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Influência do nível de amputação no equilíbrio
estático de amputados traumáticos

Influencia del nivel de amputación en el equilibrio estático de amputados traumáticos

 

Fisioterapeuta, Mestranda em Educação Física

Faculdade de Educação Física e Desportos

Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Juiz de Fora MG

Marcelle de Paula Ribeiro

marcelleribeirofst@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Indivíduos amputados de membro inferior apresentam alterações proprioceptivas e biomecânicas decorrentes da perda de um membro. Diante disso, ajustes posturais inadequados podem resultar em diminuição do equilíbrio. Sabendo-se que quanto mais proximal for o nível da amputação, maiores serão as alterações biomecânicas observadas, o objetivo desse trabalho foi verificar a influência do nível de amputação sobre o equilíbrio estático dessa população, avaliado por meio da área de oscilação do centro de pressão corporal (CPC). Foram avaliados 12 indivíduos do sexo masculino, com amputação traumática, unilateral, de membros inferiores. A partir do nível de amputação, os voluntários foram alocados em grupo transtibial (GTT = 6) e grupo transfemoral (GTF = 6). O equilíbrio estático foi avaliado por meio do baropodômetro, onde permaneciam parados com os pés em posição funcional para captação da área de oscilação do CPC. A amputação transfemoral resultou em maiores valores de área de oscilação do CPC, ou seja, diminuição do equilíbrio estático, quando comparada à amputação transtibial.

          Unitermos: Equilíbrio estático. Amputados traumáticos. Alteração.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O equilíbrio é caracterizado como a habilidade do sistema nervoso em detectar a instabilidade e, por meio de ajustes posturais constantes, gerar respostas coordenadas que tragam de volta para a base de suporte o centro de pressão corporal, evitando assim a queda1. Dentre os ajustes relacionados à manutenção do equilíbrio, a alteração da área de oscilação do centro de pressão corporal (CPC) merece destaque2. Nesse sentido, estudos têm demonstrado que uma amplitude reduzida dos movimentos oscilatórios do corpo reflete bom equilíbrio, e da mesma forma, sujeitos com superfícies amplas de oscilação do CPC apresentam redução do mesmo1-3.

    Para que a manutenção do equilíbrio ocorra adequadamente, faz-se necessário o envolvimento e integridade de inúmeras estruturas do sistema nervoso central e periférico, assim como a de elementos anatômicos e funcionais, que compreendem os centros nervosos, o sistema proprioceptivo e musculoesquelético4,5. Diante da importância desses componentes reguladores, a lesão das estruturas envolvidas nos estágios de processamento de informação sensorial, como o dano aos proprioceptores, pode resultar em aumento da área de oscilação do CPC, alterando o equilíbrio5.

    Estudos têm demonstrado essa alteração em amputados de membros inferiores6,7. A amputação – definida como a perda parcial ou total de um membro – resulta na perda de articulações, inserções musculares, massa muscular e informações proprioceptivas6. Como resultado, observa-se o aumento da área de oscilação do CPC, colaborando para a diminuição do equilíbrio estático dessa população7. A literatura reporta ainda que quanto mais proximal for o nível de amputação, menor a habilidade de utilizar estratégias motoras que garantam o controle postural e maiores serão as alterações biomecânicas8.

    Considerando, portanto, as alterações estruturais e proprioceptivas decorrentes da perda de um membro e a influência do nível de amputação sobre as mesmas, o objetivo do presente estudo foi verificar a influência do nível de amputação no equilíbrio estático de indivíduos com amputação traumática.

2.     Metodologia

Sujeitos

    A amostra foi composta por 12 sujeitos do sexo masculino, com amputação traumática, unilateral, de membros inferiores. Como critério de inclusão, adotou-se a necessidade dos mesmos serem sedentários. A presença de doenças neuromusculares degenerativas, alterações no aparelho vestibular, auditivo e visual ou utilização de medicamentos que interferissem nesses sistemas foram adotadas como critérios de exclusão. A partir no nível de amputação, os participantes foram alocados da seguinte forma: grupo transtibial (GTT, n = 6) e grupo transfemoral (GTF, n = 6).

    O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e, cada participante assinou um termo de consentimento livre e esclarecido.

Protocolo experimental

    O protocolo experimental ocorreu em um único dia. Inicialmente, os voluntários foram submetidos à anamnese e avaliação fisioterapêutica. Posteriormente, as características antropométricas (estatura, massa corporal e cálculo do índice de massa corporal) dos mesmos foram mensuradas.

    O equilíbrio estático foi avaliado por meio de um baropodômetro eletrônico (IST Informatique®). O equipamento possui superfície ativa de 1600 cm2 e frequência de amostragem de 40 Hz, que capta imagens de ponto de pressão plantar e fornece dados em relação à área de oscilação do CPC. Durante a avaliação, os voluntários permaneceram em posição ortostática sobre a plataforma, descalço e com os braços ao longo do corpo. O tempo de permanência do voluntário nessa posição e aquisição dos dados foi de 30 segundos. Posteriormente, os mesmos foram registrados e interpretados pelo software FootWork® .

Análise estatística

    Os dados foram apresentados em média ± desvio padrão. A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste de Shapiro-Wilk. Para comparação dos valores de área de oscilação do CPC, entre os grupos, realizou-se teste t de Student para amostras independentes. Adotou-se o nível de significância de 5%.

3.     Resultados

    A tabela 1 apresenta a caracterização da amostra. Não foram observadas diferenças significativas entre os grupos estudados.

Tabela 1. Caracterização da amostra

Influência do nível de amputação sobre a área de oscilação do CPC

    Os valores de área de oscilação do CPC mostraram-se significativamente maiores no GTF em comparação ao GTT (10 ± 6,9 versus 5,10 ± 1,4; p = 0,002) (Figura 1).

4.     Discussão

    A amputação resulta em perda de inúmeras estruturas responsáveis pela manutenção do equilíbrio6. O presente estudo buscou avaliar a influência do nível de amputação sobre o equilíbrio estático, avaliado por meio da área de oscilação do CPC. Nesse sentido, observou-se que a amputação transfemoral resultou em maiores valores de área de oscilação do CPC, portanto diminuição do equilíbrio, em comparação à amputação transtibial.

    A literatura tem reportado aumento da oscilação do CPC associada à redução do equilíbrio estático em indivíduos amputados9,10. De fato, estudos demonstraram que indivíduos amputados apresentavam elevação dos movimentos oscilatórios nos planos anteroposterior e lateromedial, quando comparados a indivíduos sem amputação9,10. Embora diversos estudos tenham verificado a redução do equilíbrio nessa população, permanecem escassos e controversos os estudos que tenham avaliado a influência do nível de amputação sobre a área de oscilação do CPC9-10. Nesse sentido, Miller et al.9 observaram que o nível de amputação poderia interferir diretamente nas oscilações corporais. Por outro lado, Mohieldin et al.11 não observaram diferenças significativas do equilíbrio estático entre os diferentes níveis de amputação; entretanto, diferentemente do presente estudo, esses autores utilizaram scores referentes à posturografia computadorizada. Além disso, os mesmos não diferenciaram a amputação traumática da vascular.

    Alguns fatores podem explicar a diminuição do equilíbrio dependente do nível de amputação. Buckley et al.12 afirmaram que após a amputação, a perda significativa de informação proprioceptiva da pele, tecido subcutâneo, cápsula articular, assim como a ação restrita do pé protético, contribuem para a elevação dos movimentos oscilatórios e consequentemente, diminuição do equilíbrio. Nesse sentido, parece correto afirmar que quanto maior o nível de amputação, maiores serão os prejuízos proprioceptivos e biomecânicos, levando ao aumento das oscilações corporais observadas no presente estudo. Adicionalmente, fatores como insegurança, assim como a dificuldade em descarregar o peso simetricamente, poderiam colaborar para o aumento dessas oscilações12.

    Como limitação do estudo, observou-se a dificuldade em encontrar trabalhos que tenham utilizado o CPC expresso em superfície por cm2. Outro fator limitante do presente estudo que merece destaque, diz respeito ao número reduzido de indivíduos que compuseram o grupo estudado. Nesse sentido, um grupo amostral mais expressivo poderá ser utilizado em estudos futuros.

5.     Conclusão

    Os valores de área de oscilação do CPC mostraram-se maiores após amputação transfemoral em comparação a amputação transtibial. Diante disso, o presente estudo sugere que o nível de amputação exerce influência sobre o equilíbrio estático em indivíduos com amputação de origem traumática.

Referências bibliográficas

  1. Ribeiro, ASB; Pereira, J. S. Melhora do equilíbrio e redução da possibilidade de queda em idosas após os exercícios de Cawthorne e Cooksey Rev. Brasileira de Otorrinolaringologia. 2005, 71 (1): 38-46

  2. Newell, K.M. Short- therm non-stationarity and the development of postural control. Gait Posture. 1997; 6 (2): 56-62.

  3. Bankoff ADP. Estudo do equilíbrio corporal postural através do sistema de baropodometria eletrônica. Revista Conexões. 2004; 2(2): p. 87-104.

  4. Presumido LMB, Baraúna MA, Ferreira C, Silva KC. Estudo comparativo entre o equilíbrio estático de sujeitos sedentários e não sedentários do sexo feminino. Ícone, 1995;3(2): p. 39-62.

  5. Aruin A, Nicholas J, Latash M. Anticipatory postural adjustments during standing in below-the-knee amputees. Clinical Biomechanics. 1997; 12(1): p. 52-9.

  6. Calmel, P. et al. Échelles d’evaluation fonctionnelle et amputation du membre inférieur. Annales de Réadaptation et de Médecine Physique. 2001; 44 (8): 499-507.

  7. Robbins, S.; Waked, E.; Krouglicof, N. Vertical impact increase in middle age may explain idiopathic weight-bearing joint osteoarthritis. Arch Phys Med Rehabil. 2001; 82 (2): 1673-77.

  8. Baraúna MA, Duarte F, Sanchez HM, Canto RST. Avaliação do equilíbrio estático em indivíduos amputados de membros inferiores através da biofotogrametria computadorizada. Rev. Bras. Fisioter. 2006; 10(1): 83-90.

  9. Miller WC, Deathe AB. A prospective study examining balance confidence among individuals with lower limb amputation. Disabil Rehabil. 2004; 26(14-15):875-81.

  10. Kozakova, D. et al. Assessment of postural stability in patients with a transtibial amputation with various times of prosthesis uses. Acta Univ Palacki Olomuc Gym. 2009; 39(3): 51-59.

  11. Mohieldin, A.H.A. et al. Quantitative Assessment of Postural Stability and Balance Between Persons with Lower Limb Amputation and Normal Subjects by using Dynamic Posturografy. Maced J Med Sci. 2010; 81(3): 138-43.

  12. Buckley JG, O’Driscoll D, Bennett SJ. Postural sway and active balance performance in highly active lower-limb amputees. American Journal of Physical Medicine and Rehabilitation. 2002; 81(1):13-20.

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