Desempenho motor e inclusão na Síndrome de Down Rendimiento motor e inclusión en personas con Síndrome de Down |
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*Graduada em Educação Física pela UNICENTRO, Irati, PR **Acadêmico do curso de Educação Física, UNICENTRO, Irati ***Professora do curso de Educação Física, UNICENTRO, Irati, PR (Brasil) |
Angelita Lopes da Conceição* Luis Felipe Requião** Glaucia Andreza Kronbaue*** |
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Resumo O ser humano tem sua individualidade no desenvolvimento motor e aquisição de habilidades. A educação é responsável pelo desenvolvimento dos indivíduos e deve proporcionar um ambiente adequado para isto. Nesse sentido, o presente estudo tem por objetivos observar e avaliar gestos motores de dois alunos com SD, um incluso na Educação Infantil Regular e o outro na Educação Especial. Foram descritos e analisados o comportamento e o desempenho motor das duas crianças com síndrome de Down avaliadas. Foram avaliados cinco gestos motores: o equilíbrio com um pé só, a caminhada, quicar a bola, corrida e arremesso por cima. Como guia de observação dos movimentos foi utilizada a classificação proposta por Gallahue & Ozmun (2005). A partir das observações e dos movimentos realizados foi possível concluir que a uma pequena vantagem do aluno presente na Educação Infantil regular. A inclusão do aluno portador da síndrome de Down parece ter beneficiado seu desenvolvimento geral pela vivência de movimentos variados e o próprio convívio com as demais crianças, as quais possivelmente possuem um vocabulário motor mais variado. Unitermos: Síndrome de Down. Desempenho motor. Inclusão.
Abstract The human being has his individuality in motor development and skill acquisition. Education is responsible for the development of individuals and should provide a suitable environment for this. So, this study aims to observe and evaluate motor gestures of two students with Down syndrome, one of them included in a regular Kindergarten and the other in Special Education. The behavior and motor performance of both children with Down syndrome were described and analyzed in relation. We evaluated five motor gestures: the balance on one foot, walk, bounce the ball, running and throwing over. As a guide for observing the movements we used the classification proposed by Gallahue & Ozmun (2005). From the observations of the movements performed we concluded there is a small advantage of this student in regular kindergarten. The inclusion of a student with Down syndrome seems to have improved his general development by the experience of various movements and even socializing with other children, which possibly have a more varied movement’s vocabulary. Keywords: Down Syndrome. Motor performance. Inclusion.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O desenvolvimento motor é um processo continuo do ser humano que se inicia na concepção e se encerra com a morte, onde as mudanças mais acentuadas ocorrerem nos primeiros anos de vida. Inclui todos os aspectos do comportamento humano, reconhece que as exigências físicas e motoras especificas se relacionam de maneira individual, através de fatores biológicos e hereditários, e de maneira ambiental através da aprendizagem. A sequência de desenvolvimento é a mesma para todas as crianças, apenas varia a velocidade de progressão (GALLAHUE & OZMUN 2005). A ordem em que as atividades são dominadas depende mais do fator maturacional, enquanto que o grau e a velocidade em que ocorre o domínio dependem das experiências e diferenças individuais. Existe uma interdependência entre o que está se desenvolvendo e as mudanças futuras.
O ser humano tem sua individualidade no desenvolvimento motor e aquisição de habilidades. Analisar o desenvolvimento motor de modo geral permite estabelecer possibilidades de forma individual e coletiva. As habilidades motoras quando desenvolvidas e exploradas no máximo de seu potencial, permitem amplo aceso ao acervo motor e consequentemente melhorias nas diversas áreas do desenvolvimento humano. O aluno portador da Síndrome de Down, uma anormalidade cromossômica, acidente genético ocorrido no cromossomo 21 que resulta em varias alterações no organismo tanto física como mental, traz marcado no seu corpo resultado de fatores biológicos.
O desenvolvimento motor na síndrome de Down acontece de forma mais lenta quando comparada com outras crianças. A falta de tônus muscular e a grande mobilidade articular na criança com síndrome de Down faz com que ela demore mais tempo para atingir as fases do desenvolvimento motor.
O sistema nervoso da criança com síndrome de Down apresenta anormalidades estruturais e funcionais, que resultam em disfunções neurológicas variando quanto à manifestação e intensidade. Com isso a característica mais marcante é o distúrbio de aprendizagem e desenvolvimento (SILVA 2002).
O acesso à escola contribui consideravelmente para o processo de desenvolvimento humano em seus aspectos afetivo, social, cognitivo e psicomotor, bem como para sua autonomia pessoal e social. A inclusão de alunos com a síndrome de Down na sociedade e na escola é essencial para seu desenvolvimento, tendo em vista que todo ser humano conhece o mundo, desenvolve sua personalidade, aprende a socializar-se e expressar-se através de seu desenvolvimento corporal independente de suas limitações.
Especificamente a Educação Física deve proporcionar condições que favoreçam o desenvolvimento de suas potencialidades, visando sua auto-realização, aprendizagem, integração social e independência através da combinação de movimentos fundamentais apresentados nas formas de atividades lúdicas, rítmicas e formativas valorizando os movimentos e a globalização da aprendizagem. Nesse sentido o profissional da Educação Física deve explorar diferentes movimentos para o mesmo fim (objetivo da tarefa), assim como o mesmo movimento para diferentes objetivos, oferecer varias experiências e vivencias que levem ao processo de aprendizagem e desenvolvimento motor satisfatório.
A construção permanente do movimento e da experiência corporal do ser humano desde os movimentos arcaicos e inconscientes até a aquisição dos modelos corporais e socioculturais é denominado vocabulário psicomotor. O desenvolvimento do vocabulário psicomotor possibilita olhar para alem dos comportamentos padronizados. (FALKENBACH 2002). Ampliamos, aperfeiçoamos e refazemos permanentemente nosso vocabulário motor, através das experiências corporais que experimentamos no decorrer de nossa existência.
Segundo NEGRINE apud FALKENBACH (2002), o vocabulário motor de cada individuo não é uma questão de tudo ou nada, sua riqueza ou pobreza é por um lado resultante da provisão ambiental satisfatória, e por outro lado, da experimentação e disponibilidade corporal.
Ao se partir do ponto de vista de que o movimento é o objeto de estudo e aplicação da Educação Física, o propósito de uma atuação mais significativa e objetiva sobre o movimento pode levar a Educação Física a estabelecer, como objetivo básico, o que se costuma denominar aprendizagem do movimento. Cabe então a Educação Física Adaptada, como uma área da Educação Física que tem como objeto de estudo a motricidade humana para as pessoas com necessidades educativas especiais, apropriar-se de técnicas de avaliação do movimento, construir conhecimentos e propor métodos mais adequados de ensino, respeitando as diferenças individuais. O estímulo e a qualidade dos profissionais envolvidos com portadores da síndrome será essencial para o seu desenvolvimento motor.
Entender a relação entre a idade da criança com as fases e características motoras pelas quais passam, permite melhor acompanhamento do desenvolvimento motor. Assim, a importância do conhecimento dos profissionais de Educação Física, no que se refere à avaliação motora da criança, como forma de acompanhar seu desempenho e detectar possíveis problemas de ordem motora, além de poder influenciar no processo de desenvolvimento que ocorre desde a concepção. Ter acesso ao conhecimento do desenvolvimento motor permite ao professor de Educação Física planejar e oferecer atividades significativas e fundamentais para o crescimento saudável de seus alunos. Acredita-se que para ensinar eficientemente é preciso acompanhar às crianças e analisar suas necessidades e interesses. O estímulo e a qualidade dos profissionais envolvidos com portadores da síndrome será essencial para o seu desenvolvimento motor.
A fase mais importante do desenvolvimento motor se encontra na infância, a qual é denominada fase das habilidades motoras fundamentais, e é quando o profissional de Educação Física tem maior chance de trabalhar com as crianças. Por isso, torna-se necessário um maior conhecimento desta fase, por parte desses profissionais, para que se realize um trabalho mais consciente e centrado nos interesses e nas necessidades das crianças.
Neste sentido o presente estudo tem como objetivo avaliar o desempenho motor e o ambiente educacional de crianças portadores da síndrome de Down da cidade de Irati, PR.
Métodos de investigação
Abordagens metodológicas
Este é um estudo descritivo exploratório de corte transversal. Busca conhecer com profundidade um determinado tema, construir questões importantes, reunir mais conhecimentos e incorporar características inéditas por meio de observações, registros, análises, classificações e interpretações. Propõe investigar características de um fenômeno, situação, um grupo ou individuo específico. Proporciona uma visão geral acerca de determinado fato, mas não manipula os sujeitos ou objetos do estudo, apenas observa. (GIL, 1994; ALVES, 1999; RAUPP & BEUREN, 2003).
Para a coleta e análise de dados foram utilizados métodos qualitativos. A abordagem qualitativa é a forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social, uma opção investigadora que tem como objetivo situações complexas ou estreitamente particulares. Pode empregar testes de diferentes naturezas explorando particularmente as técnicas de observação e interpretação, já que este instrumento penetra na complexidade de um problema, buscando decodificar seu complexo sistema de significados (MAANEN apud NEVES, 1996; RICHARDSON, 1999).
Sujeitos da pesquisa
Foram avaliados dois indivíduos com síndrome de Down com três anos de idade, sendo um deles freqüentador da APAE e o outro incluso em uma escola da rede particular de ensino da cidade.
A vontade de participar da pesquisa e a idade foram consideradas critérios de inclusão. Os pais ou responsáveis assinaram um termo de compromisso livre e esclarecido contendo objetivos e procedimentos do estudo
Procedimentos de coleta de dados
Para análise do desempenho motor foi solicitado que as crianças realizassem gestos motores de locomoção, estabilização e manipulação (o equilíbrio com um pé só, a caminhada, quicar a bola, corrida e arremesso por cima) que foram filmados. Para a posterior análise dos movimentos foram utilizados quadros de avaliação propostos por Gallahue & Ozmun (2005). Os movimentos foram explicados oralmente e demonstrados para cada criança.
Análise
Foram estabelecidas as fases de desempenho em que cada indivíduo se encontra por meio das classificações propostas por Gallahue & Ozmun (2005) para cada gesto motor Além disso, foram comparados os ambientes educacionais e as dificuldades apresentadas em cada gesto motor entre o aluno incluso e o aluno da educação especial.
Resultados e discussão
Este estudo teve o objetivo de observar gestos motores de dois alunos com SD, um incluso na Educação Infantil Regular e o outro na Educação Especial. Os gestos motores foram observados com base em critérios estabelecidos por Gallahue & Ozmun (2005)
No aluno da escola especial o desempenho motor encontra-se em estágio inicial quando avaliados os movimentos estabilizadores (equilíbrio em um pé só) e de manipulação (ato que quicar e arremesso por cima) e no estagio elementar quando avaliados movimentos de locomoção (caminhada e corrida) na classificação proposta por Gallahue & Ozmun (2005) para crianças sem deficiência de sua idade.
No aluno da educação infantil seu desempenho motor encontra-se em estágio inicial quando avaliados os movimentos estabilizadores (equilíbrio em um pé só), em estagio elementar quando avaliados movimentos de manipulação (ato que quicar e arremesso por cima) e de locomoção (caminha da e corrida) na classificação proposta por Gallahue & Ozmun (2005) para crianças normais de sua idade.
Através das observações e avaliação dos gestos motores pode s perceber que ambos estão no padrão proposto por GALAHUE & OZMUN (2005). Um estudo realizado por MELLO et tal (2006) mostra que as pessoas portadoras de Síndrome de Down participantes de atividades físicas, não possuem grandes dificuldades psicomotoras, este fato deve-se a grande estimulação e carinho recebidos desde pequenos, e também é importante ressaltar que este grupo já participa de atividades físicas há algum tempo.
O Quadro a seguir destaca as diferenças encontradas no desempenho dos gestos motores entre o aluno que freqüenta a Educação Especial e o aluno da Educação Infantil regular.
Quadro 1. Síntese das observações dos gestos motores
A partir das observações percebemos uma pequena vantagem do aluno presente na Educação Infantil regular. A inclusão do aluno portador da síndrome de Down parece ter beneficiado seu desenvolvimento motor, possivelmente pela vivência de movimentos variados e o próprio convívio com as demais crianças, as quais possivelmente possuem um vocabulário motor mais abrangente.
Considerações finais
Vigotsky (1997) afirma que as potencialidades da pessoa com deficiência são tão evidentes quanto às da pessoa sem deficiência, mas tanto uma quanto a outra precisam de condições ambientais e materiais adequadas para o seu desenvolvimento. Segundo GALLAHUE (2003) as condições ambientais, que incluem fatores como as oportunidades para praticarem, o encorajamento e o ensino são cruciais para o desenvolvimento de padrões amadurecidos de movimentos.
Na escola inclusiva, o aluno tem contato maior com crianças de sua idade, vive uma diversidade, uma pluralidade com relação a movimentos corporais. Essa estimulação espontânea o beneficia tornado seu desempenho motor mais natural.
O ensino, para as crianças com necessidades educativas especiais, deve contar com os instrumentos devidos, os recursos auxiliares e também um trabalho, com profissionais devidamente instrumentalizados, a fim de realizar as mediações necessárias para a sua aprendizagem e desenvolvimento. Para CARVALHO (2009) falta o empenho dos profissionais em buscar, por iniciativa própria, a formação continuada e o conhecimento sobre como trabalhar com alunos que tem a SD, pois não existe ‘receita pronta’ sobre a atuação dos mesmos para o desenvolvimento, tanto intelectual quanto físico e motor, dessas crianças.
O brincar alimenta-se das referências e do acervo cultural a que as crianças têm acesso, bem como das experiências que elas têm com outros planos de ação. Quanto maior esse acervo, com mais diversidades a criança deverá conviver, enriquecendo seu desenvolvimento. A inclusão supõe a aceitação da diversidade, do modo de ser de cada um. Trata-se, portanto de considerar a síndrome de Down na sociedade inclusiva como diversidade e não mais como doença, anormalidade ou inferioridade.
Podemos perceber que a inclusão beneficiou o aluno tornando seu desempenho motor satisfatório, sendo seus movimentos mais naturais quando comparados com o aluno da educação especial. A convivência com os colegas o estimulou a realizar os mesmos movimentos que seus colegas fazem, além de beneficiar o aumento dos relacionamentos sociais. Isso faz com que as limitações que sua condição genética trás sejam superadas sem perceber.
Referencias bibliográficas
FALKENBACH, A. P. A educação Física na escola: uma experiência com professor. Editora UNIVATES. Lajeados RS, 2002.
GALIANO, L. A. P.; KRONBAUER, G. A. Inclusão de alunos com necessidades especiais na Educação Básica. In.: Anais do V Seminário de Educação do Centro-Oeste do Paraná. Guarapuava: UNICENTRO, 2010.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor de bebês, crianças, adolescentes e adultos. Editora Phorte, 3ª edição, São Paulo 2005.
GIL, A. C.: Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1994.
LEONARDO, TSN; BRAY, TC; ROSSATO, MPS. Inclusão escolar: um estudo acerca da implantação da proposta em escolas de ensino básico. Rev Bras Educ Espec, 15(2): 289-306, 2008.
NEVES, J. L. Pesquisa qualitativa- característica, uso e possibilidades. Caderno de pesquisa em administração. São Paulo v.1, n. 3, 2° semestre, 1996.
RODRIGUES, D.: Inclusão e Educação, doze olhares sobre a educação inclusiva. São Paulo, Summus, 2006.
SILVA, D. O. ; CABRAL, G. J. C. F. O processo de inserção do portador de síndrome de Down na escola inclusiva. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Pedagogia do Centro de Ciências Humanas e Educação da UNAMA, Universidade da Amazônia, Belém – Pará 2001
SILVA, M. F. M. C.; KLEINHANS, A. C. S. Processos cognitivos e plasticidade cerebral na Síndrome De Down. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, Jan.-Abr. 2006 v.12, n.1, p.123-138
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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