Prevalência de sintomas osteomusculares relacionados ao trabalho em funcionários de setores administrativos de uma universidade privada no sul do Brasil Predominio de síntomas osteomusculares relacionados con el trabajo en los empleados de las áreas administrativas de una universidad privada del sur de Brasil |
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*Professora de Educação Física. Universidade de Caxias do Sul. Caxias do Sul. RS **Mestre, Professor dos Cursos de Educação Física da Universidade de Caxias do Sul Núcleo de Pesquisa Ciências e Artes do Movimento Humano. ***Mestre, Professora de Educação Física do Instituto Federal Farroupilha. ****Graduanda em Bacharelado em Educação Física na Universidade de Caxias do Sul (Brasil) |
Viviane Viegas* Ricardo Rodrigo Rech** Daiane Toigo Trentin*** Júlia Schulz Borges**** |
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Resumo Os sintomas osteomusculares cada vez mais se relacionam com o exercício laboral nas suas diferentes formas e categorias profissionais. Sabe-se que se não forem devidamente tratados ou prevenidos podem causar o aparecimento de doenças osteomusculares como Lesões por Esforço Repetitivo, Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho, ou ainda acidentes de trabalho. O objetivo do presente estudo foi verificar a prevalência dos sintomas osteomusculares relacionados ao trabalho em funcionários de setores administrativos de uma universidade privada no sul do Brasil, e as possíveis associações entre os sintomas encontrados e: sexo, idade, prática de atividade física, níveis de força e variáveis relacionadas ao exercício profissional. Foi realizado um estudo transversal com 331 funcionários de setores administrativos. Para avaliação dos sintomas osteomusculares relacionados ao trabalho foi utilizado o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares. As prevalências de sintomas foram de 85,5% e 95,26% nos últimos 7 dias e nos últimos 12 meses respectivamente. A análise bivariada (x2) mostrou associação significativa (p<0,05) entre os sintomas e horas por dia sentado, tempo trabalhando na função, horas por dia trabalhadas, prática de atividade física, flexibilidade e sexo feminino. Considerando as limitações do estudo pode-se dizer que os funcionários em questão apresentam altas prevalências de sintomas e devem ser motivo de preocupação para instituição no que diz respeito à implantação de programas de promoção à saúde do trabalhador. Unitermos: Sintomas osteomusculares. Saúde ocupacional. Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Os sintomas osteomusculares estão cada vez mais relacionados com o exercício laboral nas suas diferentes formas e categorias profissionais. Por sua vez, sabe-se que se não forem devidamente tratados ou prevenidos podem causar o aparecimento das Lesões por Esforço Repetitivo (LER) ou os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) (BRASIL 2006). O aparecimento dos sintomas osteomusculares relacionados ao trabalho (SORT) aumenta em grandes proporções a nível mundial, e no Brasil começou a ganhar significância a partir da década de 80, resultando em uma preocupação de saúde pública e profissional (BRASIL 2001). A saúde ambiental e do trabalhador foi incorporada no país a partir de 1990, pela saúde coletiva (CAMARRA et al 2003).
No cenário mundial, destacam-se estudos que encontraram resultados onde funcionários usuários de computador, relatavam sintomas osteomusculares e fadiga muscular, principalmente nos membros superiores devido ao uso do computador na maior parte do tempo laboral (YAO e CHO 2008; ADEDOYN et al 2005; KLUSSMAN et al 2008).
A nível nacional pode-se destacar os sintomas osteomusculares como derivados das funções onde os trabalhadores permanecem a maior parte do tempo sentados, bem como sendo predominantes nos membros superiores e referidos através da utilização de questionários para percepção dessas queixas (ROCHA et al 2006; PASTRE et al 2008).
A prevalência dos sintomas osteomusculares na região sul do país atinge níveis elevados e significativos. Estudo realizado na cidade de Canoas, verificou que 75% dos funcionários de uma indústria metalúrgica, apresentaram sintomas osteomusculares nos últimos 12 meses, 53% nos últimos 7 dias e que 38% já tiveram afastamento por causa do problema (PICOLOTO e SILVEIRA 2008).
O Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO) vem sendo utilizado como instrumento de avaliação de SORT, tanto para prevalência, quanto para apontar as regiões acometidas (PASTRE et al 2008, PICOLOTO e SILVEIRA 2008, FERNANDES, ROCHA e COSTA-OLIVEIRA 2009; ROCHA et al 2005).
O aparecimento dos sintomas osteomusculares é considerado um problema de saúde pública e se destaca principalmente entre trabalhadores que exercem movimentos repetitivos, com tarefas automatizadas e que podem ser encontrados em maior escala nos ambientes informatizados (MERGENER, KEHRIG e TRAEBERT 2008). Para que se possa prevenir ou minimizar os fatores que levam ao desencadeamento de riscos para a saúde ocupacional, é necessário que se conheça e se analise a realidade de cada profissão. Desta forma, o presente estudo teve como objetivo verificar a prevalência dos SORT em funcionários de setores administrativos de uma universidade privada no sul do Brasil, e as possíveis associações entre os sintomas encontrados e: sexo, idade, prática de atividade física, níveis de força e variáveis relacionadas ao exercício profissional.
Material e métodos
Trata-se de um estudo epidemiológico transversal com amostra probabilística de funcionários de setores administrativos de uma universidade privada no sul do Brasil.
Cálculo de amostra e critérios de amostragem: O número de funcionários (população alvo) que trabalhavam em setores administrativos no final do ano de 2009 (trabalhavam com computador e/ou telefone) era de 808 sujeitos. O cálculo para determinação do tamanho da amostra apresenta um nível de significância e margem de erro de 5%, totalizando 261 sujeitos. Para chegar neste número final foi utilizada a fórmula de Triola (2008):
Onde: n = amostra; N = população; p = proporção; q = o que resta do p; Zalfa = significância; E = erro.
Prevendo possíveis perdas e recusas, utilizou-se um efeito de delineamento de 1,3 e a amostra alvo passou a ser de 340 sujeitos. O tipo de amostragem foi por conglomerados, onde cada setor foi considerado um conglomerado. Para realizar o sorteio dos setores que participaram da pesquisa, teve-se como base o setor de menor número de funcionários (4 funcionários), e colocado este setor com uma entrada no sorteio. Posteriormente, os demais setores eram colocados para sorteio tendo como critério o número de funcionários que nele trabalhavam. Se um setor tivesse 8 funcionários entrava duas vezes no sorteio, se tivesse 12 entrava 3 vezes e assim por diante, para que as chances de serem sorteados fossem iguais para todos os setores conforme o número total de funcionários. No total foram sorteados 25 setores e 353 funcionários.
Os critérios de inclusão para participação na pesquisa foram: os funcionários serem voluntários e apresentar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado; ter vínculo empregatício com a instituição e ser de setores administrativos (trabalhar com computador e/ou telefone); trabalhar a pelo menos seis meses na instituição e ter idade igual ou superior a 18 anos.
Instrumentos: Para coleta de dados do estudo foram utilizados 6 instrumentos: 1. Anamnese: composta por perguntas relacionadas à idade, sexo, estado civil e dados ocupacionais como tempo na função, tipo e função que exerce, quantas horas trabalha diariamente, se pratica atividade física e quanta vezes por semana. 2. Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO): utilizou-se a versão adaptada deste instrumento que foi desenvolvido por Kourinka em 1987, com o nome Nordic Musculoskeletal Questionnaire, e validado em estudo como medida de morbidade, por Pinheiro, Tróccoli e Carvalho (2002). Teve-se a intenção de saber os locais de sintomas dos funcionários, sua freqüência (últimos 7 dias e últimos 12 meses), e se os sintomas estariam relacionados ao trabalho realizado. Foi feito em forma de respostas afirmativas ou negativas (de assinalar), sendo que as alternativas eram: nunca (0), raramente (1), com freqüência (2) e sempre (3). As respostas eram assinaladas separadamente em relação aos locais de sintomas dos últimos 7 dias e dos 12 meses, que eram: pescoço, ombros, braços, cotovelos, antebraço, punhos/mãos/dedos, região dorsal, região lombar e quadril/membros inferiores. O questionário do presente estudo, tanto para anamnese quanto para o QNSO, foi auto-aplicável. 3. Índice de Massa Corporal (IMC) (GORDON 1988). 4. Dinamometria manual: O instrumento utilizado foi um dinamômetro digital da marca Takei Physical Fitness Test conforme proposta de Carnaval (2000). Primeiramente mediu-se a força da mão esquerda e após a da direita. Posteriormente os avaliados foram classificados por meio da proposta de Corbin e colaboradores, citada por Pitanga (2005). 5. Dinamometria de Tronco (Tração lombar): O dinamômetro utilizado foi da marca Back (0 à 300 kg) conforme procedimentos de Carnaval (2000) e a classificação seguiu Corbin e Lindsey, citado por Guedes e Guedes (2006).
Para realização da pesquisa, primeiramente fez-se necessário o envio de um ofício e explicação da mesma para o pró-reitor administrativo da instituição para que este autorizasse o estudo por meio de um termo de compromisso assinado.
Após foram sorteados os setores que participariam da pesquisa e então feito contato com os responsáveis por cada um dos 25 setores. Foi selecionada uma equipe de avaliadores, com 12 estudantes do curso de educação física para a coleta dos dados. Todos receberam o manual do avaliador com instruções do que e como deveriam realizar os testes. Os acadêmicos também realizaram um treinamento para padronização da avaliação e participação no projeto piloto. Este projeto contou com 10 funcionários que não entraram na amostra final do estudo. No projeto piloto todos os instrumentos de avaliação foram testados nos sujeitos.
Posteriormente na conversa com os responsáveis pelos setores entregava-se para os avaliados o QNSO, juntamente com anamnese e o TCLE para que assinassem se estivessem de acordo a participar da pesquisa. Neste mesmo dia já se agendava com o responsável pelo setor um dia e horário para que a equipe de avaliação fosse até o local de trabalho dos funcionários e fizesse a coleta dos dados (testes físicos na seguinte ordem: massa corporal total, estatura e força manual e força de tração lombar).
Foi realizada estatística descritiva (apresentação de freqüências e médias), e estatística analítica (teste qui-quadrado) para verificar as associações entre os SORT e as variáveis independentes. Os dados foram inicialmente armazenados em um banco de dados no programa Microsoft Excel 2000 e após analisados no programa SPSS for Windows versão 13. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Universidade de Caxias do Sul (CEP- FUCS), sob o número de protocolo 259/09.
Resultados e discussão
O número total de avaliados foi de 331 funcionários dos setores administrativos, de 25 diferentes setores. O sorteio inicial totalizou 353 funcionários. O número de perdas foi de 19 sujeitos que não estavam presentes nas três visitas ao setor. Três funcionários se recusaram a participar da pesquisa. O total de perdas e recusas foi de 22 funcionários (6,23%).
A tabela 1 apresenta a caracterização da amostra. Foram avaliados 214 (64,7%) mulheres e 117 homens. 50,2% da amostra avaliada correspondem aos solteiros. Em relação à escolaridade, 4,2% da amostra apresentaram ensino médio completo, 30,2% superior incompleto, 31,4% superior completo, 24,2% com especialização latu sensu e 10% com mostrado ou doutorado.
Em relação ao instrumento utilizado na maior parte da jornada de trabalho, 45,9% dos sujeitos afirmaram ser o computador, resultados semelhantes aos de estudos anteriores (BRANDÃO, HORTA e TOMASI 2005; LARSMAN et al 2006; GUERRA et al 2007; HAGBERG et al 2007; BURGESS, THOMPSON e ROLLMAN 2008). Apesar da tecnologia e do computador serem utilizados para a melhora dos sistemas de trabalho, estes podem causar riscos e danos associados com seu uso, e ainda pode-se destacar a prevalência de sintomas em trabalhadores com tarefas automatizadas e elevado número de repetições de movimentos (MERGENER, KEHRIG e TRAEBERT 2008).
Tabela 1. Caracterização da amostra
A tabela 2 apresenta a média dos testes físicos.
Tabela 2. Médias dos testes físicos
As prevalências de SORT foram de 85,5% e 95,26% nos últimos 7 dias e nos últimos 12 meses respectivamente. Apenas 17 funcionários (5,13%) disseram não apresentar nenhum tipo de sintoma nos últimos 7 dias ou nos últimos 12 meses. O número de funcionários que acreditam que os sintomas dos últimos 7 dias e dos últimos 12 meses estão relacionados com o trabalho que realizam é de 191 (57,7%) e 205 (61,94%) respectivamente.
Os principais locais anatômicos com sintomas frequentes ou sempre, citados pelos funcionários nos últimos 7 dias foram, pescoço (31,7%), lombar (26,9%), ombros (25,7%) e punhos/mãos/dedos (22,1%). Em relação aos últimos 12 meses as maiores queixas foram no pescoço (41,1%), lombar (39%), ombro (34,7%) e punhos/mãos/dedos (29,3%). A tabela 3 apresenta as prevalências de sintomas e suas respectivas regiões. Quanto à prevalência de SORT para o últimos 7 dias e 12 meses o presente estudo apresentou 85,5% e 95,2% respectivamente, corroborando resultados encontrados em outros estudos que utilizaram o QNSO e também mostraram altas prevalências de sintomas (MACIEL, FERNANDES e MEDEIROS 2006; BRANDÃO, HORTA e TOMASI 2005; LARSMAN et al 2006; WAHLSTROM et al 2008). Grande parte dos sujeitos relacionaram os SORT com o trabalho realizado, tanto para 7 dias como para os últimos 12 meses (57,7% e 61,9% respectivamente), indo de encontro aos resultados de Brandão, Horta e Tomasi (2005).
Tabela 3. Prevalências de SORT em relação ao local do sintoma relatado
O QNSO estabelece a freqüência que ocorrem as dores, desconfortos, formigamentos ou dormências nas regiões do corpo nos últimos 7 dias e 12 meses. Para os SORT do presente estudo (7 dias e 12 meses), as regiões mais acometidas para a maioria dos funcionários foram: pescoço (31,7% e 41,1%), lombar (26,9% e 39%), ombro (25,7% e 34,7%) e punhos/mãos/dedos (22,1% e 29,3%) respectivamente. Os resultados em questão se assemelham aos de outros trabalhos e estes locais de sintomas relatados podem ser atribuídos ao tipo de equipamento (computador) utilizado na maior parte do expediente de trabalho e pelo tempo que a maioria (69,2%) dos funcionários relataram permanecer na posição sentada (BRANDÃO, HORTA e TOMASI 2005; LARSMAN et al 2006; WAHLSTROM et al 2008; PERES et al 2006; CARNEIRO et al 2007).
Para o teste de associação (qui-quadrado) as respostas dos sintomas relacionados ao trabalho foram agrupadas. As respostas não e raramente foram agrupadas assim como as variáveis com freqüência e sempre, criando uma nova variável: sem sintomas e com sintomas. As tabelas 4 e 5 apresentam as variáveis que mostraram associação estatística significante (p<0,05) com os sintomas nos últimos 7 dias e nos últimos 12 meses respectivamente.
Tabela 4. Associação significativa* dos SORT nos últimos 7 dias com as variáveis independentes
As variáveis independentes que não apresentaram diferença estatisticamente significativa com os SORT foram: idade dos avaliados e a dinamometria manual e de tronco (p>0,05). A análise bivariada mostrou que as mulheres apresentaram maiores chances para todos os locais de sintomas (exceto cotovelo nos últimos 12 meses) nos últimos 7 dias e 12 meses em relação aos homens. Resultados semelhantes também foram encontrados em outros estudos (PINHEIRO, TROCCOLI e CARVALHO 2006; MACIEL, FERNANDES e MEDEIROS 2006; BRANDÃO, HORTA e TOMASI 2005; CARVALHO e ALEXANDRE 2006), e tal fato pode ser atribuído (apesar de não ter sido avaliado no presente estudo) à dupla jornada de trabalho, na qual é sabido que a maioria das mulheres dos tempos modernos estão submetidas (trabalho remunerado + trabalho de casa).
Tabela 5. Associação significativa* dos SORT nos últimos 12 meses com as variáveis independentes
Em relação ao tempo que os funcionários desenvolvem a mesma função, 48% dos indivíduos relataram exercer a mesma função a mais de 7 anos, variável que mostrou associação estatística significante com SORT nos cotovelos (RP=3,37 – p=0,015), pescoço (RP=2,01 – p=0,004) e punhos/mãos e dedos (RP=1,96 – p=0,013) para os últimos 7 dias. Nos últimos 12 meses a variável apresentou associação significante com SORT nos antebraços (RP=1,99 – p=0,022) e punhos/mãos/dedos (RP=1,77 – p=0,019). Os dados apresentados são semelhantes aos da pesquisa de Maciel, Fernandes e Medeiros (2006), onde os sujeitos que exerciam a mesma tarefa há mais tempo apresentaram 3 vezes mais chance de desenvolver a sintomatologia dolorosa em mais de uma região corporal (MACIEL, FERNANDES e MEDEIROS 2006).
Dos sujeitos participantes da pesquisa, 92,7% trabalhavam 8 horas ou mais por dia e estes apresentaram mais do que o triplo de chances para SORT no pescoço (RP=3,77 – p=0,012) nos últimos 12 meses, em relação aos que trabalhavam menos de 8 horas. Ainda a respeito das variáveis ocupacionais, o fato de permanecer sentado por mais de 5 horas diárias apresentou mais do que o dobro de chances (RP=2,42 – p=0,002 e RP=2,70 – p=0,001) para SORT no pescoço para os últimos 7 dias e 12 meses respectivamente. Alguns estudos mostram que o fato de ter uma jornada diária maior, e com maior tempo de permanência na posição sentada pode contribuir para o aparecimento dos sintomas osteomusculares. Jornadas de trabalho maiores podem prejudicar a saúde e a qualidade de vida dos funcionários (BRANDÃO, HORTA e TOMASI 2005; GUERRA et al 2007; HAGBERG et al 2007).
Quanto à prática de atividade física, a maioria dos pesquisados (51%) relataram não praticar exercícios regulares em nenhum dia da semana, e estes apresentaram maiores chances para os SORT em relação aos que disseram praticar atividades regularmente. Em relação aos últimos 7 dias, não praticar atividades físicas apresentou maiores chances para sintomas nos punhos/mãos/dedos (RP=1,71 – p=0,046), coluna dorsal (RP=2,27 – p=0,04) e quadril/MI (RP=1,98 – p=0,019), resultados semelhantes aos de outros estudos nacionais e internacionais (BRANDÃO, HORTA e TOMASI 2005; GUERRA et al 2007; HAGBERG et al 2007; MACIEL, FERNANDES e MEDEIROS 2006). Martins e Barreto (2007), evidenciam melhoras significativas no bem estar, relacionamento e alívio da dor muscular e sintomas osteomusculares após a implantação de programas de atividades físicas, mostrando a importância da prática de exercícios regulares. O ACSM (2007) recomenda exercícios que contemplem os componentes da aptidão física relacionada à saúde como a composição corporal, força e endurance muscular, aptidão cardiorrespiratória e flexibilidade.
As variáveis independentes que não apresentaram associação significativa (p>0,05) com o desfecho da pesquisa foram a idade e dinamometria manual e dinamometria de tronco. Apesar dos resultados não serem significativos (p>0,05), os sujeitos classificados nas categorias inferiores (ruins) dos testes e força apresentaram mais SORT do que os sujeitos que apresentaram bons resultados nos testes. Alguns autores consideram este componente da aptidão física relacionada a saúde como fator que pode proteger quanto ao aparecimento de SORT (BRANDÃO, HORTA e TOMASI 2005; MACIEL, FERNANDES e MEDEIROS 2006).
O presente estudo apresentou algumas limitações. Primeiramente podemos citar o fato de se tratar de um estudo transversal e como tal não pode estabelecer uma relação causal. Outro item que pode ter interferido nos resultados foi o viés de memória, ou seja, os indivíduos podem ter esquecido alguns sintomas relacionados com os últimos 12 meses. Vale ressaltar que grande parte da amostra estudada (61,6%), encontra-se cursando ou concluído curso superior, fato que possivelmente contribuiu para uma melhor compreensão do QNSO e restante do questionário por parte dos avaliados.
Considerações finais
Considerando as limitações, o presente estudo mostrou altas prevalências de SORT nas diversas regiões corporais nos funcionários de setores administrativos da universidade em questão. Por se tratar de uma amostra representativa e devido ao baixo número de perdas os resultados podem ser extrapolados para a população alvo em questão.
As maiores queixas dos funcionários foram em relação as regiões do pescoço, ombros, punhos/mãos/dedos e coluna lombar, e estes fatores mostraram-se associados às variáveis ocupacionais (tempo sentado, horas por dia de trabalho, tempo na função e instrumento de trabalho). Estas evidências devem ser levadas em consideração para futuras intervenções no ambiente de trabalho.
Pelas altas prevalências apontadas, percebe-se a necessidade de cuidados no que diz respeito à saúde ocupacional dos funcionários em questão. O diagnóstico dos problemas pode ser o primeiro passo para a implantação de programas de promoção a saúde do trabalhador e para a prevenção de futuros agravos a saúde dos mesmos.
Ressalta-se a importância de novos estudos que avaliem também as questões ergonômicas relacionadas ao ambiente de trabalho e estudos longitudinais para que se possam estabelecer as relações de causa e efeito.
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