efdeportes.com

Campeonato Mundial de Kumite do Karatê Shotokan de 1972: pontos
dos golpes, ações ofensivas e zona dos pontos
do brasileiro Luiz Tasuke Watanabe

World Shotokan Karate Championship of 1972: score of the techniques, offensive
actions and zone of the points of the Brazilian Luiz Tasuke Watanabe

 

Mestre em Ciência da Motricidade Humana pela UCB do RJ

(Brasil)

Nelson Kautzner Marques Junior

nk-junior@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O karatê shotokan chegou em 1908 no estado de São Paulo, Brasil. No 2º Campeonato Mundial de karatê shotokan, realizado em Paris, França. O brasileiro Luiz Tasuke Watanabe, de 26 anos, foi campeão do kumite individual, vencendo 8 lutas por ippon. O objetivo do estudo foi de quantificar os pontos dos golpes, das ações ofensivas e da zona de luta que o karateca Luiz Watanabe praticou no Mundial de 1972. As lutas de Watanabe (n = 4) foram observadas no blog Karate JKA de Jayme Sandall e foram quantificados por scout. As ações ofensivas de Watanabe que geraram ponto foram compostas pela antecipação (total de 5, percentual de 71%) e pelo ataque (total de 2, percentual de 29%). Os golpes que fizeram pontos foram o gyaku zuki na antecipação (5 pontos, 72% e waza-ari), o gyaku zuki no ataque (1 ponto, 14% e ippon) e o kizami zuki seguido de gyaku zuki no ataque (1 ponto, 14% e waza-ari). As zonas que Watanabe praticou ponto foi a zona 5 (2 waza-aris, 29% e 1 ippon, 14%), a zona 6 (3 waza-aris, 43%) e a zona 4 (1 waza-ari, 14%). Em conclusão, os resultados dos combates do karateca brasileiro estiveram de acordo com a literatura do karatê shotokan da atualidade. Parece que a maneira de lutar pouco se modificou ao longo dos anos.

          Unitermos: Karatê. Esporte. Competição.

 

Abstract

          The Shotokan karate arrived in 1908 in the state of São Paulo, Brazil. In 2nd World Shotokan Karate Championship, realized in Paris, France, the Brazilian Luiz Tasuke Watanabe, of 26 years, was champion of the individual kumite, winning 8 fights by ippon. The objective of the study was to quantify the points of the attack, of the offensive actions and of the zone fight that the karateka Luiz Watanabe practiced in the World of 1972. The fights of Watanabe (n = 4) were collected in JKA Karate of Jayme Sandall and were quantified by scout. The offensive actions of Watanabe with point were composed by anticipation (total of 5, percentage of 71%) and attack (total of 2, percentage of 29%). The attack techniques with points were the gyaku zuki during the anticipation (5 points, 72% and waza-ari), the gyaku zuki during the attack (1 point, 14% and ippon) and the kizami zuki followed by gyaku zuki (1 point, 14% and waza-ari). The zones that Watanabe practiced point was the zone 5 (2 waza-aris, 29% and 1 ippon, 43%), the zone 6 (3 waza-aris, 43%) and the zone 4 (1 waza-ari, 14%). In conclusion, the results of the combats of Watanabe were in accordance with the current literature of the shotokan karate. It seems that the kumite little changed during the years.

          Keywords: Karate. Sport. Competition.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

    “Assim como a superfície polida de um espelho que reflete tudo o que chega até ele e um vale tranquilo que possui sons inaudíveis, o discípulo do karatê deve manter a mente distante do egoísmo e da maldade, num esforço para reagir a tudo o que encontre pela frente. Este é o sentido do Kara, ou “vazio”, do karatê”. Gichin Funakoshi pai do karatê shotokan em Barreira1, p. 385.

Introdução

    O karatê shotokan (sho significa pinheiro, to significa ondas ou o som que as árvores fazem quando o vento bate nelas, kan é escola – escola de shoto) é um esporte relativamente novo, a primeira competição de kumitê (luta) aconteceu em 1936 (possui 77 anos)2. Entre 1950 e 1951, o shiai kumite (luta de competição) se desenvolveu, e em 1957 aconteceu o 1º Campeonato Japonês de karatê shotokan3. Somente em 1970, ocorreu o 1º Campeonato Mundial de karatê shotokan, com a presença de 33 países4.

    No Brasil o karatê shotokan chegou em 1908 através de imigrantes japoneses que se instalaram no interior de São Paulo em busca de terras adequadas para plantação5. Posteriormente o karatê foi para capital de São Paulo, sendo fundada a 1ª academia pelo mestre Harada. No Rio de Janeiro, Tanaka e Uriu fundaram as primeiras escolas de karatê shotokan nesse estado, por volta de 19626. A partir desse momento, o karatê shotokan começava ser praticado em todo o Brasil.

    O Brasil começou adquirir respeito internacional a partir do 2º Campeonato Mundial de karatê shotokan, realizado em Paris, França. O brasileiro Luiz Tasuke Watanabe, de 26 anos, foi campeão do kumite individual, vencendo 8 lutas por ippon7 e a equipe brasileira conquistou um honroso 5º lugar. Todas essas vitórias de Luiz Watanabe por ippon num Campeonato Mundial permitiram a inclusão do seu nome no Livro dos Recordes. A figura 1 mostra Watanabe lutando a final contra o britânico William Higgins.

Figura 1. Watanabe na final contra Higgins7

    Enquanto que a figura 2 mostra todos os atletas da seleção brasileira de karatê shotokan e Watanabe segurando o troféu.

Figura 2. Em pé, da esquerda para direita temos: o karateca Paulão, o técnico Tanaka, dirigente, Watanabe com a taça, 

dirigente e Dorival Caribé. Agachado, da esquerda para direita os karatecas são Fernando Soares, Ugo Arrigoni e Denílson Caribé7.

    Atualmente sabe-se que no kumite do karatê shotokan ocorrem mais pontos através dos socos gyaku zuki, kizami zuki e oi zuki8. Os chutes que mais causam ippon ou waza-ari são o mae geri e o mawashi geri, ocorrendo também bastante sucesso, na combinação do ashi barai seguido do gyaku zuki9. As ações ofensivas que proporcionam mais pontos são o ataque e a antecipação10. A zona central - de maior área, é onde os karatecas praticam mais pontos durante o kumite11. Sabendo dessas informações sobre o kumite da atualidade, torna-se interessante estudar esses quesitos no brasileiro Luiz Watanabe no Campeonato Mundial de 1972 que ele sagrou campeão Mundial.

    Quais golpes ele praticou mais pontos? Que tipo de ação ofensiva ele efetuou para gerar ponto? Em que zona da área de luta ele fez o ponto? A literatura do kumite do karatê shotokan não possui essas informações12-15.

    O objetivo do estudo foi de quantificar os pontos dos golpes, das ações ofensivas e da zona de luta que o karateca Luiz Watanabe praticou no Mundial de 1972.

Método

    Nesse estudo foi utilizada uma pesquisa quantitativa16 para identificar o ponto dos golpes, as ações ofensivas que ocasionaram ponto e a zona onde foram efetuados os pontos do karateca brasileiro Luiz Watanabe no Mundial de karatê shotokan de 1972, no qual ele foi campeão do kumite individual. As lutas de Watanabe foram observadas no blog Karate JKA de Jayme Sandall (www.karatejka.blogspot.com.br/). Os combates foram quantificados no scout que se encontra a seguir:

Tabela e Figura 1. Scout para quantificar o kumite de Watanabe

    Depois de quantificar as atividades das 4 lutas de Luiz Watanabe que o vídeo forneceu (Obs.: foram quantificadas duas lutas, a semifinal contra o francês e a final contra o britânico) os dados foram apresentado pela estatística descritiva através do total e pelo percentual.

Resultados e discussão

    A tabela 2 fornece os resultados das lutas quantificadas.

Tabela 2. Resultados de Watanabe no kumite (n = 4)

    Os resultados das ações ofensivas estiveram de acordo com a literatura17, a antecipação (total de 5, percentual de 71%) e o ataque (total de 2, percentual de 29%) causaram pontos no kumitê de Watanabe.

    Outro resultado desse estudo esteve conforme as investigações do kumite, o gyaku zuki foi o golpe que mais fez ponto18. Uma das causas é que esse soco é o mais rápido do karatê shotokan, com as mãos o ser humano tem mais habilidade e a alavanca é menor do que a das pernas facilitando na execução do ataque19. Segundo Doder e Doder20, atletas mais altos devem usar mais as pernas para dificultar o ataque dos karatecas mais baixos. Como Watanabe é muito baixo, possui 1,60 m ou pouco mais, suas ações na luta foram corretas, utilizou o golpe mais fácil (o soco) quando diminuiu sua distância para oponente que tinham estatura mais elevada. A figura 2 ilustra os socos com as respectivas ações ofensivas de Watanabe que geraram ippon ou waza-ari.

Figura 2. Golpes e ações ofensivas de Watanabe nas 4 lutas do Mundial de 72

    A zona 5 (área central de luta – 2 waza-aris, 29% e 1 ippon, 14%) e a zona 6 (região lateral do kumitê – 3 waza-aris, 43%) foi onde ocorreram mais pontos de Watanabe no kumitê. Por último ficou a zona 4 (área lateral do kumitê – 1 waza-ari, 14%). Somente a zona 5 esteve de acordo com o único estudo do kumitê sobre as zonas, onde acontecem mais pontos11. Esses resultados permitem determinar que as lutas de Watanabe foram bem movimentadas porque muitos pontos (total de 4) aconteceram na zona lateral de luta. Fato pouco corriqueiro no kumitê do karatê shotokan.

    Em conclusão, apesar de serem observadas poucas lutas (n = 4) de Watanabe, os resultados dos combates do karateca brasileiro estiveram de acordo com a literatura do karatê shotokan da atualidade. Parece que a maneira de lutar pouco se modificou ao longo dos anos.

Referências

  1. Barreira C (2003). As idéias psicopedagógicas e a espiritualidade no karatê-dô segundo a obra de Gichin Funakoshi. Psicol: Reflexão e Crítica 16(2):379-88.

  2. Nakayama M (2012). O melhor do karatê 3 – kumite 1. 7ª edição. São Paulo: Cultrix. p. 16-26.

  3. Silva M, Juvêncio J (1996). Considerações técnicas sobre a luta (kumite) em karatê – esporte. Rev Min Educ Fís 4(1):37-44.

  4. Girardello R. (2004). A relação entre o cortisol sanguíneo e o estresse pré-competitivo em lutadores de caratê de alto rendimento. Dissertação de Mestrado, Educação Física, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil.

  5. Prata L (1986). A arte da mão vazia. Karatê 2(2):4.

  6. Silvares A (1986). Esporte través dos tempos: o karatê. Med Esp 4(1):24-6.

  7. Moore W (1974). The forgotten World Karate Champion. Black Belt 12(2):26-31.

  8. Marques Junior N. (2011). Karatê shotokan: pontos dos golpes durante o kumitê de competição masculino. Ulbra Mov 2(1):1-15.

  9. Marques Junior N. (2011). Karatê shotokan: biomecânica dos golpes do kumitê de competição. Lecturas: Educ Fís Deportes 16(158):1-28. http://www.efdeportes.com/efd158/karate-biomecanica-dos-golpes-do-kumite.htm

  10. Marques Junior N. (2012). Shotokan karate: score of the techniques during the female kumite of competition. Lecturas: Educ Fís Deportes 17(174):1-5. http://www.efdeportes.com/efd174/shotokan-karate-score-of-the-techniques.htm

  11. Koropanovski N, Jovanovic S (2007). Model characteristics of combat at elite male karate competitors. Serb J Sports Sci 1(3):97-115.

  12. Doria C et alii (2009). Energetics of karate (kata and kumite techniques) in top-level athletes. Eur J Appl Physiol 107(5):603-10

  13. Benedini S et alii (2012). Metabolic and hormonal responses to a single session of kumite and kata in karate athletes. Sport Sci Health 8(2-3):81-5.

  14. Marques Junior N. (2012). Effort during the shotokan karate kumite in 13th Brazilian championship JKA, 2012. Lecturas: Educ Fís Deportes 17(172):1-10. http://www.efdeportes.com/efd172/effort-during-the-shotokan-karate-kumite.htm

  15. Marques Junior, N. (2012). Biomecânica da base baixa do karatê shotokan. Lecturas: Educ Fís Deportes 17(170):1-5. http://www.efdeportes.com/efd170/biomecanica-do-karate-shotokan.htm

  16. Thomas J, Nelson J (2002). Métodos de pesquisa em atividade física. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed.

  17. Marques Junior N (2012). Pontos dos golpes durante o kumitê de competição do karatê shotokan masculino. Lecturas: Educ Fís Deportes 17(169):1-7. http://www.efdeportes.com/efd169/pontos-dos-golpes-durante-o-kumite.htm

  18. Koropavanovski N, Dopsay, M, Jovanovic S. (2008). Characteristics of pointing actions of top male competitors in karate at World and European level. Braz J Biomotr 2(4):241-251.

  19. Marques Junior N (2012). Velocidade do soco e do chute do karatê: uma meta-análise. Lecturas: Educ Fís Deportes 17(169):1-7. http://www.efdeportes.com/efd169/velocidade-do-soco-do-karate.htm

  20. Doder D, Doder, R (2006). Effect of anthropological characteristics on the efficiency of execution of forward kick. Procedings for Natural Sciences, Matica Srpska, (110):45-54.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 178 | Buenos Aires, Marzo de 2013
© 1997-2013 Derechos reservados