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Reflexão: a importância do esporte na vida de crianças carentes

Reflexión: la importancia del deporte en la vida de los niños carenciados

Reflection: the importance of sport in the life of needy children

 

*Universidade de São Paulo – USP, São Paulo

**Grupo de Pesquisas Interdisciplinares em Sociologia do Esporte – CNPq

(Brasil)

Beatriz de Araujo Antonio*

Marco Antonio Bettine de Almeida* **

marcobettine@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente projeto trás conceitos da qualidade de vida e a relaciona com a educação e infância de crianças carentes do Brasil. A importância da atividade física, da ludicidade, da competição nas atividades também serão abordadas. Entender o possível impacto que a falta de atividade física causa na vida dessas crianças e no seu desenvolvimento. Procurou-se entender a importância da integração de crianças carentes em programas esportivos, e o papel das políticas públicas em prol da promoção do esporte. Resgatar quais as variáveis envolvidas, e por fim buscar uma reflexão sobre a problemática.

          Unitermos: Qualidade de vida. Desenvolvimento. Esporte. Atividade física. Crianças carentes.

 

Resumen

          Los conceptos de diseño presentes detrás de la calidad de vida y se relaciona con la educación de los niños y los niños pobres de Brasil. La importancia de la actividad física, el juego, las actividades de la competencia también se abordarán. Comprender el impacto potencial que la falta de actividad física provoca en las vidas de los niños y su desarrollo. Hemos tratado de comprender la importancia de la integración de los niños de escasos recursos en los programas deportivos, y el papel de las políticas públicas para la promoción del deporte. Canjear las variables involucradas, y en última instancia, buscar un debate sobre el tema.

          Palabras clave: Calidad de vida. Desarrollo. Deporte. Actividad física. Niños Carenciados.

 

Abstract

          The present design concepts behind the quality of life and relates to the education of poor children and children of Brazil. The importance of physical activity, playfulness, competition activities will also be addressed. Understand the potential impact that the lack of physical activity causes in the lives of children and their development. We sought to understand the importance of integration of underprivileged children in sports programs, and the role of public policies for the promotion of the sport. Redeem those variables involved, and ultimately seek a debate on the issue.

          Keywords: Quality of life. Development. Sport. Physical activity. Poor children.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Diante a precariedade nos direitos básicos de alimentação, educação e saúde serão abordadas no presente artigo a atual situação dos jovens brasileiros carentes que não possuem o direito de escolher se irão ou não ser fisicamente ativo. Sabemos da importância da qualidade de vida na rotina das crianças, na qual será influenciada na vida adulta, bem como a relação do esporte com a qualidade de vida. Na prática esportiva visualizamos o papel do lúdico na atividade com contribuição na criatividade, e a competição. A prática de esporte tende a trazer inúmeros benefícios, além do mental e físico. Tende a trazer aprendizados de moralidade, cidadania, disciplina, educação, saúde, além de acrescentar no âmbito de lazer com momentos de prazer.

    No âmbito educacional, visualizamos algumas dificuldades na prática de atividade física nas escolas públicas, entre elas a baixa participação dos jovens nas aulas práticas de educação física, tendo assim reflexo negativo na vida adulta.

    O esporte é entendido como direito das crianças, e isso não é visto na prática. Para melhorar esse quadro é preciso rever os programas de seleção que incluem esses jovens carentes no âmbito esportivo, e reavaliar as dificuldades na gestão e execução desses projetos para obter melhores resultados.

    O quadro atual é que o Estado não oferece o suporte necessário e não atende a demanda populacional. Se tratando dos jovens de risco, a preocupação é ainda maior, uma vez que as chances de se deparar com a criminalidade aumentam. As necessidades dos jovens de periferia, em sua maioria serão superadas se forem entendidas em âmbito real e presente, somente dessa forma prática, obteremos resultados eficazes e satisfatórios (WELLER, 2005).1

    Observamos em estudo que prioriza o atendimento de saúde às crianças em extrema pobreza, na qual o objetivo é protegê-las e oferecer condições dignas de sobrevivência em abrigos na cidade de São Paulo. Nesse estudo foi constatado que é muito oneroso manter os profissionais de saúde nesses projetos e que se o abrigo for à periferia, o atendimento muitas vezes não ocorre, dificultando conseqüentemente o encontro de profissionais voluntários para esse tipo de trabalho. Esse é apenas um exemplo retirado da realidade brasileira (DELGADO; RIBEIRO, 2002).2

    O estudo é de extrema importância uma vez que remete o futuro dos jovens, portando assim contribuição social, além de refletir sobre a atual gestão e execução dos projetos que podem vir a melhorar e conscientizar sobre a importância da atividade física e do esporte, bem como o poder de transformação do mesmo na educação e na vida dessas crianças.

Qualidade de vida

    A qualidade de vida atua em avanços e retrocessos, nota-se em seu contexto ganhos e perdas. Surgem então à necessidade de associação de momentos de crise, evolução, regressão e revolução, valorizando uma percepção mais ampla. Conforme Moreira e Simões:3

    Qualidade de vida significa vivenciar tudo isso ao mesmo tempo, motivo suficiente para realizarmos propostas, em qualquer área do conhecimento humano, que levem em consideração a interdependência de ver, perceber, conceber e pensar.

    Logo, o conceito de qualidade de vida deve ser entendido em sua complexidade. Nas palavras de Moreira e Simões:3 “O desafio maior está em caminharmos na direção de mudar a nossa maneira de pensar, agir e sentir”.

    O tema vem sendo muito discutido e refletido na sociedade contemporânea, devido à rotina desgastante que o cidadão enfrenta, com afazeres como a jornada de trabalho exaustiva, tarefas familiares e diversos eventos, transformando hábitos, e emergindo novos perfis e comportamentos (MOREIRA; SIMÕES, 2001).3

    Por estar presente na sociedade contemporânea, a qualidade de vida é articulada em diversas idéias em considerável abrangência, nas palavras de Moreira e Simões:3

    Qualidade de vida é a palavra presente na contemporaneidade, a qual pode ser articulada com a idéia de condição, de função, de atitude, de posição ou ter outro sentido em conseqüência da abrangência que esse tema possui.

    Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a qualidade de vida possui natureza multifatorial alcançando dimensões como saúde física, nível de independência, relações sociais, meio ambiente, ambiente físico e padrão espiritual. Silva4 afirma que a qualidade de vida deve ser atribuída individualmente, porém seu acesso não depende de escolha individual, e sim de interesses resultantes de necessidades materiais ou ideais. Silva4 ainda acrescenta:

    ...a natureza multifatorial da qualidade de vida e seus vários domínios, vê se que há neles um conjunto de necessidades e que a satisfação das mesmas vai depender do acesso, da qualidade, da quantidade e da sustentabilidade de bens e serviços sociais básicos.

    Segundo Moreira e Simões3, é necessário rever os programas de Qualidade de vida hoje oferecidos, a fim de obter melhores resultados, atentar e exigir uma nova consciência de cultivar o interesse pela vida de outras pessoas, assim: “qualidade de vida é compromisso em aperfeiçoar a arte de viver e de conviver” (MOREIRA e SIMÕES, 2001, p. 25).3

    Weller1 estabelece que qualidade de vida abranja esferas subjetivas e objetivas, considerando valores como educação, saneamento básico, acesso a saúde e outras necessidades precisas para sobrevivência humana, além disso, deve se atentar ao estilo de vida que atinge aspectos sociais, culturais, bem como condições de serviços e bens materiais disponíveis. São inúmeros os aspectos que englobam a qualidade de vida dos indivíduos.

Relação de qualidade de vida e educação-esporte na infância

    Deve se conscientizar que a qualidade de vida possui relação com a educação, Moreira e Simões3 nos fazem refletir que uma não é possível sem a outra. Os autores alertam para a atenção que a qualidade de vida deve conter desde o momento de descoberta da existência do feto, ou seja, cuidados com a mãe, os autores ainda completam:

    Entendo que a qualidade de vida implica o acompanhamento sistemático e detalhado da formação, do crescimento e do desenvolvimento da criança...

    Depara-se a outros problemas relacionados à criança que implicam na qualidade de vida, entre eles, a gravidez precoce devido à falta de informações de relações sexuais, a exploração de mão de obra infantil, resultado na maioria das vezes de pobreza extrema, a escassez de vagas escolares, além de inúmeras doenças conforme ambiente e condições inerentes.

    Os cuidados no desenvolvimento e na educação devem possuir planejamento pedagógico buscando construir de forma saudável a formação e estruturação desses jovens. Como afirma Moreira e Simões3, atravessar cada período específico da vida, em condições normais e satisfatórias, constitui qualidade de vida.

    Na relação esporte-saúde, a prática esportiva produz efeitos diferentes sobre os organismos, logo, estudos afirmam que as manifestações esportivas possuem impactos e influências sobre os sujeitos, podendo ser positivo ou negativo. Contudo a literatura declara que em sua maioria produz efeitos positivos. Nas palavras de Weller:1

    O simples fato de se movimentar não garante boa saúde, porém se essa forma de exercício for adaptada, dirigida e adequada às capacidades, limites e necessidades, pode colaborar para melhoria dos seus quadros salutares.

    Na esfera educativa, a atenção deve se voltar ao sentido da prática, reconhecendo que tal fenômeno tem capacidade para transmitir valores morais, podendo esse buscar direções ora positivas, como cooperação e autovalorização, ora negativas, tais como segregação e comparações desnecessárias. Outra questão ainda no âmbito educativo é o poder de transmissão de valores e princípios do profissional de Educação Física, abordagens como a convivência positiva, cuidados com a saúde e respeito ao adversário devem ser trabalhados com atenção (WELLER, 2005).1

    Sendo assim, o esporte para ter efeito na qualidade de vida do sujeito, precisa ser adequado, a fim de atingir as questões propostas. Em adição, a espetacularização do esporte não deve ser banida, todavia é necessário certo cuidado uma vez que o esporte se torna cada vez mais comercializado e conseqüentemente caro, podendo assim perder de vez o sentido real.

    Logo, o fenômeno esportivo deve permanecer ao alcance de todos, independentes de sua finalidade, buscando não perder “no corpo da educação física, um componente da cultura corporal do homem”. O esporte na sociedade contemporânea é um fenômeno social, que transforma e possui um poder implacável, uma vez que movimenta o bem estar, a saúde, a educação, o convívio social, o mercado, o lazer e o entretenimento (WELLER, 2005).1

A importância da atividade física na infância

    A atividade física esteve presente na vida da espécie humana, desde atividades ligadas a sobrevivência, como caça e pesca, no entanto, com a Revolução Industrial no séc. XIX, o crescimento e deslocamento para zona urbana trouxeram mudanças, como a diminuição da prática de atividades físicas. Com a urbanização, a sociedade pós-industrial fez com que as crianças perdessem espaços de lazer como ruas nas quais eram praticados “jogos infantis”, onde praticavam mais atividade física, aumentando assim as horas de lazer em internet, videogames e televisão. O aumento da violência nas ruas contribuiu para piora desse quadro, além do recebimento de veículos automotores nas cidades. “Logo, a rotina inadequada em atividades físicas altera e interfere nas possibilidades de desenvolvimento da criança” (FARIA; BROLO et al, 2010).5

    Outro elemento a ser observado nas atividades físicas, é a importância da atividade lúdica, sendo observada como mediadora entre conhecimento informal e formal do universo cultural da criança, sendo percebidos benefícios como progressos no campo moral, ampliação das relações sociais, além de efeitos positivos na motricidade, afetividade, sensibilidade e estética.

    O desenvolvimento da criança deve partir do brincar no momento de se mover, conforme Faria, Brolo et al5 “Através do brincar, movimentando-se a criança explora, descobre, aprende, conhece a si e ao outro, experimenta situações diferentes”. Estudos constatam que o ambiente tem valor de interação no processo de desenvolvimento.

    Nuenfeldt e Canfield6 entendem que na educação física o esporte-prática como atividade, contém características competitivas. O mesmo possui compromisso na formação dos jovens bem como em contexto escolar. Conforme dimensões do esporte-prática encontramos 4 princípios, são eles:

  • Princípio cinestésico: ilustra a importância do movimento na vida do homem, bem como o combate ao sedentarismo.

  • Principio lúdico: como movimento valorizado a partir de caráter espontâneo e lúdico, sendo o jogo uma atividade voluntária, possuir sentido em si mesmo, possuir regras, ser um mundo a parte e gerar dúvida quanto ao resultado. Nas palavras de Nuenfeldt e Canfield:6 “O jogo oferece contribuição ao desenvolvimento da expressão corporal, estabelecimento de relações sociais, desenvolvimento da personalidade e também melhoramento do sistema fisiológico. A função principal do lúdico é propiciar movimentos agradáveis, de prazer e diversão aos participantes sem o compromisso e preocupação de vencer”.

    • Outra interpretação de Nuenfeldt e Canfield:6 “A manifestação lúdica resgata a criatividade, a ludicidade na qual o esporte é composto”.

  • Princípio agonístico: trás características da competição, por seu caráter motivante. A competição esta presente na sociedade, logo a criança que aprender a lidar com essa realidade através da competição esportiva, saberá lidar melhor com as situações a serem enfrentadas na realidade social.

    • A competição é elemento contribuinte do esporte. Logo, deve se trabalhar esse fundamento de maneira positiva nos participantes. Dentre outros cuidados com a competição, está o do aprendizado, que ao jogar estamos sujeitos a ganhar ou perder, assim como em outras dimensões da realidade, ora social, ora familiar, ora escolar.

    • Os responsáveis por incluir as crianças em atividades físicas e esportivas devem se atentar aos ensinamentos de competição, em especial, uma vez que percepções transmitidas em âmbito esportivo escolar são transformadas em valores na sociedade. Conforme Nuenfeldt e Canfield:6 “A competição que é incentivada em demasia, pode comprometer as possibilidades educativas e o prazer da prática... pois se a cobrança pela vitória for elevada, os alunos podem esquecer que os adversários são seus colegas e possivelmente desrespeitar as regras”. Outra contribuição: “É preciso uma dosagem de competição saudável, sendo que não ponha em risco o princípio lúdico e se torne atividade atrativa”.

  • Princípio ético: os profissionais de educação física escolar devem também se atentar a formação moral, ética, cidadã, idealizando a construção da personalidade. Estabelecendo uma moral esportiva. Outra contribuição do profissional para com a criança é: “... através do esporte, aprende-se a dialogar com a vida, com o outro ser humano... respeitando o outro e seus desejos”.

    Em relação à prevenção de doenças, a prática de exercícios físicos previne osteoporose, afecções musculoarticulares e câncer, além de reduzir chances de distúrbios de sono e doenças mentais como a depressão e ansiedade. Alves e Sampaio7 afirmam: “... além disso, a má atividade física é o fator de risco que apresenta maior prevalência de doença crônica degenerativa”.

    Estudos científicos apontam três vantagens de crianças fisicamente ativas: crianças mais saudáveis, os efeitos são transferidos a vida adulta e há manutenção do hábito na vida adulta, sendo assim, se tornam adultos fisicamente ativos, evitando custos com doenças. Os responsáveis têm papel fundamental em incentivar a prática de esportes, bem como diminuir o tempo de lazer em eletrônicos e televisão. Outra contribuição de Alves e Sampaio:7 “Dentre outros benefícios encontra-se elevação da auto estima, suporte na prevenção do tabagismo, da dogradição e do alcoolismo”.

Barreiras da Educação Física em escolas públicas

    As escolas públicas brasileiras no geral, assim como professores e pais tem que incentivar a prática de esportes, a fim de advir um jovem saudável. A educação física escolar necessita de uma cobrança com mais peso, especialmente nas escolas públicas, onde por motivos irrelevantes, e por inúmeras vezes não há participação nas aulas práticas. A promoção de atividade física é de responsabilidade de todos que almejam um futuro saudável.

    A prescrição de atividade física para crianças deve ter como objetivo principal a criação de um hábito de vida. Por isso, deve ser exercida de modo regular, nunca ser punitiva, não necessariamente competitiva, mas sempre lúdica, agradável e prazerosa (Alves e Sampaio, 2007).7

    Outro alerta nas escolas públicas, em âmbito da educação física é a carência por objetivos. Percebe-se certa acomodação, no qual os alunos por motivos sem fundamento deixam de freqüentar as aulas propostas no currículo do ensino formal, os trajes inadequados e o “não gostar” por exemplo, são barreiras freqüentes relatadas nos ambientes escolares. Conforme Soares, Ferreira et al:8

    Alunos e professores... não consideram outras funções da instituição educativa, acabam entendendo a disciplina de educação formal como um espaço de prática quase optativa.

Desenvolvimento humano por meio de esporte

    Segundo a Carta dos Direitos da Criança no Esporte (1985), as crianças possuem diversos direitos, entre eles praticar esporte, divertir-se e jogar, ser tratado com dignidade, entre outros. No Brasil, existe o preceito constitucional de que a educação, o esporte e a cultura são direitos e não privilégios daqueles que possuem renda superior, ou daqueles dotados de habilidades especiais (HASSENPFLUG, 2004, p. 159).9 Leis existem, o desafio maior é a implantação na prática dos direitos.

    O que precisamos fazer é cuidar para que haja coerência ente o discurso e a prática implantando estratégias para validação de todos os direitos das crianças e dos adolescentes (HASSENPFLUG, 2004, p. 159).9

    Boa parte dos programas esporte-educativo adota critérios e provas de competência na seleção dos jovens para esses programas, produzindo um modelo baseado na exclusão, eliminando assim as chances dos jovens de baixa renda a terem o devido acesso, conforme realidade social. É importante ressaltar que para solucionar esse problema é necessário rever certos modelos.

    É importante pensar em critérios democráticos para o ingresso das crianças nos programas de educação pelo esporte, como a simples ordem de inscrição, por exemplo (HASSENPFLUG, 2004, p.161).9

    O princípio de inclusão deve estar presente nos ambientes de esporte e educação, através de atenção nos métodos e decisões assumidas no programa pedagógico e no dia-a-dia de todos envolvidos. A superação desse desafio, conforme Hassenpflug:9

    Encontra-se o respeito absoluto aos direitos das crianças, e os princípios da inclusão de todos independentes de características físicas e de diferentes níveis de desempenho ou de ritmo de aprendizagem. Afinal, queremos formar cidadãos democráticos, que saibam compreender, aceitar e conviver com as diferenças.

    As crianças e jovens estão em constante processo de aprendizado, eles se desenvolvem por meio das experiências adquiridas em cada etapa de forma evolutiva. Nas palavras de Hassenpflug9: “A experiência adquirida em cada etapa evolutiva constitui-se alicerces...”.

    Esse processo de aprendizagem deve desenvolver o potencial da criança, e os educadores tem papel fundamental. A tarefa essencial consiste em criar condições e oportunidades para todos os jovens, propiciando retorno positivo em todas as dimensões da vida.

Inclusão Social por meio do esporte

    Alguns projetos sociais tendem a incluir os jovens carentes no universo esportivo, os mesmos existem com o pressuposto que os jovens gostam das atividades esportivas.

    Vianna e Lovisoloa10 afirmam que o sucesso desses projetos depende de um acordo comum entre famílias, educadores e estudantes, sendo primordial a definição dos valores, meios e expectativas dos projetos.

    Uma dificuldade encontrada nos projetos é a percepção do profissional de atividade física que vêem os alunos, carentes de valores e crenças, Vianna e Lovisolo10, ainda declaram:

    As dificuldades de aprendizagem são habitualmente atribuídas às condições de vida, das famílias e das comunidades, dos alunos provenientes das camadas populares.

    O mesmo estudo ilustra que a prática de esporte contribui na formação desses jovens propiciando melhora principalmente na qualidade de vida e na saúde. Outra contribuição é o esporte visto como meio de elevação social para esses jovens.

    A procura do esporte por membros das classes populares, como meio de elevação social, especialmente por aqueles que são residentes em comunidades violentas, pode representar uma forma de auto-realização e de superação da condição de não ter direitos de cidadania plena (VIANNA; LOVISOLO, 2011).10

    O presente estudo ainda indica que em diversos programas de inclusão social foi observado que os professores não conseguem perceber em seus alunos potenciais para crescerem no esporte, além de não acreditarem no esporte como meio de formação profissional e pessoal (VIANNA; LOVISOLO, 2011)10, entre outros indicativos negativos. Com isso percebemos que os responsáveis envolvidos nesses projetos necessitam de treinamentos, pois serão por meio deles que obteremos o sucesso desses projetos, os mesmos devem conhecer o impacto de suas crenças e atitudes para com os jovens envolvidos, caso contrário os projetos de inclusão social não atingiram seu principal objetivo.

    Desta forma as políticas públicas e projetos interessados na diminuição das desigualdades e na inclusão social perdem a sua eficácia... O impacto social poderia ser maximizado com a contextualização da intervenção e o estabelecimento de acordo com as crenças e aspirações dos alunos (VIANNA; LOVISOLOA, 2011)10.

    Refletindo ainda sobre as políticas públicas envolvidas nesses programas observamos que entre os maiores empates consistem a má formação dos profissionais, conflitos entre funcionários, ausência de cargos, funções mal definidas e incapacidade técnica (AREIAS; BORGES, 2011)11.

    Já a eficácia é resultado da combinação entre a eficiência da instituição como um sistema e a habilidade em que adquiriu recursos necessários para execução do projeto. Em relação à participação social, ora na concepção, ora na gestão, deve se permitir a interação das ações com outras políticas (AREIAS; BORGES, 2011)11.

    Outra maneira de incluir esses jovens é através de programas de ensino em tempo integral, uma vez que tem como proposta profissionalizar e trazer cultura com cursos extracurriculares, tirando-as da rua, além de possibilitar que esses jovens se alimentem adequadamente, já que muitos não possuem essa condição em casa. A idéia do ensino de tempo integral é fazer com que os jovens fiquem o dia todo na escola, e que ocupem outros espaços de aprendizagem que enriqueçam seu desenvolvimento como cidadãos (COURA, MORAES et al, 2012)12.

    Conforme estudo de Coura, Moraes et al12 , observa-se que a escola de tempo integral oferece uma ampliação do conhecimento dos alunos pela participação em novas modalidades, além de trazer a chance de detectar novos talentos esportivos identificando aqueles jovens com melhor capacidade para com o esporte. Por fim, Coura, Moraes et al12 relataram impacto social positivo na vida dessas crianças após o ingresso em tempo integral na escola.

Métodos

    Foi realizada uma análise bibliográfica e documental acerca dos conceitos de qualidade de vida, relação de qualidade de vida e atividade física, desenvolvimento humano pelo esporte, bem como as dificuldades dos órgãos públicos e projetos de inclusão social em inserir jovens carentes no ambiente esportivo.

    Realizou-se uma análise interpretativa visando reproduzir e explorar os dados encontrados, discutindo sua relevância e contribuição para o tema. Conforme Weller:1 “As necessidades dos jovens carentes em sua maioria serão superadas se forem entendidas no âmbito real e presente, somente dessa forma prática, obteríamos resultados eficazes e satisfatórios”.

Discussão

    A reflexão deve partir da distribuição de verbas dos órgãos representados por este, que não tem aplicado os direitos igualitários para participação desses jovens nos programas esportivos.

    Esses jovens em sua maioria encontram inúmeras dificuldades na infância, vivem em ambientes violentos, se desenvolvem com uma educação básica de baixa qualidade, e são rodeados de exemplos inadequados. Parte considerável dos jovens brasileiros não recebe oportunidades de ingresso num treinamento esportivo, ou em qualquer outro programa de educação necessário para formação de um cidadão consciente e saudável.

    Com a promoção do esporte em regiões carentes é possível evoluir em diversos aspectos, entre eles: descoberta de atletas de alto rendimento, valorização de profissionais da área da saúde e da educação física, implantação de conduta disciplinada, somadas a responsabilidade e uma formação mais adequada para esses jovens, dentre outros positivos.

    Diversos projetos de inclusão social existem, mas muitos não recebem o apoio que necessitam para fazer a diferença nesses lugares carentes, outros existem, todavia não são conhecidos, fica então a observação para a mídia esportiva que poderia assumir essa função.

    A tendência é de melhora, caso se evolua em aspectos como a valorização do esporte, da atividade física, bem como a melhora da condição de vida desses jovens e seus familiares, diminuindo assim a criminalidade nessas regiões. Logo conheceremos uma sociedade mais justa e saudável. Para isso é necessário envolvimento das comunidades, das políticas públicas e da sociedade como um todo.

    Talvez essas melhoras venham quando a importância da atividade física for devidamente reconhecida, para um melhor desenvolvimento dessas crianças e para o crescimento que o esporte merece e precisa para fazer a diferença, e enfim assumir o poder de transformação que o mesmo possui.

Referências

  1. WELLER, M. J. Esporte e educação não formal: as atividades esportivas como fator de inclusão social para jovens em situação de risco. UNICAMP, 2005.

  2. DELGADO, T. B., RIBEIRO, M. O. Levantamento sobre os serviços de saúde às crianças carentes nos abrigos da cidade de São Paulo. Rev. Bras. De Enfermeiros Pediatras, v.1, n.2, p.21-28, julho, 2002.

  3. MOREIRA, W. W., SIMÕES, R. Qualidade de vida: complexidade e educação. (Qual)idade de vida na (Qual)idade de vida, Cap. 5, p.169 e Qualidade de vida e educação: a infância e a adolescência no Brasil, Cap. 3, p.137-155, Papirus Editora, 2001.

  4. SILVA, L. A. M. Uma aproximação da discussão da qualidade de vida com as políticas públicas e as necessidades humanas. Artigo retirado do livro: Políticas públicas, qualidade de vida e atividade física, Cap. 18, p. 171-178, Editora Ipes, 2001.

  5. FARIA, M. C. M., BROLO, A. L. R., et al. Atividades motoras cotidianas e suas influencias no desenvolvimento de pré escolares. Revista Movimento, Porto Alegre, v. 16, n. 01, p. 113-130, jan./mar., 2010.

  6. NUENFELDT, D. J. e CANFIELD, M. S. Esporte na escola e esporte de rendimento. Repensando o esporte na educação física escolar a partir de Cagigal. Revista Movimento. Publicação da Escola de Educação Física/UFRGS. Ano VII, nº 14, 2001.

  7. ALVES, J. G. B. e SAMPAIO, M. C. Prevenção de doenças do adulto na infância e na adolescência. Editora Medbook. Instituto Materno Infantil, Profº. Fernando Figueira, p.151-159, 2007.

  8. SOARES, A. J. G., FERREIRA, A. C. et al. Tempo e espaço para educação corporal no cotidiano de uma escola pública. Revista Movimento, v.16, n.01, p. 71-96, jan/mar, 2010.

  9. HASSENPFLUG, W. N. Educação pelo Esporte: a educação para o desenvolvimento humano pelo humano. p. 159-161, São Paulo. Saraiva, 2004.

  10. VIANNA, J. A. e LOVISOLO, H. R. A inclusão social através do esporte: a percepção dos educadores. Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.25, n.2, p.285-96, abr./jun., 2011.

  11. AREIAS, Ms. K. T. V.e BORGES, Dr. C. N. F. As políticas públicas de lazer na mediação entre estado e sociedade: possibilidades e limitações. Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 3, p. 573-588, jul./set., 2011.

  12. COURA, M. A. S, MORAES, J. F. V. N. et al. Impacto das atividades esportivas, informática e música sobre a vida de alunos de escola com educação em tempo integral. Motrivivência, Ano XXIV, Nº 39, P. 142-150, dez., 2012.

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