conjunto de dados utilizados nessa referência do IMC foi originário da Pesquisa Nacional Saúde e Nutrição – PNSN, que incluiu crianças e adolescentes na faixa etária de 2 a 19 anos, realizada em 1989 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (CONDE; MONTEIRO, 2006; PEREIRA et al., 2010). O método empregado na construção dessa referência brasileira foi basicamente o mesmo utilizado na construção do padrão internacional do IMC (BARBOSA; SOARES; LANZILLOTTI, 2009; DUMITH; FARIAS Jr., 2010).

    Em 2007, publicou-se, nos dados atualizados do National Center for Health Statistics, o critério de Onis et al. como sendo o novo critério da OMS em relação à população norte-americana de 5 a 19 anos (SILVA et al., 2008) – um estudo multicêntrico (ONIS et al., 2007). Esse estudo teve como objetivo fornecer um padrão único internacional para a descrição do crescimento fisiológico de crianças de 0 a 5 anos de idade (PEREIRA et al., 2010). Devido à sua recente publicação, ainda é pouco utilizado para diagnósticos nutricionais em adolescentes e há pouca concordância com outros critérios de classificação do estado nutricional utilizados na literatura (BARBOSA FILHO et al., 2010). Os diferentes critérios de diagnósticos nutricionais têm convergido para referências que demonstrem a realidade em que as populações se encontram e, dessa maneira, possibilitam um diagnóstico cada vez mais preciso. A diversidade de critérios utilizados acarreta dificuldades na definição de excesso de peso e obesidade e, consequentemente, na comparação dos resultados de publicações nacionais e internacionais (ABRANTES; LAMOUNIER; COLOSIMO, 2003).

Considerações finais

    Com base nas análises realizadas, pode-se concluir que ocorreram diversas mudanças políticas, econômicas e sociais, que provocou a transição nutricional brasileira a partir das décadas 70 e 80 e que vem se desenvolvendo cada vez mais nas últimas décadas. A transição nutricional teve influencia do crescimento do consumo energético, afetando principalmente crianças e adolescentes pela sua vulnerabilidade nos âmbitos social, educacional e familiar, devido às disponibilidades alimentícias, o poder de compra, os costumes alimentares e o estilo de vida adotado. Algumas dessas mudanças são as principais causas do declínio dos estados de desnutrição e do aumento do excesso de peso corporal, e, portanto, justifica-se o monitoramento da composição corporal em indivíduos, por exemplo, na fase da adolescência, já que a obesidade é um problema de saúde pública que afeta a maioria dos países industrializados em praticamente todas as regiões do mundo, inclusive no Brasil. Conclui-se ainda, que a diversidade dos critérios de antropometria acarreta dificuldades na definição de excesso de peso e obesidade e, consequentemente, na comparação dos resultados de publicações nacionais e internacionais.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 179 | Buenos Aires, Abril de 2013
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