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As quedas em idosos institucionalizados. Suas caraterísticas

Las caídas en personas mayores institucionalizadas. Sus características

 

*Mestre em Gerontologia. Secção Autónoma

de Ciências da Saúde. Universidade de Aveiro

**Professor Auxiliar. Departamento de Educação

Universidade de Aveiro

Patrícia Almeida*

Rui Neves**

rneves@ua.pt

(Portugal)

 

 

 

 

Resumo

          No presente estudo pretende-se caracterizar o historial de quedas em idosos institucionalizados. A amostra é composta por 113 pessoas idosas institucionalizadas, 32 indivíduos do sexo masculino e 81 indivíduos do sexo feminino com uma média de idade de 82,96 ± 7,03 anos. Os dados foram recolhidos por meio de um questionário e analisados estatisticamente (estatística descritiva) Os resultados apontam no sentido de que as mulheres apresentam um maior número de quedas (24,8%). As quedas ocorreram maioritariamente no contexto do quarto das instituições. Os nossos resultados vêm reforçar a hipótese de a variável sexo poder ser considerada um fator de risco de queda.

          Unitermos: Idoso. Queda.

 

Abstract

          In the present study it is intended to characterize the history of falls in aged institutionalized. The sample is composed for 113 institutionalized aged people, 32 men and 81 women with a average 82,96 ± 7,03 age of years. The data had been collected by means of a questionnaire and statistical analyzed (descriptive statistics) The results point in the direction of that the women present a bigger number of falls (24.8%). The falls had occurred in its majority in the context of the room of the institutions. Our results come to strengthen the hypothesis of the changeable sex to be able to be considered a factor of fall risk.

          Keywords: Older. Fall.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

Prevalência das quedas em idosos institucionalizados

    As quedas ocorridas em idosos são uma problemática comum a todos os países onde o envelhecimento atinge idades cada vez mais avançadas (OMS, 2010). A queda, de acordo com o código E880-E888 in International Classification of Disease-9 (ICD-9) and as W00-W19 in ICD-, é definida como sendo um evento “não intencional resultando numa mudança de posição para um nível mais baixo em relação à posição inicial, excluindo as alterações intencionais com posição em móveis, paredes ou outros objetos” (WHO, 2007 p.1).

    As taxas de quedas verificadas entre os idosos institucionalizados são superiores aos que residem na comunidade (CEREPRI, 2004). As pessoas idosas residentes em instituições de cuidado de longo prazo caem cerca de 30 a 50% por ano e 40% destes experimentam quedas frequentes (Tinetti, 1987). A maioria dos estudos encontrados com amostras de idosos institucionalizados está de acordo com as percentagens apresentadas por Tinetti (1987), onde a prevalência de quedas encontra-se entre os 30 e 50% (Rebelatto, et al., 2007;Carvalho, 2008;Gonçalves, et al., 2008;Ferreira & Yoshitome, 2010;Vargas, et al., 2010;Pereira, et al., 2011). Estes dados são explicados pelos fatores específicos que esta população apresenta, como o maior grau de incapacidade física e aptidão física (Henry, et al 2001) assim como o maior número de patologias e de polifarmácia, relativamente aos idosos que vivem na comunidade (Petiz, 2002). O menor envolvimento na prática das atividades diárias a que esta população está habitualmente sujeita reforça a deterioração muscular e por conseguinte diminui a capacidade de marcha (Ribeiro, et al., 2009).

    A variação do número de quedas por sexos em idosos que vivem em instituições de longa duração é superior para o sexo feminino, similarmente ao que acontece em estudos com idosos da comunidade (Ferreira & Yoshitome, 2010; Vargas, et al., 2010).

    Uma das consequências mais graves da queda em situação de institucionalização e idade avançada é a ocorrência de fraturas, nomeadamente a fratura do quadril (Norton et al., 1999). A fratura, apesar de não ser a consequência mais frequente decorrente de uma queda, é a mais incapacitante.

Fatores de risco de queda

    As quedas em idosos são devidas a múltiplos fatores que podem ser organizados em quatro categorias: biológicos; comportamentais; ambientais e socioeconómicos (Rose, 2010).

    Os fatores de risco biológico incluem variadas caraterísticas relacionadas com o indivíduo e o corpo humano (WHO, 2007). Estas características são o género (feminino); idade (mais de 80 anos); raça (branca); declínio das capacidades; condições médicas crónicas ou doenças súbitas (Rose, 2010).

    Os fatores comportamentais são potencialmente modificáveis, pois estes dizem respeito às ações humanas e escolhas diárias (WHO, 2007). A ingestão de vários medicamentos; o abuso em bebidas alcoólicas; o estilo de vida sedentário; a dieta empobrecida e o uso de calçado inadequado, são exemplos de comportamentos potenciadores de queda (Rose, 2010).

    Os fatores ambientais relacionam a interação entre as condições físicas do indivíduo e meio ambiente circundante. Os fatores de risco podem ser, por exemplo, degraus estreitos, superfícies escorregadias, tapetes e fios soltos, iluminação insuficiente ou calçadas irregulares (WHO, 2007). Estes fatores também são facilmente modificáveis com a adequação do age-friendly design.

    Os fatores socioeconómicos não constituem fatores de risco de queda diretamente observáveis. Estes estão relacionados com as influências das condições sociais, situação económica de cada indivíduo e da capacidade dos recursos da comunidade para colmatar as limitações da população. Os fatores como a baixa escolaridade, pobre suporte social e médico, baixos rendimentos e isolamento social, podem agravar as diversas situações descritas anteriormente (WHO, 2007).

Objetivos

    Este estudo teve como objetivo geral caracterizar o historial de quedas em idosos institucionalizados. Para este fim, foram delineados os seguintes objetivos específicos: verificar o historial de quedas; classificar a gravidade da lesão decorrente da última queda e verificar a causa e os locais da queda.

Metodologia

Caraterização da amostra

    A amostra total foi constituída por 113 pessoas idosas institucionalizadas com mais de 65 anos, sendo que 32 são do sexo masculino e 81 são do sexo feminino. A sua média total de idades é de aproximadamente 83 anos (82,96 ± 7,03 anos). O sexo masculino apresenta uma média de idades superior mas muito próxima da média de idades do sexo feminino, 83,03 e 82,93 respetivamente. Relativamente ao estado civil, 72,6% do total dos indivíduos da amostra são viúvos. O nível de instrução da amostra total é bastante baixa, a maioria dos participantes não frequentou a escola (46,0%) ou não completou o ensino primário (36,3%). Fizeram parte da recolha de dados sete instituições localizadas na região Centro - Norte de Portugal inseridas em zonas marcadamente rurais.

Instrumentos de recolha de dados

    Os dados foram recolhidos por meio de um questionário estruturado em torno de perguntas abertas e fechadas e organizado em cinco categorias temáticas. Para este estudo em particular importa referenciar três categorias: i) “Identificação sócio-demográfica” e ii) “Historial de queda”. Este questionário foi direcionado às pessoas idosas e aplicado face a face. As respostas foram verbalizadas oralmente pelos idosos e anotadas pela investigadora. Anteriormente à sua utilização para recolha de dados, o questionário foi sujeito a um teste piloto com a finalidade de identificar questões ou itens em falta ou em excesso, verificar a clareza das questões e sua adequação às capacidades e especificidades da amostra definida.

    Foram tidas em conta as considerações éticas necessárias á salvaguarda do anonimato e confidencialidade dos participantes durante todo o processo de recolha, tratamento e divulgação dos dados. Foi respeitada a vontade de decisão da participação no estudo pelo preenchimento de um consentimento livre e esclarecido por cada participante. O anonimato dos participantes e instituições foi conseguido através da substituição dos nomes por códigos. Os dados foram manuseados apenas pela investigadora e utilizados restritamente para efeitos de investigação. Por razões de economia e síntese apenas faremos alusão aos resultados centrados sobre as quedas e seu historial nos idosos inquiridos.

Procedimentos estatísticos

    Os dados recolhidos foram tratados e analisados quantitativamente com o apoio do programa Statistical Package for Social Sciences, SPSS versão 13.0.

    Foi utilizada a estatística descritiva (frequência, média e desvio padrão) para a análise global dos dados sobre a caracterização demográfica da amostra e o historial de quedas.

Resultados

Historial de quedas

    Do total das 113 pessoas inquiridas, 36 relataram ter tido pelo menos uma queda nos últimos 2 anos. Como demonstram os resultados inseridos na Tabela 1 os indivíduos do sexo feminino apresentam mais quedas (24,8%) relativamente ao sexo masculino (7,1%) para o mesmo período de tempo.

Tabela 1. Número de quedas por sexo e total da amostra

Características da queda

Tabela 2. Local e causa da queda

    Para uma melhor compreensão do historial de quedas da amostra a Tabela 2 evidencia algumas características das quedas que foram recolhidas, nomeadamente o local da queda e a perceção da vítima de queda quanto à causa da mesma.

    As quedas ocorreram maioritariamente no interior das instalações das instituições (72,3%) onde residem. O quarto (27,8%) foi o local mais identificado como contexto de ocorrência da queda, seguido do corredor (19,4%).

    As lesões consequentes da última queda foram em 80,6% dos casos lesões leves como pequenas fissuras e escoriações e 19,4% dos casos resultaram em lesões graves.

    As principais causas relatadas pelos indivíduos que tiveram uma ou mais ocorrências de quedas nos últimos dois anos foram “escorregar” e “tropeçar”, remetendo para as barreiras extrínsecas como a principal causa de queda, seguido das barreiras intrínsecas, 63,9% e 27,8% respetivamente.

Consequência pós queda

Tabela 3. Classificação das lesões após a última queda

    Os participantes do estudo, quando questionados sobre as consequências da última queda, as situações mais mencionadas foram pequenas fissuras e escoriações, ou seja lesões leves em 80,6% dos casos de queda. Das 36 quedas ocorridas, 6 delas tiveram como consequência a fratura óssea, das quais 4 foram fraturas da anca (Tabela 3).

    De todas as consequências de gravidade leve e grave decorrentes da última queda relatada, 36,1% ainda era portadora dessa mesma lesão. Todas as lesões graves que resultaram numa fratura ainda se mantinham no momento da entrevista, sendo estas também as mais incapacitantes.

Discussão

    O nosso estudo vem confirmar, similarmente a outros estudos, que o sexo feminino apresenta maior número de quedas (24,8%) relativamente ao sexo masculino (7,1%) (Fabrício, et al., 2004;Jahana & Diogo, 2007;Degani, et al., 2009; Kempen, et al., 2009;Ferreira & Yoshitome, 2010;Vargas, et al., 2010). Dada a quantidade de estudos a comprovar a relação entre o sexo feminino e o elevado número de quedas, este estudo vem reforçar a hipótese de a variável sexo, em que as idosas apresentam uma expressiva e clara tendência para um maior risco de quedas quando comparado com o masculino, podendo, portanto ser considerado um factor de risco de queda (Rose, 2010).

    O número de quedas referido em vários estudos com idosos institucionalizados, referem que a prevalência de quedas encontra-se entre 30% a 50% por ano (Tinetti, 1987;Rebelatto, et al., 2007;Carvalho, 2008;Gonçalves, et al., 2008;Ferreira & Yoshitome, 2010;Vargas, et al., 2010;Pereira, et al., 2011). O nosso estudo considerou o período de dois anos e verificou uma percentagem de 31,9% de quedas, ficando no limiar mais baixo dos parâmetros verificados pelos autores referenciados.

    Os idosos institucionalizados tendem a cair dentro da instituição onde o quarto é o local mais referido entre a literatura, (Gac, et al., 2003;Carvalho, 2008;Gonçalves, et al., 2008;Ferreira & Yoshitome, 2010;Vargas, et al., 2010) sendo também esse o local mais relatado de acordo com os dados que obtivemos. Os quartos, assim como toda a área de maior circulação deveriam ser estruturadas e organizadas de forma a promover uma mobilidade individual segura e limitadora do potencial de quedas (Gonçalves, et al., 2008).

    As pessoas referiram como principais causas da queda “tropeçar” e “escorregar”, apontando para as barreiras externas. Contudo a descrição das ocorrências das quedas poucas vezes tinham a ver com barreiras físicas, mas antes com limitações motoras. No entanto, essas limitações não foram percecionadas pela maioria dos participantes como a causa da queda. As expressões utilizadas pelos participantes contrariam vários referenciais teóricos que consideram que as principais causas para as quedas em idosos institucionalizados são de origem intrínseca, ou seja devido ao declínio das capacidades físicas destes (Kron, et al., 2003; Perracini, 2005). Contraria ainda um outro estudo português e com idosos institucionalizados que conclui que os fatores extrínsecos contribuem pouco para as quedas dos idosos institucionalizados, atribuindo este facto às boas condições ambientais e arquitetónicas das instituições (Pereira, et al., 2011). A contradição verificada entre as barreiras relatadas pela amostra e as causas de queda constados por outros estudos para a população idosa institucionalizada, pode ficar a dever-se à origem dos dados. No nosso estudo os dados são provenientes exclusivamente daquilo que é referido pelos participantes que podem ter uma perceção da queda e da sua causa diferente da de outros.

    As consequências da queda no nosso estudo foram bastante variadas, desde hematomas, escoriações, entorses, lesões musculares a fracturas ósseas situadas em diferentes partes do corpo. As lesões mais frequentes decorrentes das quedas foram os hematomas e escoriações (61,1%), que de acordo com a classificação de Perracini (2005) são consideradas lesões leves (Perracini, 2005). Este tipo de lesões leves é a consequência mais verificada em outros estudos com idosos institucionalizados (Ferreira & Yoshitome, 2010; Pereira, et al., 2011). De entre as 7 lesões graves consequentes da última queda, 6 são fracturas. O valor de fracturas por nós obtido parece estar entre os valores obtidos por outros estudos com idosos institucionalizados e com idades médias próximas às da nossa amostra, embora os contextos sociais e económicos sejam distintos (Gac, et al., 2003; Gonçalves, et al., 2008; Pereira, et al., 2011).

Conclusões

    Numa amostra de 113 idosos que vivem em instituições de prestação de cuidados de longa duração e com idades médias superiores a 80 anos, era esperado um número de quedas superior ao verificado, quando comparado com outros estudos. No entanto, estes dados não são satisfatórios quando se verificam as consequências das quedas. Estas apesar de terem provocado maioritariamente lesões leves, ocorreram também lesões graves que causaram incapacidade e dependência física.

    O sexo feminino aparece como o mais lesado no historial total de quedas. São as mulheres que apresentam maior número de quedas, reforçando a hipótese de a variável sexo poder ser considerada um fator de risco de queda.

Bibliografia

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