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O futebol como vetor da formação identitária 

em Novo Hamburgo nos anos 1920-30

El fútbol como vector de la formación identitaria de Novo Hamburgo en los años 1920-30

 

*Doutor em História Social pela USP (SP). Professor titular da Universidade Feevale

em Novo Hamburgo (RS), onde atua também no corpo permanente do Mestrado em Processos

e Manifestações Culturais. É pesquisador do grupo de pesquisa em Cultura

e Memória da Comunidade, na mesma instituição

**Graduado em História e Mestre em Processos e Manifestações Culturais

pela Universidade Feevale em Novo Hamburgo (RS)

Cleber Cristiano Prodanov*

prodanov@feevale.br

Vinícius Moser**

vinicius.moser@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho analisa o futebol enquanto um elemento de formação de identidades dentro de um contexto local, mais especificamente a cidade sul-riograndense de Novo Hamburgo, localizada próxima a capital do estado, Porto Alegre, no período compreendido entre os anos de 1927 a 1931. Nesse sentido, será analisado de que maneira a atividade futebolística nessa cidade foi um elemento de construção da identidade dentro do período temporal delimitado, com base no referencial teórico pesquisado. Tal análise utilizará como fonte principal a imprensa hamburguense do período, mais especificamente por as seções Notas Sportivas e Noticiário do periódico O 5 de Abril, semanário que foi fundado quando ocorreu a emancipação deste município, em 1927, e que circulou até o ano de 1962.

          Unitermos: Futebol. Identidade. Novo Hamburgo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol é uma manifestação cultural das mais significativas no Brasil desde as suas origens, no final o século XIX. Nesse início de século XXI, foi elevado a condição de espetáculo global, que tem potencializado suas práticas e estudos no país, especialmente às vésperas da Copa do Mundo de Futebol que se realizará em terras brasileiras no ano de 2014, como apontam Roberto da Matta (2006) e José Magnani (1998).

    A atividade futebolística foi introduzida oficialmente no Brasil no período compreendido entre os últimos vinte anos do século XIX e a primeira década dos anos 1900. Ao longo de sua implantação e consolidação no país, o futebol afirmou-se como um dos mais importantes elementos da formação de uma identidade nacional brasileira, sendo atualmente um tema que vem recebendo uma atenção cada vez mais especial dentro dos estudos acadêmicos, em especial nas humanidades e ciências sociais.

    Entretanto, cabe aqui frisar que, já nas primeiras décadas do século XX, essa prática desenvolveu-se também com grande expressão no estado do Rio Grande do Sul, o que, em linhas gerais, ocorreu de forma semelhante em outras regiões brasileiras. Nesse período de grande crescimento para este esporte, vários clubes haviam se formado em cidades sul-riograndenses, especialmente em Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre.

    Dessa maneira, a cidade de Novo Hamburgo, que se localiza há cerca de 40 km da capital gaúcha, já aparecia como um espaço em que a prática desse esporte começou a ganhar relevo já nas duas primeiras décadas do século XX. Esse destaque do futebol em relação a outros esportes na cidade também já podia ser percebido nas páginas da imprensa local, aqui interessando, mais especificamente, o caso do semanário O 5 de Abril 1.

    Dentro desse panorama apresentado, o presente trabalho trata sobre o futebol, compreendido como uma manifestação cultural que possui relevância dentro do contexto sócio-histórico de Novo Hamburgo2, localidade que se constitui no recorte espacial desse trabalho. Para tanto, parte-se do princípio de que o futebol, tanto em um espaço nacional quanto regional, configura-se em um elemento de legitimação social da população como um todo.

Algumas definições sobre identidade

    As investigações acadêmicas dentro do âmbito da cultura – compreendida aqui enquanto um vasto e praticamente inesgotável campo de estudo, já que é inerente ao ser humano produzir cultura e manifestar-se culturalmente – cada vez mais possuem como escopo de análise as questões referentes à identidade. Entretanto, o que é identidade? Esta é uma pergunta que, no mínimo, perpassa reflexões acerca do que é o sujeito e de como esse sujeito atua e se posiciona política e socialmente na contemporaneidade. O que se pretende aqui é mostrar de que maneira o conceito, de forma breve, a importância do conceito da identidade para compreender os processos culturais que ocorrem na sociedade.

    Nesse sentido, Silva (IN SILVA, 2000) traz que, para haver uma compreensão mais abrangente deste conceito, há que se considerar a diferença como uma parte constituinte da construção de uma identidade específica. Em outros termos, uma fotografia da seleção brasileira de futebol trata-se de um elemento de identidade para o Brasil enquanto nação, pois reflete justamente o “ser brasileiro”, através das cores estampadas nas camisetas dos jogadores, nos próprios jogadores, etc. Contudo, essa identificação se produziu com base em uma diferença, que se trata do fato desse grupo constituir-se como diferente de outros selecionados nacionais de futebol, como os da Argentina ou da França, por exemplo (SILVA IN SILVA, 2000).

    Roque Laraia (1986) também dá substrato a essa fragmentação da identidade do sujeito na atualidade, operando uma retrospectiva de como a cultura era vista desde o início da idade moderna, quando predominava uma visão acentuadamente determinista. Nessa visão, o homem situava-se no centro de todas as relações societárias e possuía o controle delas numa perspectiva centralizadora.

    Contudo, a mudança do processo de formação e de manutenção de identidades pode também ser compreendida como uma mudança de esferas, no sentido de que não se pode mais pensar em identidades e em uma cultura “global”, sobrepujando-se às manifestações culturais locais e suas respectivas identidades. Nos atualidade, o que pode se pensar é numa nova articulação entre os contextos global e local, já que um se mescla com o outro, não estando mais essas duas esferas correndo em paralelo entre si. Dessa maneira, pensá-la como

    [...] unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente (HALL, 2006, p. 13).

    Deslocar as identidades múltiplas e desconcertantes, como está se tornando corrente na época contemporânea, implica basicamente sair do lugar; em outras palavras, o sujeito não se esboroou pelos ares, mas, apenas mudou de posição, pois o centralizado homem cartesiano perdeu o espaço privilegiado nas relações sociais. A identidade, para o autor jamaicano, entra dentro desse processo de deslocamento, combustanciadas por circunstâncias de ordem psicológica, teórica ou de cunho sociológico, como o autor muito bem exemplifica em seu pensamento.

    Na tentativa de se efetuar um amálgama teórico do que é identidade, finalmente é importante elencar aqui o conceito de hibridismo de um importante autor indiano que se especializou nos estudos pós-coloniais, dentro do âmbito da literatura, que é Homi K. Bhabha.

    Desse modo, este teórico descortina um panorama teórico de rara profundidade, em que seu conceito de hibridismo da cultura aplica-se com muita propriedade ao estudo da identidade e, por conseguinte, da cultura, pois, para ele, “[...] a identidade é construída nas fissuras, nas travessias e nas negociações que ligam o interno e o externo, o público e o privado, o psíquico e o político” (SOUZA, 2004, p. 123). Assim, é justamente nessas fissuras, travessias e negociações, que o “outro” encontrou – e ainda encontra – um espaço de manobra para conseguir estabelecer sua posição dentro da questão cultural e da formação da identidade no mundo contemporâneo, o que, como já mencionado anteriormente através de diferentes autores, se reflete, justamente, na perspectiva “hibridista” que Bhabha (2007) traz3.

    Dentro deste panorama apresentado, o futebol, desde sua introdução em terras brasileiras no final dos anos 1800, vem gerando uma paixão popular que acabou por superar, em larga medida, as outras modalidades esportivas. Com boa margem de segurança, o futebol se configurou como um elemento extremamente importante para definir a compreensão de um “jeito brasileiro de ser”, dentre as diferentes manifestações culturais que definiram a identidade do país (GASTALDO; GUEDES, 2006).

    Nesse sentido, cabe retomar ao pensamento de Hall (2006, p. 51) já que, “Como argumentou Benedict Anderson (1983), a identidade é uma ‘comunidade imaginada’. Anderson argumenta que as diferenças entre as nações residem nas formas diferentes pelas quais elas são imaginadas”. Ao se partir do princípio que o processo de formação das identidades nacionais deu-se a partir desse conceito que Hall (2006) traz de Anderson4, que é o de “comunidade imaginada”, o rápido desenvolvimento da atividade futebolística no Brasil nas primeiras décadas do século XX fornece uma das bases para a “imaginação” dessa identidade nacional brasileira, o que começou a ocorrer a partir dos anos 1930, especialmente através do pensamento do sociólogo e antropólogo brasileiro Gilberto Freyre5. Dentro desse panorama,

    Em primeiro lugar, deve-se destacar que a nossa identidade futebolística é representada a partir de uma série de oposições tendo como pano de fundo os europeus; nem poderiam ser diferente. Entretanto, ao buscar a autenticidade brasileira, Freyre evoca a molecagem baiana, a capoeiragem pernambucana e a malandragem carioca, excluindo os demais ‘tipos regionais’ que contribuíram para dar ao futebol os contornos de brasilidade (DAMO, 1999, p. 90).

    A própria seleção de determinadas especificidades regionais para compor o modo brasileiro de jogar futebol mostra como a identidade consiste em um discurso passível de manipulação, segundo determinados interesses. Dessa forma, a atividade futebolística no Brasil é entendida como um elemento de formação de uma identidade nacional, no sentido moderno do termo, como Hall (2006; 2009) coloca, embora com esse critério de seleção de determinadas regionalidades para compor essa identidade.

    Dessa forma, o processo de formação de uma identidade nacional imaginada – como foi mencionado acima – parte do princípio da elaboração de discursos referentes a essa dinâmica de criação de um referencial identitário em nível de Brasil, tendo o futebol como um dos principais vetores desta operação. Com isso, a formação desta identidade imaginada parte necessariamente do princípio de que a sociedade baseia-se em uma identidade, que subsiste através da existência de um imaginário coletivo, como já discutido no item anterior deste trabalho. Notadamente, a concepção de um discurso acerca de uma cultura ou de uma identidade nacional não se trata de um fenômeno recente.

O jogo da bola como componente da formação identitária de Novo Hamburgo

    Antes que se mostre de que maneira o futebol articulou-se como um elemento de formação identitária em Novo Hamburgo, é necessário mostrar como esta modalidade esportiva surgiu no estado mais meridional do Brasil. No Rio Grande do Sul, o jogo da bola surgiu quase que simultaneamente em relação ao Rio de Janeiro e São Paulo, de forma que o processo de introdução do futebol no estado mais meridional do país guardou algumas semelhanças com o que se verificou nessas unidades federativas.

    Com isso, muitos clubes formaram-se em diversas cidades sul-riograndenses, inicialmente em Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre, localidades que deram início ao movimento de introdução no sentido litoral-interior, ensejando assim uma multiplicação de equipes esportivas (JESUS, 2003). No estado, as primeiras bolas de futebol e demais equipamentos para a prática do esporte apareceram na cidade de Rio Grande e em cidades próximas da fronteira com o Uruguai e a Argentina, por meio de viajantes oriundos desses países e de comerciantes de origem alemã, sobretudo, que estavam de passagem ou estabelecidos nessa cidade.

    Nesse contexto, o primeiro clube de futebol do Brasil foi fundado na cidade sul-riograndense de Rio Grande, principal porto desse estado. Como toda cidade portuária, havia um grande trânsito de estrangeiros, o que tornava essa pequena cidade do Rio Grande do Sul um centro bastante cosmopolita. Segundo Buchmann (2002, p. 22),

    Havia considerável inquietude criativa nas artes plásticas e na literatura, com academia e grêmios e, mais que tudo, uma comunidade construída por diversas nacionalidades convivendo com civilidade. Um ambiente que favorecia também a prática de esportes, dos quais o futebol já tinha ali quem se interessasse em praticá-lo.

    Essa presença marcante dos teuto-brasileiros na introdução do futebol no estado traduzia-se na grande atividade artística e cultural que ocorria nessa pequena cidade do sul do estado, pois as grandes companhias teatrais e européias ali faziam paradas obrigatórias, nas suas excursões entre as grandes metrópoles sul-americanas de então, que eram Buenos Aires e Rio de Janeiro. Com isso, a inserção e o desenvolvimento do futebol no contexto sul-riograndense, foi marcado pela grande presença da etnia teuto-brasileira, embora esse esporte, em nível nacional, tenha sido trazido por ingleses que trabalhavam ou possuíam negócios no Brasil.

    A marcante presença dos teuto-brasileiros no início do desenvolvimento do futebol no estado também pode ser explicada através conceito de germanidade (ou Deutschtum, em alemão), conforme menciona Giralda Seyferth (1999). Essa autora destaca o intento de depreciação, ao se utilizar esta terminologia, dentro da formação étnica das colônias alemães e que, nesse caso especificamente. Essa questão da formação étnica das comunidades teuto-brasileiras também serve ao processo de introdução da atividade futebolística no Brasil meridional, como pode ser visto no trecho abaixo:

    A palavra Deutschtum tem dois sentidos que convergem para compor a etnicidade teuto-brasileira: expressa o sentimento de superioridade do ‘trabalho alemão’ – e, neste caso, remete ao progresso trazido pelos pioneiros à ‘selva’ brasileira – e define o pertencimento à etnia alemã, estabelecendo seus critérios – língua, raça, usos, costumes, instituições, cultura alemães (SEYFERTH, 1999, p. 74, grifo da autora).

    Ao se reforçar a superioridade alemã na “selva” e depreciar o elemento “nativo”, no caso os brasileiros natos, que o processo de colonização assumiu, justamente, esse traço marcadamente étnico. A autora também coloca que o enriquecimento dos colonos alemães, acentuado a partir do último quartel do século XIX, teve como resultado, justamente, reforçar negativamente essa superioridade do “alemão” superior em detrimento do “brasileiro” pobre e indolente. Dessa maneira, para Schleich (2004, p. 52), pode-se destacar que,

    Como o futebol também é fruto das sociedades em que se insere, também na construção dessa identidade vão aparecer às clivagens étnicas. Em resumo a identidade futebolística e a identidade étnica vão se entrecruzar. Nesta construção em primeiro lugar salientaram que a imagem comum do imigrante e de seus descendentes estava ligada ao trabalho. Essa construção da imagem do ‘imigrante trabalhador’ surgiu em oposição ao estereótipo do brasileiro preguiçoso’, levando mais uma vez à construção da identidade por contraste (identidade contrastiva), o que não significava que os imigrantes não tivessem outros laços de identificação.

    Esse sentimento de superioridade fez com que os teuto-brasileiros, dentro das relações e das estratégias de negociação simbólica6 e social estabelecidas dentro das localidades com maior presença dessa etnia, se colocassem em um patamar de inferioridade e de depreciação em relação a esse último. Um exemplo dessa negociação em termos étnicos pode ser ilustrado pelo fato da entrada do primeiro jogador negro, o ponta-direita Tesourinha – que fez carreira e fama no Internacional de Porto Alegre –, em um time composto majoritariamente por brancos, que era o Grêmio FBPA, que se deu somente em 1952 (DAMO, 2002). Nesse contexto, o futebol no Rio Grande do Sul transcendeu muito mais lentamente o âmbito elitista e racista que permeavam suas relações e negociações simbólicas do que no Rio de Janeiro e São Paulo.

    Depois de apresentar o desenvolvimento da atividade futebolística nos contextos nacional e sul-riograndense, cumpre aqui destacar de que maneira as atividades esportivas e futebolísticas tiverem seu desenvolvimento em Novo Hamburgo, cidade localizada na região nordeste do estado do Rio Grande do Sul, nas proximidades da capital, Porto Alegre.

    Este município começou a ser colonizado, em caráter oficial, por imigrantes de origem alemã a partir de 1824, pertencendo desde esse momento até 1927, como o segundo distrito de São Leopoldo, quando se emancipou deste município (ROCHE, 1969). Entretanto, a partir da década de 1890 a cidade vivenciou um intenso crescimento das indústrias locais, especialmente com a introdução dos curtumes de couro, depois com as empresas artesanais e, posteriormente, com a indústria calçadista na cidade (SCHEMES ET AL, 2005).

    Dessa maneira, o primeiro clube de futebol da cidade foi fundado no dia primeiro de maio de 1911, quando um grupo de ex-funcionários da Fábrica de Calçados Sul-Riograndense, de propriedade do industrial Pedro Adams Filho, reuniu-se para criar uma agremiação futebolística. Foram os fundadores desse clube de futebol, de cores azul e branca: Manoel Lopes Mattos, José Scherer, Aloys Auschild, Manoel Outeiro, João Tamujo e Adão Steigleder. Nascia, assim, dos sentimentos de trabalhadores das nascentes empresas calçadistas, distantes dos tradicionais clubes da cidade, o Esporte Clube Novo Hamburgo – ECNH (PRODANOV; MOSER, 2011b).

    Três anos após a fundação do ECNH, foi fundado o Foot-Ball Club Esperança (FBC Esperança), em 10 de maio de 1914, por um grupo de trinta e oito comerciantes e industriais da localidade de Hamburgo Velho, núcleo inicial da colonização teuto-brasileira em Novo Hamburgo, que representavam a elite tradicional do Hamburguer Berg, que foi a primeira denominação dada a Hamburgo Velho.

    Os fundadores do FBC Esperança, diferentemente do seu maior rival, o Esporte Clube Novo Hamburgo, eram, em grande parte, propietários de eslatabelecimentos fabris e comeciais de Hamburgo Velho. Desse modo, esta elite local sentia a necessidade de possuir um time de futebol próprio, para poder se sentir em pé de igualdade com a localidade vizinha – e rival – de Novo Hamburgo (PRODANOV; MOSER, 2010).

    Com isso, rapidamente começou uma grande rivalidade entre as duas agremiações futebolísticas mencionadas acima, que surgiram como frutos da própia dinâmica industrial que Novo Hamburgo começou a experimentar desde o início do século XX. Com isso, o grande desenvolvimento verificado na cidade a partir deste momento deu ensejo para que, dentro da esfera futebolística, existisse também um grande desenvolvimento, especialmente dessa competição que ocorria entre os dois clubes.

    Desde sua emancipação, a grande disputa futebolística de Novo Hamburgo traduziu-se nas partidas disputadas entre o ECNH e o FBC Esperança. Esta intensa rivalidade encontrava grande repercussão na imprensa da época. A disputa entre os dois clubes surgia, em muitos momentos, como o assunto desportivo de maior relevância desse cenário na cidade. Mesmo que houvesse espaço para o noticiário esportivo das outras agremiações do jogo da bola da cidade e da região, o grande destaque sempre era dado às partidas disputadas e atividades sociais do ECNH e do FBC Esperança (PRODANOV; MOSER, 2010). Esta dicotomia espacial que perdurou em Novo Hamburgo neste período, encontrava também ressonância nas situações, que ocorriam dentro deste processo de disputa que ocorria entre os dois clubes. Nos domingos em que ocorriam os jogos, muitos torcedores mal conseguiam almoçar, tal era a movimentação causada por este jogo na cidade.

    Além disso, o futebol ajudou a criar e desenvolver muitos vínculos de identidade em Hamburgo Velho, local tradicional e inicial do núcleo de ocupação e colonização alemã e na área central da cidade, chamada de Novo Hamburgo, que se configurou como a nova área de expansão formada por grupos mais recentes de colonização, sendo esses os dois grandes polos de desenvolvimento do município de Novo Hamburgo no início do século XX (PRODANOV; MOSER, 2009).

    No contexto de organização social e identitária a que as comunidades de origem germânica se propunham, os clubes sociais de tiro, de canto e música e de esportes eram muito fortes e foram instituídos já na origem e formação das vilas e cidades, juntamente com as igrejas e as escolas, como elementos reforçadores dessa identidade teuto-brasileira. Desde 1824, esse movimento foi intenso e, ao longo de todo o século XIX, dezenas de clubes foram surgindo e multiplicando-se entre os alemães e seus descendentes, na lógica da etnicidade germânica (PRODANOV; MOSER, 2010).

    Além destes aspectos já mencionados, o futebol possui um componente de paixão coletiva e fez uma rápida transposição para as massas, assim como foi um elemento que marcou alguns espaços e territoriedades, estilos de vida, expressão de grupos sociais, econômicos e mesmo étnicos. Como observou Michel de Certeau (1994), esses territórios urbanos ou bairros e até mesmo ruas, foram pródigos em induzir um estilo de vida e comportamento, pois, para o autor existia “[...] uma arte de conviver com parceiros (vizinhos, comerciantes) que estão ligados a você pelo fato concreto, mas essencial, da proximidade e da repetição” (DE CERTEAU, 1994, p. 39). O espaço e a territoriedade, ou seja, o bairro e a localidade são “o lugar praticado”, ou seja, implica em ação dos sujeitos históricos que circulam, moram, trabalham, vivem o bairro e a localidade na sua essência (DE CERTEAU, 1994).

    No contexto espacial da cidade de Novo Hamburgo e seu bairro de Hamburgo Velho, o futebol mostrou-se como um elemento de reinvenção das práticas de lazer, como bem observou Francisco Ortega (2006), esse valor que se forma da sociabilidade, da política e da convivência e nesse espaço “[...] a amizade constitui uma alternativa às velhas e rígidas formas de relação institucionalizadas, representado igualmente uma saída ao dilema entre a saturação da relação, surgidos da dinâmica da modernidade, e uma solidão ameaçadora” (ORTEGA, 2006, p. 56). Além disso, o futebol ajudou a criar e desenvolver muitos vínculos identitários em Hamburgo Velho, local tradicional e inicial do núcleo de ocupação e colonização alemã e na área central da cidade, a nova área de expansão formada por grupos mais recentes de colonização, sendo esses os dois grandes polos de desenvolvimento da cidade de Novo Hamburgo no início do século XX.

    No que concerne aos estudos relacionados à identidade, pouco se explora esse campo teórico relacionado ao futebol no Rio Grande do Sul, especialmente em áreas do interior do Estado. Além disso, existem certos fenômenos locais que fizeram que o futebol tivesse algumas características específicas e que ele se formasse de forma muito distinta nas várias regiões do país. Entretanto, percebe-se que vários elementos apresentam uma certa singularidade e regularidade dos fenômenos, pois segundo Leonardo Pereira (2000), que evidenciou em seu trabalho sobre o futebol no Rio de Janeiro nas décadas de 1920-1930, e que pode ser transposto para o caso de Novo Hamburgo, onde alguns vínculos identitários se formaram diferentemente, podendo estes ocorrer através da geografia da cidade, dos bairros, da fábrica, da classe social e, mesmo pela etnia.

    Este processo de formação podia ocorrer de forma dupla, ou seja, entre bairro e etnia ou bairro e fábrica, ou ainda, bairro e classe social, mas o componente territorial esteve sempre presente na formação das singularidades e das identidades relacionadas aos clubes de futebol. Além disso, esse vínculo de identidade foi flexibilizado, na medida em que mudavam os cenários, as necessidades e as oportunidades dos grupos e dos clubes de futebol (PEREIRA, 2000). A criação desses tipos de vínculos, por outro lado, auxiliou também no fomento de uma rivalidade entre as duas localidades mencionadas acima, já que essa tensão identitária que a atividade futebolística auxiliou a fomentar podia ser percebida com clareza através da rivalidade futebolística entre clubes.

    Havia uma profunda cisão e disputa entre os dois clubes e localidades, prejudicando até mesmo o comércio entre essas regiões do município. Essa disputa que existia entre os dois bairros que hamburguenses ocorria desde antes a emancipação do município engendrava e reforçava a rivalidade futebolística na cidade, tomando muitas vezes um ar burlesco (PRODANOV; MOSER, 2011a).

    Já nas páginas do jornal O 5 de Abril, a disputa entre os dois clubes surgia em muitos momentos como o assunto desportivo de maior relevância desse cenário no município. Mesmo que houvesse espaço para o noticiário esportivo das outras agremiações de futebol da cidade e da região, o grande destaque sempre era dado às partidas disputadas e atividades sociais do ECNH e do FBC Esperança.

    Nesse cenário de rivalidade futebolística que se desenhava em Novo Hamburgo neste período, também é possível destacar a clara definição espacial entre os clubes. O ECNH, no periódico analisado para este trabalho, era citado como um clube que iria jogar na “Vizinha localidade” de Hamburgo Velho, como se tratasse de outra cidade, e não de um bairro de Novo Hamburgo, numa alusão à divisão territorial e simbólica que existia entre as localidades de Novo Hamburgo e Hamburgo Velho, até pelo menos a década de 1960 (PRODANOV; MOSER, 2011a).

    Além disso, existiam certos fenômenos locais que fizeram que o futebol tivesse algumas características específicas e que ele se formasse de forma muito distinta nas várias regiões do país. Entretanto, percebe-se que vários elementos apresentam certa singularidade e regularidade desses fenômenos, como apontou Pereira (2000), que evidenciou em seu trabalho sobre o futebol no Rio de Janeiro nas décadas de 1900-1930, e que pode ser transposto para o caso de Novo Hamburgo, onde alguns vínculos identitários se formaram diferentemente, podendo estes ocorrer através da geografia da cidade, dos bairros, da fábrica, da classe social e, mesmo, pela etnia.

Considerações finais

    O futebol, desde a sua chegada ao Brasil em finais do século XIX, transformou-se em um dos elementos mais importantes de mudança de algumas das relações societárias brasileiras. Dessa forma, o jogo da bola também engendrou no país a mudança de como os brasileiros se percebem e de como a nação é percebida por estrangeiros, criando assim as bases de uma identidade nacional mais consistente, transformando-se assim numa manifestação de cultura de massa brasileira por excelência, juntamente com o carnaval e as diferentes festas populares que ocorrem no país. Essa identidade mais coesa, no caso brasileiro, foi fruto das manifestações culturais populares que se elaboraram em solo brasileiro desde o seu processo de colonização através do encontro e da mescla de tradições, ritos e sociabilidades entre os colonizadores portugueses e os diferentes povos nativos brasileiros.

    No Rio Grande do Sul, a presença acentuada dos teuto-brasileiros na formação dos times de futebol fez com que os afrodescendentes demorassem mais a aparecer nos principais clubes da capital sul-riograndense, contrariamente ao que já se verificava no Rio de Janeiro e São Paulo. A “fragmentação” da identidade étnica dos times do Rio Grande do Sul retardou-se em cerca de dez anos em relação ao centro do país.

    Já na cidade de Novo Hamburgo, recorte espacial deste trabalho, ocorreu um processo semelhante ao verificado na capital do Estado, pois os times locais mantiveram-se, durante o período delimitado para este trabalho, excludentes àqueles que não possuíam relação com a identidade a que a cidade já se propunha, qual seja: negros, pessoas de origem social mais baixa, os não-descendentes de alemães.

    Nesse panorama, o processo de formação da identidade em Novo Hamburgo, que aparece com bastante consistência nas páginas do periódico que serviu de base para a análise deste trabalho, o semanário O 5 de Abril, possuiu como bases, além da questão étnica e da germanidade, o expressivo crescimento industrial que se verificava na cidade desde antes a sua emancipação com seu município-mãe, São Leopoldo, ocorrida em 1927.

    Cabe aqui destacar também que, em ambos os clubes de futebol ligados aos teuto-brasileiros, a figura do “outro”, que consiste no afro-brasileiro e nas pessoas de origem econômica mais humilde, era inexistente dentro da fonte impressa analisada neste trabalho. Nesse sentido, não eram admitidas, nos quadros dos principais times hamburguenses de então, pessoas que se encaixavam nesses perfis étnicos e sociais, como sócios ou como atletas.

    A questão étnica e a participação, ou não, do negro no futebol de Novo Hamburgo reproduz o padrão que se formou em todo o Brasil e no Rio Grande do Sul, ou seja, a formação de clubes e ligas separadas e a gradual incorporação do elemento negro no futebol. Essa dualidade foi muito sentida nas regiões de imigração europeia no Rio Grande do Sul, especialmente nas áreas alemãs, como no caso específico de Novo Hamburgo.

    Tendo em perspectiva a análise elaborada para esta pesquisa, não se pode elaborar uma compreensão abrangente da formação da identidade de Novo Hamburgo sem contemplar o desenvolvimento do jogo da bola nesse município. Da mesma maneira, esse processo de percepção necessita que diferentes fatores sejam observados em conjunto, como os aspectos políticos, econômicos, étnicos, sociais e simbólicos que compuseram o projeto identitário local nos primeiros anos da emancipação dessa localidade.

    Evidentemente, o jogo da bola em Novo Hamburgo não se configura no único componente possível de análise para a compreensão da formação da identidade local hamburguense, visto que essa operação foi calcada em marcos de referência simbólica, como, por exemplo, a modernidade a que a cidade se propugnava, através de sua expressão econômica. Outro fator que também ganha consistência nesse processo consistiu na busca de uma diferenciação que o município de Novo Hamburgo efetuou em relação ao seu município-mãe, São Leopoldo. Dentro de um espectro mais amplo, estas questões fornecem elementos, em um sentido mais amplo, para a melhor compreensão da dinâmica identitária que ocorreu na cidade, através da análise das suas distintas relações sociais e culturais.

Notas

  1. Este periódico circulou de 1927 a 1962, foi o principal veículo de comunicação impressa da cidade de Novo Hamburgo durante o período de existência, e, no seu espaço destinado à crônica esportiva da cidade e da região do Vale do Rio dos Sinos e também destinou um destacado espaço às atividades esportivas na cidade e na região do Vale do Rio dos Sinos, através da seções Notas Sportivas e Noticiário (BEHREND, 2002).

  2. Para um melhor entendimento acerca da trajetória histórica e da importância do futebol dentro do contexto de Novo Hamburgo e do Rio Grande do Sul, ver Prodanov e Moser (2009; 2010; 2011a; 2011b), nos quais analisam-se a atividade futebolística em espaços locais e regionais, assim como a maneira pela qual os meios de comunicação impressos assumem uma dimensão importante enquanto fontes de consulta, como, por exemplo, o semanário hamburguense O 5 de Abril, como será visto com mais profundidade no terceiro capítulo desse texto.

  3. Peter Burke (2004) traz considerações importantes acerca do hibridismo cultural, em que o autor mostra como essa temática está sendo vivamente discutida em diferentes disciplinas do conhecimento, como será visto a seguir.

  4. Neste trabalho, Anderson (1993, p. 68) indica que “El nascimiento de las lenguas vernáculas administrativas [francês, inglês, castelhano, etc.] antecedió a las revoluciones de la imprenta e la religión del siglo XVI y por lo tanto debe considerarse (por lo menos inicialmente) como un factor independiente de la erosión de la sacra comunidad imaginada” – “O nascimento das línguas vernáculas administrativas [francês, inglês, castelhano, etc.], antecedeu-se às revoluções da imprensa e da religião do século XVI e, portanto, deve ser considerada (ao menos inicialmente) como um fator independente da erosão da sacra comunidade imaginada”. Dessa forma, as línguas modernas auxiliaram a transformar o conceito de comunidade imaginada, elaborado por este autor, e auxiliam a mudar o rumo da formação da identidade moderna.

  5. Todavia, uma das críticas ao pensamento freyreano se exemplifica na maneira elitista pela qual o teórico aborda as questões do preconceito racial, bem como o abrandamento excessivo, em suas obras, das crueldades ocorridas durante a escravidão brasileira (FRAGA, 2009).

  6. Pierre Bourdieu (1998) autor traz a idéia de que, nas relações societárias, as negociações simbólicas consistem em importantes estratégias para a dinâmica social.

Referências

  • ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexiones sobre el origen y la difusión del nacionalismo. México, D.F. Fondo de Cultura Económica, 1993.

  • BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 2007.

  • BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

  • BUCHMANN, Ernani. Quando o futebol andava de trem: memória dos times ferroviários brasileiros. Curitiba: Imprensa Oficial, 2002.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 177 | Buenos Aires, Febrero de 2013
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