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Conhecimento de escolares sobre fatores de 

risco para doenças e agravos não-transmissíveis

El conocimiento de escolares sobre factores de riesgo para enfermedades no transmisibles

 

*Licenciada em Educação Física

**Profª Mestre do Curso de Educação Física

da Universidade da Região da Campanha – Campus Alegrete

(Brasil)

Renata Godinho Soares*

renatasg@yahoo.com.br

Jaqueline Copetti**

jaquecopetti@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Esse estudo teve como objetivo investigar o conhecimento sobre fatores de risco para doenças e agravos não-transmissíveis, em alunos do 8ª ano do ensino fundamental de quatorze escolas da rede estadual do município de Alegrete, RS. A pesquisa foi desenvolvida com 494 alunos, de ambos os sexos, que concordaram de forma voluntária em participar do estudo. Para coleta das informações foi aplicado um questionário com questões fechadas, que avaliou vários desfechos como, diabetes, hipertensão arterial, doenças cardíacas e a relação com fatores de risco: sedentarismo e má alimentação. Entre os resultados, evidencia-se que das oito associações que o questionário permitia, em duas delas a maioria dos alunos responderam em desacordo com a literatura da área. Foi preocupante o número de respostas “não sei” encontradas. Este estudo evidencia a necessidade de maiores esclarecimentos sobre doenças crônicas e os principais fatores de risco comportamentais para os alunos. Demonstrando a necessidade da inserção de atividades relacionadas à saúde e prevenção de doenças nos conteúdos curriculares como previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

          Unitermos: Conhecimento. Adolescentes. Doenças e agravos não-transmissíveis. Fatores de risco.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A cada dia é mais crescente o número de pessoas obesas, diabéticas e em geral com doenças e agravos não-transmissíveis (DANTs). Crianças e adolescentes vem sendo alvo destas doenças, por razões hereditárias, maus hábitos alimentares e por ficar a maior parte de seu tempo sentadas, reforçando assim, os altos índices de sedentarismo.

    A promoção da saúde é o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo. Para atingir um estado completo de bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser vista como um recurso para a vida e não como objetivo de viver (BRASIL, 2002c).

    O ensino de saúde tem sido um desafio para a educação no que se refere à possibilidade de garantir uma aprendizagem efetiva e transformadora de atitudes e hábitos de vida. Garantir ao aluno informações que sustentem a busca pelo conhecimento aprofundado em relação à saúde, garante a sua família e a sociedade onde este está incluso uma melhor qualidade de vida e maior preocupação com seu bem estar físico e mental (BRASIL, 1998).

    A disciplina de Educação Física na escola, por meio dos seus conteúdos, também deve proporcionar ao aluno, conhecimento sobre saúde, boa alimentação, práticas adequadas de atividades físicas. Ao instigar na criança o desejo de se movimentar, estará também, auxiliando na prevenção de inúmeras doenças, estimulando o cuidado com o corpo, e ainda, é possível influenciar nos hábitos da família.

    Doenças como hipertensão arterial, diabetes e obesidade, são comuns, hoje em dia, em adolescentes, principalmente pela falta de prática de atividade física sistemática, por hábitos inadequados na alimentação, por falta de acompanhamento dos pais, ou por seus pais também cultivarem maus hábitos em relação à saúde. O conhecimento sobre os fatores de risco para doenças e agravos não transmissíveis pode ser útil para ajudar a evitar o surgimento das mesmas, podendo também influenciar na busca pelo tratamento, quando esta já está estabelecida. Esse estudo teve como objetivo investigar o conhecimento e alunos do 8º ano do ensino fundamental de escolas da rede estadual de ensino do município de Alegrete, RS sobre os fatores de risco para doenças e agravos não-transmissíveis (DANTs).

Materiais e métodos

    Essa pesquisa de caráter quantitativo e de cunho descritivo foi desenvolvida no ano de 2011, com 494 alunos de 8º ano do ensino fundamental, de quatorze (14) escolas públicas do município de Alegrete, RS.

    As escolas estaduais do município foram visitadas e convidadas a participar da pesquisa, a partir da manifestação de interesse pela direção e professores da escola, foi realizado o contato com os alunos para entrega dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido, que retornaram assinados por um responsável, autorizando a participação dos mesmos na pesquisa.

    O instrumento utilizado foi adaptado de Borges et al. (2009) e tema finalidade de avaliar o conhecimento sobre a influência de dois fatores de risco (sedentarismo e alimentação inadequada) em relação a quatro DANTs (diabetes, hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio (IAM) e obesidade). A definição de certo ou errado para cada resposta baseou-se em artigos de revisão de literatura sobre a associação de cada fator de risco e doença ou agravo, com preferência para revisões sistemáticas e meta-análises. O quadro 1 adaptado de Borges et al. (2009) mostra o que foi considerado correto para cada associação investigada, conforme referências que embasaram tal conclusão.

Quadro 1. Associações entre fatores de risco e morbidades conforme a literatura científica

    Os questionários, depois de revisados e codificados, foram digitados utilizando o programa EXCEL 2003, onde foi criado um banco de dados. Foram realizadas duas digitações a fim de que os possíveis erros fossem detectados e corrigidos. As análises foram realizadas de forma descritiva com médias, percentuais e desvio padrão das respostas encontradas.

Resultados e discussão

    Dos 494 alunos questionados, 269 (54,5%) eram do sexo feminino e 225 (45,5%) do sexo masculino; com média de idade de 13 anos, sendo a mínima 10 e máxima 18 anos, com maior concentração da amostra entre 12 e 13 anos (328 alunos – 66,4%).

    Com base nesta amostra foi possível identificar os seguintes resultados sobre diabetes, hipertensão, obesidade e infarto agudo do miocárdio.

Figura 1. Conhecimento sobre fatores de risco para Diabetes

    Verificou-se que a maioria dos alunos acredita que a má alimentação não há relação com a diabetes o que não é correto afirmar, pois parte de uma boa alimentação a prevenção desta doença. Segundo Hockenberry (2006) o tratamento do diabetes é realizado através de: dieta alimentar; prática de exercícios físicos; monitorização de glicose e cetônicos, insulinoterapia, e educação diabetológica.

    Estudos epidemiológicos recentes mostram fortes evidências que o exercício físico regular associado a uma dieta equilibrada diminui a incidência de diabetes (ACSM, 2000; FLETCHER & LAMENDOLA, 2004; ZINMAN et al., 2004).

Figura 2. Conhecimento sobre fatores de risco para Hipertensão

    É possível observar na Figura 2 que a maioria dos alunos tem conhecimento sobre a associação da hipertensão e os fatores de risco, a falta de atividade física (48%) e a má alimentação (44,5%). A prática regular de atividades físicas se reflete na redução de diversos dos fatores de risco, têm efeitos positivos na qualidade de vida e se relacionam inversamente com o aparecimento de doenças crônico-degenerativas (CDC, 1999; PATE, 1995).

    As evidências acumuladas nos últimos anos mostram que as condutas não-medicamentosas devem ser a estratégia inicial para o tratamento de indivíduos com sobrepeso e hipertensão leve a moderada. Desta forma, modificações no estilo de vida, incluindo exercícios físicos, são recomendadas no tratamento da hipertensão arterial (FUCHS et al., 1993).

Figura 3. Conhecimento sobre fatores de risco para Obesidade

    Na figura 3 destaca-se que para a maioria dos alunos a má alimentação não causa obesidade (41,6%), o que é errado, a má alimentação é uma das principais causas da obesidade, ou seja, esta doença esta diretamente associada com a falta de atividade física. A redução do nível de atividade física e sua relação com a ascensão na prevalência da obesidade refere-se às mudanças na distribuição das ocupações por setores (exemplo: da agricultura para a indústria) e nos processos de trabalho com redução do esforço físico ocupacional; das alterações nas atividades de lazer, que passam de atividades de gasto acentuado, como práticas esportivas, para longas horas diante da televisão ou do computador; e do uso crescente de equipamentos domésticos com redução do gasto energético da atividade, como por exemplo, lavar roupa à máquina ao invés de fazê-lo manualmente (ANJOS, 2001).

    A atividade física é uma área relevante de investigação pela sua relação inversa com as doenças degenerativas, isto é, indivíduos ativos tendem a apresentar menor mortalidade e morbidade por essas doenças (CDC/National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, 1996).

Figura 4. Conhecimento sobre fatores de risco para Infarto (IAM)

    Pelos resultados verificados na Figura 4, a maioria dos alunos tem conhecimento de que a alimentação adequada e a prática de atividade física contribuem na prevenção de infarto agudo do miocárdio. A prática de atividade física é de importante aplicação na prevenção secundária da doença arterial coronariana, o controle dos fatores de risco coronarianos através do exercício visa a melhorar o prognóstico e retardar a progressão de patologias limitantes. Como intervenção isolada, o condicionamento físico pode afetar positivamente alguns dos mais importantes fatores de risco (II Diretriz da SBC, 2000).

    Em um estudo de revisão, desenvolvido por Bauman (2004) onde evidenciou os benefícios que a prática de atividades físicas pode trazer para a saúde, relatando que um estilo de vida ativo pode prevenir o surgimento de várias morbidades, como diabetes, doenças cardiovasculares, doenças mentais, derrame e alguns tipos de câncer. Bem como, Hoehner et al. (2008) evidenciaram em seu estudo de revisão que intervenções educativas realizadas na escola podem tornar os estudantes mais ativos e que, ações nesse campo devem ser estimuladas e fortalecidas.

    Ocorreu ampla variação no conhecimento da associação da alimentação inadequada com as doenças e agravos não transmissíveis, demonstrando à necessidade de se abordar de forma clara a importância da alimentação saudável para saúde. Levando-se em consideração as recomendações da Organização Mundial da Saúde, uma forma de prevenir essas doenças é mantendo uma alimentação saudável, uma vez que doenças como a hipertensão arterial, a diabetes e as doenças coronarianas, estão fortemente ligadas à obesidade e à má alimentação (WHO, 2004).

    Nesse contexto, a escola aparece como espaço privilegiado para o desenvolvimento de ações de melhoria das condições de saúde das crianças, sendo um setor estratégico para a concretização de iniciativas de promoção da saúde, como o conceito da “Escola Promotora da Saúde”, que incentiva o desenvolvimento humano saudável e as relações construtivas e harmônicas (GONÇALVES et al., 2008). Sendo a escola o ambiente propício para o processo educativo, o professor é o membro central da equipe de saúde escolar, pois, além de ter maior contato com os alunos, está envolvido na realidade sócio-cultural de cada discente e possui uma similaridade comunicativa. Devido a esta razão, o trabalho de capacitação e treinamento de professores é uma condição, sensibilizando-os para o engajamento nesse processo educativo.

    Além disso, como afirma Bizzo e Leder (2005) o conhecimento, as atitudes, comportamentos e habilidades desenvolvidas por meio de efetivos programas de saúde em escolas, voltados para a conscientização de que a adoção de hábitos saudáveis trará melhor qualidade de vida, capacitam crianças e jovens para fazer escolhas corretas sobre comportamentos que promovem a saúde do indivíduo, família e comunidade.

    Deve ser ressaltado que é preocupante o número de respostas “não sei” encontradas em todos os fatores de risco com diversas doenças, como pode ser observado nas figuras 1, 2, 3 4. Isto se deve muitas vezes a falta de conhecimento sobre a doença, ou a falta de interesse e atenção ao responder o questionário, o que acaba tornando-se uma limitação do estudo, pois instrumentos de avaliação como questionário com questões fechadas, limitam a possibilidade de aprofundamento sobre o conhecimento dos respondentes.

    Dessa forma fica a sugestão para novas pesquisas, que avaliem este tema de forma mais aprofundada e abrangente. Levando em consideração idades variadas e instrumentos de pesquisa mais flexíveis as diferentes respostas pertinentes ao tema.

Considerações finais

Ao final da pesquisa foi possível verificar que muitos alunos não têm ciência de que a prática regular de atividade física e uma boa alimentação são fundamentais para a vida saudável, e que além de bem estar, a alimentação correta e a prática de atividades físicas previnem várias doenças e agravos não-transmissíveis.

O professor de educação física é parte fundamental do processo de aprendizagem e assimilação de práticas saudáveis dos alunos. Dessa forma, pode partir dele, o estímulo para não só na infância ou adolescência este aluno ter hábitos saudáveis e sim perante toda vida e, além disso, levar este estilo de vida até seus pais, e pessoas mais próximas.

Devem-se desenvolver pesquisas mais aprofundadas sobre o tema, que servirão de suporte para os professores e a escola em geral, bem como ressalta-se a necessidade de avaliação do conhecimento dos alunos em idades diferentes da amostra estudada. E ainda, a necessidade de fornecer aos professores, e em especial aos professores de Educação Física, o suporte de conhecimento necessário para o desenvolvimento de atividades sobre o tema transversal saúde como previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

Referências

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