efdeportes.com

Avaliação do perfil nutricional de participantes
de grupos de Educação em Saúde

Evaluación del perfil nutricional de los participantes de grupos de Educación en Salud

Evaluation of the nutritional status of groups of participants in Health Education

 

*Fisioterapeuta graduada pela Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande

do Sul. Mestranda em Envelhecimento Humano pela Universidade de Passo Fundo

**Enfermeira graduada pela Universidade do Noroeste do Estado

do Rio Grande do Sul. Especialista em Saúde Pública pela FAÍSA

***Professor do programa de Pós-graduação em Saúde Pública

da Faculdade Integrada de Santo Augusto – FAISA

****Doutora em Doutora em Ciências da Saúde: Cardiologia

Docente do Programa de Pós Graduação em Envelhecimento Humano da UPF

Ana Paula Pillatt*

anapillatt@hotmail.com

Aline Mattes Gehrke Schiavo**

Leandro Sperotto***

Camila Pereira Leguisamo****

camila@upf.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A mudança na pirâmide demográfica e o aumento da exposição aos fatores de risco levaram ao aumento da incidência das doenças crônicas não transmissíveis. Entre elas, a obesidade está sendo considerada um problema de saúde pública, é definida como um agravo de caráter multifatorial e ainda pode ser causadora de doenças cardiovasculares. O objetivo do estudo foi avaliar o índice de massa corporal dos participantes dos grupos de hipertensos e diabéticos atendidos pela equipe de saúde da família II, do município de Pejuçara/RS, visando identificar os níveis de sobrepeso e obesidade e assim criar subsídios para o trabalho de educação em saúde da referida equipe. Trata-se de um estudo descritivo de delineamento transversal, onde foram avaliados um total de 136 pessoas, diagnosticadas com hipertensão ou diabetes e que estavam presentes nos encontros de educação em saúde distribuídos em 4 grupos de diferentes bairros e localidades. Das 136 pessoas avaliadas 71,3% (97) eram do sexo feminino e 28,7% (39) eram do sexo masculino. As idades variaram de 35 a 94 anos, sendo que 69,1% (94) tinham mais que 60 anos e 30,9% (42) tinham menos que 60 anos. Em relação a classificação pelo IMC percebe-se que 62,5% (85) apresentaram-se acima do peso considerado normal. A implementação de medidas de prevenção das doenças crônicas como a hipertensão e o diabetes representam um grande desafio para os profissionais e gestores da área de saúde.

          Unitermos: Obesidade. Doenças crônicas. Índice de massa corporal.

 

Abstract

          The change in demographic structure and increased exposure to risk factors led to increased incidence of chronic diseases. Among these, obesity is considered a public health problem, is defined as a disorder of multifactorial and may still be causing heart disease. The aim of this study was to evaluate the body mass index of participants in groups of hypertensive and diabetic patients treated by the health team of family II, the city of Pejuçara / RS, in order to identify the levels of over weight and obesity and thus create subsidies for work health education of that team. This is a cross-sectional descriptive study, which evaluated a total of 136 people diagnosed with hypertension or diabetes and who were present at meetings of health education divided into four groups of different neighborhoods and localities. Of the 136 people surveyed 71.3% (97) were female and 28.7% (39) were male. Their ages ranged from 35 to 94 years, and 69.1% (94) had more than 60 years and 30.9% (42) were less than 60 years. Regarding the classification by BMI can see that 62.5% (85) were above normal weight. The implementation of measures for the prevention of chronic diseases like hypertension and diabetes represent a major challenge for professionals and managers in the health field.

          Keywords: Obesity. Chronic disease. Body Mass Index.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Ao longo dos dois últimos séculos, a revolução tecnológica e industrial, com conseqüências econômicas e sociais resultaram em uma mudança drástica do perfil de morbimortalidade da população com grande predomínio das doenças e mortes devido as doenças crônicas não transmissíveis, dentre elas o câncer e as doenças cardiovasculares (BRASIL, 2006).

    O crescimento epidêmico das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), principalmente doenças cardiovasculares e diabetes mellitus do tipo II, pode ser atribuído ao aumento da exposição aos principais fatores de risco para essas doenças e às mudanças na pirâmide demográfica, com o aumento da longevidade da população. A maioria dos países em desenvolvimento passa por uma transição nutricional, acarretando o aumento expressivo da obesidade, o que também explica o crescimento da incidência das DCNT (BARRETO et al.,2005).

    A obesidade é considerada um importante problema de saúde pública em países desenvolvidos e uma epidemia global pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A obesidade pode ser compreendida como um agravo de caráter multifatorial envolvendo desde questões biológicas às históricas, ecológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas.

    A obesidade pode ser definida, de forma resumida, como o grau de armazenamento de gordura no organismo associado a riscos para a saúde, devido a sua relação com várias complicações metabólicas. A base da doença é o processo indesejável do balanço energético positivo, resultando em ganho de peso. No entanto, a obesidade é definida em termos de excesso de peso. O índice de massa corporal (IMC) é o índice recomendado para a medida da obesidade em nível populacional e na prática clínica. Este índice é estimado pela relação entre o peso e a estatura, e expresso em kg/m2 (BRASIL, 2006).

    Da mesma forma, a hipertensão arterial é considerada um problema de saúde pública por sua magnitude, risco e dificuldades no controle e que costuma gerar complicações letais quando não tratada (WILLIAMS, 1998).

    A hipertensão apresenta custos médicos e socioeconômicos elevados, gerando internações hospitalares, decorrentes principalmente das suas complicações como doenças cerebrovasculares, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica e doença vascular periférica (V DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO, 2007).

    Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, na VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, a hipertensão arterial sistêmica tem alta prevalência e baixas taxas de controle, mas é considerada um dos principais fatores de riscos modificáveis. A mortalidade por doença cardiovascular aumenta progressivamente com a elevação da pressão arterial.

    Entre os principais fatores de risco para a hipertensão arterial sistêmica estão a idade, o gênero, a etnia, fatores genéticos, socioeconômicos, a ingestão de sal e álcool, o sedentarismo, o excesso de peso e a obesidade (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2010). O excesso de peso se associa com a maior prevalência de hipertensão arterial sistêmica. Na vida adulta o incremento de 2,4 Kg/m² do índice de massa corporal (IMC), acarreta maior risco de desenvolver hipertensão.

    Cabe destacar que estes fatores de risco associados às doenças crônicas são a causa das complicações e da mortalidade precoce. O usuário muitas vezes não dá importância para a mudança no estilo de vida, considerando o tratamento medicamentoso ser suficiente. Através da prevenção pode-se reduzir além do risco de óbito também o custo social das mesmas, além de proporcionar melhora na qualidade de vida.

    A ingestão de uma alimentação adequada é importante para que o controle da hipertensão seja atingido. Para isso são necessárias mudanças dos hábitos alimentares e do padrão de atividade física. No entanto, estes hábitos têm suas bases no núcleo familiar, trazidos desde a infância, o que os torna difíceis de serem modificados.

    Neste sentido a intervenção da equipe de saúde da família se torna importante, com vistas à conscientização da população, levando em conta os aspectos socioculturais, educacionais e econômicos.

    Diante disso o presente trabalho teve como objetivo avaliar o índice de massa corporal dos participantes dos grupos de hipertensos e diabéticos atendidos pela equipe de saúde da família II, do município de Pejuçara/RS, visando identificar os níveis de sobrepeso e obesidade e assim criar subsídios para o trabalho de educação em saúde da referida equipe.

Métodos

    De colonização italiana, o município de Pejuçara se localiza na região noroeste do Rio Grande do Sul. Tem como principais atividades a agricultura e pecuária. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísca (IBGE), em 2010, a população total do município era de 3932 habitantes. Dados do sistema de informação da atenção básica demonstram que em abril de 2011 estavam cadastrados 627 hipertensos e 158 diabéticos.

    Em relação à saúde, o município conta com duas equipes de saúde da família, dando cobertura total a população. De forma bimestral são realizados encontros dos grupos de educação em saúde para pacientes hipertensos e diabéticos. Nesta oportunidade além da atividade educativa são fornecidos os medicamentos necessários ao seu tratamento, motivo pelo qual muitos dos usuários participam.

    Trata-se de um estudo descritivo de delineamento transversal. Segundo Gil (1988) “a pesquisa descritiva é aquela que estuda as características de um grupo, mostrando a relação entre variáveis sem interferir na realidade”.

    Foram avaliados um total de 136 pessoas, diagnosticadas com hipertensão ou diabetes e que estavam presentes nos encontros de educação em saúde distribuídos em 4 grupos de diferentes bairros e localidades. São elas Vista Alegre, Santa Apolônia, Bairro Rio Branco e Centro.

    A avaliação ocorreu no período de 12 a 15 de abril de 2011, através da verificação dos níveis pressóricos, do peso e da altura. Os indivíduos foram pesados em posição ortostática com os braços estendidos ao longo do corpo, descalços e com roupas leves, utilizando balança digital portátil, da marca Britania, com capacidade até 150 Kg. Para obtenção da altura os investigados encontravam-se descalços e foi utilizada uma fita métrica afixada na parede sem rodapé e em superfície plana.

    Todos os indivíduos foram previamente esclarecidos pela equipe sobre os objetivos do trabalho e as técnicas as quais seriam submetidas e todos concederam permissão para sua participação, considerando também importante conhecer seu estado nutricional. Por se tratar de um trabalho que é realizado periodicamente pela equipe, a pesquisa não passou por comitê de ética.

    Os valores encontrados foram devidamente anotados em formulário contendo o nome e idade do paciente e do grupo de que faz parte e a data em que ocorreu avaliação. Após a análise foram guardados sob os cuidados da equipe e arquivados para uso em próximas avaliações.

    Posteriormente foi calculado o índice de massa corporal (IMC) e classificado os indivíduos. O diagnóstico da obesidade é feito a partir do índice de massa corporal (IMC), que é calculado dividindo o peso pela altura ao quadrado, sendo o ponto de corte > 30 kg/m². Indivíduos com IMC abaixo de 18,5 são considerados com baixo peso, entre 18,5 e 25,9 são eutróficos, entre 25 e 29,9 são considerados pré-obesos, entre 30 e 34,9 já é tido como obesidade grau I, entre 35 e 39,9 é obesidade grau II e acima de 40 é considerado obesidade grau III.

Resultados e discussão

    Das 136 pessoas avaliadas 71,3% (97) eram do sexo feminino e 28,7% (39) eram do sexo masculino, conforme mostra a tabela 1. Outro estudo que avaliou o controle da hipertensão arterial de integrantes de unidade de saúde apresenta também um número elevado do sexo feminino entre os participantes dos grupos de educação em saúde, sendo que 84,4% dos indivíduos eram mulheres (ARAÚJO; GUIMARÃES, 2007).

Tabela 1. Sexo dos participantes da pesquisa

    Deve-se considerar que a mulher tem o hábito de cuidar de sua saúde, o que leva a maior aderência aos grupos de saúde oferecidos nas unidades básicas de saúde. Também pode-se associar ao fato de que as mulheres tem uma expectativa de vida maior em relação aos homens, estando também menos exposta a causas externas de morte como acidentes de trânsito e de trabalho.

    Conforme a tabela 2 pode-se observar que as idades variaram de 35 a 94 anos, sendo que 69,1% (94) tinham mais que 60 anos e 30,9% (42) tinham menos que 60 anos. Ainda pode-se analisar que a maioria dos indivíduos estava na faixa etária maior de 60 anos, fato que pode ser explicado por essas pessoas serem na maioria aposentadas e terem mais tempo para cuidar de sua saúde.

Tabela 2. Idade dos participantes da pesquisa

    Em relação a classificação pelo IMC percebe-se que 4,41% (06) da população avaliada apresentou baixo peso, 33,08% (45) se mostraram eutróficos, 30,14% (41) apresentaram sobrepeso, 27,20% (37) possuíam obesidade grau I, 2,94% (04) apresentaram obesidade grau II e 2,20% (03) apresentaram obesidade grau III, conforme apresentado na tabela 3. Portanto 62,5% (85) apresentaram-se acima do peso considerado normal. Outro estudo que avaliou pessoas com hipertensão arterial mostrou que 71,9% da população avaliada apresentaram sobrepeso/obesidade, corroborando com os nossos achados (ARAÚJO; GUIMARÃES, 2007).

Tabela 3. Classificação do IMC dos participantes da pesquisa

    Ao se pensar nas medidas preventivas da hipertensão arterial, as mudanças no estilo de vida são as mais recomendadas. Hábitos saudáveis de vida devem ser adotados desde a infância, respeitando-se as características regionais, culturais, sociais e econômicas dos indivíduos. Segundo a VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, as principais recomendações não medicamentosas para a prevenção primária da hipertensão arterial sistêmica são: alimentação saudável, consumo controlado de sódio e álcool, ingestão de potássio, combate ao sedentarismo e ao tabagismo.

    O sucesso do tratamento depende de mudança comportamental e da adesão a um plano alimentar saudável. Mesmo uma modesta redução de peso corporal está associada a reduções na pressão arterial em pessoas com sobrepeso. Estudos indicam que manter o índice de massa corporal (IMC) abaixo de 25 preveniu em 40% o desenvolvimento de HAS (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2010).

Conclusão

    Neste estudo percebe-se que a maioria das pessoas que foram avaliadas eram mulheres e tinham mais de 60 anos. Também conclui-se que a maioria dos indivíduos apresentaram sobrepeso e obesidade, o que leva a complicações para pessoas hipertensas.

    Partindo do pressuposto que as ações de educação em saúde devem ser dialógicas e não autoritárias e normativas segundo Alves (2005/2006), a estratégia de saúde da família (ESF) vem atender a essa necessidade. Na ESF os profissionais devem prestar assistência integral a população. O cuidado em saúde deve ser participativo e humanizado visto que é imprescindível integrar o saber técnico ao saber popular para melhor direcionar as ações de saúde. Busca intervir de forma mais efetiva, ao envolver a população no processo de cuidado, proporcionar mudanças no estilo de vida e melhorias na qualidade desta, tanto a caráter individual como familiar (COTTA, 2009; ALVES, 2005/2006).

    A adoção da Estratégia de Saúde da família como política prioritária da atenção básica, por sua conformação e processo de compreender as condições mais favoráveis de acesso as medidas multisetoriais e integrais que a abordagem das doenças crônicas não transmissíveis exigem (BRASIL, 2006).

    Sem dúvida a implementação de medidas de prevenção das doenças crônicas como a hipertensão e o diabetes representam um grande desafio para os profissionais e gestores da área de saúde.

Referências

  • ALVES, VS. Um modelo de educação em saúde para o programa de saúde da família:pela integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial. Interface Comunidade, Saúde Educação. v.9, n. 16. p. 39-52, 2005/2006.

  • ARAUJO, Jairo Carneiro de; GUIMARAES, Armênio Costa. Controle da hipertensão arterial em uma unidade de saúde da família. Rev. Saúde Pública. v.41, n.3, 2007. 

  • BARRETO, SM; et al. Análise da estratégia global para alimentação, atividade física e saúde da Organização Mundial de Saúde. Epidemiologia e Saúde. v. 14, n. 1, p.41-68, 2005.

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Prevenção clínica de doença cardiovascular, cerebrovascular e renal crônica. 1ª ed. Brasília: 2006. 56p.

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Obesidade. 1ªed. Brasíla: 2006. 110p.

  • COTTA, RMM; et al. Hábitos e práticas alimentares de hipertensos e diabéticos:repensando o cuidado a partir da atenção primária. Revista Nutrição. Campinas, v. 22, n. 6, p.823-835, Nov./dez., 2009.

  • GIL, AC. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Editora Atlas, 1988.

  • WILLIAMS, GH. Doença Vascular Hipertensiva. In: Fauci, AS; et al. Medicina Interna. Rio de Janeiro: McGraw-Hill Interamericano do Brasil, 1998.

  • WORLD HEALTH ORGANIZATION. Psysical satus: the use and interpretation of anthropometry. Geneva, 1995.

  • V DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 89, n. 3, Sept. 2007.

  • VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Revista Brasileira de Hipertensão. Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, Jan/Mar 2010.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 179 | Buenos Aires, Abril de 2013
© 1997-2013 Derechos reservados