Prevalência de exercício físico em gestantes de uma clínica de obstetrícia em Porto Alegre, RS Predominio de ejercicio físico en embarazadas en una clínica de obstetricia en Porto Alegre, RS |
|||
*Professora da Academia Três Figueiras. Porto Alegre, RS **Doutora em Ensino de Ciências pela Universidade de Burgos, Espanha Professora dos Cursos de Educação Física e Fisioterapia Centro Universitário La Salle, Canoas, RS |
Monique Sanchez Mello da Silva* Adriana Marques Toigo** (Brasil) |
|
|
Resumo O objetivo do estudo foi verificar a prevalência de exercício físico em gestantes de 18 a 35 anos, a partir do 2º trimestre gestacional, que frequentavam uma clínica de obstetrícia em Porto Alegre, RS. Utilizou-se uma amostra composta por 13 gestantes. Foi realizada uma entrevista semi-estruturada abordando os seguintes assuntos: a) prática de exercício físico antes e durante a gestação; b) modalidades de exercícios que as gestantes praticavam antes e durante a gestação; c) razão da escolha da modalidade praticada; d) conhecimento sobre benefícios do exercício físico. A partir da análise das respostas foi possível verificar que a maioria das gestantes conhecia alguns dos benefícios da prática de exercício físico durante a gestação, mas não aderiram a qualquer programa de exercício físico durante esse período. Além disso, somente quatro gestantes praticavam exercício físico antes de engravidar, das quais somente uma continuou praticando durante a gravidez. Concluiu-se que, embora a maioria das gestantes soubesse da importância da prática de exercício físico durante a gestação, essa informação não contribuiu para que procurassem uma forma de se exercitar nesse período. Unitermos: Gravidez. Exercício físico. Acondicionamento físico.
Abstract The purpose of this study was to verify the prevalence of physical exercise in a group of 13 pregnant women from 18 to 35 years old, from the second trimester of pregnancy, attending an obstetrics clinic in Porto Alegre, Brazil. It was conducted a semi-structured interview containing questions that addressed the following issues: a) physical exercise practice before and during pregnancy, b) kinds of exercises that the respondents practiced before and during pregnancy; c) reason for the choice of the practiced modality and d) knowledge about the benefits of physical exercise practicing during pregnancy. It was verified that most of the women knew some of the benefits that can be obtained by doing exercises during pregnancy, but did not adhere to any exercise program during this period. Moreover, only four pregnant performed exercises before pregnancy, and only one of them maintained active during pregnancy. It was concluded that, although most of pregnant women knew some information about the importance of physical exercise during pregnancy, this information did not contributed to the search for any kind of exercises in that period. Keywords: Pregnancy. Exercise. Physical fitness.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
De acordo com o posicionamento da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, durante uma gestação normal, quem já praticava exercícios pode continuar a fazê-lo, adequando a prescrição à gestação (Drumond, Macedo e De Rose, 2000). Em outras palavras, a grávida que já se exercitava pode manter a prática da mesma atividade física que executava antes da gravidez (Brown, Finch, Robinson, Torode e White, 2002).
É consenso o efeito do exercício físico para o controle da obesidade e da hipertensão durante a gestação. Dessa forma, a prática de atividades físicas pode ser importante no período gestacional para contribuir com a qualidade de vida da gestante (Spolador e Pólito, 2009).
Segundo Powers e Howley (2005), a gravidez cria demandas especiais à mulher em decorrência das necessidades calóricas, protéicas, minerais e vitamínicas do feto em desenvolvimento e, é claro, do ambiente fisiologicamente estável necessário para o processamento desses nutrientes. Dentre os diversos benefícios relacionados à adesão a um programa de exercícios de moderada intensidade, figura a melhora da capacidade funcional da placenta, que leva ao aumento da distribuição de nutrientes (Gouveia, Martins, Sandes, Nascimento, Figueira e Valente, 2007), contribuindo com o crescimento fetal. Pondera-se, contudo, que a prática frequente de exercício físico de alta intensidade pode resultar em crianças com baixo peso ao nascer (Lima e Oliveira, 2005).
A prática de exercícios parece facilitar o parto, uma vez que tem sido observada uma diminuição de tempo da parição e das complicações obstétricas (Kardel e Kase, 1998). Observa-se, também, uma melhora da autoestima da gestante, visto que há uma prevenção do ganho excessivo de peso, assim como, diminuição das dores lombares (Gouveia, Martins, Sandes, Nascimento, Figueira e Valente, 2007).
O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (American College of Sports Medicine, 2007) recomenda que as gestantes realizem 30 minutos de atividades físicas diárias com intensidade leve a moderada. No entanto, tais recomendações não são comumente seguidas pela população de mulheres grávidas. Em um estudo cujo objetivo era avaliar o padrão de atividade física entre gestantes, o grupo que apresentou a maior média foi o representado pela inatividade física (Tavares, Melo, Amorim, Barros, Takito e Benício, 2009).
A presente investigação teve como objetivo analisar a prevalência de exercício físico em gestantes de 18 a 35 anos, a partir do 2º trimestre gestacional, que frequentavam uma clínica de obstetrícia em Porto Alegre (RS).
Métodos
Este estudo foi caracterizado como transversal, retrospectivo, descritivo, não randomizado, com amostra não probabilística intencional, realizado em uma clínica de obstetrícia, localizada em Porto Alegre, RS e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro Universitário La Salle, Canoas, Brasil, em fevereiro de 2011 (protocolo de aprovação n° 10/060).
A amostra foi composta por 13 gestantes com idades entre 18 e 35 anos, a partir do 2° trimestre gestacional. O critério de exclusão foi a contraindicação do exercício físico por recomendação médica. Todos os procedimentos relativos à colaboração das gestantes participantes do estudo foram realizados de acordo com a conduta ética da Resolução 196/96 (Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos) do Conselho Nacional de Saúde utilizando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi informado que a participação na pesquisa era voluntária e garantiu-se a confidencialidade das informações prestadas pelas participantes. Todas as gestantes participantes da amostra faziam o acompanhamento pré-natal na mesma clínica de obstetrícia, cujo médico responsável concedeu autorização prévia para realização do estudo. Destaca-se que na ocasião da coleta de dados, não havia outras gestantes, além das 13 entrevistadas, que preenchessem os critérios de inclusão.
O instrumento de coleta de dados utilizado em função da coerência entre o desenho da investigação e a atenção as características do problema analisado foi a entrevista semi-estruturada.
Sempre que era agendada uma consulta, a secretária da clínica entrava em contato com as pesquisadoras informando a data e o horário de comparecimento da gestante à clínica. A entrevista sempre era conduzida antes da consulta.
A entrevista semi-estruturada continha, inicialmente, perguntas sobre dados pessoais, como data de nascimento e tempo de gestação em semanas. Para obtenção das informações referentes às modalidades praticadas antes e durante o período da gestação, foram apresentadas as seguintes alternativas: caminhadas, corridas, musculação, ginástica localizada, natação, hidroginástica, entre outros (nesse caso, as respondentes deveriam especificar a modalidade). Com relação ao motivo da escolha da modalidade, foi elaborada uma pergunta para verificar se a gestante escolheu a modalidade que está praticando porque já tem um histórico de treinamento e gosta da modalidade referida, se escolheu esse tipo de exercício porque o médico a orientou, ou porque o profissional de Educação Física que a acompanha indicou a modalidade que ela deveria praticar. Também foi perguntado se a gestante estava satisfeita com a modalidade praticada no período gestacional e se gostaria de praticar alguma outra modalidade. Por último, foi perguntado se ela conhecida os benefícios do exercício físico durante o período gestacional.
Resultados
No primeiro semestre do ano de 2011, apenas 13 gestantes que freqüentavam a clínica de obstetrícia onde o estudo foi conduzido preenchiam o critério de inclusão que especificava que só seriam consideradas as entrevistas com as gestantes a partir do segundo trimestre gestacional. A média das idades foi de 29 anos (± 3), sendo a idade mínima de 23 anos e a máxima, de 35 anos. A média do tempo de gestação foi de 24 semanas (± 9), sendo o menor tempo de 13 semanas e o maior, de 38.
Foi perguntado como estava transcorrendo o período gestacional. Sete gestantes responderam que estava sendo tranquilo; três afirmaram que estava sendo ótimo e três disseram que estava sendo bom.
Quando foi perguntado sobre a prática de exercício físico antes da gestação, nove gestantes responderam que não praticavam exercício físico antes da gestação, enquanto apenas quatro responderam que eram adeptas à prática. Duas gestantes referiram praticar caminhada; outras duas, musculação e uma, hidroginástica. Uma gestante referiu praticar duas modalidades (musculação e caminhada) antes da gestação.
Também foi perguntado se as gestantes praticavam alguma modalidade de exercício físico durante o período gestacional. A resposta que prevaleceu foi nenhuma modalidade (12 gestantes), seguida por caminhada (uma gestante) e hidroginástica (também uma gestante).
Quando foram perguntadas se sabiam dos benefícios da prática de exercício físico durante a gestação, a maioria das entrevistadas mostrou algum conhecimento sobre o assunto, conforme ilustra a Figura 1.
Figura 1. Benefícios do exercício físico durante a gestação na percepção das gestantes
Não foi dada nenhuma alternativa de resposta a essa pergunta, isto é, todas as respostas foram espontâneas. Algumas entrevistadas deram mais de uma resposta. Quatro gestantes desconheciam os benefícios da prática de exercício físico nesse período e duas deram respostas inespecíficas, isto é, responderam que sabiam da existência de benefícios, mas não souberam especificar quais eram. A resposta mais frequente foi que o principal benefício do exercício físico durante a gestação é a promoção da melhora da respiração, mas também foram citados benefícios como a manutenção do peso, prevenção da hipertensão, prevenção de dores na coluna, melhora da disposição, prevenção de diabetes gestacional e diminuição da retenção hídrica.
Discussão e considerações finais
O objetivo deste estudo foi analisar a prevalência de exercício físico em gestantes. O principal achado foi que a prevalência de exercício físico das mulheres entrevistadas, tanto antes como durante a gestação foi muito baixa. Embora as gestantes tenham mostrado algum conhecimento com relação à prática de exercícios durante o período gestacional, a maioria não aderiu a um programa de exercício físico quando a gravidez foi diagnosticada.
Matsudo e Matsudo (2000) recomendam que toda mulher deve acumular pelo menos trinta minutos de exercícios físicos diários, de forma contínua ou acumulada, de intensidade moderada ou leve durante a gestação. Já o American College of Sports Medicine (2010), as gestantes devem realizar pelo menos 15 minutos por dia, aumentando gradualmente até pelo menos 30 minutos por dia de uma atividade física acumulada de intensidade moderada até um total de 150 minutos por semana. Os resultados do presente estudo mostraram que as gestantes entrevistadas que não praticavam exercício físico antes do período gestacional também não aderiram a nenhuma modalidade durante a gestação e, das quatro gestantes que praticavam exercício físico antes da gestação, duas abandonaram a prática, portanto, não seguiram as recomendações referidas.
A partir dos resultados encontrados, sugere-se que deveria haver, por parte dos profissionais da área da saúde, uma maior divulgação dos benefícios e incentivo para a prática de exercício físico durante a gestação, assim como, uma especialização desses profissionais de modo a prepará-los para prescrever exercício físico de forma a dar conta das demandas desse público.
Almeida e Alves (2009) sustentam que os exercícios físicos prescritos de forma adequada, por profissionais responsáveis e capacitados são muito benéficos à saúde da parturiente e do feto tanto em aspectos fisiológicos como também psicológicos, porém é de fundamental importância observar se não há complicações durante a gestação.
Ferreira, Evangelista, Silva e Elicker (2011) relatam que os motivos pelos quais as mulheres grávidas não praticam exercícios físicos são variados, tais como: falta de informação, local adequado, falta de profissionais qualificados e falta de indicação por parte dos profissionais de saúde. No caso do presente estudo, somente quatro gestantes desconheciam os benefícios da prática de exercício físico durante a gestação. Por outro lado, deve-se levar em conta, que apenas quatro gestantes praticavam exercício físico antes da gestação, o que significa que as demais, além de não aderirem a nenhum programa de exercício físico antes da gestação, provavelmente, não receberam, durante o período gestacional, nenhum tipo de orientação ou, até mesmo, prescrição feita por um profissional da área da saúde habilitado para isso.
Em outro estudo realizado em Londrina, PR, foi observada uma diminuição no número de mulheres que se encontravam abaixo do peso ou com o peso adequado antes da gestação. Este fato pode estar relacionado com a redução do nível de atividade física e, principalmente, ao aumento da ingesta calórica diária acima do recomendado (Spolador e Pólito, 2009). De acordo com o American College of Sports Medicine (2010), durante a gravidez, a demanda metabólica aumenta em aproximadamente 300 kcal/dia. As mulheres devem aumentar a ingesta calórica de forma a atender os custos calóricos da gravidez e do exercício. Ingestas calóricas superiores às recomendadas podem representar ganho de peso acima do desejável, principalmente na ausência de prática de exercício físico.
O principal achado desse estudo, apesar de ter sido conduzido com uma amostra pequena, foi o de que a prevalência de exercício físico das mulheres entrevistadas, tanto antes como durante a gestação, foi muito baixa. Entretanto, a maioria das gestantes entrevistadas sabia da importância e benefícios do exercício físico durante a gravidez, mas essa informação não fez com que elas aderissem a uma modalidade de exercício durante o período gestacional. Recomenda-se que, em futuros estudos seja verificado porque as gestantes, mesmo conhecendo os benefícios do exercício físico nesse período, não os incluem na sua rotina. Outra questão interessante seria identificar porque as mulheres grávidas que praticam exercício físico normalmente se restringem à prática de caminhada e hidroginástica e não aderem a outras modalidades.
Referências
Almeida, N.F.A.; Alves, M.V.P. Exercícios físicos para gestantes. Lecturas, Educación Física y Deportes: Revista Digital, 2009; 14. http://www.efdeportes.com/efd131/exercicios-fisicos-para-gestantes.htm
American College of Sports Medicine. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
American College of Sports Medicine. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
Brown, W.; Finch, C.; Robinson, D.; Torode, M.; White, S. SMA Statement. The benefits and risks of exercise during pregnancy. J Sci Med Sport 2002; 5:11-9.
Drumond JRTM, Macedo C, De Rose EH. Posicionamento da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: Atividade física e saúde da mulher. Rev Bras Med Esporte 2000; 6:215-20.
Ferreira, I.P.; Evangelista, L.A.; Silva, A.C.; Elicker, E. Gestantes: conhecendo os benefícios da prática de exercícios físicos em uma unidade de saúde da família, Porto Velho - Rondônia. Semana Educa 2010; 1.
Gouveia, R.; Martins, S.; Sandes, A.R.; Nascimento, C.; Figueira, J.; Valente, S. Gravidez e exercício físico: mitos, evidências e recomendações. Acta Med Port 2007; 20:209-14.
Kardel, K.R.; Kase, T. Training in pregnant women: effects on fetal development and birth. Am J Obstet Gynecol 1998; 178:280-6.
Lima, F.R.; Oliveira, N. Gravidez e exercício. Rev Bras Reumatol 2005, 45:188- 90.
Matsudo, V.K.R.; Matsudo, S.M.M. Atividade física e esportiva na gravidez. In: Tedesco JJ, editor. A grávida. São Paulo: Atheneu, 2000.
Powers, S.K.; Howley, E.T. Fisiologia do exercício: Teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 5 ed. Barueri: Manole, 2005.
Spolador, J.G.O.; Pólito, M.D. Influência da atividade física, da pressão arterial e variáveis antropométricas da gestante sobre o peso do feto ao nascer. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício 2009; 8:30-3.
Tavares, J.S.; Melo, A.S.O.; Amorim, M.M.R.; Barros, V.O.; Takito, M.Y.; Benício, M.H.D. Padrão de atividade física entre gestantes atendidas pela estratégia saúde da família de Campina Grande- PB. Rev Bras Epidemiol 2009; 12:10-9.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 17 · N° 178 | Buenos Aires,
Marzo de 2013 |