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Dismorfia muscular

Muscle dysmorphia

 

*Acadêmico

**Orientadora

Faculdade de Educação Física de Barra Bonita, FAEFI

Barra Bonita, São Paulo

(Brasil)

Lucas de Oliveira Moreira Navarro

Profa. Beatriz Spaulonci

lucas_navarro3@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho foi desenvolvido por meio de uma pesquisa qualitativa e teve o objetivo de verificar indícios de dismorfia muscular em praticantes de musculação em uma academia de uma cidade do interior paulista. Foi realizada uma revisão bibliográfica em bases de dados disponíveis na internet (Google acadêmico e Scielo), publicações em periódicos e bases de dados de bibliotecas de Universidades. Participaram do estudo freqüentadores de aulas de musculação de uma academia. Como resultados obtivemos que os freqüentadores pesquisados não possuem aspectos que os levem a desenvolver o distúrbio, que afeta milhares de homens, principalmente os que utilizam esteróides anabolizantes para aumentar a massa muscular de forma rápida.

          Unitermos: Dismorfia muscular. Distúrbio. Esteróides. Anabolizantes.

 

Abstract

          This work was developed through a qualitative research aimed to verify evidence of muscle dysmorphia in bodybuilders in the gym in a city in São Paulo. We performed a literature review databases available on the Internet (Google scholar and Scielo), publications in journals and databases for libraries of universities. The study goers fitness classes a gym. The results obtained that the regulars have not researched issues that lead them to develop the disorder, which affects thousands of men, especially those using anabolic steroids to increase muscle mass quickly.

          Keywords: Muscle dysmorphia. Disorder. Steroids. Anabolic.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A sociedade atual valoriza a estética corporal. Manter a saúde é uma obrigação de cada um, de acordo com os padrões atuais.

    Essa manutenção pode ser alcançada através de cuidados simples com a alimentação, a realização de atividades físicas rotineiras para combater o sedentarismo e a busca por uma vida menos estressante e prazerosa.

    É totalmente aceitável que uma pessoa se preocupe com sua aparência, que invista em cuidados com a beleza, com a estética e com a conquista de um padrão de vida saudável.

    É reconhecidamente importante manter uma atividade física, que ajuda a manter um corpo com músculos definidos e sem excesso de gordura além de combater o sedentarismo, fonte de muitos males para o organismo, entre eles a hipertensão, o diabetes e as doenças coronarianas.

    No entanto, o excesso de exercícios físicos, na busca por uma imagem além da ideal é um transtorno psicológico, identificado pelos especialistas como Transtorno Dismórfico Corporal.

    A Dismorfia Muscular, a ser estudada neste trabalho, é um subtipo desse transtorno, que afeta a vida de muitas pessoas, principalmente homens, que recorrem até mesmo ao uso de anabolizantes para adquirir a tão desejada forma física ideal, com músculos fortes e definidos.

    Os efeitos psicológicos desse transtorno afetam a qualidade de vida dessas pessoas, interferindo em suas atividades rotineiras e apresentam um fator de risco quando associada ao uso indiscriminado de anabolizantes. O abuso desses anabolizantes provocam diversos efeitos colaterais no organismo do indivíduo, afetando a interação do corpo com a mente.

    Os profissionais de Educação Física que trabalham em academias devem estar atentos para a presença de sintomas desse transtorno em seus alunos, indicando e incentivando ajuda terapêutica específica para evitar prejuízos maiores para o indivíduo.

    O objetivo deste trabalho é verificar como a preocupação excessiva com o corpo afeta freqüentadores de uma academia, uma vez que é muito tênue a linha que separa o cuidado necessário com a saúde dos excessos causados pela presença da dismorfia muscular.

    As primeiras pesquisas envolvendo o conceito de dismorfia muscular foram realizadas por Pope em 1993. Esse pesquisador identificou, entre os indivíduos pesquisados, alguns que se descreviam como fracos e pequenos, o que estava em desacordo com a realidade, já que exibiam corpos fortes e musculosos. No início, esse transtorno foi identificado como anorexia nervosa reversa (ASSUNÇÃO, 2002).

    Martins et al (2005) afirmam que a dismorfia muscular foi anteriormente chamada de anorexia nervosa reversa.

    A anorexia nervosa é normalmente associada às mulheres, que procuram se manter magras para estarem de acordo com os padrões exigidos pela mídia e pela sociedade. A dismorfia muscular ocorre principalmente em homens, que ao contrário das mulheres, querem estar fortes e musculosos. Dessa forma, tanto a anorexia nervosa como a dismorfia muscular são quadros de distorções da imagem corporal (ASSUNÇÃO, 2002). Para a autora, esses transtornos são preocupações mórbidas com a imagem corporal, que obrigam o indivíduo a utilizar de qualquer método, mesmo que prejudicial, para conquistar um padrão de beleza.

    Assim, tanto a anorexia quanto a dismorfia são distorções corporais geradas pela insatisfação com o próprio corpo. Essa insatisfação é maior nas mulheres, porém cada vez mais homens buscam se modificarem para apresentar um corpo musculoso como ideal de imagem masculina (ASSUNÇÃO, 2002).

    Bezerra (2010) salienta que os transtornos relacionados à imagem pessoal são síndromes diretamente relacionadas com a cultura, já que os padrões de beleza impostos são inatingíveis para a maioria das mulheres e dos homens, gerando frustrações e baixa autoestima, levando os indivíduos a acreditarem que não possuem nenhum atrativo físico.

    Assunção (2002) reforça que a dismorfia muscular ainda não está presente nos manuais de diagnósticos psiquiátricos e nem conta com estudos epidemiológicos na população em geral, sendo que os estudos sobre o assunto foram efetuados em amostras de atletas e fisiculturistas. Mesmo assim, esses estudos mostram uma prevalência de 10% de dismorfia muscular entre levantadores de peso, 84% entre fisiculturistas de competição e 53% entre fisiculturistas amadores. Entre os indivíduos que apresentam transtorno dismórfico corporal, a dismorfia muscular chega a 9%, segundo Assunção (2002).

    Esses números podem indicar que os aspectos socioculturais são determinantes para o desenvolvimento da dismorfia muscular. Isso porque a sociedade atual demonstra uma excessiva preocupação com a aparência física. Essa preocupação fica evidenciada pela grande quantidade de matérias veiculadas pela mídia sobre assuntos relacionados à alimentação, à saúde e à realização de exercícios físicos (ASSUNÇÃO, 2002).

    Nesse sentido as academias exercem grande influência sobre o aparecimento da dismorfia muscular, que geralmente está associada, conforme Assunção (2002) a prevalência de transtornos alimentares, obsessivos e compulsivos, bem como ao uso indiscriminado de anabolizantes.

    Bezerra (2010) afirma que o transtorno dismórfico corporal possui características em comum com os transtornos obsessivos compulsivos. Entre essas estão o curso flutuante do transtorno, a depressão e outros transtornos de ansiedade. No entanto, os indivíduos com transtorno obsessivo compulsivo não apresentam um prejuízo quanto às críticas relacionadas a seu transtorno, ao contrário dos indivíduos com transtorno dismórfico corporal.

    A obsessão dos indivíduos que apresentam o transtorno dismórfico corporal está totalmente centralizada nas questões corporais, enfatizando a importância da cultura e da mídia na manutenção do padrão de beleza ideal (BEZERRA, 2010).

    Os critérios diagnósticos para o transtorno dismórfico corporal, de acordo com Bezerra (2010) são:

  • Preocupação com um defeito imaginário na aparência. Se uma ligeira anomalia física está presente, a preocupação do indivíduo é acentuadamente excessiva;

  • A preocupação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo;

  • A preocupação não é mais bem explicada por outro transtorno mental, por exemplo, insatisfação com a forma e o tamanho do corpo na anorexia nervosa.

    Para Assunção (2002), os critérios para dismorfia muscular são:

  1. O indivíduo preocupa-se com o fato de que seu corpo não seja suficientemente forte e musculoso;

  2. Esta preocupação causa sofrimento e prejuízo social, ocupacional e em outras áreas de funcionamento clinicamente significantes e são representados por pelo menos dois dos quatro critérios a seguir:

    1. O indivíduo freqüentemente desiste de atividades sociais, ocupacionais ou recreativas importantes, pois tem uma necessidade compulsiva de manter sua rotina de exercício físico ou sua dieta;

    2. O individuo evita situações nas quais seu corpo possa ser exposto ou quando não pode evitá-las, passa por sofrimento e ansiedade intensos;

    3. A preocupação com a inadequação do tamanho corporal ou com a musculatura causa sofrimento e prejuízo social, ocupacional e em outras áreas de funcionamento clinicamente significantes;

    4. O individuo continua a exercitar-se, fazer dieta ou usar substancias para melhorar seu desempenho a despeito de efeitos colaterais ou conseqüências psicológicas.

  3. O foco primário das preocupações e comportamentos é de ser muito pequeno ou sem musculatura suficiente e não em ser gordo, como na anorexia nervosa, ou em outros aspectos da aparência, como no transtorno dismórfico corporal.

    Assim, a diferença básica entre o transtorno dismórfico corporal e a dismorfia muscular é que, enquanto o primeiro se preocupa com qualquer aspecto da aparência física, a segunda se preocupa exclusivamente com a aparência muscular.

    A principal característica da dismorfia muscular pode ser descrita como uma preocupação exagerada do homem (geralmente) em possuir um corpo pequeno e franzino quando já é grande e musculoso.

    Para Assunção (2002) os sintomas da dismorfia muscular estão associados a uma dieta hiperproteica e uso de suplementos alimentares a base de aminoácidos e outras substâncias que melhoram o rendimento físico. Bezerra (2010) afirma que os anabolizantes são substâncias esteróides que estimulam o crescimento corporal associado a um aumento da massa muscular.

    Bezerra (2010) salienta que existem quatro variáveis que podem influenciar o desenvolvimento da dismorfia muscular, a saber:

  • Fatores ambientais;

  • Fatores emocionais;

  • Fatores psicológicos;

  • Fatores físicos.

    Entre os fatores ambientais estão a influência exercida pela mídia de massa e pela sociedade. Entre os emocionais, o afeto negativo; nos fatores psicológicos estão a insatisfação com o corpo, a idealização de uma imagem corporal distorcida, a baixa autoestima e o perfeccionismo e os fatores físicos dizem respeito a massa corporal do indivíduo (BEZERRA, 2010 e FERRAZ, 2009).

    A associação desses fatores com a excessiva exibição de figuras musculosas como tipo ideal tem feito com que muitos meninos adolescentes ingressem nas academias para sessões de musculação aliadas a um consumo de suplementos (BEZERRA, 2010 e FERRAZ, 2009).

    O excesso de exercício físico, de acordo com Assunção (2002), acaba prejudicando as relações sociais, ocupacionais e recreativas, que chega a permanecer quatro, cinco ou mais horas na academia apenas na musculação, evitando atividades aeróbicas, que, para eles, prejudica o ganho de massa muscular. Nessas horas passadas na academia, a checagem dos possíveis ganhos musculares é feita diversas vezes, o que acaba influenciando a autoestima com pensamentos exaustivos de que ainda estão fracos.

    Bezerra (2010) salienta que os homens que apresentam dismorfia muscular checam sua imagem várias vezes, muito mais do que indivíduos que não apresentam o transtorno. Comparam seu ganho muscular com outros, o que acaba gerando mais estresse e conseqüentemente uma piora clínica do processo de distorção de imagem, evitando situações onde poderiam expor o corpo, como em piscinas e vestiários, o que provoca um prejuízo nas relações sociais, e também não deixam de treinar muito, mesmo quando já apresentam lesões.

    Os suplementos alimentares, bem como os esteróides anabolizantes esteróides, são amplamente utilizados pelos portadores de dismorfia muscular. Essas substâncias estão associadas, segundo Assunção (2002) a problemas físicos e psiquiátricos. Entre os problemas físicos acarretados pelo seu uso indiscriminado estão: desenvolvimento de doenças coronarianas, hipertensão, tumores hepáticos, hipertrofia prostática, atrofia testicular e mamária e alteração da voz. Entre os problemas psiquiátricos estão a sintomatologia psicótica durante o uso e nos sintomas depressivos na abstinência.

    O uso dessas substâncias é incentivado pela presença maciça na mídia de lutadores, atores, jogadores e outros “heróis”, que exibem músculos avantajados como receita de sucesso, felicidade e aceitação. No recente filme produzido pelo cinema norte-americano, Capitão América, um jovem franzino, após a aplicação de uma droga secreta, se transforma em um herói corajoso, famoso e espetacularmente musculoso.

    Esse tipo de influência, para Bezerra (2010) interfere na percepção dos homens sobre a exigência da manutenção de um corpo forte e atraente que, segundo a mídia, é o que produz mais sucesso. No entanto, esse padrão é muito superior ao da média da população. Isso acaba gerando uma insatisfação com o próprio corpo, aumentando a ansiedade que geralmente oferece como solução o incremento dos exercícios físicos associados ao uso dos anabolizantes.

    Bezerra (2010) e Ferraz (2009) explicam que os esteróides anabólicos androgênicos são substâncias relacionadas ao hormônio sexual masculino. Essas substâncias podem ser naturais, sintéticas ou semi-sintéticos. Os hormônios naturais são produzidos pela glândula suprarrenal e pelos ovários (nas mulheres) e testículos (nos homens), promovendo e mantendo as características sexuais do indivíduo. Os sintéticos ou semi-sintéticas são produzidos a partir da testosterona sintética, que produzem efeitos anabólicos e androgênicos. Entre os efeitos androgênicos da testosterona estão: crescimento do pênis; espessamento das cordas vocais; aumento da libido e de cabelos no corpo e na face, aumento da secreção das glândulas sebáceas. Entre os efeitos anabólicos estão os aumentos da massa muscular, da retenção de nitrogênio, da concentração de hemoglobina e da deposição de cálcio nos ossos e na redução da gordura corporal.

    Pessoas com baixa estatura, halterofilistas, freqüentadores de academia geralmente utilizam essas substâncias, que também podem ser aplicadas com o intuito de melhorar a performance sexual ou a aparência. Isso, conforme Bezerra (2010), ocasiona abusos que produzem graves efeitos colaterais.

    A autora salienta que o uso desses anabolizantes, até os anos de 1970, era restrito a atletas de elite. Daí em diante, seu uso se tornou indiscriminado para o aumento de músculos sem finalidades especificamente atléticas.

    O uso dos esteróides se tornou um problema de saúde pública, já que muitas dessas drogas são fabricadas e comercializadas de forma ilegal (FERRAZ, 2009).

    Isso não significa que o uso de anabolizantes provoca a dismorfia muscular, e sim que indivíduos que apresentam o distúrbio geralmente fazem uso dessas substancias (BEZERRA, 2010).

    Para Martins et al (2005) os esteróides anabolizantes, popularmente chamados de “bombas”, são utilizados para ganho rápido de massa muscular, que não poderiam ser adquiridos apenas com exercícios físicos. Os usuários acreditam que se tornam mais dispostos, menos fatigados e mais motivados após seu uso.

    Anabolizantes não provocam apenas aumento muscular. Entre os efeitos colaterais físicos causados pelo seu uso estão: aumento dos pelos no corpo e na face, aumento do apetite, diminuição da contagem de espermatozoides, impotência, calvície, acne, distúrbios no fígado e hepatite, retenção de líquido pelo organismo e aumento na pressão arterial, sintomas geralmente desconhecido pelos usuários. Os efeitos colaterais psíquicos estão os transtornos de humor, manias, transtorno bipolar, mudanças súbitas de comportamento e temperamento, irritabilidade, raiva, hostilidade, ciúme patológico, alterações da libido, sensação de invencibilidade, intolerância à frustração e depressão (MARTINS et al, 2005).

    Os autores apontam que os riscos psicológicos decorrentes do mau uso ou abuso dos anabolizantes podem ser subdivididos em efeitos imediatos (aumento da confiança, da energia e da autoestima, entusiasmo e motivação, insônia, irritação, raiva, agitação e menor sensação de fadiga). Na segunda categoria estão a perda de inibição e as alterações profundas de humor. E na terceira categoria encontram-se os sentimentos de agressividade, violência, comportamentos anti-sociais, homicídio, suicídio, narcisismo patológico e abusos sexuais. O uso indiscriminado de esteróides anabolizantes causa dependência, que leva a crises de abstinência.

    Assunção (2002) salienta que ainda não existe uma sistemática para o tratamento da dismorfia muscular, mas que uma combinação dos métodos utilizados para o tratamento do transtorno dismórfico corporal e dos transtornos alimentares podem surtir efeito, afirmando, porém que a adesão voluntária para tratamento é pequena, uma vez que o tratamento pode acarretar uma perda da massa muscular. A empatia na relação do médico com o paciente é fundamental para o sucesso do tratamento.

    Entre esses métodos, a descontinuação do uso dos anabolizantes e uma terapia cognitiva e comportamental são extremamente benéficas para a identificação dos comportamentos compulsivos que levam ao excesso de exercícios. As terapias podem auxiliar também a aceitação do corpo físico sem a preocupação excessiva de estar em concordância com os padrões ditados pela mídia e pela sociedade, mantendo como parâmetro os índices antropométricos reais.

    Para Bezerra (2010), os indivíduos que apresentam dismorfia muscular precisam de acompanhamento multidisciplinar de profissionais da área da saúde, já que seu comportamento prejudica o corpo, a mente e suas relações sociais. Isso porque os portadores desse transtorno se preocupam em não serem grandes e musculosos o suficiente e ocupam grande parte da vida com musculação e dietas, o que provoca estresse severo, prejuízo nas relações sociais e ocupacionais e lesões nos músculos e articulações. A autoestima é geralmente baixa. A autora questiona se os profissionais de educação física estão aptos a reconhecer e identificar a dismorfia muscular, propondo a identificação dos portadores desse distúrbio através da percepção de seu comportamento frente aos exercícios de musculação e da percepção do abuso de consumo de substâncias para aumento da massa muscular.

    A autora salienta que a dismorfia muscular não pode ser confundida com entusiasmo, pois muitos indivíduos gostam muito de musculação e, no entanto, não desenvolvem o transtorno.

    De acordo com Martins et al (2005), os pacientes com dismorfia muscular aderem pouco a tratamentos, da mesma forma que pacientes com anorexia nervosa.

Material e método

    A pesquisa para este trabalho foi realizada em uma academia de musculação localizada no município de Dois Córregos, região central do Estado de São Paulo.

    Foram selecionados dez freqüentadores da academia, do sexo masculino por ser o que apresenta maior propensão ao desenvolvimento da dismorfia muscular. Esses freqüentadores selecionados não eram atletas profissionais.

    Para a construção do referencial teórico foram utilizados artigos científicos da base de dados Scielo e Google Acadêmico e de bibliotecas de Universidades que abordavam os assuntos: dismorfia muscular e esteróides anabolizantes.

    O instrumento de coleta de dados constou de um programa de computação denominado Body Image Distorcion Program, instalado em um notebook da marca Dell, que fez a análise da imagem corporal do indivíduo.

Resultados e discussão

    O programa utilizado na pesquisa que compõem este trabalho fotografa o participante em posição anatômica do entrevistado, que após ter sua foto escaneada pelo computador, deve clicar com o botão esquerdo para emagrecer a imagem ou com o botão direito para engordar. Quando atinge a imagem que o entrevistado considera ideal, o programa emite um relatório onde consta um índice (overall), que determina se a imagem considerada ideal corresponde aos padrões. Valores maiores do que três nesse índice indicam problemas, e valores abaixo de três demonstram normalidade.

    Para garantir o anonimato dos participantes da pesquisa, o quadro 1 mostra apenas as iniciais dos nomes, mantendo as idades e valores de overall.

Quadro 1. Dados dos participantes da pesquisa

    O esquema corporal é a imagem tridimensional que cada indivíduo tem de si mesmo, conforme Freitas (2008). A imagem corporal é uma figuração mental que mostra como o corpo se apresenta para cada pessoa.

    Camargo et al (2008) afirma que a imagem corporal está intimamente relacionada com a autoestima e a autopercepção. Assim, se existe insatisfação com o corpo, normalmente gerada pelos estereótipos divulgados pela mídia e pela sociedade, essa se refletirá na autoimagem, gerando perda de autoconfiança.

    Os autores salientam as variáveis identificadas na literatura da dismorfia muscular, que são: massa corporal, influência da mídia, internalização do ideal de forma corporal, baixa autoestima, insatisfação com o corpo, descontrole sobre a própria saúde, efeitos negativo, perfeccionismo e distorção corporal. O indivíduo acredita que só será aceito se estiver de acordo com os padrões preestabelecidos, o que leva ao desenvolvimento da dismorfia muscular.

    O grupo analisado na presente pesquisa está na faixa de idade de 18 a 25 anos, o que está de acordo com Camargo et al (2008), que afirma existir prevalência de dismorfia muscular entre homens com idades variando de 18 a 35 anos, geralmente freqüentadores assíduos de academias.

    Apesar de esta amostra ser pequena, percebeu-se que todos os indivíduos se encontram com níveis de overall abaixo de três, apresentando apenas dois indivíduos com índices acima de 1, o que demonstra que os indivíduos pesquisados não se encontram em um grupo de risco para desenvolvimento de dismorfia muscular, apesar de freqüentarem aulas exclusivas de musculação na academia.

    Suas imagens corporais demonstram o aceitamento de seu corpo físico atual, podendo ser determinante para que os exercícios praticados na academia sejam apenas por questões de manutenção da saúde e bem-estar. Os resultados obtidos demonstram também que esses indivíduos, através da boa percepção de sua imagem corporal, que não devem sofrer com sua aparência, mantendo-se dessa forma, fora do grupo de risco para desenvolvimento da dismorfia muscular.

Considerações finais

    A dismorfia muscular é um transtorno provocado pela não aceitação do padrão corporal frente às exigências atuais da mídia e da sociedade.

    Na busca por um corpo perfeito, magro e musculoso, muitas pessoas passam horas nas academias, realizando séries intermináveis de exercícios de musculação e fazendo dietas radicais. A isso, associam, muitas vezes, o consumo de esteróides anabolizantes, que auxiliam na conquista rápida de músculos. No entanto, vários problemas de ordem física, psicológica e social podem ser ocasionados por essa busca.

    A pesquisa realizada neste trabalho não encontrou indivíduos propensos a desenvolver dismorfia muscular, o que não significa que estão isentos de desenvolvê-la. O equilíbrio entre o saudável e o compulsivo deve nortear a musculação, evitando excessos, sobretudo no consumo de esteróides anabolizantes, que geralmente provocam mais prejuízos do que benefícios para o organismo.

Referências

  • ASSUNÇÃO, S. S. M. Dismorfia Muscular. São Paulo: Rev. Bras. Psiquiatr. 2002.

  • BEZERRA, E. L. G. Dismorfia muscular: uma revisão bibliográfica. Universidade Federal de Minas Gerais. Monografias. 2010.

  • CAMARGO, T. P. P. de et al . Vigorexia: revisão dos aspectos atuais deste distúrbio de imagem corporal. Rev. Bras. Psicol. Esporte, São Paulo, v. 2, n. 1, jun. 2008.

  • FERRAZ, A. Dismorfia muscular em usuários de esteróides anabólico-androgênicos. Universidade Federal de Santa Catarina. Trabalho de Conclusão de curso. 2009.

  • FREITAS, N. K. Esquema corporal, imagem visual e representação do próprio corpo: questões teórico-conceituais. Revista Ciência & Cognição. 2008. Volume 13.

  • MARTINS, C. M. et al. Efeitos psicológicos do abuso de anabolizantes. Revista Ciências & Cognição. 2005. Volume 05.

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