efdeportes.com

Óbitos por causas externas em adolescentes no 

município de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil

Muertes por causas externas en adolescentes del municipio de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil

 

*Acadêmicos do curso de Enfermagem das Faculdades Santo Agostinho

de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. Membros do Grupo de Pesquisa

em Enfermagem. FASA das Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros

**Enfermeira. Mestre em Ciências da Saúde. Doutoranda em Ciências da Saúde

pela Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil. Líder do Grupo de Pesquisa

em Enfermagem – FASA das Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros

Daniel Silva Moraes*

Laura Rodrigues Vieira*

Luzia Ribeiro dos Santos Maia*

Ludmila Mourão Xavier Gomes**

silvamoraes.daniel@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo objetivou analisar a evolução de óbitos por causas externas em adolescentes em Montes Claros, Minas Gerais. Trata-se de um estudo descritivo retrospectivo, com dados secundários, de abordagem quantitativa, realizado a partir do Sistema de Informação Sobre Mortalidade (SIM) do Departamento de Informática do SUS. A faixa etária usada na pesquisa foi de 10 a 19 anos. E o período estudado compreendeu os anos de 2005 a 2010. Verificou-se 154 óbitos de adolescentes no período pesquisado. Destes 56,4% correspondem a agressões, 23,4% a acidentes de transporte, outras causas externas de lesões acidentais 9,8%, lesões autoprovocadas voluntariamente compreendem 7,8% e eventos cuja intenção é indeterminada 2,6%. Quanto ao perfil dos adolescentes observou-se que jovens do sexo masculino e de cor parda representam mais mortes por agressões. No caso de acidentes de transporte também há uma predominância do sexo masculino. Já em lesões autoprovocadas voluntariamente o sexo feminino representa maioria, nesse caso persistindo ainda a cor parda. O nível de escolaridade foi preenchido como ignorado na maioria das fichas. A predominância dos homens nas ocorrências de agressões demonstra maior envolvimento masculino em fenômenos de violência e criminalidade. As mortes por acidentes de transporte chamam a atenção para a imprudência, irresponsabilidade e descumprimento das leis por adolescentes que dirigem alcoolizados e/ou sem habilitação. Maio rigor nas leis e medidas contra a violência são indicadas às autoridades responsáveis.

          Unitermos: Adolescente. Causas externas. Mortes.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Atualmente, um dos maiores problemas de Saúde Pública são as mortes por causas externas representadas pelos acidentes e violências, que atingem todas as faixas etárias, principalmente as mais jovens (MATOS; MARTINS, 2012).

    A adolescência é o período de transição da infância para a vida adulta, delimitada cronologicamente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a faixa dos 10 aos 19 anos (SÃO PAULO, 2006). As metamorfoses da puberdade provocam alterações internas, externas, físicas, psicológicas e sociais que repercutem em vários aspectos da vida do adolescente (ABASSE et al. 2011).

    Segundo dados do Ministério da Saúde (MS), as causas externas são responsáveis por 75% das mortes de adolescentes do sexo masculino, com idade entre 15 a 19 anos, enquanto que no sexo feminino, na mesma faixa etária, esse percentual encontra-se em torno de 40%. Os acidentes e violências também representam causas de morte em adolescentes de 10 a 14 anos, porém em menor proporção quando comparados aos de 15 a 19 anos (BRASIL, 2006).

    O objetivo desta pesquisa é analisar a natureza e evolução dos óbitos por causas externas em adolescentes em Montes Claros, Minas Gerais.

Metodologia

    Trata-se de um estudo descritivo retrospectivo com dados secundários, de abordagem quantitativa, realizado a partir do Sistema de Informação Sobre Mortalidade (SIM) do Departamento de Informática do SUS. A investigação foi feita buscando se informações relativas às mortes de adolescentes com faixa etária de 10 a 19 anos que residiam em Montes Claros e faleceram no período de 2005 a 2010.

    Optou-se na classificação das causas de morte pelo Grande Grupo da Classificação Internacional de Doenças, 10ª revisão. Foram consideradas as variáveis de sexo, cor/raça, escolaridade e estado civil.

    Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva com o uso de gráfico e tabela para apresentação.

Resultados

    Foram verificados 154 óbitos de adolescentes entre 10 a 19 anos no período pesquisado, destes 13,7% correspondem à faixa etária de 10 a14 anos e 86,3% de 15 a 19 anos. Como mostra o gráfico 1 as agressões foram a causa de 56,4% das mortes; acidentes de transporte representam 23,4%; outras causas externas de lesões acidentais, 9,8%; lesões autoprovocadas voluntariamente são a razão de 7,8% dos óbitos; e, 2,6% se devem a eventos cuja intenção é indeterminada.

Gráfico 1. Número dos óbitos por causas externas do Grande Grupo CID 10 em 

adolescentes de 10 a19 anos no período de 2005 a 2010 em Montes Claros, MG

Fonte: Ministério da Saúde do Brasil. Sistema de Informática sobre Mortalidade SIM/DATASUS

    Quanto ao perfil dos adolescentes, observado na tabela 1, os óbitos foram mais frequentes em homens (79,9%) quando comparado às mulheres (20,1%). A única causa que registrou maior número de mortes em adolescentes do sexo feminino quando comparado aos do sexo masculino foram lesões autoprovocadas voluntariamente, sete óbitos em mulheres contra cinco em homens em todo o período pesquisado.

    Os jovens de cor/raça parda são maioria no número de mortes durante o período estudado 65,6%, os de cor/raça branca eram 12,3%, preta 5,9% e 16,2% das fichas foram preenchidas como ignoradas neste quesito.

    Verificou-se que o quesito escolaridade foi marcado como ignorado na maioria das fichas (97,4%) por não ter sido declarado ou preenchido, 2% dos adolescentes tinham de 8 a 11 anos de estudo e 0,6%, mais de 12 anos de estudo.

    A grande maioria dos adolescentes era solteira (95,5%), havia apenas um casado representando 0,6%, o quesito foi marcado como ignorado em 3,9% das fichas.

Tabela 1. Perfil dos adolescentes que faleceram por causas externas em Montes Claros – MG no período de 2005 a 2010.

*Valores de porcentagens arredondados

Fonte: Ministério da Saúde do Brasil. Sistema de Informática sobre Mortalidade SIM/DATASUS.

Discussão

    Ao analisar o cenário das mortes por causas externas em Montes Claros – MG no período de 2005 a 2010 não se pode traçar uma evolução regular, pois há diminuições e aumentos sucessivos no número de mortes a cada ano. De forma que o valor mais atual é o mesmo do primeiro ano estudado. Quanto ao perfil epidemiológico verifica-se adolescentes mais velhos de 15 a 19 anos, maioria do sexo masculino, de cor/raça parda, solteiros e com escolaridade não definida. A principal causa dos óbitos são as agressões seguida pelos acidentes de transporte.

    O CID-10 divide as mortes por causas externas em acidentais (que incluem os acidentes de transporte, de trabalho, quedas, envenenamentos, afogamentos e outros tipos de acidentes) e causas intencionais que são agressões lesões autoprovocadas e eventos cuja intenção é indeterminada (OMS, 2000). Seguindo esta divisão, no presente estudo 66,8% dos óbitos foram causados por agressões ou eventos de violência e 33,2% se devem a acidentes.

    Para Matos e Martins (2012) a mortalidade por violência em adolescentes se deve a alguns aspectos da urbanização das cidades em que uma parcela da juventude, principalmente de extratos sociais mais desfavorecidos, é marginalizada e vê oportunidade em atividades ilegais como tráfico de drogas ilícitas, furto e acesso facilitado a armas. Já nas causas acidentais é reconhecido o alto índice de envolvimento de jovens em acidentes de trânsito. O uso abusivo de álcool e o desrespeito à legislação são fatores para o envolvimento de adolescentes (SANTOS; PRATESI; TAUIL, 2008).

    A frequência dos óbitos por adolescentes do sexo masculino é condizente com o apresentado por outros autores. Em seu estudo Costa et al. (2007) delimita que os adolescentes do sexo masculino residentes no município de Recife capital do estado de Pernambuco apresentam maior chance de serem acometidos por violência, que inclui: homicídio, outros acidentes de transporte, atropelamento e suicídio. Outra pesquisa que analisou a mortalidade por causas externas em três cidades da América Latina (Córdoba, na Argentina; Campinas-SP, Brasil; e Medellín, na Colômbia), entre 1982 e 2005, também verificou maior prevalência masculinas dos óbitos (CARDONA, 2008). Para Martins e Andrade (2005) a explicação está em fatores culturais, que influenciam na infância, diferentemente entre meninos e meninas, dando mais liberdade àqueles e maior vigilância sobre estas.

    Nas mortes causadas por lesões autoprovocadas voluntariamente observa-se a maior quantidade de mortes em meninas. Este resultado é comum em outras pesquisas. Dados referentes a todo Brasil, no ano de 2000, mostram a taxa de internações por lesões auto-infringidas em jovens do sexo feminino na faixa de 10 a 14 anos e 15 a 19 anos 2,7 e 6,8/ 100.000 habitantes, respectivamente. Entre os homens, as taxas alcançaram os seguintes valores: 10 e 14 anos 2,5/ 100.000 habitantes e 15 a 19 anos 5,5/ 100.000 habitantes (BRASIL, 2005). Ao analisar a morbimortalidade por suicídio entre adolescentes em Minas Gerais, Abasse et al. (2009) também verificou maioria de internações entre as jovens do sexo feminino. Em relatório feito em 2005 pelo Departamento de saúde do estado de Indiana, nos Estados Unidos, a taxa de internações por lesões autoprovocadas foi de 3,4 por 100 mil habitantes para adolescentes do sexo masculino e 16,5 para adolescentes do sexo feminino de 10 a 14 anos. Na faixa etária de 15 a 19 anos os valores foram 37,3 e 77,2 para homens e mulheres, respectivamente (BECK; GRAVES, 2005).

    O perfil epidemiológico de mortes por violência traçado por um estudo realizado na capital Vitória - ES sugere que pessoas de raça negra e baixo nível socioeconômico têm maior chance de morte por homicídio e bancos de nível socioeconômico mais elevado, suicídios e acidentes de transporte (BASTOS, 2009). Neste estudo a maioria dos óbitos é de indivíduos de cor parda em todas as causas do grande grupo CID10. A cor/raça em si não é o fator primordial e sim a inserção social adversa de um grupo racial (BRASIL, 2010).

Considerações finais

    Através deste estudo foram definidas as características das mortes por causas externas de adolescentes residentes em Montes Claros e que faleceram no período de 2005 a 2010. O perfil epidemiológico consiste de adolescentes entre 15 e 19 anos, do sexo masculino, de cor/raça parda. A maioria das mortes foram por eventos que envolveram algum tipo de violência, os acidentes de trânsito representaram a segunda causa mais comum. Os dados desta investigação são coerentes com o encontrado na literatura.

    A violência se tornou um grande problema de saúde pública atingindo principalmente as faixas etárias mais jovens. É necessário manter os adolescentes conscientes do risco de atividades como uso e tráfico de drogas, envolvimento em brigas e furtos. Algumas medidas sugeridas são a oferta de trabalho e qualificação para esta faixa etária; fortalecimento e aprimoramento do vínculo entre os pais; opções de esporte, lazer e cultura acessível a todos os níveis sociais e uma perspectiva positiva para o futuro dos jovens.

    Em relação aos acidentes de trânsito destaca-se a prática do uso abusivo de álcool e a condução de veículos por adolescentes não habilitados. As autoridades responsáveis devem adotar medidas mais rigorosas para impedir a venda de bebidas para menores de idade bem como a fiscalização de trânsito. A educação também é uma boa alternativa para sensibilização, inserindo o debate de problemas no trânsito na escola, proporcionando veículos de informação populares entre os adolescentes.

    A prevenção das mortes por causas externas entre adolescentes é importante para reduzir o impacto econômico dos gastos com internações e das perdas de vida produtiva, além das consequências emocionais para as famílias que perdem seus entes queridos. A abordagem deve ser multifatorial e inclui leis, esforços educativos, produtos de segurança, acesso a melhores condições socioeconômicas, além de avanços no atendimento ao trauma para minimizar as sequelas e aumentar a sobrevida das vítimas de acidentes e violências.

Referências

  • ABASSE, MLF; OLIVEIRA, RC; SILVA, TC; SOUZA, ER. Análise epidemiológica da mortalidade por suicídio entre adolescentes em Minas Gerais, Brasil. Ciência e Saúde coletiva. 2009; 14(2): 407-416.

  • BASIL. Impacto da violência na saúde dos brasileiros. Secretaria de Vigilância em Saúde/MS.2005.

  • BASTOS, MJRP; PEREIRA, JA; SMARZARO, DC; COSTA, EF; BOSSANEL, RCL; OLIOSA, DMS; PEREIRA, JGP; FEITOSA, HN; COSTA, MF; OLIVEIRA, FJP; FÁVERO, JL; MACIEL, ELN. Análise ecológica dos acidentes e da violência letal em Vitória, ES. Rev Saúde Pública. 2009;43(1):123-32.

  • BELO HOIZONTE - MG. Atenção à saúde do adolescente. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. 2006.

  • BRASIL. Epidemiologia das causas externas no Brasil: mortalidade por acidentes e violências no período de 2000 a 2009. Secretaria de Vigilância em Saúde/MS. 2010.

  • CARDONA, D; PELÁEZ, E; AIDAR, T; RIBOTTA, B; ALVAREZ, MF. Mortalidad por causas externas em tres ciudades latinoamericanas: Córdoba (Argentina), Campinas (Brasil) y Medellín (Colombia), 1980-2005. R. bras. Est. Pop. 2008; 25(2): 335-352.

  • CASTRO, JM; RODRIGUES-JÚNIOR. A influência da mortalidade por causas externas no desenvolvimento humano na Faixa de Fronteira brasileira. Caderno de Saúde Pública. 2012; 28(1): 195-200.

  • CAVALCANTI, AL; MARTINS, VM; LUCENA, RN; GRAVILLE-GARRCIA, AF; MENEZES, VA. Morbidade por causas externas em crianças e adolescentes em Campina Grande, Paraíba. Arquivos Catarinenses de Medicina. 2008; 37(3): 27-33.

  • COSTA, IER; LUDEMIR, AB; AVELAR, I. Violência contra adolescentes: diferenciais segundo extratos de condições de vida e sexo. Ciência e Saúde coletiva. 2007; 12(5): 1193-1200.

  • COSTA, IER; LUDERMIR, AB; SILVA, IA. Diferenciais da mortalidade por violência contra adolescentes segundo estrato de condição de vida e raça/cor na cidade do Recife. Ciência e Saúde Coletiva. 2009; 14(5): 1781-1788.

  • MADELLI, MES; PRATESI, R; TAUIL, PL. Alcoolemia em vítimas fatais de acidentes de trânsito no Distrito Federal, Brasil. Revista de Saúde Pública. 2008; 42(2): 350-2.

  • MARTINS, CBG; ANDRADE, SM; Epidemiologia dos acidentes e violências entre menores de 15 anos em município da região sul do Brasil. Rev Latino-am Enfermagem. 2005; 13(4): 530-7.

  • MATOS, KF; MARTINS, CBG. Perfil epidemiológico da mortalidade por causas externas em crianças, adolescentes e jovens na capital do Estado do Mato Grosso, Brasil, 2009. Epidemiol. Serv. Saúde. 2012 jan-mar; 21(01): 43-53.

  • OLIVEIRA-CAMPOS, M; CERQUEIRA, MBR; NETO, JFR. Dinâmica populacional e o perfil de mortalidade no município de Montes Claros (MG). Ciência e Saúde Coletiva. 2011; 16(Supl. 1): 1303-1310.

  • PHEBO, L; MOURA, ATMS. Violência urbana: um desafio para o pediatra. Jornal de Pediatria. 2005; 81(5): 189-196.

  • SÃO PAULO – SP. Manual de atenção à saúde do adolescente. Coordenação de Desenvolvimento de Programas e Políticas de Saúde. 2006.

  • SILVA, PHNV; LIMA, MLC; MOREIRA, RS; SOUZA, WV; CABRAL, APS. Estudo espacial da mortalidade por acidentes de motocicleta em Pernambuco. Revista de Saúde Pública. 2011; 45(2): 409-15.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 178 | Buenos Aires, Marzo de 2013
© 1997-2013 Derechos reservados