Relato de experiência do I Festival de Basquetebol da Universidade Federal do Ceará Relato de experiencia del I Festival de Baloncesto de la Universidad Federal de Ceará |
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*Graduanda **Mestre IEFES/UFC. Instituto de Educação Física e Esportes Universidade Federal do Ceará (Brasil) |
Isabella Nogueira Silva* Ricardo Hugo Gonzalez** |
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Resumo O presente texto trata sobre as vivências do I Festival de Basquetebol IEFES/UFC, evento este organizado pelos acadêmicos do 2° semestre do curso de Educação Física da Universidade Federal do Ceará. O objetivo central foi organizar e refletir sobre os aspectos pedagógicos de uma competição infantil, na perspectiva dos participantes assim como na visão dos acadêmicos envolvidos na organização do evento. Participaram escolares de ambos os sexos, na faixa etária de 12 a 14 anos, praticantes da modalidade basquetebol. A competição visava à confraternização e a socialização dos jovens que durante o festival que tiveram mais uma oportunidade para o contato com a modalidade. Desta maneira eram estimulados sobre a importância do Fair Play (jogo limpo) como também a melhora das habilidades físicas, técnicas, táticas e psíquicas no âmbito dos jogos coletivos. As partidas foram trabalhadas através de uma abordagem situacional. As vivências no I Festival de Basquetebol proporcionaram a inclusão social e gosto pela prática do basquetebol. Assim, o esporte pode ser meio de educação e formação de hábitos para uma vida mais saudável. Para os acadêmicos do curso de Educação Física a vivência proporcionou uma visão mais aprofundada da função social do professor de Educação Física, assim como das dificuldades encontradas para a organização de eventos esportivos. Concluiu-se que a competição é de grande importância para a motivação de crianças e adolescentes, assim como um espaço fértil para as intervenções pedagógicas. A competição, como ferramenta pedagógica, deve estar sempre presente na hora da planificação das atividades de professores e técnicos esportivos. Unitermos: Basquetebol. Escolares. Competição.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O presente trabalho trata sobre as vivências do I Festival de Basquetebol como instrumento de popularização da modalidade na cidade de Fortaleza-CE. O festival foi organizado pelos acadêmicos do 2° semestre do curso de licenciatura em Educação Física do Instituto de Educação Física e Esportes (IEFES) da Universidade Federal do Ceará (UFC), durante a disciplina de Esportes Coletivos I (Basquetebol e Handebol).
Sendo o esporte, uma importante ferramenta de transformação social e que trabalha com as questões e valores humanos, justifica-se a prática do I Festival de Basquetebol, no sentido de suscitar nessas crianças o hábito esportivo com leal competitividade (Fair Play), e ainda propiciar atividades que aprofundem a proposta de ensino-aprendizagem referente à modalidade basquetebol.
O objetivo central do festival foi organizar e refletir sobre os aspectos pedagógicos de uma competição infantil, na perspectiva dos participantes assim como na visão dos acadêmicos envolvidos na organização do evento. Oportunizando a prática do basquetebol para as crianças das Vilas Olímpicas de Fortaleza e proporcionando a vivência profissional dos acadêmicos do curso de Educação Física.
Um novo olhar sobre o esporte
O fascínio pelo esporte é cada vez maior, e sua prática conquista novos adeptos a cada dia. É necessário um novo olhar acerca do fenômeno esporte, passando a vê-lo não mais como uma prática exclusiva para atletas e talentos, mas como uma alternativa para todos os cidadãos (PAES; BALBINO, 2009).
Para Bourdieu (1983), o esporte moderno é compreendido como um produto que pode ser consumido de diferentes formas, não só através de sua prática, mas através do espetáculo esportivo, na utilização de materiais esportivos e mesmo de leituras especializadas.
Segundo Paes e Balbino (2009), não cabe mais ao esporte uma visão exclusivista e elitizada, em que somente os atletas com alto desempenho são capazes de desfrutar, mas com múltiplas possibilidades e nas suas diferentes expressões em toda a sociedade. Diversas propostas apresentam o esporte de forma reduzida e exclusivista, dificultando a possibilidade de um tratamento pedagógico do esporte, principalmente em relação à iniciação esportiva precoce, centrada na busca pelo resultado imediato, desconsiderando o ser que joga.
Paes e Balbino (2009) apresentam alguns delineadores necessários para a transformação do esporte:
O esporte deverá ser mais bem compreendido como fenômeno, sobretudo quando tratamos de suas funções;
O conteúdo que será desenvolvido deverá acontecer de maneira planejada, organizada e sistematizada;
Deverão ser considerados os diferentes níveis de ensino;
O esporte como facilitador na educação e formação de crianças e jovens
O esporte educativo busca colaborar para o desenvolvimento global e potencializar os valores da criança. Esta possibilidade da Iniciação Esportiva busca proporcionar o desenvolvimento de atitudes motrizes e psicomotrizes em relação com os aspectos afetivos, cognitivos e sociais, respeitando os estágios de desenvolvimento humano. (GABARRA et al, 2009).
Segundo Ferraz (2009), pesquisas demonstram que os pais consideram a prática esportiva benéfica para a saúde e favorável ao rendimento escolar. Os argumento que sustentam essa posição estão relacionados à aquisição de regras de conduta, de normas de comportamento e de valores sociais que fundamentam nossa cultura.
O ensinar esporte deve estar comprometido da mesma forma que qualquer outra disciplina, pois em nada diminui a responsabilidade de formar, portanto, esta não poderá ser desprovida de condutas e princípios pedagógicos. Assim, a prática esportiva mediada pela ação do agente pedagógico, atua como facilitadora no papel de formadora de cidadãos melhores, autônomos, capazes de refletir e transformar sua prática esportiva, deixando de ser apenas meros repetidores (REVERDITO; SCAGLIA, 2009).
O esporte Em sua forma educativa promove, através de sua prática, melhora nas relações sociais, na saúde, podendo desenvolver a autossuperação e o autocontrole, fatores importantes para o bem estar de jovens e crianças. Assim é fundamental projetar uma prática esportiva educacional, onde o aluno conceba e incorpore o conhecimento tendo condições de modificá-lo, se preciso. (SOARES; MONTAGNER, 2008).
Segundo Greco e Benda (1998), o esporte tem um valor significativo na infância e na adolescência, considerando tanto o ponto de vista da integração, quanto da socialização. Porém, o esporte, quando em seu contexto prático, em virtude das diferentes formas de expressão e significados atribuídos pela sociedade atual, passa a ser também um determinante de regras e padrões de comportamentos.
Para Florentino e Saldanha (2007), a sociabilidade está entre os motivos que levam crianças e adolescentes a praticarem uma determinada atividade física e desportiva. A necessidade de pertencer a um Grupo é muito forte na adolescência e isto pode ser um dos fatores primordiais para os jovens se envolverem com o esporte.
Definir e construir regras com os alunos faz parte de um processo pedagógico coerente e consistente. Ideal seria que os profissionais da área da Ed. Física se preocupassem com o ensino de esportes antes, durante e depois das competições escolares, tornando-o um meio de educação e não um fim de competição. (REVERDITO; SCAGLIA, 2009).
Competição esportiva
A competição é um elemento fundamental do esporte, e que dá sentido a sua existência, é nela que a manifestação do esporte se realiza em sua plenitude. Portanto, qualquer ação orientada para o ensino e aprendizagem do esporte não está desvinculada da necessidade de se aprender a competir. (REVERDITO et al, 2008)
Em relação ao esporte-educação, a competição pode ter objetivos voltados para questão da participação, apresentando aspectos recreativos, sendo orientadas para as necessidades e a satisfação dos participantes. Na maioria das situações a criança gosta de competir e se sente fascinada, e quando a competição é usada de forma adequada, ela se torna uma valiosa ferramenta para contribuir na formação de seu caráter, tornando-a mais participativa, autêntica, criativa, solidária, integrada, sujeito de seu processo de desenvolvimento e aprendizagem (SOARES; MONTAGNER, 2008).
Ao proporcionar a competição esportiva para crianças e adolescentes na escola, não significa que esse processo esportivo tenha o objetivo de formar atletas, de construir uma mentalidade competitiva focada apenas no êxito esportivo, o que se pretende é oferecer oportunidades de vivências e experiências em competições esportivas, de frustrações nas perdas e atitudes honrosas diante das vitórias. Deste modo, para desenvolver um comportamento formativo na competição escolar, é necessário que essa competição fomente seu lado construtivo, ou seja, valorizando a vitória sem exageros e a derrota como exercício de aprendizagem para a formação do homem (SOARES; MONTAGNER, 2009).
Ao se discutir o ensino de esportes não se pode descartar a necessidade de se ensinar a competir, pois a competição como um conteúdo do planejamento do professor pode enriquecer o processo de ensino. As competições pedagógicas e os festivais esportivos tanto em aulas de Educação Física como em aulas de treinamento, constituído como conteúdo de ensino, são partes integrantes do projeto pedagógico da escola, portanto podem ser compreendidos como possibilidade educacional, como ferramenta de intervenção (FREIRE; SCAGLIA, 2003).
Para Orlick (1989), o objetivo da competição deve estar voltado também para a autossuperação e busca da elevação da autoestima O autor sugere uma competição cooperativa, valorizando o bem-estar dos jogadores acima dos resultados do jogo, tornando-se um meio para o prazer mútuo, que pode ser orientada para a melhoria dos aspectos físicos, emocionais e sociais.
Ver apenas os defeitos da competição sem contabilizar, ao mesmo tempo, aquilo que ela traz de positivo na vida esportiva do atleta é desqualificá-la. O que o atleta procura na prática competitiva é o prazer de se sentir forte físico e moralmente, de superar obstáculos, de vencer o adversário o, lutando com suas próprias forças, obedecendo a regras que são impostas para que se mensure o desafio e que fomente o respeito pelo adversário no momento do confronto (SOARES; MONTAGNER, 2009). Assim os aspectos positivos ou negativos de uma competição, dependerão dos valores a ela atribuídos.
Em relação às competições escolares, o balizador para as intenções educativas é oferecer a todas as crianças experiências desafiadoras, que possam contribuir para a afirmação de suas competências (REVERDITO et al, 2008). Neste caso, a competição deve ser equilibrada, para que todos os participantes tenham condições efetivas de triunfar. Outro aspecto a ser destacado é jogar com o colega adversário ao invés de contra, estimulando assim a cooperação entre os companheiros de equipe e com os adversários (SCAGLIA et al, 2001).
O relato
Durante a disciplina Esportes Coletivos I (Basquetebol e Handebol) do curso de licenciatura em Educação Física, foi proposto como avaliação à realização de um festival de basquetebol, onde os acadêmicos planejaram o evento para crianças das Vilas Olímpicas da cidade de Fortaleza. Participaram do festival, escolares de ambos os sexos, com idade entre 12 a 14 anos, praticantes da modalidade basquetebol.
A competição visava à confraternização e a socialização dos jovens, que durante o festival tiveram mais uma oportunidade para o contato com a modalidade. Desta maneira, os jovens eram estimulados sobre a importância do fair play (jogo limpo) como também a melhora das habilidades físicas, técnicas, táticas e psíquicas no âmbito dos jogos coletivos.
As partidas foram trabalhadas através de uma abordagem situacional, possibilitando ao aluno, trabalhar, desenvolver as capacidades técnicas paralelamente às capacidades táticas. Como um dos objetivos do festival era a socialização entre os jovens, todos que participaram receberam medalhas.
Ao término de todos os jogos houve uma reflexão entre o professor e o grupo de acadêmicos para se chegar ao um consenso de qualidade e de aplicação a uma realidade, onde o jogar e o brincar por excelência são meios que possibilitam a criança impulsionar-se no desenvolvimento e crescimento independentemente de estímulos externos.
As vivências no I Festival de Basquetebol proporcionaram a inclusão social e gosto pela prática do basquetebol, modalidade pouco praticada no contexto escolar. Provavelmente os alunos/atletas envolvidos procuraram outros contatos com a modalidade.
Deste modo, o esporte pode ser um meio de educação além de formação de hábitos para uma vida mais saudável. Já para os acadêmicos do curso de Educação Física, a vivência proporcionou uma visão mais aprofundada da função social do professor de Educação Física, assim como das dificuldades encontradas para a organização de eventos esportivos.
Considerações finais
A competição é de grande importância para a motivação de crianças e adolescentes assim como um espaço fértil para as intervenções pedagógicas. Deste modo, a competição como ferramenta pedagógica, deve estar sempre presente na hora da planificação das atividades de professores e técnicos esportivos.
O fato de a competição premiar todas as crianças estimulou jogos onde se pregava o respeito, o companheirismo, a inclusão social dentro do esporte. Trabalhar modalidades esportivas de uma forma lúdica estará definitivamente conquistando um espaço verdadeiro no cotidiano das crianças e jovens, pois fica claro o aumento das possibilidades de ações positivas, com isto, efetivará concretamente o esporte e a modalidade em fase tão importante, como a formação motora, cognitiva e afetiva de uma criança.
Referências
BOURDIEU, Pierre. Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.
FERRAZ, Osvaldo Luiz. O esporte, a criança e o adolescente: consensos e divergências. In:____. Esporte e atividade física na infância e na adolescência: uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2ª Ed. 2009.
FLORENTINO, J.; SALDANHA, R. P. Esporte, educação e inclusão social: reflexões sobre a prática pedagógica em Educação Física. Lecturas: Educacion Fisica y Deportes. Revista Digital. a. 12, n. 112, Set. 2007. http://www.efdeportes.com/efd112/esporte-educacao-e-inclusao-social.htm
FREIRE, J.B.; SCAGLIA, A.J. Educação como Prática corporal. São Paulo. Scipione, 2003.
GABARRA, L. M. et al. A Psicologia do Esporte na iniciação esportiva infantil. Psicologia para América Latina (Online), n.18, Nov. 2009.
GRECO, P.J.; BENDA, R.N. Iniciação Esportiva Universal: Da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Belo Horizonte: Escola de Educação Física da UFMG, 1998.
ORLICK, T. Vencendo a competição. São Paulo: Círculo do Livro, 1989.
PAES, R. R.; BALBINO, H. F. A pedagogia do esporte e os jogos coletivos. In:____. Esporte e atividade física na infância e na adolescência: uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2ª Ed. 2009.
SCAGLIA, A. J. et al. Pedagogia da competição em esportes: da teoria à busca de uma proposta prática escolar. Motus Corporis, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 20-30, 2001.
SOARES, F. C.; MONTAGNER, P. C. A Competição Esportiva Escolar como Componente Pedagógico a Ser Refletida e Aplicada nas Aulas de Educação Física, [Tese de Mestrado] Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas, 2008.
SOARES, F. C.; MONTAGNER, P. C. O tratamento pedagógico da competição esportiva escolar: Um relato de experiência. Congresso Paulistano de Educação Física Escolar. São Paulo, 2009.
REVERDITO, R. S.; SCAGLIA, A. J. Pedagogia do esporte: jogos coletivos de invasão. São Paulo: Phorte editora, 2009.
REVERDITO, R. S. et al. Competições Escolares: Reflexão e Ação em Pedagogia do Esporte para Fazer a Diferença na Escola. Pensar a Prática, v.11, n.1, p. 37-45, jan./jul. 2008.
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