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Características dos óbitos neonatais ocorridos 

no município de Francisco Sá, Minas Gerais, Brasil

Características de las muertes neonatales ocurridas en el municipio de Francisco Sá, Minas Gerais, Brasil

 

*Acadêmicos do curso de Enfermagem, das Faculdades Santo Agostinho

de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. Membros do Grupo de Pesquisa em Enfermagem

das Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros

**Enfermeiro. Mestrando em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Montes Claros.

***Enfermeira. Mestre em Ciências da Saúde. Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade

Federal de Minas Gerais, Brasil. Líder do Grupo de Pesquisa em Enfermagem

das Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros

(Brasil)

Elvis Henrique Ruas Rodrigues*

Luana Leal Viveiros*

Adriana Lopes Gomes Paixão*

Kathielle Francine Gonzaga Souto*

Thiago Luis de Andrade Barbosa**

Ludmila Mourão Xavier Gomes***

elvisruas2005@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo analisar o perfil epidemiológico dos óbitos neonatais entre 0 a 27 dias de vida, ocorridos em Francisco Sá no período de 2005 a 2009. Trata-se de uma pesquisa retrospectiva de cunho quantitativo e descritivo realizada com dados secundários, obtidos através do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Departamento de Informática do SUS (SIM/DATASUS). A análise dos dados ocorreu mediante a estatística descritiva. Neste período foram notificados 23 casos de óbitos neonatais de 0 a 27 dias de vida. Os anos de 2007 e 2009 tiveram maior registro de óbitos, sendo 26,08% cada. Dentre as faixas etárias, a mais acometida foi de 0 a 6 dias (73,91%).Observou-se maior freqüência no sexo feminino (56,52%) e dentro da unidade hospitalar (91,30%). Dos casos notificados a maioria foi por algumas afecções originárias no período perinatal (73,91%). Destaca-se que 56,52% dos óbitos ocorrem por causas evitáveis de acordo com o CID-10. Conclui-se a necessidade de um maior monitoramento e investigação acerca dos óbitos por causas evitáveis a fim de traçar metas para diminuir o índice de mortalidade neonatal por óbitos que poderiam ter sido evitados por meio de uma assistência mais eficaz.

          Unitermos: Mortalidade neonatal. Fatores de risco. Epidemiologia.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A mortalidade neonatal é considerada, atualmente, um dos principais indicadores para a avaliação dos serviços de saúde, sobretudo para a qualidade da assistência à gestante no pré-natal, parto, puerpério e cuidado neonatal (FRIAS, 2010).

    No mundo, a maioria das crianças morre por doenças evitáveis ou tratáveis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada ano, em todo o mundo, principalmente nos países em desenvolvimento, quatro milhões de crianças morrem nos primeiros 27 dias de vida, e o maior risco reside nas primeiras 24 horas após o nascimento (SCHOEPS, 2007).

    Em relação às características assistenciais, pode-se citar o número de consulta pré-natal e o escore de Apgar no 1° e 5° minutos como fatores associados à mortalidade neonatal (MALTA, 2010).

    Destaca-se que as informações sobre as condições biológicas do desenvolvimento da gestação e dos recém-nascidos, da assistência pré-natal e do parto são importantes para o diagnóstico precoce de possíveis complicações que podem levar ao óbito. As causas de óbitos, sua evitabilidade e medidas preventivas são fundamentais para o planejamento de estratégias que visem à redução da mortalidade entre os menores de um ano de idade. As informações podem contribuir para a organização de programas locais de intervenção (ROCHA et al., 2011).

    Nesse contexto, este estudo objetivou descrever o perfil epidemiológico dos óbitos neonatais entre 0 a 27 dias de vida, ocorridos em Francisco Sá no período de 2005 a 2009.

Metodologia

    Trata-se de uma pesquisa de caráter quantitativo, descritivo e retrospectivo. As pesquisas descritivas têm o objetivo de caracterizar um grupo como idade, sexo, escolaridade, estado de saúde, religião, entre outros. A pesquisa descritiva restringe-se a constatar o que já existe, os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira neles (MINAYO, 2007).

    A coleta de dados foi realizada através do Sistema de Informação sobre Mortalidade e Sistema de Informação de Nascidos Vivos do Departamento de Informática do SUS (SIM/SINASC/MS/DATASUS) realizada no site do DATASUS, em abril de 2012. Esse banco de dados é de livre acesso ao público.

    Os dados se referem a todos os casos de óbitos neonatais entre 0 a 27 dias de vida, ocorridos no período entre janeiro e dezembro dos anos de 2005 a 2009 no município de Francisco Sá, Minas Gerais, Brasil. A análise dos dados ocorreu mediante a estatística descritiva.

    As variáveis estudadas foram: sexo, faixa etária, tipos de violência, raça, ocupação, local de ocorrência, situação conjugal e zona urbana ou rural de ocorrência.

    Este estudo respeitou todas as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a pesquisa com seres humanos, desta forma não requerendo parecer do Comitê de Ética em Pesquisa, pois a pesquisa foi realizada com dados secundários de um banco de dados.

Resultados

    Neste período foram registrados 1.721 nascidos vivos, sendo que 98,48% nasceram em uma unidade hospitalar, 1,16% nasceram no próprio domicílio, e 0,36% em outros estabelecimentos. Com relação à idade da mãe, 0,69% (12) possuíam entre 10 a 14 anos, seguido de 22,6% (389) de 15 a 19 anos, 32,19% (554) eram de 20 a 24 anos, 22,54% (388) de tinham de 25 a 29 anos, 12, 84% de 30 a 34 anos, 7,20% (124) de 35 a 39 anos, 1,56% (27) de 40 a 44 anos, 0,017% (3) de 45 a 49 anos. Em 0,017% das declarações de óbitos o campo idade da mãe estava ignorado.

    Com relação à instrução da mãe, 2,67% (46) não possuem nenhuma escolaridade, 11,67% (201) de 1 a 3 anos de estudos, seguido de 38,34% (660) de 4 a 7 anos de estudos, 32,19% (554) de 8 a 11 anos de estudos, 9,81% (169) com 12 anos ou mais de estudos e 5,28% (91) apresentaram o campo ignorado na declaração de nascidos vivos.

    Em relação ao estado civil da mãe, registra-se que 53,8% (926) são solteiras, 42,35% (729) casadas, 0,58% (10) viúvas, 0,81% (14) separadas judicialmente, 0,058% (1) possui união consensual e 2,84% (49) deixaram o campo ignorado.

    Levando em consideração o tempo de duração da gestação 0,34% (6) tiveram menos de 22 semanas, 0,40% (7) de 22 a 27 semanas, 0,75% (13) de 28 a 31 semanas, 7,20% (124) de 32 a 36 semanas, 86,98% (1497) de 37 a 41 semanas, 3,77% (65) com 42 semanas ou mais. Esse campo foi ignorado em 0,52% (9) das declarações de nascidos vivos (DN).

    Com relação ao tipo de gravidez, 99,01% (1704) foi gravidez única, 0,92% (16) dupla e 0, 058% (1) tripla ou mais. O tipo de parto mais comum foi o vaginal (1177; 68,39%) seguido do cesáreo (537;31,20%) e 0,40% das declarações de nascidos vivos, esse campo foi ignorado.

    Sobre as consultas de pré-natal, 0,98% (17) não realizaram nenhuma consulta de pré natal, 15,04% (259) realizaram de 1 a 3 consultas, 53,28% (917) de 4 a 6 consultas, 29,22% (503) 7 ou mais consultas e 1,45% (25) deixaram o campo ignorado.

    Com relação ao resultado do Apgar no quinto minuto, 0,69% (12) apresentaram resultado apgar de 0 a 2, seguido de 1,04% (18) de 3 a 5, 3,02% (52) de 6 a 7 , 93,43% de 8 a 10 pontos e 1,97% deixaram o campo ignorado.

    Levando em consideração o peso da criança ao nascer, 0,058% (1) nasceu com menos de 500 gramas, seguido de 0,63% (11) com peso entre 500 a 999 gramas; 0,52% (9) de 1000 a 1499 gramas; 7,26% (125) de 1500 a 2499 gramas; 22,60% entre 2500 a 2999 gramas; 62,63% (1078) entre 3000 a 3999 gramas; 5,63% (97) entre 4000 gramas ou mais e em 0,63% esse campo foi ignorado.

Tabela 1. Número de nascidos vivos por ano de nascimento relacionado

com a porcentagem de óbitos de 0 a 6 dias e de 7 a 27 dias

    Neste período foram notificados 23 casos de óbitos neonatais de 0 a 27 dias de vida. Os anos de 2007 e 2009 tiveram maior registro de óbitos, sendo 26,08% cada. Destaca-se que os óbitos foram mais comuns entre 0 a 6 dias (73,91%) (Tabela 1). Observou-se maior frequência no sexo feminino (56,52%) em que a maioria dos casos de óbitos foram no hospital (91,30%) (Tabela 2).

Tabela 2. Distribuição dos óbitos neonatais ocorridos em Francisco Sá, no período

de 2005 a 2009, segundo características sociodemográficas

    As causas dos óbitos neonatais foram por algumas afecções originárias no período perinatal (73,91%), seguido de 17,39% malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas (gráfico 1). Destaca-se que 56,52% dos óbitos ocorrem por causas evitáveis de acordo com o CID-10, seguido de causas não claramente evitáveis (34,78%).

Gráfico 1. Causas dos óbitos neonatais registrados no período

de 2005 a 2009 no município de Francisco Sá-MG

Discussão

    O período neonatal precoce, ou seja, de 0 a 6 dias de vida, neste estudo nos mostra ser uma variável de grande representatividade nos óbitos neonatais ocorridos em Francisco Sá. Destaca-se que a primeira semana de vida foi o período de maior ocorrência de óbitos neonatais (73,91%). Estudos realizados por Moreira et al. (2012) em Cuiabá reafirmam esses resultados, mostrando que aproximadamente 72,8% das mortes neonatais ocorrem na primeira semana de vida, sendo grande o número de neonatos que não completarem um dia de vida.

    Os fatores determinantes da mortalidade neonatal no país estão sendo amplamente estudados, no entanto, seu conhecimento tem produzido pouco impacto na sua redução em diferentes regiões. As desigualdades sociais apontam a necessidade de adoção de políticas visando à equidade e universalidade da atenção à saúde. O monitoramento da mortalidade neonatal se torna um fator de fundamental importância, devido à grande magnitude das desigualdades sociais principalmente em países como o Brasil, onde possuem características relevantes (SOARES et al., 2010).

    Neste estudo foram levantados dados na base do SINASC com o objetivo de identificar as condições gerais do recém-nascido e da mãe durante a gravidez e o parto. Apartir do estudo das variáveis foi possível identificar que ainda existe uma grande falha na atenção primária no sentido de monitorar a realização das consultas de pré-natal, pois ainda é consideravel o número de mães que não realizam o pré natal 0,98% (17), seguido de 15,04% que realizaram apenas de 1 a 3 consultas.

    Estudo de Soares et al. (2010), no período de 2000 a 2005 em Salvador-BA, encontraram dados semelhantes no qual nos primeiros dias de vida ocorreram 409 (95,11%) óbitos no período neonatal e, 21 (4,88%) no pós-neonatal. Entre os óbitos, 301 (73,59%) ocorreram no período neonatal precoce e 108 (26,41%) no neonatal tardio. Estudo de Moreira et al. (2012) realizado em 2010 no município de Cuiabá-MT mostra também que a mortalidade acontece principalmente entre 0 a 6 dias de vida (72,8%) e que a maioria destes foram por causas evitáveis.

    A análise realizada com os nascidos vivos neste período possibilitou identificar fatores importantes e que podem estar relacionados ao expressivo número de casos de mortalidade registrados no período. Foi encontrado que a maioria das mães são adolescentes, com pouca instrução, e são solteiras. Estudo realizado por Soares e Menezes (2010) entre os anos 2000 a 2005 no distrito Sanitário Liberdade, Salvador, Bahia, encontraram dados semelhantes afiirmando que 27,10% dos obitos ocorreram com mães adolescentes, quanto ao estado civil 56,90% dos obitos foram com recem nascidos de mães solteiras. Com relação à escolaridade da mãe apenas em 10,62% dos obitos as mães possuíam 12 anos ou mais de escolaridade. A mortalidade neonatal precoce foi encontrada em RN de mães que declararam não possuir qualquer ano de estudo (310,08/1.000 por nascidos vivos ).

    Este estudo mostrou que houve um número expressivo de partos com gestação menor que 36 semanas e com 0 a 3 consultas de pré natal, a maioria gravidez única e parto cesáreo.Segundo Moreira et al. (2012), o parto prematuro, o pequeno número de consultas de pre natal, o alto índice de partos cesáreos, o resultado do apgar e o peso ao nascer são fatores que tambem podem estar relacionados com a mortalidade neonatal precoce. Estudo realizado por Rocha et al. (2011), em Recife-PE entre 1999-2009 confirmam os dados apresentados neste estudo relatando que dos óbitos neonatais que ocorreram neste período são em 63,46% ocorreram com mães que realizaram menos de 6 consultas de pré-natal, 89,11% com gravidez única, em 36,58% em RN (recem nascidos) de parto cesáreo, em 74,42% em RN’s com menos de 2.500 gramas ao nascer, 66,71% com apgar no 1º minuto menor que 7 e 43,77% com apgar no 5º minuto menor que 7.

    Observou-se associação entre índice de Apgar e mortalidade neonatal, em especial para os índices de Apgar no 5º minuto, no estudo realizado por Moreira et al. (2012). Rocha et al. (2011), afirma que diferentemente da maioria dos estudos brasileiros que consideraram índices inferiores a sete como preditivos de maior risco de morte, sua pesquisa mostrou que índices de Apgar menores ou iguais a oito colocam o recém nascido em situação de maior vulnerabilidade.

Conclusão

    Os resultados deste estudo mostraram que é grande o número de crianças que morrem nos primeiros dias de vida (0 a 6 dias), resultado este que pode ser justificado pelo alto índice de mães adolescentes e inexperientes, pelos baixos níveis de instrução, pelo estado civil da mãe, sendo necessário um acompanhamento mais criterioso com esta população inserida nestas características com objetivo de trabalhar a promoção e prevenção de doenças e agravos na gestante e no recém nascido, bem como acompanhá-la oferecendo apoio de profissionais treinados com o objetivo de trabalhar a pessoa para uma nova fase de sua vida.

    O parto prematuro, o índice de Apgar no 1º e 5º minuto, bem como o tipo de parto e o número de consultas de pré natal são outros fatores importantíssimos a serem trabalhados na atenção básica e para que possamos ver mudanças neste quadro são necessários um conjunto de medidas eficazes como: ações que permitam identificar as gestantes com maior risco, disponibilidade dos serviços de saúde com recursos adequados priorizar a realização de uma adequada assistência pré-natal, assegurar as condições necessárias para a realização de um parto seguro e assistência ao recém-nascido. É importante ainda que o serviço público disponibilize ações eficazes como o acompanhamento ginecológico e o planejamento familiar, com o objetivo de fortalecer a prevenção e promoção da saúde, assim como a assistência imediata ao recém-nascido, para determinação de sua sobrevida e qualidade de vida.

    As causas de óbito neonatal relacionadas a afecções originárias no período perinatal foram mais frequentes do que as demais causas. Desta forma, recomenda-se melhorar a atenção ao pré-natal e ao parto como estratégia para diminuir os óbitos neonatais. Nesse sentido, deve-se propiciar à gestante um acompanhamento pré-natal de qualidade, com número adequado de consultas, assistência apropriada durante o parto e o puerpério, bem como assistência adequada ao recém-nascido.

Referências

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