Competência profissional: aulas
de Educação Física Competencia profesional: las clases de Educación Física en los grados iniciales |
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*Licenciado em Educação Física pelo Centro Universitário do Rio Grande do Norte, UNI-RN **Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Saúde e Sociedade da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, UERN ***Doutor/a em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN (Brasil) |
Gustavo de Oliveira Santos* Gleidson Mendes Rebouças** Nailton José Brandão de Albuquerque Filho** Thiago Renee Felipe** João Carlos Lopes Bezerra** Ubilina Maria Conceição Maia** Arnaldo Tenório da Cunha Júnior*** Maria Irany Knackfuss*** Humberto Jefferson de Medeiros*** |
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Resumo O presente estudo teve por objetivo identificar o nível de competência profissional de professores que ministram a disciplina educação física escolar nas séries iniciais, e assim esclarecer a quem compete tal função acadêmica. Trata-se de uma pesquisa descritiva de autoavaliação. Constituíram a amostra quinze professores de ambos os sexos atuantes em instituições públicas e privadas de ensino da cidade do Natal-RN. Para coleta dos dados foi aplicada a escala de autopercepção profissional de Nascimento (1999) que é constituído por um questionário que avalia a competência profissional, traçando o perfil do profissional mais adequado à função de professor de educação física escolar em séries iniciais. Foram levadas em consideração as variáveis, sexo, idade, tempo de atuação e quantidade de turmas, avaliando os indivíduos a partir de dois fatores, conhecimento profissional e habilidade profissional. O resultado encontrado foi uma superioridade dos valores de média dos professores de educação física com relação a conhecimentos profissionais, e em contrapartida os valores da média dos professores pedagogos foram maiores com relação à dimensão habilidades profissionais. Nenhum dos valores encontrados teve diferenças discrepantes quando calculado média e desvio padrão. Unitermos: Competência. Educação Física. Escolar. Autopercepção. Séries iniciais.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Ainda hoje há um grande paradigma sobre o desenvolvimento motor de crianças em séries iniciais, pois, apesar de a Educação Física (segundo a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Art.26, § 3º) fazer parte da grade curricular obrigatório em todos os níveis de ensino no Brasil, podemos ainda encontrar instituições que não contam com um profissional especializado atuante na educação física escolar, ao invés disso, encontramos professores (as) pedagogos chamados de “generalistas”, pois além das atividades curriculares comuns a sua atuação, tendem ainda a promover atividades recreativas a fim de cobrir lacunas que surgem em falta de um profissional que se adéqua as funções específicas da atividade física e desenvolvimento psicomotor através de uma aula teórica-prática que visa proporcionar ao aluno elementos que lhe garantam autonomia para que esteja preparado para o mundo que o cerca (FERRAZ, 1996).
A falta do profissional educador físico nas series iniciais nos levou a pensar se realmente esse profissional seria substituível nas suas atividades práticas, ou que suas práticas poderiam ser realizadas por profissionais de outra área pedagógica. A competência para a realização destas aulas exige uma capacidade diferenciada no que diz respeito a desenvolvimento motor, já que competência é atribuída à capacidade de organizar os saberes a fim de resolução de problemas (KOBER, 2004).
Como os professores atuantes no contexto escolar, sejam eles da área especifica ou de outra área de atuação estão aplicando as atividades propostas? E se essas atividades estão coerentes, tendo como princípio uma metodologia condizente aos objetivos planejados. Será que os conhecimentos de professores “generalistas” são suficientes para atuação nas aulas de educação física em séries iniciais? Ou podemos pensar ainda se por outro lado, que talvez o professor de educação física ao longo dos anos foi mal preparado para atuar com crianças em iniciação a prática de atividade física, e por isso as escolinhas, creches, instituições publicas e privadas de ensino não se preparam estruturalmente, para desenvolvimento de atividades práticas em suas instalações faltando espaço para atuação adequada da aula de educação física (AYOUB, 2001).
A possibilidade de melhorar o desenvolvimento motor de crianças nas aulas de educação física erroneamente direcionada ou atingida parcialmente, nos levou a desenvolver este estudo a fim de esclarecer se há em nível significativo alguma perda no desenvolvimento motor podendo prejudicar a criança, ou o problema está nos conteúdos ministrados e na capacidade dos professores em desenvolver atividades que possam atingir os objetivos propostos pelo PPP da instituição trazendo valores aos alunos e contribuindo significativamente para desenvolvimento de valências físicas, já que é evidente que há sim uma diferença na motricidade de alunos que tem um professor especializado ministrando as atividades na aula de educação física em comparação a alunos que não tem a figura do profissional da educação física como condutor da mesma (RODRIGUES et al., 2011). Assim o objetivo deste artigo foi avaliar o nível de competência profissional de professores que atuam em Educação Física Escolar com e sem formação específica.
Metodologia
A pesquisa caracterizou-se do tipo descritiva com corte transversal uma vez que não foi testada hipótese e sim traçar um perfil do grupo avaliado. A amostra foi composta por 35 professores, sendo quinze do sexo masculino e vinte do sexo feminino. Do mesmo total, dezoito são professores com formação em educação física e dezessete com formação em pedagogia. Para a avaliação da competência profissional utilizamos neste trabalho a Escala de auto-percepção de competência profissional em educação física e desportos que é composto por 30 itens para determinação de 2 fatores (NASCIMENTO, 1999) que consiste em assinalar com um "X", nas colunas ao lado da listagem de competências, o que corresponde à sua opinião quanto à competência percebida considerando: (0) Nenhum Domínio. Posso me considerar um profissional que não possui qualquer domínio nesta competência. (1) Domínio Muito Insuficiente. Consideravam-se um profissional com domínio muito pequeno ou muito superficial nesta competência. (2) Domínio Insuficiente. Consideravam-se um profissional com domínio insatisfatório nesta competência. (3) Domínio Suficiente. Consideravam-se um profissional com domínio satisfatório nesta competência. (4) Domínio Quase Total. Consideravam-se um profissional com grande domínio nesta competência, porém ainda não atingi o nível de “especialista”. (5) Domínio Total. Nesta resposta o individuo se considerava um profissional “especialista” nesta competência. Para análise estatística utilizamos de medidas de tendência central e de dispersão tais como média e desvio padrão para a representação dos dados. Como inferência estatística foi utilizada a Análise Fatorial Exploratória para a confirmação dos fatores existentes no constructo utilizado. Para as comparações estatísticas foi utilizado o teste t de Student para amostras independentes. Para a correlação entre os itens foi utilizado o teste r de Pearson. A normalidade dos dados foi aferida com medidas de assimetria e curtose. Para todas as inferências foi utilizado um nível de confiança de 95% para um Erro do tipo I (p < 0,05)
Resultados
Após a coleta dos dados e análise descritiva dos mesmos, verificamos que nas características da amostra algumas variáveis como idade, tempo de atuação e quantidade de turmas, o profissional específico da área de educação física teve uma média maior.
Assim também como o sexo feminino foi quase que unanimidade na variável sexo, as instituições tiveram também uma boa diferença sendo mais professores atuantes na rede privada, e dentre os professores os com formação em pedagogia estavam mais presentes na rede privada como pode ser visto na Tabela 1.
Tabela 1. Características descritivas da amostra investigada
Levando em conta cada variável da amostra, os resultados encontrados através da escala de autopercepção de competência profissional de Nascimento (1999), foi uma maior capacidade profissional dos professores da educação física no que diz respeito à primeira dimensão, que corresponde a conhecimento profissional, e valores quase que equivalentes enquanto a segunda dimensão, caracterizada por habilidade profissional.
Embora tenhamos encontrado diferenças significativas entre conhecimento profissional, em habilidade profissional na relação entre professores da área específica e professores polivalentes, não foi encontrado nenhum valor discrepante nas médias, embora o desvio padrão dos professores de educação física tenha sido sempre maior não apresentou grandes diferenças como podemos ver na descrição dos dados na Tabela 2.
Tabela 2. Características descritivas da amostra investigada
Cada item do questionário/escala teve seu coeficiente confrontado para analisarmos para qual fator cada item teve mais peso em nossa pesquisa.
De fato em cada pesquisa os dados podem conter pesos diferentes dos itens para constituir em cada dimensão, pois por se tratar de uma autocrítica, possivelmente alguns entrevistados podem não reconhecer algumas falhas, não compreender de forma clara as perguntas dispostas no questionário, ou ainda interpretar de forma equivocada o que a escala se propõe a avaliar.
Todos os itens do questionário tiveram peso considerável para avaliar de forma satisfatória cada item investigado, contendo valor de coeficiente acima de 0,4, como verificamos na Tabela 3. Os valore relativos a cada item são os loadings, ou seja, são os valores de relação inter-items para a existência de associação com o fator da teoria.
Tentamos averiguar se haviam outros fatores que avaliasse em uma dimensão diferente os dados coletados, sem obter sucesso. Contudo a análise fatorial exploratória apresentou inicialmente a existência de 6 fatores contestando a teoria do constructo. Mesmo assim, a quantidade de valores (loadings) que se referiam a fatos 6 não sustentou sua existência por não ser superior a um total de 3 itens. Assim, foram rotacionadas novas análises com delimitação de fatores. Tentativas com 5 fatores também não sustentaram tal hipótese e em seqüência formos diminuindo o número de fatores a fim de encontrar alguma sustentabilidade de 3 itens com loading a cima de 0,4 para fixar a existência do mesmo.
Todas as tentativas foram negadas do ponto de vista técnico até que apontando apenas a existência de 2 fatores houve uma aceitabilidade e verificação matemática quase perfeita com a teoria de base do constructo utilizado.
Tabela 03. Coeficientes obtidos na Análise Fatorial dos itens
A partir dos valores de correlação inter-items na dimensão conhecimento profissional (Tabela 4) e na dimensão habilidades profissional (Tabela 5), pode-se agrupar matematicamente os itens do instrumento nas duas dimensões propostas.
Tabela 4. Coeficientes de correlação inter-items na dimensão conhecimento profissional
Um dado que nos deixou surpresos foi as médias encontradas para o fator 2 (habilidades profissionais) onde a diferença entre professores de educação física e professores pedagogos, não tiveram em suas respostas grandes diferenças, resultando assim em médias com valores próximos.
Tabela 5. Coeficientes de correlação inter-items na dimensão habilidades profissionais
Já em outro estudo realizado na cidade de Maringá, os autores avaliaram competência profissional de estudantes em formação do curso de educação física, onde compararam os conhecimentos e habilidades dos alunos do turno noturno e de tempo integral, os quais tiveram média bastante próximo chegando à dimensão conhecimento a valores iguais. Interessante falar sobre este trabalho, pois, em comparação ao nosso os valores encontrados para conhecimentos profissionais, tiveram algumas diferenças, o estudo realizado em Maringá em estudante obteve média do fator 1 acima da média dos professores pedagogos apresentados em nossa pesquisa, já com relação aos professores de educação física do nosso estudo, a média de Maringá ficou abaixo. Com relação a habilidades profissionais os resultados do estudo que feito em Maringá teve media inferior tanto em comparação a pedagogos quanto a professores específicos da área (VIEIRA; VIEIRA; FERNANDES, 2006).
Em outro estudo encontramos foi realizado na cidade de Mérida na Espanha uma pesquisa a fim de identificar o nível de autopercepção de profissionais do desporto, sua população foi sexo, e área de atuação, sendo educação física (escolar), treino e fitness, a média de idade era de 33,72 ± 9,19 anos. As médias aferidas das dimensões tanto de conhecimento profissional quanto de habilidade profissional do professor de educação física foi maior que a dos professores das outras áreas sendo até destacadas. O autor também verificou essas dimensões quanto ao nível de experiência de cada individuo, sedo classificado em, pouco experiente, experiente, muito experiente e longa experiência, onde o profissional com longa experiência teve média superior a dos outros.
Quando comparado com nosso estudo podemos ver que no fator 1 os professores de educação física do estudo de Mérida tiveram média maior que os nossos da rede publica, já os da repede privada encontramos média superior a dos professores de educação física do estudo em Mérida com relação ao fator 1. No fator 2 os professores de Mérida tiveram média superior em todas as dimensões, porém, nenhum valor discrepante foi verificado, as diferenças estavam em valores pouco significativos (BATISTA; MATOS; GRAÇA, 2011).
Conclusões
Concluímos ainda que o nível de competência pode se apresentar diferente quanto ao sexo tendo sido observado uma superioridade do sexo feminino, mas também gostaríamos de apontar limitações que tivemos na amostra quanto à distribuição de sujeitos por sexo. Não obstante a isso, professores de educação física da instituição privada e publica, não apresentaram níveis de competência de forma tão heterogênea. Acreditamos que mais estudos com amostras mais significativas além de instrumentos mais acurados no sentido de obter mais aspectos que possam ser interveniente na competência e até estudos de natureza longitudinal e não descritiva possam retratar melhor a posteriori esse fenômeno chamado Competência Profissional.
Referencias bibliográficas
AYOUB, Eliana. Reflexões sobre a educação física na educação infantil: conhecimento e especificidade a questão da pré-escola. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, p.53-60, 2001.
BATISTA, Paula; MATOS, Zélia; GRAÇA, Amândio. Competência profissional percebida: um estudo com estudantes de educação física em formação inicial. Rede de Revistas Científicas da América Latina O Caribe, A Espanha e Portugal Batista,, Mérida, p.117-131, 15 maio 2011.
ETCHEPARE, Luciane Sanchotene; PEREIRA, Érico Felden; ZINN, João Luiz. Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental. R. da Educação Física/UEM, Maringá, p.59-66, 11 ago. 2003.
FERRAZ, Osvaldo Luiz. Educação Física escolar: conhecimento e especificidade a questão da pré-escola. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, p.16-22, 1996.
KOBER, Claudia Mattos. Qualificação profissional: uma tarefa de Sísifo. Caderno de Pesquisa, Campinas, p.154, dez. 2004.
NASCIMENTO, Juarez Vieira do. Escala de auto-percepção de competência profissional em educação física e desportos. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, p.5-21, jun. 1999.
RODRIGUES, Rosenan Brum et al. Tempo de reação e equilíbrio de escolares com e sem professor de educação física nas séries iniciais. R. da Educação Física/UEM, Goiânia, p.1-15, ago. 2011.
VIEIRA, Lenamar Fiorese; VIEIRA, José Luiz Lopes; FERNANDES, Renata. Competência profissional percebida: um estudo com estudantes de educação física em formação inicial. R. da Educação Física/UEM, Maringá, n. , p. 95-105, 2006.
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