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Atletismo na escola: uma mudança necessária

El atletismo en la escuela: un cambio necesario

 

* Docente do Curso de Educação Física, CEF/CAMEAM/UERN

Discente do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais e Humanas, PPGCISH/UERN

** Graduado em Educação Física – CEF/CAMEAM/UERN

(Brasil)

Helder Cavalcante Câmara*

redlehcc@gmail.com

Gabriel Queiroz dos Santos**

marigleibeandrade@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho é de natureza bibliográfica e objetivou refletir sobre o atletismo na escola e sobre possibilidades para repensar o seu trato no ambiente escolar. Os caminhos trilhados aqui possibilitam uma reflexão sobre a prática pedagógica na escola, em se tratando do ensino do atletismo na escola e também dá pistas para a reformulação das práticas que ora tem existido na Educação Física escolar. Pautaremos-nos em grande medida na abordagem crítico-emancipatória, por entendermos que é uma das abordagens utilizadas na atualidade que pode ser materializada de forma efetiva e se constituir num eficaz meio de desenvolvimento de competências essências para a formação do aluno.

          Unitermos: Atletismo. Escola. Ensino.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Para começo de história...

    Sabe-se hoje em dia que as escolas, ou melhor, o sistema escolar tem papel imprescindível na formação dos indivíduos, os quais perante a sociedade devem ser capazes de se tornarem aptos a viver no mundo onde as dificuldades estão a “brotar” de uma forma imensurável. Nessa perspectiva, o processo educativo formal deve possibilitar uma visão muito mais ampla do que a simples adaptação à sociedade, mas uma inserção autônoma, crítica e consciente, o capacitando ser sujeito do seu existir.

    Proporcionar esse tipo de formação não é uma tarefa fácil, mas é consenso sua importância no contexto social em que estamos inseridos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), em seu artigo 1.º, discorre que “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e manifestações culturais” (BRASIL, 1998, p. 07). O amparo legal ratifica mais ainda sua importância.

    É necessário considerar que na escola, essa educação é passada aos indivíduos (ou alunos) de forma sistematizada, através de profissionais que devem estar capacitados para esse processo formativo, os quais devem, no processo de ensino-aprendizagem, possibilitar a apreensão de conhecimentos que vão além daqueles possibilitados pelas disciplinas escolares, mas também a apreensão de uma visão do mundo e como se comporta diante dele, não no sentido de aceitação, mas consciente de que é um sujeito inserido num contexto que o determina, mas que é também determinante, valorizando o respeito, a inclusão social, o direito e dever enquanto cidadão.

    O alcance desse fim deve se dar pala ação conjunta das diversas disciplinas que compõe o currículo escolar. A educação física, também está inserida nas propostas pedagógicas das instituições escolares, porém tem sofrido uma marginalização em relação às outras, mesmo sabendo que deve ter a mesma importância. Tem sido considerada de forma significativa tratada como “brincadeira”, “diversão sem sentido”, ou com pouco sentido educativo. Parece que esta visão foi constituída pelo tipo de aula que fora realizada no seu percurso histórico, ora com ênfase na concepção biologicista, esportivista e ou militarista, em maior ou menor grau, mas dificilmente apresentando como elemento efetivo na formação educacional nos termos que ora apresentamos.

    Embora a Educação Física tenha essas origens históricas e que estas ainda têm influência significativa na prática docente, outras perspectivas sugiram para suplantar essa prática tradicional, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), as abordagens construtivista (FREIRE, 1999), crítico superadora (SOARES et al., 1992), crítico emancipatória (KUNZ, 2004), e já começam produzir “frutos”.

    É necessário considerar que a Educação Física, como todas as disciplinas, com objetivo educacional comum, apresenta suas especificidades, tanto em relação a sua fundamentação teórica quanto ao conhecimento tratado. Este, por sua vez é enfocado num contexto cultural mais amplo e que tem como o corpo em movimento seu objeto de ação. Esses conhecimentos, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais são denominados de cultura corpora de movimento (BRASIL, 1998).

    Sobre a cultura corporal de movimento, pode-se dizer que é entendida como uma parte da cultura humana, a qual, segundo Betti (1993 apud GALVÃO, RODRIGUES e SANCHES NETO, 2008, p. 28), “[...] abrange o domínio de valores e padrões de atividades físicas, sobretudo as institucionalizadas, como o esporte”.

    Compõe esse conjunto de conhecimentos o esporte, as lutas, as danças, o conhecimento sobre o corpo, a ginástica e os jogos. O que acontece atualmente na escola é que há uma excessiva ênfase no trato com um desses conhecimentos – o esporte; este abordado em sua maioria sob um enfoque tradicional, no qual as regras, as técnicas e as táticas desses esportes limitam-se a aprendizagem de gestos técnicos ou táticas para garantir a sua prática, sem possibilitar nenhuma outra reflexão.

    Dessa maneira há a restrição para os alunos a algumas formas da exposição dessa cultura corporal de movimento, como por exemplo, as danças, as ginásticas e as lutas.

    O uso do esporte como conteúdo/conhecimento tratado na educação física tem se tornado tão efetivo que no imaginário, esta disciplina tem se tornado sinônimo de esporte. A limitação é bem maior, pois até mesmo o esporte tratado pela Educação Física tem se limitado na maioria das vezes a prática de um ou outro esporte como o futsal, reduzindo-se a isso em praticamente todo o Ensino Fundamental e Médio.

    Tratada dessa forma limita-se muito as possibilidades de ampliação dos conhecimentos da educação física, deixando de lado as outras possibilidades de aprendizagens, como as danças, as lutas, as ginásticas e até mesmo os outros tipos de esporte.

    É considerando a necessidade de ampliação do leque de possibilidades de aprendizagens, pensamos no atletismo, enquanto conhecimento a ser abordado nas aulas de educação física. Suas aprendizagens são construídas em habilidades básicas como correr, saltar e arremessar, portando capaz de ser tratada na escola desde cedo, pois as crianças com idade escolar já dispõe de habilidades motoras para realizar essas ações motoras, e de forma que permita a participação e a inclusão de todos no ato de aprender. É, portanto uma prática que pode servir de subsidio para a realização das demais práticas das culturas corporal de movimento.

    Dadas essas considerações, apresentamos nas linhas que se seguem o atletismo enquanto conhecimento a ser tratado na escola, necessário por compor a cultura corporal de movimento. Deixamos claro que a opção que se apresentará aqui não se constitui num modelo nem num exemplo de forma de ensino a ser seguido, mas uma possibilidade de reflexão sobre a prática pedagógica, com ênfase no ensino no atletismo. Guiaremos-nos a luz da abordagem crítico-emancipatória, por entendermos que é uma das abordagens utilizadas na atualidade que pode ser materializada de forma efetiva e se constituir num eficaz meio de desenvolvimento de competências essências para a formação do aluno, como a objetiva, a social e a comunicativa (KUNZ, 2004), isto porque o aluno precisa não somente relacionar-se com a técnica, mas também manter relações socioculturais no contexto que o cerca e a comunicação para com os demais.

O atletismo em tela: retoques necessários

    O atletismo é um esporte que em sua história espelhou-se nos feitos daqueles considerados “heróis”. Daqueles homens capazes de feitos praticamente “impossíveis” para a maioria da população. Contudo esse espelhar não se refletiu hoje de forma efetiva numa massificação de suas práticas. O que se percebe é que ainda é pouco disseminado e absorvido na cultura das pessoas, que preferem a pratica de outros tipos de esporte. Por mais que saibamos que o mesmo não necessite de tanto material ou espaço para ser praticado, seus adeptos são bem menos efetivos quando comparados com os praticantes de modalidades esportivas, principalmente, se a comparação for com o futebol.

    Diversos aspectos podem ser justificativa para essa baixa adesão, como a falta de espaço e materiais adequados para sua prática, contudo, essa assertiva não pode ser considerada um todo verdadeira, a não ser que se utilize como padrão a necessidade de materiais estruturas oficiais para sua prática, que a nosso ver seria um equívoco.

    Poderíamos considerar também a falta de incentivos e apoios, de oportunidades e realização trabalhos e ações na escola ou fora dela para incentivar a prática desta modalidade.

    Somos de acordo que é um esporte de importância bastante significativa e que na maioria das vezes é negligenciada por parte da Educação Física escolar, pois não está figurada, de fato, como objeto de conhecimento a ser apreendido na maioria das aulas desta disciplina. Diferentes motivos podem justificar a sua exclusão, mas a maioria parece pautar-se mais uma vez na estrutura física inadequada, bem como na quase inexistência de materiais para sua prática e que deveria estar presentes nas escolas. Poder-se-ia ainda pontuar mais aspectos como o desinteresse dos alunos pelo atletismo e a falta de conhecimento dos profissionais para ministrar esse conhecimento.

    O que tem acontecido é que o atletismo tratado na escola, quando o é, geralmente é ofertado sob forma de modalidade esportiva e tomando como estratégias de ensino o treinamento com fins competitivos. Não faz parte dos conhecimentos abordados nas aulas da Educação Física. É realizada num horário diferente do que o aluno estudo e sua prática é tão somente para aqueles que têm interesse. Como o fim mostrado é o da competição, a aderência acaba se restringindo aqueles que se destacam de forma significativas nas provas atléticas. Os demais não tem a oportunidade nem de experimentá-los, pois se submete aos padrões comparativos de performance as vezes pode se tornar bastante constrangedor. O interesse nem pode se materializar, pois a vivência é uma das condições essenciais para desenvolver o gosto pela prática esportiva.

    Assim, poucos alunos que decidem praticar esta modalidade e “perdem” a oportunidade de uma vivência nesta prática corporal. Pensada e trabalhada dessa forma, continuará sendo relegada a uma condição de pouco importância dentre os conhecimentos tratados na Educação Física. Além disso, o ensino enquanto modalidade esportiva e com enfoque na técnica, o que é comumente feito, conduz a se considerar uma modalidade pouco atrativa e interessante, exceto para aqueles que se destacam de forma significativa nas provas atléticas.

    As orientações didáticas adotadas para o ensino do atletismo principalmente na escola, priorizam, principalmente, o desenvolvimento de provas atléticas com base no esporte institucionalizado, observando suas regras e normas oficiais de competição, ainda tem como foco aqueles que são considerados “mais habilidosos”. Essa perspectiva de esporte é chamada por Soares et. al. (1992) de esporte na escola. Para os autores, é necessário superar essa visão de prática esportiva por outra que tem com foco principal a formação crítica dos alunos. O esporte nessa perspectiva é denominado de esporte da escola, em que se adéqua as capacidades individuais e contextos em que os alunos estão inseridos.

    A prática do atletismo na escola, tem se caracterizado por um ensino pautado numa perspectiva de esporte na escola, o que dificulta mais o alcance dos objetivos educacionais e, consequentemente, ampliando o desinteresse por essa modalidade.

    A modalidade de atletismo continua sendo "deixada de lado", pois ensiná-lo representa, conforme Kunz (2001, p. 23) um processo dramático. O mesmo autor afirma ainda “os alunos preferem mil vezes jogar, brincar com a bola, do que saltar em altura distancia ou arremessar ou se “matar” numa corrida de quatrocentos metros”.

    Kunz (ibidem, p. 23) complementa dizendo:

    A preferência por atividades jogadas não esta somente na falta de ludicidade como de apresentam as chamadas "provas" de atletismo, mas na maioria dos casos, por lembranças de insucesso ou de uma vivencia não bem sucedida pelos parâmetros normais como essas provas se apresentam.

    Essa problemática parece se tornar um ciclo vicioso, em que culturalmente, o atletismo se torna secundário em relação as disciplinas que tem o implemento bola, pois essa cultura, é reforçada na escola pelos próprios profissionais de Educação Física que, no seu processo formativo, também não consegue superar a “falsa consciência” em relação a valorização das práticas desportivas que são grandemente carregados de ideologias.

    Talvez por isso, em relação à disciplina de atletismo nos cursos de Educação Física de ensino superior, observa-se um baixo interesse dos acadêmicos para com este esporte. Dentre os argumentos já mencionados, os acadêmicos não vêem sentido ou aplicação dos conteúdos em relação à sua futura atuação profissional. Decorre daí, uma série de dificuldades no processo de ensino-aprendizagem, sendo que a forma como este esporte é abordado em contexto acadêmico repercute diretamente na maneira como ele é apresentado pelo profissional de Educação Física em contexto escolar. Dessa forma, reportamos a necessidade de ver o atletismo como conhecimento tratado na escola como um conhecimento histórico-cultural e, para tanto, deve ser entendido e tratado nas suas múltiplas dimensões e não só numa visão competivista e instrumentalista.

    Faz-se necessário proporcionar tanto aos acadêmicos quanto aos escolares vivências práticas de ensino e aprendizagem do atletismo a fim de desenvolver uma forma de conhecimento das provas do atletismo, enquanto cultura de movimento já consolidada, sendo assim, os profissionais devem ter um instrumental mínimo para o trato do atletismo na escola, contudo, não é necessário ser “atleta” para fazê-lo, mas tão somente pensar práticas de ensino em que o aluno seja sujeito das ações para sua formação como ser do seu próprio existir e não uma adequação as práticas do atletismo já existentes, pois assim o fazendo, o atletismo pautar-se-ia mais uma vez na visão essencialmente instrumentalista que questionamos.

Retocando o quadro “o atletismo”: talvez esse seja um dos caminhos

    A Educação Física é muitas vezes vista como uma disciplina que não tem importância ou tem pouca importância no processo formativo dos alunos em relação às outras disciplinas de sala de aula. Nessa perspectiva, é importante ressaltar que não trata apenas o desenvolvimento físico, mas também outros aspectos, como os sociais, os psicológicos e os culturais que estão presentes em toda e qualquer prática educativa. Negar a existência desses aspectos é negar o próprio processo educativo.

    Não obstante, não se quer negar o valor das outras disciplinas, mas inclusiva considerar possibilidade de ações interdisciplinares em que, a partir de temas comuns, diversas disciplinas atuariam na discussão sobre conhecimentos que nunca poderiam estar dissociados. Assim falar de atletismo poderia nos remeter a falar de história, de preconceito tanto de gênero como de raça, de valores, dentre outros aspectos.

    Contudo um cuidado especial deve-se ter, pois a Educação Física tem um conhecimento específico a ser tratado e, em momento algum, pode ser utilizada como instrumento a serviço do ensino de outras disciplinas, se tornando uma prática transdisciplinar.

    Ainda discutindo possibilidades pedagógicas para a Educação Física, com enfoque no atletismo, pode enfocar que é essencial superarmos o entendimento e o tratamento do atletismo enquanto prática relacionada ao treinamento desportivo.

    Segundo Seifert Netto e Pimentel (s. d., p. 10): “A visão que devemos ter para o ensino do atletismo no contexto escolar é, e deve ser diferente daquela relacionada ao treinamento desportivo, muito embora os meios utilizados para ambos sejam os mesmos.”

    No treinamento desportivo é utilizada, basicamente, a progressão de fundamentos, exercícios repetitivos para o refinamento da técnica e da tática, porém, na escola a opção metodológica mais usada com relação ao ensino é através do jogo recreativo (idem, ibidem.).

    O atletismo deve-se apresentar como motivador, versátil e que possa fazer com que o aluno seja indicado a novos caminhos e valores, levando em conta que, o atletismo pode ser jogado, brincado e reconstruído de forma lúdica, contemplando também, o conhecimento de suas técnicas específicas.

    Com base nas teorias construtivistas, Seifert Netto e Pimentel (ibidem, p. 10-11) também deixam claro que:

    [...] é possível entender os jogos, compreender as táticas e técnicas participando da aprendizagem e gostando de jogar, dando maior significado, fazendo uma aproximação da técnica do esporte à realidade em que vivem, respeitando a cultura corporal e a individualidade do aluno e seu nível de habilidades, fazendo com que ele encontre prazer na realização do esporte.

    Dessa maneira, podemos dizer que, estabelecendo relação entre o atletismo e o desenvolvimento do aluno, o ensino desta modalidade pode ser também, proposta na forma de jogos, como meio de propiciar as aprendizagens possibilitadas pelo atletismo, sejam elas conceituais, atitudinais ou procedimentais (BRASIL, 1998) já que, é um ótimo estimulador, uma fonte de prazer e descobertas.

    Nessa perspectiva, o jogo deve ser tratado, no caso em especial do atletismo, como uma oportunidade para adquirir conhecimentos, sem que haja a exclusão dos menos habilidosos, sem buscar talentos e que possa trazer o máximo de benefícios para a vida dos alunos.

    As possibilidades de trabalho com relação ao atletismo aumentam quando pensamos no trabalhar por projetos, pois, nesses podemos, por exemplo, usar a fabricação de locais e de materiais, como peso, dardo, disco, barreiras, caixa para salto, corda elástica, martelo e tantos outros como uma estratégia metodológica rica, objetivando o surgimento de relações interpessoais firmando assim o processo de ensino-aprendizagem, pois:

    O aluno se envolve desde a pesquisa do esporte e do material a ser usado, passando pela manufatura do mesmo e sua utilização como instrumento da modalidade, passa a interagir com regras e técnicas para o seu manuseio (SEIFERT NETTO e PIMENTEL, p. 11).

    A fabricação desses instrumentos é de fácil construção já que podem ser usados materiais recicláveis nesse processo. A utilização e enriquecimento das aulas com materiais produzidos pelos alunos e pelo professor apresentam-se como uma real possibilidade por ser de fácil execução.

    Diante dessa quantidade de assuntos o mais importante é ressaltar a intencionalidade do professor, que precisa ter objetivos bem selecionados, uma ótima motivação para ser exemplo aos alunos e a preocupação de se capacitar, para que saiba realmente as necessidades e os limites dos seus alunos, respeitando-os, não se isentado de suas responsabilidades como educador.

    No que diz respeito a prática do atletismo esta, na maioria dos casos, segue a ideia de se trabalhar baseado no modelo rígido de competição e treinamento, proporcionando assim uma prática que não permite o seu atuante ter uma base a cerca de um movimentar-se, onde esse, segundo Kunz (2001, p. 19) explica que “Basta entender que o ‘se-movimentar’ deve abranger as múltiplas e variadas formas do correr, saltar, lançar e arremessar e não apenas as evidentes e canalizadas formas objetivadas em competições de atletismo.”

    Para tanto, se faz necessário estabelecer estratégias para o ensino deste esporte conduza a pensar o correr, saltar, arremessar e o lançar como um campo de diferentes e significativas possibilidades para um se movimentar.

    Dentre as estratégias que possam ser citadas, uma delas seria que o esporte passasse por uma transformação didático-pedagógica, porém, há algumas dificuldades a serem enfatizadas nesse processo. De acordo com Kunz (2001, p. 21) “Inicialmente não se pode ter a idéia de que isso significa a redução de um modo ‘correto’ da prática do atletismo para uma alternativa em forma de simples ‘brincadeiras’.’

    Na verdade trata-se de uma mudança de concepção tanto do ensino quanto do esporte, implicando em assumir determinada concepção educacional e um compromisso com as possibilidades da escola, na formação dos alunos. Porém deve-se estar preparado já que “Nem a escola e muito menos a Educação Física tem o poder de mudar radicalmente a trajetória de desenvolvimento de um sistema social” (KUNZ, 2001, p. 22).

    Numa tentativa de buscar uma metodologia cabível a cada situação, é possível ancorar-se em diversas concepções como, por exemplo, a crítico-superadora, crítico-emancipatória, construtivista, tecnicista, aulas abertas dentre mais, porém, para que mudanças concepcionais comecem a se manifestar, se faz necessárias experiências práticas (além do aprofundamento teórico) em diferentes contextos de ensino.

    Com relação à concepção educacional a ser discutida nesse trabalho, foi escolhida a que é denominada por Kunz (2001; 2004) de “crítico-emancipatória”. Essa abordagem fundamenta-se dentro de uma ação comunicativa, problematizadora, falada e escrita entre os sujeitos, nela é possível haver uma relação de comunicação entre professores e alunos onde possa transcender limites pela experimentação, aprendizagem e criação. Esta pode ser mais bem explícita e entendida a partir das palavras de Kunz (2001, p. 24-25), onde ele fala sobre a abordagem:

    Orientamo-nos por uma concepção educacional que já é conhecida área e foi denominada de “crítico-emancipatória”, onde emancipação pode ser entendida, resumidamente, como um processo interminável de libertação do aluno das condições limitantes de suas capacidades racionais críticas e, com isso, também, todo seu agir no contexto sociocultural e esportivo. O conceito de crítico por sua vez, também de forma resumida, pode ser entendido como a capacidade de conseguir questionar e analisar as condições e a complexidade de diferentes realidades de forma fundamentada, permitindo, com isso, uma constante auto-avaliação racional do envolvimento objetivo e subjetivo no plano individual/situacional. Tudo isso, então, só pode ser alcançado se a educação, na concepção aqui intencionada, for compreendida como um agir comunicativo, o que, na prática significa dizer que essa educação deve orientar-se, especialmente, numa didática comunicativa.

    Apesar da linguagem e comunicação ser de maior importância nesse processo, é necessário deixar claro que não é só a competência emancipatória que é desenvolvida, através dessa comunicação também, devemos considerar as capacidades cooperativas e interativas dos alunos

    Por fim faz-se necessário dizer que nesse processo emancipatório de ensino, não é objetivo ter um final a ser alcançado, mas, sim, o esclarecimento crítico do mundo, no sentido de compreender coisas, fatos e pessoas, além da capacidade de agir de forma autônoma e com competência objetiva e crítica.

Referências bibliográficas

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