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Síndrome metabólica, obesidade e atividade física: uma revisão

Síndrome metabólico, obesidad y actividad física: una revisión

Metabolic syndrome, obesity and physical activity: a review

 

*Fisioterapeuta, Mestre em Ciências da Saúde- Neurociências pela Pontifícia Universidade Católica

do Rio Grande do Sul (PUCRS). Docente da disciplina de Fisioterapia Neurológica I e II no Curso

de Fisioterapia e da disciplina de Aprendizagem Motora no Curso de Educação Física

da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia na Universidade de Passo Fundo (UPF)

**Psicóloga, Mestre em Ciências da Saúde- Neurociências pela Pontifícia Universidade Católica

do Rio Grande do Sul (PUCRS). Membro da equipe de Neuropsicologia do Hospital São Lucas, PUCRS

***Fisioterapeuta, Mestre em Ciências Médicas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande

do Sul (PUCRS). Docente da Faculdade de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo (UPF)

Renata Busin do Amaral*

Roberta de Figueiredo Gomes**

Carla Wouters Franco Rockenbach***

renataba2008@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          As crianças e os adolescentes, se comparados aos adultos, poderiam prevenir, mais facilmente, o ganho excessivo de peso, pois estão crescendo e têm maior possibilidade de gastar energia ou queimar calorias em atividades de lazer. Entretanto, não se consegue superar os muitos fatores que concorrem para a crescente epidemia de obesidade e as intervenções, na sua maioria, abordam uma fração muito pequena dos fatores que geram a obesidade. Aspectos importantes, como o papel da indústria de alimentos, das cadeias de fast food, das propagandas, de um estilo de vida que mantêm as crianças cada vez mais sedentárias e submetidas a um hiperconsumo calórico, não têm espaço nos desenhos de estudos tradicionais. Das intervenções publicadas, as que integram a família no tratamento têm obtido melhores resultados. Estudos com elementos isolados da dieta como cálcio, proteína, fibras e índice glicêmico não têm mostrado eficácia e embora ainda necessitem de maiores evidências, os resultados apontam que a redução de bebidas com alto teor de açúcar e do sedentarismo são promissores.

          Unitermos: Obesidade. Síndrome metabólica. Atividade física.

 

Abstract

          Children and adolescents as compared to adults could more easily prevent excessive weight gain because they are growing and are more likely to expend energy in leisure activities. However, you can not overcome the many factors that contribute to the growing obesity epidemic and the interventions mostly deal with a very small fraction of the factors that lead to obesity. Important aspects such as the role of the food industry, from fast food chains, advertising, and a lifestyle that keep children increasingly sedentary and subjected to an overeating can have no place in traditional clinical trial design. Of published interventions, those that are part of the family in treatment have obtained better results. Studies on isolated elements of the diet such as calcium, protein, fiber and glycemic index have not shown efficacy, and although not conclusive, the results regarding the reduction of drinks with high sugar content and reducing sedentary lifestyle are promising.

          Keywords: Obesity. Metabolic syndrome. Physical activity.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A síndrome metabólica representa uma condição clínico-epidemiológica muito estudada nos últimos anos devido a sua associação com uma maior incidência de diabetes mellitus tipo 2, eventos cardiovasculares (infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral) e mortalidade cardiovascular total (ISOMAA et al., 2001; KAWAMOTO et al., 2005; SAELY et al., 2005; WILSON et al., 2005).

    De acordo com o Third National Cholesterol Education Program-NCEP III (2001), o diagnóstico da síndrome metabólica é feito pela constatação de um conjunto de fatores de risco cardiovasculares presentes, associadamente, em um mesmo indivíduo.

    O aumento do peso corporal é um dos principais fatores que predispõe ao surgimento da síndrome metabólica, principalmente naqueles com obesidade do tipo central, também chamada de abdominal, visceral ou andróide. Nesse tipo de obesidade, o excesso de gordura predomina no abdômen.

    A obesidade vem, ultimamente, se apresentando com grande incidência em quase todos os países, passando a ser considerada, nos dias de hoje, uma epidemia de avançadas proporções (SICHIERI; SOUZA, 2008). No Brasil, os dados mais recentes apontam que 8,9% dos homens e 13,1% das mulheres apresentam obesidade (IBGE, 2004).

    O aumento da circunferência da cintura está associado a uma maior prevalência da síndrome metabólica em indivíduos com peso normal, sobrepeso ou obesidade classe I. Em indivíduos de ambos os sexos, com peso normal, sobrepeso ou obesidade classe I, aqueles com circunferência da cintura aumentada apresentam maior prevalência de hipertensão, diabetes, dislipidemia e síndrome metabólica, quando comparados aos com circunferência da cintura normal (JANSSEN; KATZMARZYK; ROSS, 2002).

    A obesidade pode desencadear comorbidades como: dificuldades respiratórias, artropatias, podendo chegar ao óbito e a principal consequência adversa dessa síndrome metabólica é a doença cardiovascular (NASSER; ELIAS, 2002). Várias das alterações metabólicas componentes da síndrome representam fatores de risco cardiovascular. Uma dessas anormalidades, a resistência à insulina, predispõe à hiperglicemia e ao diabetes mellitus. Mesmo na presença de resistência à insulina, os níveis de glicemia em jejum podem permanecer dentro dos limites da normalidade por vários anos à custa de uma maior produção de insulina pelo pâncreas (FRAYN, 1993).

    Em publicação prévia, Wilson e Grundy (2003) salientaram que o risco absoluto de eventos de um indivíduo portador da síndrome metabólica depende da magnitude do risco associado aos fatores presentes e para tal avaliação. Esses autores recomendam que seja utilizado o Escore de Risco de Framingham, considerando-se que o LDL colesterol elevado representa um dos componentes do cálculo do Escore de Risco de Framingham e o principal alvo do NCEP (WILSON; LARSON; CASTELLI, 1994; NCEP, 2001).

    A obesidade apresenta multifatores que implicam na prevalência de excesso de peso: a) fatores genéticos (genes de susceptibilidade); b) fisiológicos (de funcionamento); c) bioquímicos (decomposição anatômica-estrutura corporal); d) fatores psicológicos, sociais e culturais (obesidade e aumento de adiposidade e peso corporal) (ANGELIS, 2003; COUTINHO; DUALIBI, 2006).

    O índice utilizado universalmente para classificar a obesidade é o índice de massa corpórea (IMC), implantado por Quetij, no ano 1935. É demonstrado através do peso do indivíduo em quilogramas, dividido pelo quadrado da altura em metros (o risco de mortalidade, independente do sexo e idade, também serve como base) (PUGLIA, 2004).

    Considera-se obesidade grau I quando o IMC encontra-se entre 30,0 e 34,9 Kg/m²; obesidade grau II quando o IMC está entre 35,0 e 39,2 Kg/m² e obesidade grau III no caso do IMC ultrapassar 40Kg/m², assim implantada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (SEGAL, 2004; FADIÑO; APPOLINARIO, 2006). Para determinar o porquê de cada indivíduo ganhar peso ou não, é preciso analisar as circunstâncias de vida, os fatores biológicos e culturais de cada indivíduo (ADES; KERBAUY, 2002).

Sedentarismo e atividade física

    O sedentarismo, a quantidade e o alto grau calóricos dos alimentos ingeridos, os padrões alimentares e comportamentais são tidos como fatores de risco para indivíduos no desenvolvimento da obesidade (ADES; KERBAUY, 2002). Outro determinante importante associado à ocorrência da obesidade é o declínio de dispêndio energético dos indivíduos, que teria origem no predomínio crescente de ocupações que demandam menor esforço físico e na redução da atividade física associada ao lazer (PINHEIRO; FREITAS; CORSO, 2004).

    Em uma coorte de jovens na Inglaterra, foi demonstrado que comportamento mais sedentário se torna mais comum com o aumento da idade, sendo este fenômeno mais comum entre as meninas do que entre meninos, com redução de 46,0% e 26,0%, respectivamente (BRODERSEN et al., 2007). Estudos transversais no Brasil têm mostrado essa mesma característica (FONSECA; SICHIERI; VEIGA, 1998; MENDONÇA; ANJOS, 2004).

    Nos países desenvolvidos, a atividade física está muito associada ao esporte e lazer (BRODERSEN et al., 2007). Mesmo em países como o Brasil, pelo menos nos centros urbanos, onde as atividades da ocupação são na maioria de baixo gasto energético, o gasto energético com atividade física depende muito do lazer e esporte (GOMES; SIQUEIRA; SICHIERI, 2001). O acesso à atividade física se associa também ao acesso à alimentação saudável. Em revisão realizada (PAPAS et al., 2007), os autores destacam a compreensão em conjunto da possibilidade de acesso aos alimentos saudáveis com a oportunidade de prática de atividade física, como importante aspecto para compreensão da obesidade. Esses autores verificaram que 84,0% dos artigos demonstram associação entre os aspectos ambientais, atividade física e dieta.

    Promover uma alimentação saudável, aliada à atividade física, constitui-se em uma das estratégias de saúde pública de vital importância para o enfrentamento desses problemas. Consiste em desenvolver mecanismos, com base em uma abordagem multisetorial, que apóiem os indivíduos a adotar modos de vida saudáveis, revendo hábitos alimentares pouco saudáveis. Isso implica um arcabouço de ações intersetoriais que faça dialogar as diversas áreas do setor sanitário e outros setores de governo (agricultura, abastecimento, educação, trabalho, desenvolvimentos social e agrário), os setores privado e não governamental, compondo redes de compromisso com a qualidade de vida da população (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).

    Ao avaliarem 1.044 trabalhadores provenientes do Programa de Alimentação do Trabalhador, no Brasil, Sávio et al. (2008) observaram que os indivíduos com menor nível educacional e renda apresentaram estilo de vida mais sedentário, devido a um padrão de estilo de vida atual em que cada vez mais os indivíduos adotam atividades que demandam pouco gasto energético no seu dia-a-dia. Nesse estudo, os homens estavam associados com atividades mais vigorosas e as mulheres, com atividade moderada. Resultados similares foram observados por autores para a população do município do Rio de Janeiro (GOMES; SIQUEIRA; SICHIERI, 2001). Outro estudo indica que entre indivíduos acima de 55 anos de idade, as mulheres reportaram maiores obstáculos para a prática de atividade física no seu tempo livre (SATARIANO; HAIGHT; TAGER, 2000).

    Apesar de haver um consenso na comunidade científica de que o exercício reduz a obesidade, sua eficácia em longo prazo ainda não está claramente estabelecida. Entre os estudos sobre o papel da atividade física na obesidade infantil, somente alguns tem dados de seguimento de longo prazo (LEMURA; MAZIEKAS, 2002). Além disso, poucos estudos avaliaram especificamente o efeito do exercício no tratamento da obesidade, embora a maioria dos programas recomende atividade física regular. Entre os programas de prevenção, há os que promoveram atividade física e aqueles que simplesmente a recomendaram. Segundo Stice, Shaw e Marti (2006), os programas que aumentaram diretamente a atividade física tiveram efeitos maiores do que aqueles que só a recomendaram.

    Uma revisão sistemática, avaliando a eficácia do exercício, isoladamente, no tratamento da obesidade em crianças e adolescentes, mostrou que a prescrição de 155-180 minutos por semana de exercícios de intensidade de moderada à alta foi efetiva para a redução da gordura corporal nas crianças e adolescentes, mas os efeitos no peso e obesidade central foram inconclusivos (ATLANTIS; BARNES; SINGH, 2006).

    Carrel et al. (2005), em um ensaio randomizado com 53 crianças nos Estados Unidos, encontraram um programa escolar de aptidão física que reduziu a gordura corporal, aumentou a aptidão cardiovascular e melhorou os níveis de insulina, mas a redução do IMC não foi estatisticamente significante.

    Um estudo observacional prospectivo realizado em duas escolas localizadas na área urbana da China, com 210 crianças de 9 a 11 anos de idade, avaliando a influência de um programa de exercício (1 hora, 3 vezes/semana), com duração de seis meses, mostrou que as meninas que fizeram mais atividades físicas apresentaram menor percentual de gordura, sem diferença para os meninos, concluindo que o exercício físico reduziu o IMC, gordura corporal, relação cintura-quadril, pressão arterial, níveis de insulina, triglicerídeos, LDL-colesterol e proteína C reativa somente entre os obesos do grupo de intervenção (LI; LI; USHIJIMA, 2007). Por outro lado, um estudo longitudinal que avaliou o efeito de um programa de exercício (3 sessões de 30 minutos/semana) em 550 crianças provenientes de sete escolas nos Estados Unidos, não observou diferença no IMC entre os grupos. Entretanto, os meninos do grupo de intervenção apresentaram redução das dobras cutâneas nos 60 e 120 meses de seguimento, mas não no 180 mês (SALLIS et al., 1993).

    Uma revisão avaliou os estudos que mediram mudanças no percentual de gordura corporal de crianças ao final de um programa de exercício e após um ano de seguimento, mostrou que houve redução na porcentagem de gordura corporal e que estas reduções favoráveis foram mantidas por um período prolongado (MAZIEKAS et al., 2003). Entretanto, nenhum estudo usou o exercício isoladamente como tratamento e os autores relatam a dificuldade em encontrar estudos de longo prazo com programas de exercício visando à perda de peso. Mesmo assim, os efeitos do exercício ou atividade física são encorajadores e podem ser importantes para melhorar não só a obesidade, mas as comorbidades. Na análise quantitativa comparando dieta versus dieta mais exercício, a maioria dos achados indica melhora na aptidão física com o exercício (EPSTEIN; GOLDFIELD, 1999).

    Em síntese, intervenções que combinam nutrição e atividade física tem, em grau variável, encontrado redução da ingestão de gordura, aumento da atividade física durante o tempo escolar, aumento do consumo de fruta e de vegetais frescos e diminuição do tempo assistindo à televisão. Entretanto, estudos não foram capazes de reduzir a prevalência do excesso de peso corporal ou a adiposidade (PERRY et al., 1990; LUEPKER et al., 1999). Como exemplo, um ensaio clínico com crianças inglesas avaliou um programa desenvolvido nas escolas para promoção de alimentação saudável e de atividade física (SAHOTA et al., 2001). Embora as crianças do grupo de intervenção apresentassem maiores mudanças comportamentais, maior entendimento dos benefícios da dieta e mais atividade física do que as do grupo controle, não houve mudança no IMC. Outro estudo nesse sentido foi um ensaio clínico randomizado com duração de três anos, realizado em 2003 com 1.704 escolares de 8 a 11 anos de idade, com o objetivo de avaliar a efetividade de uma intervenção para redução do percentual de gordura corporal, com foco em educação nutricional e aumento da atividade física com o envolvimento da família, e mostrou que a intervenção não reduziu de maneira significativa o percentual de gordura corporal (CABALLERO et al., 2003). Também entre crianças negras não houve modificação do IMC com intervenção (STORY et al., 2003).

    Por outro lado, um estudo realizado na Finlândia que avaliou o impacto de aconselhamentos individualizados de estilo de vida e dietético, com coleta de dados repetidos ao longo de dez anos mostrou redução do IMC. Colaboraram nesse estudo famílias que haviam participado de um ensaio randomizado para prevenção de fatores de risco coronarianos (The STRIP Study). Os filhos por volta de sete meses de idade foram randomicamente alocados no grupo de intervenção (540 crianças) e 522 no grupo controle. As famílias do grupo intervenção receberam aconselhamento de estilo de vida e dietético com intervalos de 1-3 meses até que a criança completasse dois anos e duas vezes por ano depois disso. As famílias do grupo controle foram atendidas pela equipe de aconselhamento duas vezes por ano até que a criança completasse sete anos e uma vez por ano até que completasse dez anos, recebendo somente instruções básicas de saúde de rotina nas clínicas infantis e na escola. Durante os primeiros anos, o aconselhamento foi focado principalmente na dieta da criança e a partir dos sete anos de idade, progressivamente mais informações e sugestões foram dadas diretamente à criança. Os resultados mostraram que após os dois anos, houve redução contínua do sobrepeso no grupo de intervenção, quando comparado ao grupo controle. Aos dez anos de idade, 10,2% das meninas no grupo de intervenção e 18,8% do grupo controle apresentaram sobrepeso. Já para os meninos não houve diferença significativa (HAKANEN et al., 2006).

    A prevalência de obesidade é, portanto, maior nos países desenvolvidos, quando comparada aos países em desenvolvimento, relação alterada apenas pela cultura da população, acesso à informação e aos serviços de saúde. No entanto, a prevalência dessa condição apresenta crescimento progressivo nos países em desenvolvimento por estarem “importando” determinados hábitos ocidentais sem, no entanto, apresentarem acesso a informações e políticas de saúde que atendam adequadamente a população. Estes fatos tornam ainda mais graves e preocupantes a epidemia que está se formando na América Latina. Apenas os países muito desfavorecidos economicamente parecem consistentemente protegidos da obesidade. Nestas sociedades, o balanço energético está condicionado por fatores econômicos: o consumo de energia pelo poder aquisitivo e o gasto energético pelas características da população, que geralmente despende grande quantidade de energia.

Conclusão

    Os hábitos alimentares influenciam de forma marcante o balanço energético positivo. A transição nutricional que vem acontecendo nos últimos anos apresenta características próprias em cada país; no entanto, elementos comuns convergem para a chamada dieta ocidental, que consiste em uma alimentação rica em gorduras, sobretudo as de origem animal, açúcar e alimentos refinados, além de reduzida ingestão de carboidratos complexos e fibras, que favorecem o estoque energético.

    Portanto, a prática da atividade física, a orientação nutricional e o suporte psicológico tornam-se fundamentais no tratamento da obesidade, principalmente quando a intervenção é realizada com crianças e adolescentes.

Referências

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