Necessidades de familiares de crianças com necessidades educacionais especiais em relação ao seu processo de inclusão escolar Las necesidades de los familiares de los niños con necesidades educativas especiales en relación con su proceso de inclusión escolar |
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*Terapeuta Ocupacional, Doutora em Educação Especial Docente Adjunto Nível III do curso de graduação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos. Docente do Programa de Pós-Graduação em Gestão da Clínica - Mestrado Profissional **Estudantes do quarto ano de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos, participantes do projeto de extensão Proex - UFSCar |
Patrícia Carla de Souza Della Barba* Rafaela Mateussi Guedes** Sthefani Ferreira** Graziela Regina Sogumo Kurauchi** (Brasil) |
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Resumo A parceria com o campo da educação tem permitido ao terapeuta ocupacional a realização de ações voltadas ao cotidiano escolar e a proposição de dispositivos que possibilitem a efetiva inclusão das crianças com Necessidades Educacionais Especiais (NEE). A intervenção com os alunos e a equipe escolar (coordenadores, professores, inspetores de alunos) permite redimensionar a prática dos profissionais, contribuindo com novas posturas sobre as ações que se desenvolvem na rotina escolar. Pretendendo ampliar a atuação da Terapia Ocupacional na área de Educação, a Consultoria Colaborativa na escola realiza ações diretamente junto à tríade criança, família e equipe escolar, possibilitando trabalhar com a inclusão escolar em uma forma de parceria. Os objetivos do presente trabalho consistem em apresentar os resultados de um levantamento sobre as necessidades de mães quanto à inclusão escolar de seus filhos, como parte de um projeto de extensão; proporcionar uma discussão sobre a Consultoria Colaborativa e a Terapia Ocupacional e sobre a formação de alunos de graduação em Terapia Ocupacional para atuarem no referido tema. Metodologia: A fim de traçar um perfil da população-alvo e do campo em que pudesse ser inserido o projeto de consultoria colaborativa, foi aplicado um questionário com as mães que aguardavam o atendimento de seus filhos na Unidade da Criança situada na Unidade Saúde Escola (USE/UFSCar). O questionário contemplou os seguintes aspectos: tipo de deficiência da criança; se está matriculada em escola regular; se a idade da criança é compatível com a sala de aula em que está inserida; vinculo da mãe ou responsável com a escola; dificuldades que os responsáveis enfrentam ou já enfrentaram para inserir o filho na escola regular; obstáculos físicos e sociais encontrados; dúvidas sobre os direitos à inclusão escolar da criança; demandas da mãe ou responsável em relação à escola e interesse da escola em receber a consultoria colaborativa oferecida pela terapia ocupacional. Resultados: Foi constatado que a maioria das crianças (75%) estava matriculada e freqüentava a escola de ensino regular; 68,75% estavam inseridas nas séries adequadas à sua idade; 37,5% das mães entrevistadas relataram ter sofrido dificuldades para matricular seu filho na escola regular e todas as entrevistadas demonstraram interesse para a intervenção da terapia ocupacional junto à escola de seus filhos. Conclusões: Embora a maioria das crianças estivesse matriculada em escolas de ensino regular, nem sempre havia o suporte de um profissional especializado para conduzir a efetiva inclusão escolar da criança, papel que poderia ser desempenhado pelo terapeuta ocupacional. Sendo assim o presente estudo apontou a necessidade de expansão de ações voltadas ao processo de mediar à inclusão escolar de crianças com deficiência com foco na consultoria colaborativa, com o devido suporte à equipe escolar, familiares e alunos. Unitermos: Terapia Ocupacional. Educação especial. Ensino. Consultoria colaborativa.
Trabalho original apresentado como resumo completo no XII Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional e IX ongresso Latino Americano de Terapia Ocupacional, outubro de 2011. Associação Paulista de Terapia Ocupacional.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Atualmente há um respaldo legal que prevê a inclusão escolar de crianças com necessidades educacionais especiais, entretanto, muito há o que se fazer para que a lei seja efetivada. Alguns autores debatem sobre as falhas encontradas, como por exemplo as ações cotidianas escolares, porém sem atenção e o cuidado necessários para realizar uma inclusão efetiva de seus alunos (Rocha et al., 2003; Jurdi, Brunello e Honda, 2004; Jurdi e Amiralian, 2006 apud Della Barba e Minatel, 2012, no prelo).
O artigo 58 da lei 9394/96 (Brasil, 1996) prevê que todas as crianças com necessidades educacionais especiais sejam preferencialmente matriculadas em escolas de ensino regular, tendo direto quando necessário a serviço especializado. E segundo o artigo 59 da mesma lei, a toda criança com necessidades especiais são garantidos currículos, métodos, técnicas e recursos educativos assim como terminalidade especifica quando necessária, capacitação dos profissionais da escola e acesso igualitário aos benefícios previstos para o respectivo nível de ensino regular.
Autores apontam que a ação da Terapia Ocupacional (TO) na educação permite pensar em práticas mais efetivas que contemplem atividades do cotidiano escolar e as relações que ali se estabelecem, tornando assim possível a interface saúde – educação. (Jurdi, Brunello e Honda, 2004).
Segundo Munguba (2007), a atuação do terapeuta ocupacional no espaço escolar inclui a informação e sensibilização da família, escola e comunidade. A autora aponta que estas informações compreendem temas do campo de conhecimento da Terapia Ocupacional, como especificidades do desenvolvimento infantil, a importância do fazer humano e da autonomia, aprendizagem, acessibilidade, ergonomia e oportunidades de integração social.
A parceria com o campo da educação tem permitido a adequação de ações voltadas para o cotidiano escolar. O objetivo do terapeuta ocupacional na escola será propor dispositivos que possibilitem uma real inclusão das crianças e, pela intervenção com alunos, professores e técnicos, "redimensionar a prática dos profissionais, contribuindo com novas posturas sobre as ações que se desenvolvem no dia a dia da escola" (Jurdi, Brunello e Honda, 2004). Trata-se de um trabalho a ser desenvolvido em parceria com educadores, alunos, pais, comunidade e equipe de apoio (outros profissionais da saúde), por meio da aplicação de ações relacionadas à orientação dos professores quanto às particularidades de cada aluno e projetos que objetivam a sensibilização da comunidade escolar para a superação de preconceitos que se constituem como barreiras para a inclusão.
A consultoria colaborativa pode ser definida como um processo no qual um consultor treinado trabalha em uma relação igualitária, não hierárquica, com outros profissionais, pais e/ou responsáveis auxiliando no processo de tomada de decisões e na implementação de ações dentro do interesse educacional dos alunos. A meta é encontrar caminhos para garantir o sucesso de qualquer aluno na educação regular e sua efetividade depende da comunicação honesta e autêntica do consultor (Kampwirth, 2003; Trevisan e Della Barba, 2012).
A Consulta Colaborativa tem sido descrita como uma intervenção que pode ser realizada nas escolas e que coloca em debate a prática e os saberes da Terapia Ocupacional, caracterizando um processo interativo e dinâmico de colaboração, trabalho em equipe para identificar necessidades e planejamento de ações (Kampwith, 2003; Trevisan e Della Barba).
Com a Consultoria Colaborativa é possível observar a ação da Terapia Ocupacional (TO), utilizando propostas para a ampliação do espaço de intervenção, fazendo uso de dispositivos que buscam a expansão social, a autonomia e melhora da qualidade de vida de indivíduos que apresentam dificuldades de inserção e participação social (Jurdi, Brunello e Honda, 2004).
A atividade de extensão Consultoria Colaborativa na inclusão escolar de crianças com transtornos de desenvolvimento - Proposta de Atuação da Terapia Ocupacional foi financiada pela Pró-Reitoria de Extensão – PROEX e desenvolvida no período de 2009 a 2011 na Universidade Federal de São Carlos pela primeira autora do presente trabalho e pretendeu ampliar as ações da Terapia Ocupacional na área de Educação. As ações da Consultoria Colaborativa visam favorecer a melhoria da qualidade da atenção às crianças com transtornos do desenvolvimento e são realizadas diretamente com a tríade criança, família e equipe escolar, possibilitando trabalhar com a inclusão escolar em uma forma de parceria, favorecendo as relações que podem beneficiar a inclusão da população infantil.
O projeto de extensão pretendeu realizar a consultoria colaborativa embasada nas leis que garantem o direito de freqüentarem a escola de ensino regular as crianças que apresentam transtorno no desenvolvimento.
As atividades eram realizadas tanto no âmbito da Unidade Saúde Escola (USE/UFSCar) como nas escolas que as crianças freqüentam. As atividades realizadas na USE envolviam o atendimento em Terapia Ocupacional às crianças e orientações com seus familiares, utilizando procedimentos e recursos próprios da Terapia Ocupacional. As atividades realizadas nos espaços escolares visavam à discussão e implementação de ações com a equipe escolar (coordenadores, professores, inspetores de alunos e outros), além de adaptações de materiais e mobiliário, recursos de tecnologia assistida, aplicação de estratégias para a flexibilização do currículo, discussão de objetivos em comum para a efetiva inclusão escolar da criança com necessidades educacionais especiais e grupos de discussão de casos.
Sendo assim, esse projeto de consultoria colaborativa objetivava auxiliar a inserção no ensino regular de crianças que apresentam algum transtorno de desenvolvimento, realizando as intervenções necessárias para um melhor desempenho desta criança no seu ambiente escolar.
Para que fosse possível traçar um perfil de crianças e do campo em que pudesse ser inserido o projeto de consultoria colaborativa, foi realizada a aplicação de um questionário com as mães que aguardavam o atendimento de seus filhos na sala de espera da Unidade da Criança (USE/UFSCar).
Objetivo
São objetivos do presente trabalho: apresentar os resultados de um levantamento sobre as necessidades de mães quanto à inclusão escolar de seus filhos, como parte de um projeto de extensão; proporcionar uma discussão sobre a Consultoria Colaborativa e a Terapia Ocupacional bem como a discussão sobre a formação de alunos de graduação em Terapia Ocupacional para atuarem no referido tema.
Metodologia
A fim de traçar um perfil da população-alvo e planejar as ações de um projeto de extensão com foco na consultoria colaborativa na inclusão escolar, foi elaborado e aplicado um questionário, composto por perguntas diretas às mães que se encontravam na sala de espera da Unidade da Criança (USE-UFSCar). Os dados levantados foram anotados para posteriormente serem compilados. O questionário aplicado contemplou os seguintes temas: a deficiência da criança; frequência à escola; tipo de ensino (regular ou privada); se a criança está inserida ao ano correspondente à sua idade; o vínculo entre família e escola; as demandas apresentadas, como por exemplo: obstáculos físicos; duvidas mais frequentes e a disponibilidade, segundo indicação do responsável pela criança, da escola em receber a consultoria colaborativa.
O questionário foi aplicado com as mães ou responsáveis de crianças com necessidades especiais que estavam em idade escolar e que recebiam tratamento na USE, enfatizando o levantamento das necessidades sobre a inclusão escolar de seus filhos.
Foram entrevistados 17 mães e/ou responsáveis. Dentre elas, sete com filhos do sexo feminino e dez do sexo masculino, com idade ente 3 e 15 anos de idade.
Resultados
Dentre as necessidades especiais levantadas foram encontrados: dois casos de distúrbio neuromotor; seis casos de paralisia cerebral; um caso de deficiência visual (DV); uma criança acometida por acidente vascular encefálico (AVE); dois com hidrocefalia; um com mielomeningocele; dois com refluxo gastroesofágico; um com microcefalia; um com Síndrome de Down e seis com deficiência motora, dentre estes 35,30% (6) tem mais de uma deficiência.
Foi constatado que 94,12% (16) freqüentam a escola. Dentre os que freqüentam a escola 75% (12) freqüentavam ensino regular – sendo que 16,7% (2) estudavam em escolas particulares - e 25% (4) escola especial. Contatou-se que 31,25% estavam inseridos em salas incompatíveis com a idade.
Quando colocado em questão a dificuldade da inclusão escolar, 37,5% (6) dos entrevistados responderam que tiveram algum tipo de dificuldade. Citaram como principais dificuldades: a adaptação da criança no contexto escolar, o preconceito sofrido, o despreparo dos profissionais para lidar com a criança que apresenta alguma deficiência e a falta de informações sobre a inclusão escolar.
Das mães entrevistadas, 68,75% (11) indicaram que a escola teria interesse em receber apoio de profissionais e informações quanto à inclusão das crianças.
Com base no questionário aplicado, o projeto de extensão traçou a meta de oferecer suporte para as famílias e escolas que se interessarem pelo tema, com o objetivo de melhorar a qualidade da inclusão escolar dessas crianças que apresentavam transtorno no desenvolvimento. Os resultados são ilustrados na Tabela 01.
Tabela 01. Resultados da aplicação do questionário sobre as necessidades de familiares de crianças com NEE em relação à inclusão escolar
Discussão
A Terapia Ocupacional (TO) deve se incorporar às discussões sobre educação inclusiva e refletir sobre sua atuação na escola regular. Tem-se observado que cada vez mais a TO tem revelado o potencial de sua atuação em diferentes contextos de desempenho, principalmente no contexto escolar. Nesse ambiente o terapeuta ocupacional pode atuar como facilitador da relação escola-aluno-família, propiciando o desenvolvimento e a inclusão de todas as crianças.
O trabalho em parceria entre professores, terapeutas ocupacionais e outros serviços de apoio aos alunos com necessidades educacionais especiais tem sido considerado fundamental no sistema educacional e vários estudos apontam para o trabalho colaborativo entre o terapeuta ocupacional e o professor.
A atuação em um projeto de extensão universitária voltado às necessidades de familiares e equipe escolar relacionadas à inclusão tem mostrado que quando a equipe escolar recebe suporte técnico para lidar com as particularidades de cada deficiência no seu contexto, melhoram as sensações de frustração e impotência diante das dificuldades apresentadas; quando a informação é compartilhada o professor não se sente sozinho para implementar a inclusão do aluno; cabem nesse processo orientações junto a familiares, discussão e implementação de ações junto à equipe escolar. A abordagem da consultoria colaborativa permite um novo olhar para a atuação da Terapia Ocupacional na área da inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais, na medida em que trabalha em parceria com todos os envolvidos. Alem disso, ao inserir os estudantes de graduação nesse processo percebe-se o enriquecimento de sua formação no sentido de ampliar o conhecimento sobre outras áreas de atuação e o crescente engajamento nas questões reais da clientela atendida.
Referências.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 1996.
DELLA BARBA, P.C.S., MINATEL, M.M. Contribuições da Terapia Ocupacional para a inclusão escolar de crianças com autismo: relato de experiência. Artigo aceito para publicação nos Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 2012 (no prelo).
JURDI, A. P. S.; BRUNELLO, M. I. B.; HONDA, M. Terapia ocupacional e propostas de intervenção na rede pública de ensino. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, v.15 n.1 São Paulo jan./abr. 2004.
KAMPWIRTH, T. J. Overview of school – Based Consultation. In: Colaborative consultation in the schools: effective practies for students with learning and behavior problems. New Jersey: Merril Prentice Hall, 2003. p. 01-39.
MEC. Ministerio da Educação e Cultura. LEI Nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf. Acesso em 24 de agosto de 2011.
MUNGUBA, M. C. Inclusão Escolar. In: CAVALCANTI, A.; GALVÃO, C. Terapia Ocupacional: fundamentação e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. p. 519-525.
TREVISAN, J. G.; DELLA BARBA, P. C. S. Reflexões acerca da atuação do terapeuta ocupacional no processo de inclusão escolar de crianças com necessidades educacionais especiais. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, v. 20, p. 89-94, 2012.
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