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A influência dos exercícios aeróbicos na função cognitiva

La influencia de los ejercicios aeróbicos en la función cognitiva

 

*Programa de Mestrado em Educação Física da Universidade

Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT)

Especialista em Fisiologia do Exercício (FIBRA)

Especialista em Educação Física (FACIMAB)

Palestrante em cursos de extensão universitária (LOG Educação Profissional)

**Programa de Mestrado em Educação Física da Universidade

Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT)

Especialista em Educação Física (FACIMAB)

Rodolfo de Azevedo Raiol*

Paloma Aguiar Ferreira da Silva Raiol**

rodolforaiol@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A relação da prática de exercícios físicos com a cognição humana tem sido alvo de estudos recentes. Sobretudo os exercícios aeróbicos têm sido estudados com maior ênfase. Esse estudo trata-se de uma revisão de literatura contendo referências primárias de estudos onde foi avaliada a relação de exercícios aeróbicos com a função cognitiva. Os resultados demonstraram que parece existir uma relação positiva entre os exercícios aeróbicos e a função cognitiva.

          Unitermos: Exercícios aeróbicos. Função cognitiva. Reserva cognitiva.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A relação da função cognitiva com os exercícios aeróbicos tem sido objeto de vários estudos recentes que objetivaram avaliar a confiabilidade dessa correlação, na literatura existem autores que defendem ambas as possibilidades: que os exercícios regulares podem melhorar a função cognitiva (BUCK et al, 2008; LAUTENSCHLAGER et al, 2008; HILLMAN et al, 2006; HILLMAN, CASTELLI & BUCK, 2005; VANCE et al, 2005) e que não existe relação entre exercícios físicos e cognição (AHAMED et al, 2007 & ROSANO et al, 2005). Sendo assim, o objetivo desse trabalho é verificar o que diz a literatura, sobre a relação entre exercícios físicos e cognição.

Revisão de literatura

    Hillman, Snook & Jerome (2003) encontraram resultados positivos após uma sessão de 30 minutos de esteira rolante, onde foram identificados aumentos dos processos neuroelétricos (base do controle executivo) e aumentos da velocidade de processamento cognitivo. Esse estudo demonstra benefícios agudos do exercício aeróbico na função cognitiva. Além de efeitos agudos, os exercícios físicos parecem proporcionar efeitos crônicos na função cognitiva, isso foi demonstrado por Barnes et al (2003) num estudo conduzido com 349 indivíduos saudáveis, estes foram submetidos a exercícios em esteira rolante para mensurar a aptidão cardiorrespiratória e uma examinação Mini-Mental modificada do estado, além de testes de atenção/função executiva, memória e facilidade verbal para avaliar a função cognitiva. Os resultados foram avaliados após um período de Seis anos e mostraram que os indivíduos com melhor aptidão cardiorrespiratória também eram os indivíduos com melhor função cognitiva, o que indica que esses aspectos podem estar estreitamente relacionados. Resultados semelhantes foram encontrados por Colombe et al (2003), os autores examinaram a relação entre aptidão aeróbica e a função cognitiva através de exames de ressonância magnética, os resultados indicaram que os indivíduos que tinham uma boa aptidão aeróbica também tinham a função cognitiva funcionando melhor e mais bem preservada, o que pode indicar que aptidão aeróbica pode exercer um fator protetor na função cerebral, ou seja, uma correlação entre os sistemas cardiovascular e cerebral.

    Além de função protetora ao cérebro que a prática regular de exercícios pode gerar (COLOMBE et al, 2003) corroborando com os estudos feitos por Colombe e sua equipe outros autores como Dik et al (2003) mostraram efeitos crônicos dos exercícios físicos na função cognitiva eles estudaram a associação a atividade física realizada ao longo da vida e a cognição, para isso recrutaram 1241 pessoas com idades entre 62-85 anos e solicitaram que fizessem uma retrospectiva das atividades físicas realizadas quando tinham entre 15-25 anos. Os resultados mostraram que os indivíduos que praticavam atividade física regularmente na juventude tinham uma velocidade de processamento de informação aumentada em relação aos indivíduos que não faziam atividade física regular, esse resultado dá base à hipótese de que se pode desenvolver uma Reserva Cognitiva através da prática regular de exercícios físicos.

    Segundo Weuve et al (2004), a prática regular de exercícios físicos está totalmente ligada a uma melhora da performance cognitiva e também a uma redução do declínio das funções cognitivas com o passar dos anos. Esses autores realizaram um estudo entre os anos de 1986-2003 com 18.766 mulheres utilizando diversos instrumentos de controle das funções cognitivas e da prática de exercícios físicos (questionários, testes de memória, avaliações cognitivas, avaliações de gasto energético dentre outras) e ao final, obtiveram resultados comprovando a eficácia dos exercícios físicos na melhora da função cognitiva e proteção da função cognitiva retardando os declínios naturais do envelhecimento.

    Um indicador utilizado para mensurar a função cognitiva é o Brain-derived neurotrophic factor (BDNF), essa proteína tem importante papel na plasticidade sináptica a nível motor e sensorial (GOMEZ-PINILLA, VAYNMAN & YING, 2008; KLEIM, JONES & SCHALLERT, 2003), dessa forma, existem diversos trabalhos que procuraram estudar os efeitos dos exercícios físicos em relação ao BDNF. Russo-Neustadt et al (2004) e, posteriormente, Ying et al (2008) demonstraram, em ratos, que os níveis de BDNF são aumentados após a realização de exercícios aeróbicos.

    Além dessa influência positiva direta do exercício físico na função cognitiva, ainda podem ocorrer influências indiretas. Datar & Sturm (2006) encontraram correlação entre o baixo desempenho cognitivo e a obesidade em meninas nos primeiros anos escolares (equivale a Educação Infantil no Brasil), sendo assim, como uma das formas de controle do peso corporal mais eficaz é o exercício físico (CHAGAS et al, 2007) o exercício físico evitando ou tratando a obesidade influencia positivamente, mesmo que indiretamente, a função cognitiva.

    Apesar dos vários estudos vistos acima demonstrarem existir uma confiável correlação entre exercícios físicos e função cognitiva existem alguns estudos em que essa correlação não foi provada. Ahamed et al (2007) aplicou testes de desempenho acadêmico e testes de desempenho físico em alunos de dez escolas diferentes e obteve como resultado a manutenção dos níveis cognitivos. Rossano et al (2005) aplicou testes físicos e cognitivos em 3075 indivíduos saudáveis, os resultados não mostraram uma boa correlação entre a cognição e os exercícios físicos. Já o estudo de Coe et al (2006) só encontrou boa correlação entre exercícios físicos e cognição quando os exercícios eram realizados em altas intensidades, as atividades físicas moderadas não mostraram influência no desempenho cognitivo nesse estudo realizado em 214 estudantes.

Conclusão

    Os resultados apontam para a existência de uma correlação positiva entre a prática de exercícios aeróbicos e a melhora da função cognitiva. A grande maioria dos estudos tem demonstrado tal fato, apesar disso, alguns poucos estudos demonstram não ser tão relevante essa relação, entretanto, nesses estudos não houve prejuízo da função cognitiva ou algo que contraindique a realização de exercícios aeróbicos.

Referências bibliográficas

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  • WEUVE, J. et al. Physical Activity, Including Walking, and Cognitive Function in Older Women. The Journal of the American Medical Association. v. 292, n. 12, p. 1454-1461. set. 2004.

  • YING, Z. et al. BDNF-exercise interactions in the recovery of symmetrical stepping after a cervical hemisection in rats. Neuroscience. v. 155, n. 4, p. 1070-1078. jul. 2008.

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