Fisioterapia respiratória no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca Fisioterapia respiratoria en el pre o post-operatoria de cirugía cardiaca |
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*Fisioterapeutas. Especialistas em Fisioterapia Cardiorrespiratória e Terapia Intensiva pelo Centro Universitário do Triângulo (UNITRI) **Fisioterapeuta. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Uberlândia Docente do Centro Universitário do Triângulo |
Ademar Gonçalves Caixeta Neto* Andréa Caixeta Gonçalves* Geraldo Magela Cardoso Filho** (Brasil) |
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Resumo A cirurgia cardíaca é um procedimento invasivo de alto risco, realizado há mais de 3 décadas, em que as complicações pulmonares representam causas importantes de morbi-mortalidade nos pacientes submetidos a este procedimento. A fisioterapia respiratória tem papel fundamental nos casos de complicações pelo excesso de secreção broncopulmonar. Manobras de remoção de secreção brônquica como a vibrocompressão e o aumento do fluxo expiratório (AFE) garantem a perviabilidade das vias aéreas. Neste contexto, foi realizado um estudo de revisão que objetivou identificar as técnicas de fisioterapia respiratória mais utilizadas no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca. Foram consultados periódicos nacionais e internacionais publicados entre 1997 e 2012, e indexados no Medline/Pubmed, SciElo Lilacs, dentre outras bases. As palavras-chave utilizadas na busca foram: fisioterapia respiratória, tratamento, técnicas no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca, respiratory physiotherapy, treatment, handling, preoperative and postoperative cardiac surgery. Após análise dos artigos encontrados, verificou-se que as técnicas desobstrutivas e o treinamento muscular inspiratório intensivo se destacaram no período pré-operatório. Já os exercícios de respiração profunda, vibração manual e estimulo a tosse foram técnicas fisioterapêuticas bastante comuns empregadas no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Unitermos: Fisioterapia respiratória. Tratamento. Cirurgia cardíaca.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
As Doenças Cardiovasculares (DCV) constituem a principal causa de morbi-mortalidade no Mundo, representando um grande desafio à saúde pública (BRASIL, 2010). Suas taxas de mortalidade correspondem a 32% no Brasil (BRASIL, 2010) e 60% no mundo (OPAS, 2003; WHO, 2005).
Em função da extensão e complexidade da doença, nota-se urgência na interrupção de seu curso. Embora, tenha havido avanços terapêuticos e clínicos no controle dos problemas cardiovasculares nos últimos anos, a realização do tratamento cirúrgico é indicado nos casos em que o prognóstico após a intervenção supera o tratamento clínico (ROCHA et al., 2005).
A cirurgia cardíaca é um procedimento invasivo de alto risco, cujo alvo é um órgão vital, o coração. Desta forma, é necessário que haja muito cuidado pela equipe multiprofissional, com os pacientes que são submetidos à mesma, durante os períodos pré e pós-operatório, uma vez que a forma de abordagem contribuirá na obtenção de resultados satisfatórios ou não, resultando no aumento ou declínio das taxas de morbi-mortalidade (FERREIRA & VIEGAS, 2004).
As complicações respiratórias pós-cirurgia de revascularização do miocárdio possuem incidência entre 2% e 19% (FISHER, MAJUMDAR & MCALISTER, 2002), e se associam tanto com a esternotomia e a presença de drenos pleurais (GUIZILINI et al., 2005) quanto com a circulação extracorpórea (DIAS et al., 2012). Como conseqüência disto, ocorrem reduções no volume residual (VR), na capacidade vital (CV), e nas capacidades residual funcional (CRF) e pulmonar total (CPT), as quais desencadeiam a formação de atelectasias, com alterações de perfusão, ventilação, e das pressões parciais de oxigênio e gás carbônico no sangue arterial (GUIZILINI et al., 2005).
A fisioterapia respiratória, historicamente, tem sido empregada de forma preventiva em pacientes submetidos a cirurgias cardíacas, objetivando a redução do risco de complicações pulmonares, tais como a retenção de secreções pulmonares, as atelectasias e a pneumonia (BRASHER et al., 2003). Faz parte do tratamento pré e pós-operatório, em especial, naqueles pacientes sujeitos à maior risco para o desenvolvimento de complicações cardiorrespiratórias pós-operatórias (BROOKS et al., 2002), tais como atelectasias, pneumonia, bronquite, broncoespasmo, hipoxemia, falência respiratória e ventilação mecânica prolongada (ROCK & RICK, 2003).
Segundo Brasher et al. (2003), “o atendimento engloba diversas técnicas e as mais comumente empregadas no período pós-operatório imediato incluem exercícios de padrões ventilatórios (incursões profundas), deambulação precoce, cinesioterapia, posicionamento e estímulo à tosse”. Além destas técnicas, as manobras de vibração na caixa torácica e o CPAP podem prevenir a deterioração da função pulmonar e reduzir a incidência de complicações pulmonares (BORGHI-SILVA et al., 2005).
Neste contexto, o estudo teve por objetivo identificar as técnicas de fisioterapia respiratória mais utilizadas no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca, bem como seus efeitos sobre o sistema pulmonar.
Metodologia
Foi realizada uma revisão de literatura, na qual foram avaliados artigos científicos publicados durante o período de 1997 a 2012, em periódicos nacionais e internacionais, publicados em bases de dados virtuais: Medline/Pubmed (Index Medicus, Index to dental Literature e International Nursing Index), SciElo (Scientific Eletronic Library Online), Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), dentre outras. As palavras-chave utilizadas na busca foram: fisioterapia respiratória, tratamento, técnicas no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca, respiratory physiotherapy, treatment, handling, preoperative and postoperative cardiac surgery.
Abordagem fisioterapêutica na cirurgia cardíaca
Estudos realizados na Oceania por Reeve et al. (2007) e na Europa por Westerdahl e Möller (2010) verificaram que informações pré-operatórias sobre risco de complicações pulmonares, restrições pós-esternotomia e exercícios respiratórios foram oferecidas pela maioria dos fisioterapeutas.
A atenção ao paciente no pré-operatório, de forma a avaliar e orientar o mesmo, é de fundamental importância, pois pode minimizar o tempo de recuperação pós-operatória (LEGUISAMO et al., 2005; MIRANDA et al., 2011).
Pesquisa realizada por Olmos et al. (2007) observou uma redução do tempo de internação hospitalar nos grupos que realizaram a fisioterapia no pré-operatório (grupos A e B) quando comparado com o grupo que não realizou a fisioterapia (grupo C), em que os grupos apresentaram valores médios de 7.25, 8.06 e 9.1 dias, respectivamente.
Giacomelli et al. (2000) notou melhora da força muscular respiratória pós-cirurgia a partir da realização de treinamento muscular respiratório no período pré-operatório. No entanto, estudos têm demonstrado que a realização de fisioterapia pré-operatória é mais eficaz na redução de complicações respiratórias nos pacientes com risco alto ou moderado quando àqueles com baixo risco (FELTRIM et al., 2007; ARSÊNCIO et al., 2008).
As técnicas desobstrutivas e o treinamento muscular inspiratório intensivo se destacaram no período pré-operatório, conforme demonstrado na tabela 1.
Tabela 1. Tipos de técnicas de fisioterapia respiratória utilizadas no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca
A melhora da relação entre ventilação e perfusão, além da remoção de secreção brônquica pode ser obtida após a cirurgia cardíaca por meio da hiperinsuflação manual, vibração na parede torácica, técnicas de posicionamento e aspiração endotraqueal (PATMAN, SANDERSON & BLACKMORE, 2001).
Diferentes ensaios clínicos randomizados realizados com adultos (n > 20) submetidos à cirurgia cardíaca foram analisados com o objetivo de avaliar quais as técnicas de fisioterapia respiratória foram mais utilizadas no período pós-operatório. Crowe e Bradley (1997), Matte et al. (2000) e Romanini et. al., (2007) realizaram a espirometria de incentivo. A utilização exercícios de respiração profunda (ERP) isoladamente foi observada em estudos de Crowe e Bradley (1997), Brasher et al. (2003), Westerdahl et al. (2005), Borghi-Silva et al. (2005). Trabalhos associando ERP e pressão expiratória positiva também foram realizados por Westerdahl et al. (2005) e Borghi-Silva et al. (2006).
O III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica (2007) recomenda a realização de exercícios ativos em pacientes sob VM com o objetivo de diminuir a sensação de dispnéia, aumentar a tolerância ao exercício, reduzir a rigidez e dores musculares e preservar a amplitude articular desde que sejam capazes de executá-los e não existam contra indicações. Estas orientações são corroboradas por estudos conduzido por Silva et al. (2012), no qual o tempo médio de internação pós-cirurgia cardíaca foi menor entre indivíduos que realizaram algum tipo de exercício no período pré-operatório.
Outras medidas que têm se mostrado eficientes para evitar o prejuízo às vias aéreas são as mudanças periódicas de decúbito (PELOSI & ROCCO, 2007).
Conclusão
A fisioterapia respiratória é extremamente importante na prevenção e controle das complicações pulmonares decorrentes do pós-operatório de cirurgia cardíaca e deve ser instituída o mais precocemente possível, à despeito de estudos que contestam sua eficiência.
Treinamento de padrão diafragmático, redirecionamento do fluxo aéreo, exercícios inspiratórios e de reexpansão pulmonar se destacam entre as técnicas utilizadas no período pré-operatório.
Em relação ao pós-operatório de cirurgia cardíaca, podem-se citar técnicas de drenagem postural, exercícios de respiração profunda, estímulo a tosse, compressão torácica e hiperinsuflação manual.
As técnicas utilizadas variam de acordo com os países e com a prática de cada serviço.
Referências
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