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Influência da eritropoetina humana recombinante 

sobre o desempenho físico de ratos treinados

Influencia de la eritropoyetina humana recombinante sobre el rendimiento físico de ratas entrenadas

Influence of recombinant human erythropoietin on the physical performance of trained rats

 

*Laboratório de Farmacologia e Fisiologia.

**Laboratório do Exercício Físico e Desempenho Esportivo (LABED)

Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IP&D), Universidade do Vale

do Paraíba (UNIVAP), São José dos Campos, São Paulo

(Brasil)

Paulo Cesar Caetano Júnior* **

paulocaetanoj@hotmail.com

Lia Campos Lemes**

lialemes@univap.br

Silvia Regina Ribeiro**

sribeiro@univap.br

Rodrigo Alexis Lazo Osório*

ralo@univap.br

Wellington Ribeiro*

gton@univap.br

 

 

 

 

Resumo

          A eritropoetina humana recombinante (rHuEPO) é uma glicoproteína que passou a ser utilizada indiscriminadamente por alguns atletas, com o intuito de melhorar a sua capacidade física aeróbia. Apesar de alguns estudos mostrarem que este hormônio recombinante, pode aumentar o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) e tempo de exaustão de humanos, tais achados ainda não são conclusivos, necessitando de novas investigações relacionadas aos efeitos da rHuEPO. Neste sentido, o estudo objetivou verificar a influência da rHuEPO sobre o desempenho físico de ratos treinados aerobicamente com cargas progressivas, durante seis semanas. Os 14 animais foram divididos em grupo treinado (GT) (n=7) e grupo treinado + rHuEPO (GT+rHuEPO) (n=7). Através dos valores obtidos nos três testes de carga máxima (TCM) aplicados, antes (TCM1), durante (TCM2) e após protocolo de treinamento e/ou tratamento com rHuEPO (TCM3), observou-se que ambos os grupos evoluíram significativamente em relação ao percentual de carga, entre cada teste (TCM1 vs TCM2 e TCM1 vs TCM3 do GT e GT+rHuEPO - p<0,01). Na comparação entre o TCM3 dos grupos, o GT+rHuEPO apresentou valor médio significativamente maior que o GT (p<0,05). Pode-se concluir que o tratamento com rHuEPO pode aumentar o desempenho físico de ratos treinados aerobicamente com cargas progressivas.

          Unitermos: Eritropoetina humana recombinante. Treinamento físico aeróbio. Desempenho físico.

 

Abstract

          The recombinant human erythropoietin (rHuEPO) is a glycoprotein which is now used indiscriminately by some athletes, in order to improve their aerobic capacity. Although some studies show that this recombinant hormone, can increase maximal oxygen consumption (VO2max) and time to exhaustion in humans, these findings are not yet conclusive, requiring further research related to the effects of rHuEPO. In this sense, the study aimed to assess the effect of rHuEPO on physical performance of aerobically trained rats with progressive load, for six weeks. The 14 animals were divided into trained group (TG) (n=7) and trained group + rHuEPO group (TG+rHuEPO) (n=7). Through the values ​​obtained in three maximum load tests (MLT) applied before (MLT1), during (MLT2) and after training protocol and/or treatment with rHuEPO (MLT3), it was observed that both groups have evolved significantly over the percentage of loading between each test (MLT1 vs MLT2 e MLT1 vs MLT3 do TG e TG+rHuEPO - p<0,01). Comparing the MLT3 groups, the TG+rHuEPO showed average value significantly higher than TG (p <0.05). It can be concluded that treatment with rHuEpo can increase the physical performance of aerobically trained rats with progressive load, for six weeks.

          Keywords: Recombinant human erythropoietin. Aerobic physical training. Physical performance.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A rHuEPO é uma glicoproteína que tornou-se comercialmente disponível na década de 80, após evidências de que o hormônio poderia minimizar a necessidade da transfusão de sangue, bem como, melhorar o bem estar de pacientes anêmicos com doença renal crônica (CHOI et al., 1996).

    Após os Jogos Olímpicos de Inverno de Calgari e Jogos Olímpicos de Seul, a rHuEPO passou a ser abusivamente utilizada por atletas, com o intuito de melhorar o seu desempenho físico (CAZZOLA, 2002; RIVER, SAUGY, 1999).

    Em 1990, tal prática foi oficialmente proibida pelo COI (CAZZOLA, 2002; RIVER; SAUGY, 1999), no entanto, alguns fatores facilitam a utilização indiscriminada da rHuEPO no âmbito esportivo, principalmente pela dificuldade de detecção e diferenciação da rHuEPO da EPO endógena, em virtude da sua complexidade estrutural com elevada massa molecular, presente em baixas concentrações nos fluidos biológicos e bastante semelhante à sua forma endógena (GAREAU et al.,1995; MAGNANI et al., 2001), e ainda, pela técnica natural por hipóxia intermitente, que aumenta a produção de EPO no sangue (SANCHIS-GOMAR, 2009; BALESTRA; GERMONPRÉ, 2010).

    Em relação aos efeitos da rHuEPO sobre o desempenho físico, alguns estudos demonstraram que além de sua capacidade inerente de estimular a produção de hemácias e de hemoglobina (SCHMIDT et al., 2003), o tratamento com rHuEPO, em diferentes doses, pode aumentar o VO2máx e o tempo de exaustão em humanos (AUDRAN, 1999; EKBLOM, BERGLUND, 1991; BIRKELAND et al., 2000). No entanto, estes efeitos ainda não são conclusivos, necessitando de novas investigações relacionadas a este assunto.

    Neste sentido, o presente estudo objetivou verificar a influência do tratamento com rHuEPO sobre o desempenho físico de ratos submetidos ao treinamento físico aeróbio, com cargas progressivas, durante seis semanas.

Metodologia

Animais

    O estudo foi realizado baseando-se nos Princípios Éticos de Experimentação Animal adotado pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) e foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA), da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) (Protocolo de nº A032/CEUA/2011).

    Foram utilizados 14 ratos Wistar machos, onde foram mantidos coletivamente em caixas plásticas, com alimentação composta de água e ração ad libitum. Os animais ficaram mantidos no biotério do Laboratório de Fisiologia e Farmacologia do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IP&D), da UNIVAP, em temperatura de 22º a 25º C, umidade relativa e luminosidade controlada - ciclo claro e escuro de 12 horas.

    Os 14 animais foram divididos aleatoriamente em grupo treinado (GT) (n=7) e grupo treinado + rHuEPO (GT+rHuEPO) (n=7).

Treinamento físico e teste de carga máxima

    Antes de iniciar o treinamento com carga, os animais foram adaptados ao meio líquido, visando reduzir o estresse físico (LEITE et al., 2011).

    O treinamento aeróbio foi composto pelo aumento progressivo de 10% da sobrecarga determinada pelo TCM, a cada duas semanas, cinco sessões de treino em cada, durante 30 minutos por dia (Tabela 1).

Tabela 1. Protocolo de treinamento físico aeróbio

    O TCM iniciou com sobrecarga de 5% do peso corporal, seguido de um aumento de 1% de carga, a cada 3 minutos de natação. Assim que o animal afundasse, não retornando a superfície após 10 segundos, o teste era então interrompido e a carga anterior, considerada a máxima (OSORIO et al., 2003).

    O TCM foi aplicado antes de iniciar o protocolo experimental (TCM1), após três semanas (TCM2) e ao final do protocolo (TCM3).

Tratamento

    Os animais receberam injeções de rHuEPO (Blausiegel, Eritromax®), por via subcutânea, na região dorsal (nuca), em três dias de cada semana, durante seis semanas. A dose administrada foi de 50UI/Kg nas três primeiras semanas e 20UI/Kg nas três últimas (POUX et al., 1995; RUSSELL et al., 2002). A cada 15 dias os animais receberam por via oral, 2,4 mg de ferro (RUSSELL et al., 2002).

Resultados

    Na figura 1 são apresentados os valores médios ± DP do percentual de carga (%) do GT e GT+rHuEPO dos três TCM aplicados durante protocolo experimental, em que o primeiro teste foi aplicado antes de iniciar o protocolo de treinamento e/ou administração da rHuEPO (TCM1), após três semanas (TCM2) e ao final do protocolo (TCM3).

    Pode-se observar que houve diferença estatística entre o TCM1 vs TCM2 e TCM1 vs TCM3 tanto do GT (p<0,01), quanto do GT+rHuEPO (p<0,01). Houve diferença estatística entre o TCM3 do GT comparado ao TCM3 do GT+rHuEPO (p<0,05).

Figura 1. Valores médios ± DP do percentual de carga (%) do GT (n=7) e GT+rHuEPO (n=7), durante TCM aplicado antes de iniciar 

o protocolo de treinamento e/ou administração da rHuEPO (TCM1), após quatro semanas (TCM2) e ao final do protocolo (TCM3).

* Estatisticamente diferente em relação ao TCM1 vs TCM2 e TCM1 vs TCM3 do GTAI (p<0,01) e GTAI+rHuEPO (p<0,01); 

# Estatisticamente diferente entre TCM3 do GT vs TCM3 do GT+rHuEPO (p<0,05).

Discussão

    Através dos valores de percentual de carga apresentados durante o TCM, antes, durante e após protocolo de treinamento e/ou tratamento com rHuEPO, pode-se observar que ambos os grupos apresentaram evolução relacionada ao percentual de carga, entre cada teste, e ainda, que o grupo treinado e tratado no TCM3 foi significativamente superior ao GT.

    Denota-se que no TCM1, aplicado antes de iniciar o protocolo experimental, o GT alcançou valor médio de carga de 8% e o GT+rHuEPO 7,4%. Os animais neste primeiro teste nadaram com cargas muito semelhantes, em razão do cálculo, considerando 5% do peso corporal (GT - 306,3 ± 5,3 g; GT+rHuEPO - 306 ± 3,4 g).

    Após três semanas de treinamento e tratamento realizou-se o TCM2, onde ambos os grupos apresentaram valores significativamente maiores em relação ao TCM1. É importante destacar que o GT+rHuEPO iniciou o TCM2 com cargas superiores, em virtude do maior peso corporal apresentado (347 ± 13 g), quando comparado ao peso corporal do GT (340 ± 12,8 g). Ainda assim, o GT+rHuEPO evoluiu 2,4% e o GT somente 1%, em relação ao TCM1 e TCM2.

    Esta evolução entre cada TCM deve-se evidentemente ao treinamento físico que pode promover, de acordo com sua especificidade, tanto efeitos relacionados ao conteúdo hematológico (BAKER et al. 2011; FREITAS et al., 2010; MARTINEZ-BELLO et al., 2011), quanto adaptações musculares, envolvendo os efeitos angiogênicos, alterações de receptores de EPO, aumento no número e tamanho das mitocôndrias, e ainda maior conteúdo de mioglobina (DALIA et al. 2011; FOSS; KETEYIAN, 2000; WILMORE et al., 2010).

    Em relação ao TCM3 o percentual de carga do GT+rHuEPO foi significativamente superior ao do GT. Os resultados do TCM indicam que a rHuEPO potencializou o desempenho aeróbio dos animais, corroborando com estudos que encontram aumento do tempo de exaustão e do VO2máx, em indivíduos submetidos ao mesmo tratamento (LUNDBY et al., 2008; RUSSELL et al., 2002; THOMSEN et al., 2007).

    Um dos fatores que ajuda a explicar a melhora do desempenho físico em virtude do tratamento com rHuEPO é o aumento de glóbulos vermelhos no sangue, que pode aumentar o VO2máx. No entanto, estudos demonstraram que os efeitos da rHuEPO estendem-se além das alterações relacionadas à eritropoiese (CAYLA et al., 2008; CHRISTENSEN, 2011; ROBACH et al., 2009), de modo que este hormônio recombinante, pode também promover outras alterações, tais como, redução da concentração de lactato sanguíneo (CONNES et al., 2004; LAVOIE et al., 1998; MEIERHENRICH et al., 1996; RUSSEL et al., 2002) e de proteínas musculares (JUEL et al., 2007; LUNDBY et al., 2008).

    Além desses efeitos, recentemente foi relatado que o tratamento com rHuEPO pode atravessar a barreira sangue-cérebro, provocando efeitos neurais, podendo assim potencializar o desempenho físico, sem necessariamente alterar a produção de células vermelhas do sangue (SCHULER et al., 2012).

Conclusão

    Os resultados mostraram que o tratamento com rHuEPO, durante seis semanas, pode aumentar o desempenho físico de ratos treinados aerobicamente com intensidade progressiva.

Referências

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