Alterações anatômicas no sistema musculoesquelético associadas ao envelhecimento Las alteraciones anatómicas en el sistema músculo esquelético asociadas con el envejecimiento |
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*Aluna do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo (PPGEH/UPF) **Professor da Área de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Passo Fundo (ICB/UPF) ***Professora do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo (PPGEH/UPF) |
Alessandra Paula Merlin* Gustavo Graeff Kura** Telma Elita Bertolin*** (Brasil) |
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Resumo O processo de envelhecimento provoca inúmeras alterações anatômicas e fisiológicas nos diversos sistemas orgânicos, porém as alterações ocasionadas no sistema musculoesquelético merecem uma maior atenção dos profissionais ligados às ciências do movimento humano, por estar intimamente relacionado com a capacidade funcional e independência dos idosos. Neste trabalho abordaremos os efeitos do envelhecimento em nível ósseo, articular e muscular, que são inerentes e inevitáveis nos sujeitos que estão em processo de envelhecimento. Unitermos: Sarcopenia. Osteopenia. Osteoartrite.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Ao longo da vida, o homem enfrenta um processo natural de envelhecimento, que provoca várias alterações nas características anatômicas dos diversos sistemas orgânicos, as quais resultam em modificações estruturais e funcionais no corpo humano. Neste sentido é de fundamental importância para os profissionais da área da saúde que trabalham com idosos, conhecer as peculiaridades anatômicas e fisiológicas que o processo de envelhecimento exerce no corpo humano, sabendo discernir os efeitos naturais deste processo (senescência), das alterações produzidas pelas inúmeras afecções que podem acometer o idoso (senilidade) (JACOB; SOUSA, 2000). No entanto, nem sempre é possível diferenciar senescência de senilidade, o exato limite entre os dois estados não é preciso e caracteristicamente apresenta zonas de transição freqüentes, o que dificulta discriminar cada uma delas (PAPALÉO, 2006).
Com a chegada da velhice, as alterações anatômicas são principalmente as mais visíveis e manifestam-se em primeiro lugar (MARCHI, 2004). No entanto as alterações anatômicas que o envelhecimento causa aos indivíduos, não podem ser sintetizadas apenas nos aspectos externos como o surgimento de rugas, perda de elasticidade da pele e o aparecimento de cabelos brancos, tais modificações alteram a estética corporal, mas não influenciam no andamento das atividades da vida diária e do cotidiano do idoso.
As modificações morfofuncionais ocasionadas pelo processo de envelhecimento do sistema musculoesquelético influenciam diretamente a capacidade funcional e independência do idoso. Neste contexto pode-se inferir que muitas alterações anatômicas que ocorrem no sistema musculoesquelético são inerentes ao processo de envelhecimento, como as diminuições que ocorrem na massa muscular e massa óssea, tais modificações podem contribuir diretamente com o surgimento de doenças crônicas.
As alterações musculoesqueléticas estão relacionadas com perda ou diminuição funcional que refletem no metabolismo basal, nas funções renais, cardíacas e pulmonares e na capacidade vital, o que potencialmente favorece o desenvolvimento de doenças como diabetes, hipertensão arterial, osteoporose e obesidade (UNICOVSKY, 2004).
Ao nosso entender, as alterações que ocorrem no sistema musculoesquelético, são as principais modificações morfofuncionais responsáveis pela deterioração na mobilidade e na capacidade funcional do indivíduo que está envelhecendo.
Neste contexto, este trabalho tem como objetivo contribuir para uma melhor compreensão das alterações morfofuncionais do sistema musculoesquelético que ocorrem nos sujeitos que estão envelhecendo.
Sistema muscular
O tecido muscular esquelético é encontrado em abundância no corpo humano, demonstrando ser o tecido muscular que mais sofre modificações com o processo de envelhecimento. É chamado de esquelético devido à relação estreita que mantém com o esqueleto, situando-se nas suas adjacências, tendo como principal função movimentar os ossos do esqueleto.
Macroscopicamente o tecido muscular esquelético é formado por uma estrutura central chamada de ventre muscular que tem a capacidade de se contrair quando estimulada, nas suas extremidades encontram-se os tendões, em conjunto ventre e tendão formam um musculoesquelético.
Com o envelhecimento, há uma diminuição lenta e progressiva no ventre muscular, que é verificado na massa e na área de secção transversa do musculoesquelético. Esta redução na massa muscular esquelética em idosos é amplamente documentada na literatura (EVANS, 1995; EVANS; CAMPBELL, 1993).
Para descrever esta situação, Rosenberg (1989) utilizou o termo “sarcopenia”, do grego sarco = músculo e penia = perda.
O primeiro passo para o diagnostico da sarcopenia é a quantificação da massa muscular esquelética, que precisa de um fator de correção, devido à necessidade de um critério de comparação entre os indivíduos. Comumente os valores são corrigidos por peso corporal ou pela estatura (PIERINE et al., 2009).
No estudo de Baumgartner et al., (1998), que avaliaram 883 idosos, a sarcopenia foi determinada através da divisão da massa muscular apendicular (massa muscular dos membros superiores e inferiores) pela estatura ao quadrado. Os autores definiram como sarcopênicos os sujeitos que apresentavam 2 desvios padrões abaixo da média dos jovens controles. Os resultados de Baumgartner et al., (1998), demonstraram que a prevalência de sarcopenia aumentou significativamente com o envelhecimento, variando de 13 a 24% nos sujeitos de 65 a 70 anos, sendo superior a 50% nos sujeitos com mais de 80 anos.
Posteriormente, Janssen et al., (2002) com o uso da bioimpedância, utilizaram uma nova equação para mensuração da sarcopenia. Os autores estimaram o índice de massa muscular esquelética, que foi obtido através da equação: massa muscular esquelética / massa corporal x 100. Os sujeitos que apresentaram um índice de massa muscular esquelética entre 1 e 2 desvios-padrões do valor encontrados nos jovens controles, foram classificados como tendo sarcopenia classe I. No entanto, os sujeitos com índice de massa muscular esquelética abaixo de 2 desvios-padrões do valor encontrados nos jovens controles foram classificados como tendo sarcopenia classe II. A prevalência de sarcopenia classe I (59% e 45%) e classe II (10% e 7%) foi maior nas mulheres idosas do que nos homens idosos respectivamente.
A prevalência de sarcopenia é elevada na população idosa, Baumgartner et al., (1998), constataram em seu estudo que 25% dos idosos abaixo dos 70 anos de idade e 40% dos idosos com 80 anos de idade, ou mais, mostraram-se sarcopênicos. Neste contexto vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento da sarcopenia, como as alterações neurais, hormonais, nutrição inadequada e inatividade física (VANDERVOORT, 2002; SZULC et al., 2004; DREYER; VOLPI, 2005).
De acordo com dados expostos na literatura, a massa muscular decresce 10% entre os 24 e 50 anos de idade, mas entre os 50 e 80 anos ocorre uma perda adicional de 30% na área muscular original (LEXEL et al., 1988). Atualmente, com o advento da tecnologia, Frontera et al. (2000), num estudo longitudinal, examinaram a musculatura total de idosos por um período de 12 anos, verificando, por meio de tomografia computadorizada, que a diminuição na área de secção transversa do músculo ocorreu na taxa de 1,4% ao ano.
Sistema ósseo
Os ossos são estruturas rígidas, de forma e tamanho variável, que sustentam o peso do corpo, ancoram os músculos e trabalham com estes para produzir movimentos controlados e precisos. Além destas funções armazenam minerais e gordura, protegem os órgãos e tecidos e no seu interior, a medula óssea vermelha é responsável pela produção de células sanguíneas.
Na formação de um osso ocorre a participação da substância óssea esponjosa, que forma uma estrutura reticular aberta de placas e travas de sustentação e a participação da substância óssea compacta de forma densa e sólida, onde a diferença entre elas está no rearranjo tridimensional dos osteócitos, dos canalículos e das lamelas (MARTINI et al., 2009).
O osso, embora apresente uma rigidez, é caracterizado por ser um tecido vivo, dinâmico e complexo que ao longo da vida passa por um processo de remodelação óssea. Remodelação óssea é ciclo contínuo e coordenado de remoção de osso velho pelos osteoclastos seguido pela deposição de osso novo pelos osteoblastos em resposta a micro danos e cargas de variáveis mecânicas (DEMONTIERO et al., 2012). Este processo é facilmente identificado quando observamos e comparamos os relevos da superfície óssea, de sujeitos que ao longo da vida desenvolveram grande tração mecânica nos pontos de fixação muscular, assim os ossos destes sujeitos apresentam os relevos mais salientes em resposta às demandas impostas nos locais de fixação dos músculos.
Nas três primeiras décadas de vida, o processo de remodelação óssea mantém um estado de equilíbrio entre a reabsorção óssea e formação óssea (DEMONTIERO et al., 2012). Onde o pico de massa óssea é alcançado dos 30 aos 40 anos de idade, sendo 20% a 30% maior nos homens que nas mulheres. No entanto, alguns anos após a fase máxima de formação óssea ocorre a diminuição progressiva da massa óssea, independente da raça, hábitos alimentares, atividades físicas, condições geográficas ou poder econômico (BORELLI, 2000).
Nas mulheres, a menopausa aumenta significativamente a reabsorção óssea, devido aos níveis baixos de estrogênio, que induz a uma perda óssea acelerada (DEMONTIERO et al., 2012).
Com o envelhecimento o equilíbrio entre reabsorção e formação óssea se desloca em uma direção negativa, favorecendo a maior reabsorção óssea e a menor formação de osso. Esta combinação de deficiência de massa óssea e redução da força finalmente resultam em osteoporose e fraturas (DEMONTIERO et al., 2012). A osteoporose é definida como sendo a deterioração da massa óssea e micro-arquitetura, com risco crescente de fraturas por fragilidade (RAISZ; RODAN, 2003).
As consequências clínicas da osteoporose são principalmente o aumento na incidência de fraturas associada à morbidade e mortalidade prematura. Além do impacto negativo sobre a qualidade de vida, a osteoporose é uma doença dispendiosa para a sociedade. O número de fraturas por fragilidade e os custos sociais associados à doença devem aumentar no futuro, em parte devido a mudanças na demografia e no aumento da expectativa de vida (KANIS et al., 2011).
Sistema articular
As articulações são estruturas anatômicas que apresentam a capacidade de unir os segmentos ósseos. Neste contexto as articulações são classificadas estruturalmente em: articulações cartilaginosas, fibrosas e sinoviais. A classificação estrutural leva em consideração o tecido que faz a conexão entre os ossos e a presença ou não do líquido sinovial.
No aspecto funcional as articulações sinoviais desempenham grande importância por possuírem ampla mobilidade articular permitindo o deslocamento dos segmentos ósseos.
Em condições normais as superfícies ósseas no interior de uma articulação sinovial não fazem contato entre si pelas superfícies serem revestidas por cartilagens articulares. Essas cartilagens atuam como amortecedores de impactos e ajudam a reduzir o atrito (MARTINI et al., 2009).
A articulação sinovial é circundada pela cápsula articular composta de uma camada externa denominada de cápsula fibrosa e por uma camada interna chamada de membrana sinovial que é responsável por produzir o líquido sinovial, o qual tem a função de amortecer impactos, lubrificar e nutrir a cartilagem articular.
A cartilagem articular é formada por uma matriz de colágeno tipo II altamente hidratada, conjuntamente com agregados de proteoglicanos (ROSSI; SADER, 2002). A composição e a organização estrutural entre o colágeno e proteoglicanos possibilita as características de resistência, elasticidade e compressibilidade da cartilagem articular (ROSSI, 2008).
O processo de envelhecimento ocasiona um menor poder de agregação dos proteoglicanos aliados a menor resistência mecânica da cartilagem (ROSSI; SADER, 2002)
Neste sentido o avanço da idade é um importante fator de risco para o desenvolvimento de osteoartrite (MOBASHERI, 2012). A explicação comum para isso é o efeito acumulativo de carga mecânica ao longo dos anos, resultando clinicamente em "desgaste" e degradação da cartilagem (AIGNER et al., 2004).
Recentemente, tornou-se claro que a osteoartrite não é um problema puramente mecânico, processos inflamatórios e metabólicos são substancialmente envolvidos na patogênese e progressão da osteoartrite, não só a cartilagem articular, mas também o osso subcondral, meniscos, músculos, bem como os tecidos adiposo e sinovial desempenham um papel importante nas fases iniciais da osteoartrite. Portanto, a osteoartrite tem sido mencionada como uma "doença conjunta", apesar de uma maior complexidade, este conceito não só tem melhorado a compreensão da doença, mas também indica estratégias de tratamento potencialmente novas (HUGLE et al., 2012).
Considerações finais
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial, portanto o conhecimento dos efeitos provocados pelo processo de envelhecimento humano torna-se necessário. Nesta revisão abordamos as alterações anatômicas provocadas pelo processo de envelhecimento humano no sistema musculoesquelético, que são inerentes e inevitáveis. No entanto a adoção de hábitos saudáveis de vida como uma alimentação balanceada e a prática de exercícios físicos pode minimizar a velocidade em que estas alterações venham a ocorrer.
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