Categorização do Questionário Brazil Old Age Schedule (BOAS) para estudos na área do desenvolvimento humano Categorización del Cuestionario Brazil Old Age Schedule (BOAS) para los estudios en el área del desarrollo humano |
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Doutorando em Ciências do Movimento Humano (CEFID/UDESC) (Brasil) |
Silvio Luiz Indrusiak Weiss |
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Resumo O objetivo deste artigo foi elaborar uma matriz categorial para o Questionário BOAS, direcionada para estudos na área do desenvolvimento humano. Este instrumento de pesquisa investiga fatores multidimensionais do envelhecimento e foi concebido a partir de 8 grandes categorias, possuindo uma forte aderência ao paradigma biopsicossocial de saúde e a visão contextualista de desenvolvimento. O estudo desenvolveu uma matriz com 28 categorias, cada qual discriminando seu objetivo específico, englobando as 112 questões do inventário. O critério utilizado para o agrupamento das questões em cada categoria foi identidade de conteúdo. A partir da matriz categorial pode-se relacionar os dados coletados entre categorias do próprio BOAS (intraquestionário), bem como estabelecer correlações com categorias externas, a partir de dados coletados com outros instrumentos. Unitermos: Questionário. Categorização. Desenvolvimento. Idoso. BOAS.
Abstract The aim of this paper was to develop a matrix for categorical Questionnaire BOAS, directed to studies in the area of human development. This research instrument investigating multidimensional factors of aging and was designed from eight major categories, having a strong adherence to the biopsychosocial paradigm of health and contextual view of development. The study developed a matrix with 28 categories, each detailing your specific goal, encompassing 112 issues of the inventory. The criterion used for grouping issues in each category was identity of content. From the categorical array can relate the data collected from BOAS own internal categories, and establish correlations with external categories, based on data collected with other instruments. Keywords: Questionnaire. Categorization. Development. Older adults. BOAS.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Ao estudar o desenvolvimento humano, e especificamente o envelhecimento, é fundamental o pesquisador ter claro a delimitação dos parâmetros e variáveis a serem analisadas, para um direcionamento preciso do método a ser utilizado, bem como os instrumentos de coleta de dados.
Atualmente, estão em alta os estudos com idosos envolvendo atividade física, estilo de vida, qualidade de vida, cognição, etc., destacando-se nos periódicos especializados (SEBASTIÃO et al., 2009; DAVIES et al., 2010; FIOCCO; YAFFE, 2010; BAJOTTO; GOLDIN, 2011; ELIAS et al, 2012). Isso porque o envelhecimento da população, fazendo referência a brasileira, apresenta um crescimento otimista para as próximas décadas em relação a pessoas acima dos 60 anos, conforme projeções dos institutos de pesquisas censitárias. Esse aumento da expectativa de vida do brasileiro está aliado a inúmeros fatores, entre os quais a prática de atividade física e a adoção de um estilo de vida ativo. Os avanços da medicina aliada às novas tecnologias também impactam positivamente nessas estatísticas.
Mas, quais outros fatores poderiam estar relacionados à saúde/doença do idoso? Que variáveis, além das citadas e com ênfase na atividade física, poderiam interagir na saúde, na qualidade de vida e na adoção de um estilo de vida ativo da população idosa?
A OMS publicou em 2001 a CIF, uma nova versão da CIDID (Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens), de 1980. Nesse documento atualizado destacam-se não somente aspectos negativos referentes a doença, mas os aspectos positivos da promoção da saúde. Além disso, passa a integrar o quadro da CIF, uma parte denominada "fatores contextuais", bem como uma ampliação do item "atividades e participação" (NUBILA; BUCHALLA, 2008).
Fica evidente a ampliação na análise do conceito de saúde, incluindo, por exemplo, o envolvimento ou não do idoso em atividades comunitárias e utilização de serviços públicos, o relacionamento com familiares e vizinhos, a situação socioeconômica, a mobilidade, desde a capacidade funcional até a mobilidade urbana, entre outros, como fatores determinante para seu estado de saúde.
Nesse contexto, são poucos os protocolos de pesquisa com esse objetivo, concentrando-se a maioria em aspectos da qualidade de vida, estilo de vida, nível de atividade física, etc. podendo mencionar o IPAQ adaptado para idosos (MAZO; BENEDETTI, 2010), o WOQOOL-OLD (FLECK; CHACHAMOVICH; TRENTINI, 2003), entre outros.
Por outro lado, o Questionário Brazil Old Age Schedule - BOAS é um instrumento de pesquisa que investiga fatores multidimensionais do envelhecimento, baseado em outros instrumentos com padrões aceitáveis de validade e confiabilidade, como o PAHO, CARE e OARS. (VERAS; DUTRA, 2008).
O BOAS foi concebido a partir de 8 grandes categorias (Informações gerais, saúde física, utilização de serviços médicos e dentários, atividades de vida diária, recursos sociais, recursos econômicos, saúde mental, necessidades e problemas que afetam o entrevistado) e seus resultados são analisados, questão a questão, conforme os quadros detalhados por questão/seção, encontrados em Veras e Dutra (2008).
Apesar dessa ampla análise possível, o objetivo deste artigo é agrupar as questões do BOAS em categorias, estruturando uma matriz para estudos voltados à área do desenvolvimento humano, possibilitando o detalhamento e comparações com outras variáveis de estudo.
2. BOAS: abordagem multidimensional do envelhecimento
Veras (1994, p.25) elabora uma das grandes questões acerca do envelhecimento na atualidade: "Uma pessoa é tão velha quanto suas artérias, seu cérebro, seu coração, seu moral ou sua situação civil?"
Os estudos multidimensionais estão preenchendo cada vez mais uma lacuna que se estende há décadas, sustentadas pelas pesquisas reducionistas. De acordo com Morin (2010) há uma crescente inadequação entre essa produção de saberes fragmentados e a realidade transversal, multidimensional, global.
Nas Ciências da Saúde uma nova versão da CIF publicada pela OMS em 2001 reforçou este escopo, destacando os aspectos positivos da funcionalidade, além da inclusão dos fatores contextuais do ambiente. (OMS, 2004)
Diversos autores destacam na CIF um modelo multidimensional de saúde, baseado em uma abordagem biopsicossocial, tornando-se um novo paradigma na relação saúde/doença. Nessa visão as características do meio ambiente físico e social podem afetar a saúde do indivíduo. (BUCHALLA, 2003; FARIAS; BUCHALLA, 2005; SAMPAIO; LUZ, 2009; NUBILA, 2010).
Segundo Buchalla (2003) esta nova versão da CIF considera o envelhecimento da população e, em conseqüência, traz novos desafios para a saúde pública, entre eles o fato inevitável de que todo ser humano está sujeito a um progressivo estado de limitação, devendo esse processo ser mensurado para um adequado planejamento de saúde.
Muitas mudanças desenvolvimentais progressivas que ocorrem ao longo do envelhecimento, além do desenvolvimento individual, referem-se a processos multidimensionais, que envolvem a emergência de relacionamentos sociais, fatores econômicos, conjuntura política, entre outros, referidos na literatura como abordagens contextualistas de desenvolvimento. (FONSECA, 2005; KREBS, 2008).
Segundo Fonseca (2005), essa visão contextualista amplia o conceito de desenvolvimento, não sendo mais tratado como uma soma de mudanças (mecanicismo), nem como um processo individual de maturação ou adaptação funcional (organicismo), mas como fenômeno de contínua adaptação, decorrente da inevitável interação pessoa-ambiente.
Em sintonia com o novo paradigma, o BOAS é concebido como um questionário funcional multidimensional com 76 questões dirigidas ao idoso, e mais 6 questões na última parte (seção IX) dirigidas ao entrevistador, com um total de 82 questões. Somadas às sub-questões cujas respostas são alternativas, totalizam 112. Possui questões estruturadas (fechadas, abertas e mistas) e não estruturadas distribuídas em 8 seções que representam grandes categorias. (VERAS; DUTRA, 2008)
3. Matriz categorial do BOAS
Uma das possibilidades para analisar os dados coletados com o BOAS é por intermédio de uma matriz categorial (Quadro 1), elaborada a partir das questões do protocolo. Com isso, pode-se relacionar os dados coletados entre categorias do próprio BOAS (intraquestionário), bem como estabelecer correlações com categorias externas, a partir de dados coletados com outros instrumentos.
Basicamente, categorizar é pensar de forma dedutiva, quer dizer, determinar classes de maior abrangência dentro do conhecimento apresentado. As categorias ordenam os tópicos que, dependendo do contexto, organizam os conceitos, os ranqueiam e formam uma taxonomia. (CAMPOS; GOMES, 2008).
No caso do BOAS as categorias são sugeridas para agrupar as informações, facilitando a análise em relação a outras variáveis de estudo e aplicação de testes estatísticos.
O questionário já possui uma organização própria de conteúdos, com uma ordenação temática baseada prioritariamente no princípio da seqüência canônica, consagrando muito mais a tradição na ordem dos assuntos (CAMPOS; GOMES, 2008). Cada seção possui, inclusive, um certo grau de independência em relação as demais.
As categorias propostas para organização do BOAS podem ser melhor entendidas conforme Aranalde (2009), como unidades cognitivas para a apreensão da multiplicidade, ou elementos que intermediam os conceitos e a realidade cognoscível.
Nesse sentido, criou-se a matriz categorial do Questionário BOAS apresentada no Quadro 1, organizados por seção, com as questões relacionadas e os objetivos de cada categoria, sendo utilizado o critério de identidade do conteúdo para o agrupamento das questões em cada categoria.
Observa-se no Quadro 1 que o BOAS está organizado em 8 seções com certo nível de autonomia entre elas, apesar de harmonizarem-se no conjunto. As questões, incluindo aquelas alternativas, ou seja, as preenchidas ou não conforme a resposta da questão anterior, somam um total de 112, tendo sido todas enquadradas em uma das categorias propostas nesse estudo.
Quadro 1. Matriz categorial do BOAS com a indicação de objetivos e questões por categoria
Fonte: adaptado de Veras e Dutra (2008)
Um total de 28 categorias foram desenvolvidas para integrar a matriz, sendo cada uma delas seguida de um objetivo específico. Com isso a análise das respostas são agrupadas por categoria, simplificando a interpretação dos dados e a correlação com variáveis de outras mensurações.
O número de questões agrupadas por categoria girou entre 1 e 8, com exceção das duas categorias relacionadas à seção de saúde mental (seção VII), por se tratar de uma avaliação específica, uma para testar a memória e orientação (9 questões) e outra para investigar possíveis quadros depressivos (27 questões). Com exceção dessas duas, o comportamento modal das categorias foi agrupar 3 questões.
4. Considerações finais
O aumento crescente da população idosa brasileira e a perspectiva otimista em relação às próximas décadas, desperta a atenção sobre esse segmento etário, principalmente acerca de temas relacionados a sua qualidade de vida e condições de saúde, individual e coletiva.
Não são poucas as pesquisas na atualidade endereçadas a investigação dos fatores de saúde e doença ao longo do envelhecimento, estando a grande maioria focada nos aspectos individuais desse processo. Por outro lado, bem poucas são direcionadas a fatores contextuais, relacionados ao ambiente no qual interage o idoso, desde o relacionamento familiar, a utilização de serviços de saúde, até sua inserção na comunidade.
As poucas opções de instrumentos de pesquisa voltados a investigação dos fatores multidimensionais que interagem junto à população idosa, é um dos motivos que levaram esse estudo a desenvolver uma matriz categorial do BOAS, voltada a estudos direcionados ao desenvolvimento humano.
Além disso, é um inventário amplo e completo, analisando praticamente todas as interfaces com as quais o idoso se relaciona em termos sócio-comunitários. É muito oportuno para estudos relacionados ao desenvolvimento, possibilitando a investigação de múltiplos fatores nessa área.
Portanto, sugere-se a utilização da matriz categorial do BOAS, elaborada para facilitar estudos que correlacionem as diversas variáveis desenvolvimentais, intraquestionário ou derivadas da aplicação de outros instrumentos, desenvolvidos para a população idosa.
Referências
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