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Ciberespaço: meios para a inclusão digital

El ciberespacio: medios para la inclusión digital

 

*Mestranda no Programa de Pós-Graduação

em Desenvolvimento Social, Unimontes

**Mestrando em Ciências Sociais: Desenvolvimento, Agricultura

e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ

(Brasil)

Caroline Marci Fagundes Coutinho*

Gemilson Soares da Silva Segundo**

Maria do Carmos dos Santos Carvalho*

karol_marci@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          As transformações sociais a partir do uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) criou um novo espaço para as disparidades da desigualdade: a exclusão digital. Diante deste fato, surgem novos debates sobre os possíveis meios de inclusão social. Neste artigo é proposta uma reflexão sobre as questões da exclusão e as formas de promoção da inclusão sob a ótica do ciberespaço.

          Unitermos: Ciberespacio. Inclusión digital.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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    As revoluções são acontecimentos que agem como transformadores sociais, após uma revolução os aspectos da organização social, até então expostos, são modificados, extintos e substituídos por outros. Isso aconteceu com a Revolução Industrial, com seu inicio no século XVII, a Revolução Verde, no século XX, e hoje a Revolução Digital, com inicio na década de 60.

    A transformação acontecida com esta revolução está intimamente ligada ao desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação. Com avanços em pesquisas desta área, surgiu o computador, seguido por seus componentes direto e indiretamente: software, internet, jogos, telefones, entre tantos outros.

    Essa modificação na comunicação influenciou – e até hoje vivemos este processo – nas relações sociais. Com o advento da internet, novas formas de interação social surgiram. O ciberespaço, como é nomeado esse novo campo de interação, é o local virtual onde acontece as múltiplas atividades, seja de lazer ou trabalho. Ter acesso a este espaço é estar/ser ligado à informação e a construção da informação. Contudo, caso contrário, é estar/ser excluído digitalmente.

    Apesar do termo excluído não ter uma definição precisa, ser/estar excluído é ser/estar privado de ter acesso a algo. E sempre acompanhando o crescimento da utilização do ciberespaço, está a exclusão digital.

Ciberespaço e tecnologias de informação e comunicação

    Tratado como a gênese do novo mundo (CASTELLS, 2005), a revolução digital determina um novo rumo para a sociedade. Com aproximadamente 50 anos de criação, o computador hoje representa muito mais do que a sua proposta inicial, de uma comunicação interna em uma universidade, é a comunicação sem fronteiras. É o viver universal. O acesso a informação foi transformado e com isso o 'estar aqui' já não representa propriamente o local onde o individuo se encontra no momento, pode-se estar em diferentes lugares.

    Para a composição de todo esse processo de transformação, em relação à parte tecnológica, existe três componentes fundamentais: O computador, a internet e o software. Segundo Meira Junior e Silva (2009) “os computadores eram compostos de válvulas lentas, caras e propensas a defeitos”, contudo, com a massificação da produção, esses aspectos da máquina foram modificados, tornando a indústria da microeletrônica ainda mais efervescente. Já a internet, que surgiu há apenas 20 anos, é a responsável por interligar todos os computadores do mundo. Meira Junior e Silva afirmam que “o processo de construção da rede foi mais genial do que o resultado em si, pelo seu caráter descentralizador e colaborativo”. O software, que é a automação de tarefas, compõe o funcionamento do computador, sendo popularmente conhecido como os 'programas' que estão integrados a maquina.

    É fundamental para a parte tecnológica a existência da relevância social. A transformação da informação, proporcionada pela criação do computador, não existira se “não melhorasse a qualidade de vida dos indivíduos e da sociedade em geral” (MEIRA JUNIOR E SILVA, 2009).

    Sendo assim, as Tecnologias de Comunicação e Informação (TICs) já são fundamentais no nosso cotidiano - em bancos, supermercados, transportes, entre outros - e nos transformam em dependentes do seu uso, pois facilitam as diversas atividades que exercemos diariamente.

    A partir da junção computador e sociedade surgiu o ciberespaço. Este termo foi criado por William Gibson em 1984 retratado em seu livro Neuromancer, que para Gontijo et al (2006) o autor trata de um real que se constitui por meio do engendramento de um conjunto de tecnologias, enraizadas de tal forma na vida em sociedade que lhe modifica as estruturas e princípios, transformando o próprio homem. Mas, é preciso diferenciar o ciberespaço dos conjuntos de tecnologias - softwares, hadwares, entre outros - sendo Guimarães Junior que melhor define essa diferença, sendo

    o ciberespaço um fenômeno que vai além da comunicação no sentido estrito do termo. Mais do que um espaço de comunicação, oferece suporte a um espaço simbólico que desencadeia repertórios de atividades de caráter societário, tornando-se palco de práticas e representações dos diferentes grupos que o habitam. (Guimarães Junior, 1999, apud Braga et al (2006).

    Para Egler (1998) “o espaço é interação informacional, formado pelos elementos que compõem a comunicação. As implicações desse movimento sobre a espacialidade nos permite pensar que a ampliação da interação humana por rede, tende a substituir edifícios por informação eletrônica” Ou seja, a tecnologia e o interesse da sociedade pelo novo proporcionou a mudança na estrutura social, o que a autora propõe que seja irreversível, alterando “os padrões centralmente organizados” e reduzindo “as necessidades espaciais”, sendo a nova interação “via rede”. (EGLER, 1998, pág. 74).

    Fundamentando essa discussão a partir dos conceitos apresentados por Tamara Egler (1998), a base do ciberespaço está na capacidade em ampliar a interação entre indivíduos, disponibilizando processos de comunicação e informação que ampliam este acontecimento e dispensando intermediários. Este espaço é o local da multiplicidade, proporcionando seja lazer ou trabalho, mas com a alteração da relação do sujeito, que no ciberespaço tem uma relação acorporal. É um mundo imaterial, onde se navega “através de imagens, textos e linguagem informacional” (EGLER, 1998, p. 76). A autora ainda define que “trata-se de um espaço que permite transversalidades e a interação entre distintos campos.” (EGLER, 1998, p. 77)

    Castells (1996) reforça que tendências do ciberespaço reafirmam os processos de exclusão e dominação do poder, sobretudo na economia e na política. E constando estes aspectos, é necessário pontuar os conceitos quanto à exclusão digital.

A exclusão digital

    Com o Estado de Bem Estar (Welfare State), o acesso a alguns tipos de serviços passam a ser responsabilidade do Estado, e diminuir a exclusão, em todos os níveis, está embutido neste quesito. O conceito de exclusão ainda não possui uma definição precisa, contudo, segundo Reis e Schwartzman, nele está implícito a problemática da desigualdade, pois estar/ser excluído é estar/ser privado de algo que outros tem acesso.

    Com a Revolução Digital e a popularização do acesso as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), aumentou-se, também, o número de pessoas excluídas do mundo digital. Por exclusão digital entende-se, basicamente, não ter acesso a computadores. A discussão sobre esse tipo de exclusão já tem espaço significante em relação às políticas publicas no Brasil. A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu como metas de desenvolvimento, para este milênio, proporcionar às pessoas os usos dos benefícios das novas tecnologias, sobretudo acesso as Tecnologias de Informação e Comunicação.

    A relação entre pobreza e exclusão, independente da adjetivação do termo, é muito relevante. Em se tratando da exclusão digital, é primordial. Apesar da popularização dos preços relacionados ao acesso ao computador e internet, ter estes itens em casa, no Brasil, ainda está relacionando ao grau de elevado poder aquisitivo de bens materiais.

    Segundo Lucas (2002), a exclusão digital está baseada na nova barreira socioeconômica quanto ao acesso as TICs. Contudo, para Castells (2004) esta exclusão acontece, sobretudo, pelo não acesso a internet. E as consequências deste tipo de exclusão vão alem da dificuldade de acesso a informação, pois para Mattos (2003) em países pobres esta contribui fortemente para outros separamentos sociais, como o econômico.

    Segundo Santos (2007) a exclusão digital está diretamente relaciona a exclusão econômica e social. O acesso a internet, muitas vezes, possui um alto custo, em relação ao poder aquisitivo dos brasileiros. Queiroz enfatiza que “a Internet é uma infovia de mão dupla (…) a falta de acesso aparta o cidadão pobre de benefícios da comunicação e uso da informação disponível na Web e lhe retira a possibilidade de incluir sua cultura local na rede”. (SANTOS, 2007, p. 07) Assim, incluir um individuo digitalmente está além de proporcionar o acesso aos meios tecnológicos de informação e comunicação, é necessário alfabetiza-lo digitalmente.

    Para diminuir esta desigualdade, acontece no país – e é uma corrente mundial - projetos de inclusão digital. Estes são responsáveis pela implantação de telecentros (locais com computadores, televisão, máquinas digitais, e alguns outros itens eletrônicos) em comunidade de baixa renda. O objetivo, em geral, destes projetos é proporcionar aos moradores dessas comunidades o acesso a esses novos meios de comunicação e informação e promover “a transformação social através da informação”. (EGLER 1998 apud IANNI, 1996 p.78). Sobre a atuação destes projetos de inclusão digital, falaremos no próximo tópico sobre o Projeto Cidadão.Net.

Considerações finais

    A partir do exposto neste paper, é possível perceber que as transformação ocorridas por conseqüência do desenvolvimento tecnológico não influenciaram apenas no processo de criação da informática, mas sobretudo, diretamente nas relações sociais. Surgiu um novo campo de interação social, o ciberespaço, e outros elementos fundamentais para a consolidação deste foram criados e aperfeiçoados – computador, software e internet. Hoje, o ciberespaço é o local de interação virtual para lazer, namoros, trabalhos e oportunidades.

    Acompanhando esta evolução, a exclusão encontrou, também, novo espaço para atuação. Deixando apenas de ser econômica e social, ganha nova dimensão: a exclusão digital. Ser excluído digitalmente é ser/estar privado de ter acesso as tecnologias de informação e comunicação, principalmente a internet. E não ter acesso a estes componentes tornou-se fato de diferenciação social pelo poder de aquisição, ou seja, por possuir ou não computador e internet – dois itens de elevados custos para os brasileiros. Para Santos (2007)

    “estamos diante de um fenômeno que nos força a pensar a importância da participação comunitária em políticas publicas de inclusão digital bem como o quanto os horizontes dos considerados excluídos digitalmente tendem a se ampliar a partir do acesso às TICs.” (SANTOS, 2007, p. 59).

    Diante da importância social que o ciberespaço tem na sociedade atualmente, e a crescente da exclusão digital, o Estado, como responsável pelo bem-estar dos indivíduos, proporcionou a promoção da inclusão digital, aqui exemplificado pelo Projeto Cidadão. Com os objetivos de promover o desenvolvimento local a partir do acesso as TICs, este projeto foi implantado no Estado de Minas Gerais, sob responsabilidade do mesmo, nas cidades com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ainda, a implantação dos telecentros sob responsabilidade deste projeto ocorreram de forma que a comunidade local senti-se proprietária e responsável pela atividade e coordenação do espaço, transformando-o em um local de todos.

    Ainda há muito o que se questionar e analisar com relação ao surgimento do ciberespaço e suas consequências sociais, contudo é relevante afirmar que a exclusão digital acompanha sua evolução, mas as promoções de inclusão digital por parte do Estado ainda precisam ser adequadas.

Referências

  • CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 3º ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

  • DARELLI, Lúcio Eduardo. Telecentro como instrumento de inclusão digital para o e-governo brasileiro. Dissertação de Mestrado. Florianópolis: Telesc, 2003.

  • EGLER, Tamara Tânia Cohen. Ciberespaço: novas forma de interação social. In: Sociedade e Estado. Brasília: Unb, 1998.

  • GONTIJO, Cynthia Rúbia Braga. Ciberespaço: que território é esse? Ano: 2006. ticsproeja.pbworks.com/f/Ciberespaco.pdf. Acessado em 02 de agosto de 2010

  • LUCAS, Clarinda Rodrigues. As tecnologias de informação e a exclusão digital. In: Revista Transinformação (v. 14) Campinas: Ed. UNICAMP, 2002

  • MATTOS, Fernando A.M. Exclusão digital e exclusão social: elementos para um discurso. In: Revista Transinformação (v. 15) Campinas: Ed. UNICAMP, 2003.

  • MEIRA JUNIOR, Wagner; SILVA, Regina Helena Alves da. Software Livre e Inclusão Digital. In: Inclusão Digital e Cidadania: A experiência do Cidadão.Net. Belo Horizonte: IDENE, 2009.

  • PEREIRA, Elisa Maria; SCHWARTZMAN, Simon. Pobreza e exclusão social - aspectos sócio-políticos. Rio de Janeiro, 2002.

  • SANTOS, Caroline Queiroz. TICs e a Promoção do Desenvolvimento Social: Estudo de Caso do Projeto Cidadão.net. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

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