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Estratificação Social: considerações a partir
da obra de Melvin Tumin

La Estratificación Social: consideraciones a partir de la obra de Melvin Tumin

 

*Mestranda do Programa de Pós-Graduação

em Desenvolvimento Social – PPGDS, Unimontes

**Professora do Programa de Pós-Graduação

em Desenvolvimento Social – PPGDS, Unimontes

(Brasil)

Caroline Marci Fagundes Coutinho*

Maria do Carmo dos Santos Carvalho*

Maria da Luz Alves Ferreira**

Simone Narciso Lessa***

carminhacarvalho21@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Em busca de respostas para as questões das desigualdades econômicas, sociais e políticas, e com uma perspectiva já histórica do desenvolvimento do conceito, a estratificação social tem como objetivo fornecer amparo teórico para a compreensão de fenômenos sociais relacionados às desigualdades. Este paper tem como objetivo apresentar, a partir do livro Estratificação Social de Melvin M. Tumin, o desenvolvimento histórico do conceito de estratificação social e suas características.

          Unitermos: Estratificação Social. Melvin Tumin.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Estratificação Social: considerações históricas do desenvolvimento do conceito

    A história do surgimento do conceito de estratificação social se confunde com a história do pensamento social. Com interesses de compreensão de questões relacionadas às desigualdades econômicas, sociais e políticas, e ligando-as teoria da naturalidade, da permanência e da inevitabilidade, iniciou-se uma busca de respostas acerca da estratificação - e seu possível objetivo social - baseando-se nos conceitos de sociedade, classes e comportamento dos indivíduos. (TUMIN, 1970).

    Em uma análise cronológica, Melvin Tumin analisa o surgimento dos estudos sobre estratificação social de Platão aos Contemporâneos. O autor pontua que Platão idealizou uma nova sociedade, onde esta seria fundada nos princípios de justiça, estabilidade social e disciplina interna, e possivelmente governada por reis filósofos. Esta sociedade idealizada seria estratificada por classes, que seriam Guardiões, Auxiliares e Trabalhadores – cada uma teria funções distintas e definidas, mas a mobilidade entre classes era possível. Para Tumin (1970) esta proposta de sociedade pode ser caracterizada como estratificada e igualitária, pois a questão da oportunidade é considerada por Platão.

    Aristóteles, preocupado com as conseqüências da desigualdade em todos os aspectos sociais, acreditava que o Estado era formando por três classes: muitos ricos, muitos pobres e posição média. O autor pontuou que os pertencentes à posição média estão em melhor situação, pois consegue seguir o principio da racionalidade. Já Santo Tomás de Aquino e Santo Agostinho procuraram entender o porquê da sociedade humana ser caracterizada por gradações distintas e nítidas do poder, prestigio e propriedade. (TUMIN, 1970).

    Analisando Maquiavel, Tumin (1970) pontua questões relevantes da obra deste autor que indaga sobre questões relacionadas ao Estado, procurando identificar quem seria adequado para governar e que governo provocaria a ordem, felicidade, prosperidade e força. Para Maquiavel, a tensão entre elite e massa era necessária para a manutenção de uma sociedade organizada e assim idealizava uma nação aberta, onde a desigualdade seria legitima e desejável, desde que houvesse oportunidade igual para a desigualdade. Em oposição a este pensamento, Thomas Hobbes acreditava na existência de uma igualdade, e esta seria fundamental entre os homens. Este autor pontua que os homens possuem interesses em poder e privilégios de forma igual, mas esta busca pode ser amparada pelo contrato social.

    Karl Marx, atualmente, é o autor clássico mais relacionado aos estudos de estratificação social. Inicia seus estudos pontuando que a luta de classe possui aspecto central para a sociedade. Para este autor as classes surgem a partir de diferentes posições ou papéis que os indivíduos desempenham no esquema de produção de uma sociedade, sendo que nas formas de produção e nas relações de produção, o termo “versus” é crucial, definindo interesses.

    A abordagem marxista se distingue por sua acentuação no fato do poder econômico influencias a estratificação social. Contudo, nesta teoria, outros aspectos também são de relevante importância, como a i) consciência de classes - que relaciona ao reconhecimento por uma classe do papel que seus membros desempenham no processo de produção; ii) a solidariedade de classe: refere-se à ação conjunta dos operários para conseguir objetivos econômicos e políticos; e ao iii) o conflito de classe, que possui dois aspectos fundamentais: a luta inconsciente e a luta consciente. (TUMIN, 1970).

    Em uma abordagem comparativa a Marx, Tumin (1970) analisa a obra de Max Weber, onde considera que

    Para Weber, como para Marx, o controle da propriedade é um fato básico na determinação das oportunidades de vida de um individuo ou de uma classe. No entanto, ao contrário do que ocorria com Marx, Weber acrescenta à dimensão econômica da estratificação, duas outras dimensões: poder e o prestigio. Weber considerava a propriedade, o poder e o prestigio como três bases separadas, embora em interação em interação, a partir das quais se criam as hierarquias de qualquer sociedade. Sendo que as diferenças de propriedade criam as classes, as diferenciações de poder criam os partidos políticos e as diferenças de prestigio criam agrupamentos de status ou estratos. (TUMIN, 1970, p. 19).

    Contudo, Marx e Weber não estão de acordo em relação questão da constituição da comunidade, visto que para Marx é grande a probabilidade de que os membros da mesma classe econômica unam-se como membros de uma “comunidade”. Weber ainda discorda de Marx quanto à possibilidade da absorção da consciência de classe e de uma possível união em prol de uma luta comum por parte dos operários. (TUMIN, 1970).

    Em suma, Tumin (1970) acredita que

    Na abordagem de Weber temos uma interpretação da sociedade que contém três tipos de agregação social, diferentes quanto ao grau de unidade autoconsciente e comunidade de objetivo, diferentes quanto ao aspecto de premio ou recurso social que constituem seu interesse fundamental. (TUMIN, 1970, p. 21).

    Finalizando seu estudo sobre o desenvolvimento do conceito de estratificação social, Melvin Tumin (1970) aborda os estudos dos Norte-americanos contemporâneos. Inicialmente, nota-se a forte influência de Karl Marx e Max Weber nos trabalhos dos estudiosos desta escola. Utilizados como referências Robert Lynd e W. Lloyd Warner são os notáveis sociólogos que iniciaram o estudo da estratificação social na comunidade norte-americana. Robert Lynd, em uma combinação dos conceitos de Marx e Weber, analisou o impacto do poder econômico nas instituições políticas, sociais e educacionais. Já W. Lloyd Warner realizou o estudo empírico sobre a estratificação na sociologia norte-americana. Ele também procurou criar o Índice Padronizado de Características de Status, baseado em critérios norte-americanos para estimar a valor social.

    Outro autor de relevante importância foi C. W. Mills, onde ao estudar a questão das elites, afirmou que o “poder é o conceito básico nas relações sociais, e que o poder eficiente, pelo menos na sociedade americana, deriva de posições econômicas privilegiadas” (TUMIN, 1970, p. 23), e assim, existe uma associação entre as elites econômica e militar, onde estas buscam uma formação de uma elite do poder.

    Com estas influências, as reflexões sobre estratificação social alcançaram um lugar central na sociologia contemporânea, sobretudo a norte-americana. Comprova-se esta importância pelo elevando número de estudos relacionados à estratificação realizados a partir de 1945 e pela importância que, ao estudar qualquer fenômeno social, os indicadores de poder e econômicos sempre são pontuados.

    Dessa forma o termo mais utilizado é estratificação social ao invés de desigualdade social, sendo que a estratificação social é entendida como a disposição de um grupo ou sociedade numa hierarquia de posições desiguais com relação a poder, propriedade, valorização social e satisfação psicológica, assim

    O poder refere-se á capacidade da pessoa para conseguir seus objetivos de vida, mesmo diante de oposição. A propriedade pode ser definida como direitos de bens e serviços. A valorização refere-se a um julgamento societário de que uma posição ou um status são mais prestigiosos ou honrosos do que outros, ou mais populares, ou preferíveis por uma ou outra razão. A satisfação psicológica inclui todas as fontes de prazer e contentamento que não sejam classificáveis como propriedade, poder ou valorização. (TUMIN, 1970, p. 27).

    Os termos propriedade, poder, valorização e satisfação psicológica não podem ser considerados como termos concretos uma vez que se referem a aspectos abstratos como, por exemplo, a renda que constitui o poder, possuir certo tipo de carro, casa e emprego a pessoa pode gozar de certo prestigio.

2.     Características da Estratificação Social

    Identificando como cinco características importantes quanto à estratificação social, Tumin (1970) acredita que estas são fundamentais para a definição do conceito: 1) Tem caráter social, isto é, padronizado; 2) é antigo, isto é, foi observado em todas as sociedades do passado; 3) é onipotente; 4) é diverso em suas formas; e 5) tem influência, isto é, as coisas mais importantes, mais desejadas e, frequentemente, mais escassas na vida humana, constituem os materiais básicos que são desigualmente distribuídos.

    É importante ressaltar que em qualquer sociedade encontramos regras que determinam como o poder, o prestigio, a honra, a propriedade e a satisfação psicológica serão distribuídos, sendo que as normas que governam a distribuição da honra e da satisfação psicológica são mais informais em relação às outras.

    As normas tendem a refletir principalmente os interesses daqueles que detém o poder, fazendo com que as pessoas se conformam com as regras, pois mesmo aqueles que estão em degraus mais baixos da sociedade não se manifestam quanto à imposição de tais regras e isso Tumin (1970) associa esse conformismo à falta de períodos de inquietação revolucionária no qual as pessoas se manifestariam contra tais regras, ou seja, essa aceitação mostra a força e a durabilidade das normas.

    As normas ganham força já que elas são repassadas de geração em geração, pois as crianças desde cedo aprendem tais regras, pois

    A transmissão social ou socialização de acordo com as normas, de uma geração para geração seguinte, é indispensável para a continuidade das normas. Cada sociedade precisa ser criada de novo com o nascimento de cada criança. Nenhum conjunto de padrões sociais tem mais permanência do que aquela que lhe é dada pelos padrões de transmissão de adulto a criança, o que se denomina, tecnicamente, processo de socialização. (TUMIN, 1970, p. 32).

    De acordo com Tumin (1970), o mais importante em relação ao status é a profissão que a pessoa exerce na sociedade, pois é ela que enquadra os indivíduos em um estrato diferente na sociedade, ou seja, é a profissão que determina em que grupo a pessoa vai pertencer, pois status diferentes gozam de diferentes cotas de poder, propriedade e prestigio, sendo que os status equivalentes se agrupam em estratos iguais.

    Os estratos consistem de status socialmente definidos que recebem cotas socialmente determinadas de poder, propriedade e prestígio, portanto a palavra social é um qualitativo importante para compreender a estratificação social.

    Com relação à estratificação social não podemos levar em conta desigualdades biológicas, pois características como força, inteligência, idade, sexo não são suficientes para explicar porque alguns status possuem mais poder, propriedade e prestígios que outros, ou seja, não explica como um gerente consegue subir de cargo, pois este não utiliza a força para conseguir status e sim faz uso de suas habilidades, personalidade, caráter.

    O termo estratificação ligado à palavra social também significa que ele está ligado a outros aspectos da sociedade e com isso ele traz algumas conseqüências como: a) a estratificação depende de sentidos socialmente atribuídos e de prescrições e critérios socialmente definidos; b) as normas e sanções são integrantes fundamentais para a formação e manutenção do sistema; c) as normas precisam ser ensinadas de geração em geração; d) qualquer sistema tende, pelo menos até certo ponto, a ser instável, em parte por que a socialização nunca é igual em toda a sociedade, e parte por causa de outros fatores perturbadores, por exemplo, proporções de nascimentos em diferentes estratos; e) qualquer sistema de estratificação esta intimamente ligado, como “causa” e como “efeito”, com outros sistemas da sociedade, por exemplo, instituições políticas, religiosas, econômicas e educacionais. (TUMIN, 1970).

    De acordo com registros históricos e arqueológicos, a estratificação sempre existiu desde os bandos pequenos que se diferenciavam em relação ao sexo, idade e também sempre houve a diferenciação entre ricos e pobres, poderosos e humildes, homens livres e escravos, ou seja, essa hierarquia é uma ordem natural das coisas, sobretudo para os colocados no alto das hierarquias. Sendo assim é importante notar a universalidade de alguma forma de desigualdade, socialmente estruturada e sancionada, de poder, propriedade e prestigio, ou seja, em nenhuma comunidade, mesmo as mais simples nunca houve igualdade total.

    Podemos identificar então duas conseqüências quanto à estratificação social, uma se refere às oportunidades de vida que se referem à, por exemplo, proporção e incidência de mortalidade infantil, longevidade, doenças físicas e mentais, ausência de filhos, conflito conjugal, separação e divórcio. A outra conseqüência seria os estilos de vida que incluem o tipo de casa e bairro em que a pessoa vive as atividades de recreação, os produtos culturais que a pessoa tem probabilidade de aproveitar, as relações entre pais e filhos, os tipos de livros, revistas e espetáculos de televisão a que uma pessoa esta exposta.

    Dessa maneira Tumin (1970) nos faz compreender que o estilo de vida seria uma subcategoria das oportunidades de vida, que as oportunidades de vida são muito mais involuntárias e impessoalmente determinadas, enquanto que os estilos de vida refletem diferenças em preferência, gostos e valores.

3.     Considerações finais

    Em uma obra clássica para as ciências sociais para o estudo sobre a estratificação social, Melvin Tumin consegue sintetizar conceitos de autores como Marx e Weber, e ao mesmo tempo busca os estudos de Platão para pontuar seu desenvolvimento histórico.

    A partir dos conceitos e análises realizadas neste paper pode-se concluir que o conceito de estratificação social está relacionado ao entendimento que se realiza quanto a uma disposição de um grupo ou sociedade numa hierarquia de posições desiguais com relação a poder, propriedade, valorização social e satisfação psicológica.

    Por estratos podemos considerar que estes consistem de status socialmente definidos que recebem cotas socialmente determinadas de poder, propriedade e prestígio, portanto a palavra social é um qualitativo importante para compreender a estratificação social.

    É importante ressaltar que em qualquer sociedade encontramos regras que determinam como o poder, o prestigio, a honra, a propriedade e a satisfação psicológica serão distribuídos, sendo que as normas que governam a distribuição da honra e da satisfação psicológica são mais informais em relação às outras.

Referência

  • TUMIN, Melvin M. Estratificação Social. São Paulo: Pioneira, 1970.

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